E depois de tudo, você é meu protetor

P.O.V Demi

Que.Porra.Foi.Essa? Eu dormi e acordei num livro meloso, gente?

Porque esse tipo de coisa não acontece na vida real. Homens não fazem esse tipo de coisa. Ok, esse comentário foi muito generalista, mas pelo menos eu nunca conheci nenhum garoto que fizesse isso com as namoradas, pretendentes ou coisa assim.

Pelo visto, até agora. Porque enquanto esses pensamentos me vem a mente, metade do acampamento está ao meu redor, numa distância respeitosa, mas espichando o pescoço para tentar descobri o que há no bilhete em minhas mãos. A única coisa que consigo pensar é: Quem foi? O que verbalizo, rapidamente recebendo resposta.

–Dããr. Só pode ter sido o Nico.- Será? Será que foi o Nico? Com esse simples pensamento, meu coração acelera. Afinal, tudo se encaixa perfeitamente. Ele disse mais cedo que ia me conquistar de novo, que não ia desistir e tudo mais. É a única resposta lógica.

–Impossível- Hazel contradiz.- Ele está dormindo, num sono mais pesado que um hipopótamo.- Ao ouvir essas palavras, murcho imediatamente. Se ele estava dormindo, não poderia ter sido ele. Nico não era sonâmbulo.

Tudo bem, teve aquela vez. Mas eu dormi (não necessariamente de modo pervertido) com o Nico várias vezes. E isso só aconteceu uma única vez...

Flashback on

4 anos antes

Do lado de fora do chalé de Hades, eu estava congelando das pantufas á raiz dos cabelos. Era uma fria noite de Janeiro, e eu estava na piso escuro,enrolando as pontas dos cabelos na mão, depois de bater na porta, pensando em quanto tempo me resta para fugir, antes que ele chegue. Não me preocupo com a probabilidade de acordá-lo. Ainda é 23:00, e Nico diz que só consegue dormir meia-noite. Se adormece antes, acorda gritando " Saia daí, Bianca! Corra! ".

Por que estou tão nervosa? É só o Nico. O bad boy depressivo que é meu melhor amigo. A pessoa que eu mais confio no mundo. Não tem pra que tanta insegurança.

Tarde demais pra qualquer plano de fuga. Ele abrira a porta.

–Demi?- pergunta, confuso. Assim que o vejo, tenho de controlar riso, pois ele está usando a cueca de patinhos. Penso que, se eu não rir dele, ele não rirá de mim. -O que está fazendo aí fora?

–E-e-eu -paro por um segundo e respiro fundo.- Eu tive um pesadelo, Nico- SIM, EU COM 12 ANOS TINHA MEDO DE PESADELOS. Bom, não de todos. Mas esse foi aterrorizante. Via o Nico enjaulado, sofrendo torturas horríveis e morrendo, mas sempre voltando á vida, e sofrendo ainda mais. -Posso dormir aqui com você?- Por um segundo, me sinto como se estivesse com 5 anos de novo, uma criança pedindo para dormir no quarto do pai de novo. Uma situação não muito diferente da minha. Nico e eu somos muito próximos de qualquer maneira. Não consigo encará-lo agora, mas sei que não está rindo. Como poderia? Ele sabe quão ruim podem ser pesadelos. E sua risada é escandalosa. Eu saberia se estivesse rindo.

Depois de mais alguns segundos, que parecem eras, levanto os olhos. Ele está sorrindo, não de modo debochado, mas sim reconfortante.

–Claro.-Ele responde.- Entre, Demi.

O chalé, como é o hábito, está incrivelmente escuro. Pé ante pé, saio tateando até achar sua grande cama.

Na verdade, eu tropecei nela.

–Então.-Nico fala, de maneira falsamente formal ( após deitar na cama e me içar pra cima sem esbarrar em nada, completamente o oposto de mim ) - Que espécie de sonho levou você aos meus aposentos?

–Ridículo.- respondo, tentando acertar sua perna, mas acabo acertando seu...patinho.-AI MEUS DEUSES, DESCULPA NICO

–ARGH- ele geme, segurando a área do chute- SE NÃO QUISER CONTAR É SÓ DIZER, TÁ? NÃO PRECISA APELAR PRO PLAY.

Rio intensamente e respondo.

–Esqueça o meu pesadelo. Só estar aqui com você me acalma.

Não consigo ver seu rosto direito, mas acho que ele sorriu.

–Eu sinto o mesmo, loirinha -ele comenta, me abraçando. Me aconchego em seu peito magrelo e ele me aperta. Não sentíamos nada. Era tão natural o encaixe, como duas peças de um quebra-cabeça. Deixo me embalar pelo silêncio e durmo.

Algumas horas depois, acordo com o frio da falta de cobertores e do filho de Hades. Abro os olhos e consigo distinguir uma silhueta mediana e magra, envolta em lençóis, se dirigindo a porta.

Oh, Nico. O que você está fazendo?

Encaixo as pantufas nos pés (deuses me livrem de enfrentar esse chão de 0ºC) e corro atrás dele, que anda morbidamente. Percebo que ele está de olhos fechados, e murmurando algo como " preciso de um sanduíche de pasta de manteiga de amendoim ". Não sou a rainha da inteligência, mas é óbvio que está sonâmbulo. E se eu não o impedir, vai realmente á cozinha fazer um sanduíche.

Tenho vantagem em corridas com o Nico desperto, então aquilo é quase uma brincadeira. Tranco a porta (coisa que ele esqueceu de fazer acordado) e escondo a chave na pantufa. Tropeçando em várias coisas (que desorganizado), chego até ele, seguindo-o silenciosamente, exceto por um tropeço ou outro.

Assim que ele gira a maçaneta, e percebe que não vai, ele cai no chão. Jamais conseguiria ancorá-lo até a cama. Então, deixo-o apoiado na porta enquanto improviso uma cama de cobertores. Desencosto-o e o ajeito no leito improvisado, para que no minimo não pegue um torcicolo. Cubro-o e puxo um cobertor para mim. Ainda caindo o tempo todo no escuro, acho a cama, e consigo dormir.

Fim do flashback

Todas essas memórias me deram vontade de chorar. Mas era preciso ser corajosa. Não podia parecer forte ou durona chorando o tempo inteiro. Respiro fundo e levanto.

–Não adianta tentar descobrir quem foi hoje. Vamos entrar antes que as harpias cheguem.- Terminando isso, grito- Chalé 4, vamos.

Um a um, todos nós entramos no chalé, damos boa noite e deitamos. Só não sei se conseguirei dormir. Provavelmente terei sonhos com esse admirador musical, Nico, e os dois.

Em algum lugar, não muito distante, você está por aí. E eu vou encontrá-lo, garoto. Com esse pensamento, consigo relaxar e adormecer.