Lord's Princess escrita por Brigadeiro


Capítulo 16
15 - Coração Que Chora


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, amores!
Não demorei tanto dessa vez, demorei? 47 dias ao todo... É, ainda não tá bom. Mas estou tentando melhorar aos poucos. Vou me esforçar (não é uma promessa, mas farei o melhor que puder) para tentar postar pelo menos uma vez por mês.

Eu, sinceramente, me esforcei para escrever essa capítulo e fiquei feliz com o resultado. Sei que muitas estavam esperando a história da da Rosalie e espero que vocês gostem também!

Boa leitura
B ♔



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EMMETT PDV

Rosalie correu para os bastidores.

Se eu tivesse olhado em volta teria visto a confusão no rosto de cada um ali, teria encontrado diversos motivos para ir até o cenário e ajudar a minha irmã com a saia justa que tinha se formado, teria feito meu trabalho. Mas não olhei. Nem sequer parei para pensar. Não consegui me preocupar com a entrevista, com Charise ou com as câmeras, assim que vi Rosalie sair chorando daquele jeito, me levantei e corri atrás dela.

Alcancei-a rapidamente. Ela estava indo em direção ao camarim provisório onde estavam as nossas coisas, esbarrando em algumas pessoas no caminho. Desviei das pessoas em quem ela havia esbarrado e gritei seu nome, ela não olhou para trás, mas correu ainda mais rápido. Assim que identificou o camarim correto, ela entrou rapidamente e bateu a porta antes que eu tivesse a chance de entrar também.

Parei do outro lado da porta por um instante e tentei pensar no que fazer. Os funcionários em volta agora estavam parados olhando para a mesma porta que eu e cochichavam aos sussurros. A preocupação tomava conta de mim como uma névoa subindo lentamente e nublando minha mente enquanto eu pensava no que poderia ter acontecido para deixá-la naquele estado. Coloquei a mão na maçaneta devagar e abri a porta lentamente, a iluminação escassa dos corredores cedendo à luz forte de dentro do cômodo.

Entrei ruidosamente, deixando-a saber que eu estava ali. Rosalie estava encolhida contra o braço do sofá que ficava no canto do camarim, com os braços em torno de si mesma e soluçando. Era a imagem da fragilidade e do medo.

O que tinha acontecido com ela?

— Rose?

— Vá embora, Emmett! Por favor!

Fiz uma careta. A vontade de ajudá-la conflitava com o desejo de atender ao seu pedido, sem saber o que seria melhor para ela. Eu sabia o que era precisar de espaço, mas fui incapaz de deixá-la sozinha naquele estado. Seu peito subia e descia em soluços como uma válvula de escape enquanto ela se encolhia cada vez mais. Eu estava muito preocupado naquele momento, sem entender o que estava acontecendo e querendo mais do que tudo que ela parasse de chorar. Rosalie chorando, desde aquela época até hoje, era algo que me quebrava.

— Rose, o que está acontecendo? — perguntei. — Fala comigo...

Tentei me aproximar do sofá devagar e estiquei a mão lentamente para tocar no ombro dela, mas foi a pior coisa que eu poderia ter feito naquele momento.

— NÃO ME TOQUE!

Recuei diante do grito, assustado com o medo latente em sua voz. Coloquei as mãos na cabeça, o desespero crescendo. Ela estava apavorada. O que a assustara tanto? Doía não poder tocá-la. Não sabendo mais o que fazer, usei meu último recurso. Eu não sabia fazer aquilo, mas tentaria qualquer coisa para ajudá-la. Fechei meus olhos.

“Deus, se o Senhor está aí, ajude a Rose!”

Por um segundo, nada aconteceu. Então a porta se abriu e foi quando Edward entrou no camarim, tão preocupado quanto eu, e parou do meu lado. Olhei para ele em busca de respostas, querendo desesperadamente saber o que fazer. Ele olhou para a irmã, passou as mãos no cabelo com nervosismo e bufou.

— Não se aproxime dela agora, Emmett. Rose está tendo um ataque de pânico, faz muito tempo que ela não tem um... Temos que esperar ela se acalmar.

— Não podemos fazer nada?!

— Não enquanto ela não deixar. Tocar nela só piora a situação.

Rosalie chorava como nunca vi mulher alguma chorando. Era dolorido, deixava-a sem ar. Meus braços ardiam com a necessidade de confortá-la, tudo o que eu queria ali era conseguir acalmá-la; mas me aproximar parecia a pior coisa a se fazer no momento. A sensação de impotência era horrível.

— O que está acontecendo, Edward? — perguntei angustiado. — Por que ela está assim?

— É uma longa história, Emmett... Espere, vou tentar algo.

Ele levantou a mão, indicando que eu esperasse ali, se aproximou sem fazer barulho e se abaixou na frente dela, mas sem tocá-la.

— Rose? Sou eu, o Edward. Seu irmão — ele sussurrou. — Olha para mim. Está tudo bem, você está segura.

Ela levantou a cabeça levemente, os olhos ainda envolvidos em lágrimas. Edward disse algo em uma voz baixa demais para que eu pudesse ouvir, ela assentiu e então eles abaixaram a cabeça juntos, de olhos fechados e ela deu as mãos para ele.

Percebi o que estava acontecendo. Eles estavam orando.

De boca aberta percebi que depois de alguns minutos o choro dela foi ficando mais calmo, sem soluços e ela recuperou o ar. Eu assistia tudo em pé, no meio do cômodo, desejando poder fazer algo de útil. Estava claro que Rosalie escondia muito mais do que sua postura e seus olhos altivos podiam transmitir. Ela abraçou Edward por um longo tempo e depois olhou para mim. Seus olhos, aquele verde que tanto amava, estavam cobertos de medo.

— Edward, pode me deixar a sós com Emmett, por favor? — ela perguntou, sem desviar os olhos dos meus. Sua voz estava entrecortada, baixa e angustiada.

— Tem certeza, Rose? — ele perguntou.

Espera! Então, ela estava com medo de mim? Meu coração se apertou porque eu não sabia o que tinha feito para deixá-la com medo. Eu sempre fui muito grande fisicamente, mas ela sabia que eu nunca a machucaria. Eu tinha deixado isso bem claro para ela em cada um dos nossos encontros.

Ainda sem desviar o olhar do meu, ela assentiu.

— Eu confio nele — ela declarou.

— Vai contar a ele?

— Eu preciso fazer isso, Edward. É a minha vida, o meu futuro, preciso seguir em frente.

— Tudo bem — Edward concordou. — Vou manter Bella e Alice longe daqui.

— Obrigada, meu irmão.

Apesar de ter gostado da afirmação de que ela confiava em mim, ainda me magoava a necessidade de tal declaração. Ele me lançou um olhar e saiu do camarim e nos deixou a sós. Rosalie desviou o olhar do meu e abaixou a cabeça novamente, em sua bochecha um caminho de lagrimas tinha sido traçado. Pensei que já era seguro me aproximar e bem lentamente me sentei do lado dela no sofá.

— Você está bem, Rose?

— Estou melhor agora — ela tentou sorrir, mas o que saiu foi uma careta. — Desculpe ter gritado com você.

— Não se preocupe com isso. Só quero que você fique bem.

— Envergonhei sua família, dei vexame em rede nacional...

— Você não envergonhou ninguém, Rose — eu a tranquilizei. — Charise te forçou a fazer algo que não queria. É compreensível.

Rosalie levantou o canto dos lábios, quase como um sorriso. Quase.

— Não, você é quem é gentil demais.

Eu sorri levemente. Eu estava confuso. Rosalie parecia gostar de mim, todo o tempo que passávamos juntos era ótimo, mas quando eu pensava que estava conseguindo alcançá-la ela fugia novamente. Uma mulher tão forte, geniosa, mas ao mesmo tempo frágil como uma flor desabrochando. Ela precisava ser cuidada, ser amada e protegida e eu estava mais do que disposto a fazer isso por ela. Se ela deixasse, é claro. O problema era que ela não deixava.

— Rose?

— Sim, Emm?

— Você está com medo de mim?

Esperei a respostas com medo de ouvi-la. Rose suspirou e, lentamente, foi encostando sua mão na minha até que elas estivessem entrelaçadas. Eu sorri e acariciei as costas da mão dela com o polegar.

— Não mais. Eu tinha, no início. Quando te conheci você parecia muito grande e extrovertido demais — ela apertou seus dedos nos meus. — Mas quanto mais te conhecia, mais encantador você se tornava. Você é surpreendentemente inocente, gentil e carinhoso.

— Qual é o problema, então? — perguntei. — Do que você está fugindo?

Ela desviou o olhar abaixando a cabeça; parecia tão triste, tão desamparada.  O ventilador de teto jogava vento bem em cima de nós, fazendo mechas do seu cabelo loiro cobrir seu rosto. Com cuidado eu retirei a mecha de cabelo maior da frente dos seus olhos e gentilmente coloquei atrás de sua orelha.

— Não é sua culpa, Emm... É que... — ela voltou a me olhar. — Se lembra do que te disse no nosso último encontro?

Sim, eu me lembrava. Foi uma noite que planejei para ser inesquecível. Levei-a a um parque de diversões, fiz ela andar em quase todos os brinquedos, comemos maçã do amor e algodão doce e ganhei um grande urso de pelúcia para ela. Eu tinha pagado o dono do parque para manter a roda gigante desocupada e reservada apenas para nós dois. E ali, na cabine mais alta, eu pedi Rosalie em namoro. E ela não respondeu.

Ela me disse que não podia ficar comigo porque não poderia me fazer feliz, porque era uma pessoa quebrada por dentro. Disse que precisava ter certeza. Não disse não, mas também não disse sim. Eu sabia que algo de ruim tinha acontecido no passado da Rosalie, talvez uma traição ou desilusão, mas não quis pressioná-la. Eu sabia como essas coisas podiam ser dolorosas. Não era isso que me faria desistir dela.

Fora tudo isso, ela só me disse mais uma coisa importante naquela noite. E a única que não entendi.

— Você disse que eu não sabia onde eu estava me metendo — respondi.

— E ainda não sabe — ela afirmou. Suas mãos estavam inquietas, ela parecia estar tentando se acalmar. — Mas você precisa saber, Emm. Eu vejo o quanto você se preocupa comigo, com a minha filha... Você vem me apoiando desde que nos conhecemos, se recusou a desistir de mim, me seguiu até aqui e não saiu nem quando gritei com você. Não posso deixar que você continue...

— Pode sim! — interrompi, tentando parar com uma frase que nos faria terminar antes mesmo de termos começado. — Não quero saber onde você acha que estou me metendo. E também não quero que você me conte nada que não queira. Não me importo com seu passado, só com o presente. Me importo com você, ursinha.

Ela abriu um pequeno sorriso.

— E eu me importo com você. E é por isso que quero te contar — ela a cabeça, fugindo dos meus olhos. — Você e a sua família são maravilhosos. Nunca me julgaram e nem fizeram as perguntas que todos me fazem. Como a menininha de igreja acabou como mãe solteira na adolescência? Onde está o pai dessa criança?

Com a ponta dos dedos, levantei a cabeça dela. Ela estava chorando novamente, só que dessa vez em silencio. Dava para perceber de longe o quanto ela estava emocionalmente abalada.

— Você não tem do que se envergonhar. O que quiser me contar, estou aqui para ouvir.

As lagrimas ainda caiam devagar, traçando um caminho brilhoso por suas bochechas; mas ainda assim ela sorriu um pouco e com a mão livre ela cobriu a minha mão que estava no seu queixo. Ambas as nossas mãos se tocavam agora e pequenas ondas de eletricidade corriam por meus dedos.

Ela ainda parecia abalada, mas eu senti que era importante para ela falar. Rosalie era um mistério desde que a conhecemos, nunca falava muito sobre si mesma e nem se abria o suficiente para que pudéssemos saber o que se passava com ela. Fui o primeiro a aceitar o desafio de descobri-la. E eu estava feliz por ela querer dividir o que quer que fosse comigo, para que eu pudesse ajudá-la a carregar o peso do seu passado.

Eu só não imaginava o que estava prestes a ouvir.

ROSALIE PDV

Precisei respirar fundo antes de começar a contar a Emmett uma história que eu jurei esquecer e nunca reviver. Mas aquela entrevista nos expôs a um perigo ao qual nenhum dos Cullen estava ciente e Emmett merecia saber.

Emmett. Que se recusou a desistir de mim. Que se preocupava com a minha filha. Que ficou do meu lado. Que me fazia feliz. Àquela altura ele já tinha feito tanto por mim, eu estava renascendo graças à Emmett, ele fazia eu me sentir segura e amada como ninguém além de Deus havia feito eu me sentir antes.

Emmett foi e sempre será o melhor presente que meu Pai já me deu.

— Eu tinha quinze anos quando conheci Royce King. Ele não era da cidade, tinha vindo com o pai para morar em Los Angeles por um tempo, os King tinham muito dinheiro embora eu nunca tenha me preocupado em saber o que eles faziam para viver. Meus pais tinham acabado de falecer e eu estava emocionalmente frágil e carente, e Edward, que tinha acabado de completar dezenove anos, estava se desdobrando para cuidar de mim e da casa. Eu conheci o Royce na frente da placa de Hollywood. Eu estava em uma excursão gratuita da escola, ele estava fazendo turismo com o pai. Como eu não tinha celular, fui ingênua o bastante para passar o endereço da minha escola e depois o da minha casa. Ele era tão galanteador, me dizia coisas bonitas. Meus pais criaram me criaram como uma bonequinha de porcelana protegida, eu nunca tinha interagido muito com qualquer garoto que não fosse o meu irmão. Na minha mente sonhadora todos os homens eram tão íntegros quanto meu pai e meu irmão. E Royce parecia ser também, no inicio. Um perfeito cavalheiro, gostava de me levar para sair e de me comprar coisas bonitas. Eu estava encantada, em menos de uma semana eu tinha me apaixonado. Começamos a namorar. Primeiramente escondidos e depois com a permissão do Edward, que sabia que proibir seria pior. Quando paro para pensar nisso, eu gostaria muito que ele tivesse proibido.

Fiz uma longa pausa e criei coragem para olhar para Emmett. Ele escutava pacientemente, com preocupação no olhar. Foi aquilo que me chamou atenção primeiro em Emmett: seu olhar. Sempre foi o que mais amei nele. Os olhos são a janela da alma, é o que dizem. E os de Emmett exalavam uma estranha inocência para alguém do tamanho dele.

Busquei as mãos dele atrás de segurança, como vinha fazendo nos últimos dias. Ele pareceu feliz por eu estar tocando nele e lhe devolvi um sorriso.

— Esse Royce é o pai da Nick.

Não foi uma pergunta. Eu confirmei.

— Sim.

— Ele te traiu? Te abandonou?

Eu apertei meus dedos no seus. Senti a vergonha e a humilhação da lembrança avançarem sobre mim como um peso invisível, esmagando-me.

— Antes tivesse feito isso — suspirei. Só percebi que estava chorando novamente quando Emmett passou o polegar pela minha bochecha, capturando uma lágrima. — Nós namoramos por quase um ano inteiro, um ano onde Royce começou a se revelar aos poucos. Ele foi se tornando menos romântico, mais ciumento e possessivo. Percebi as pequenas mudanças, mas me recusei a dar importância. Ele ainda era o meu príncipe... Quando o meu aniversário de dezesseis anos se aproximava, Royce começou a me pressionar por algo que eu não podia lhe dar. Sempre fui instruída a só me entregar a alguém no dia do meu casamento. E eu sonhava com aquilo, me importava com esse dia, com a minha lua de mel e toda a magia. Mas Royce não queria esperar. “Por que esperar se posso ter você agora?” ele dizia. “Nos casaremos depois”. “Ninguém precisa saber”. Eu me recusei, mas não percebi o quanto ele ficara bravo até aquele dia. — respirei fundo, controlando o medo que aquelas lembranças traziam. Me concentrei em Deus, pedindo por calma. — Um fim de semana depois do meu aniversário, ele me disse que tinha organizado um piquenique com todos os meus amigos em uma clareira, depois de uma trilha na reserva que costumávamos visitar, para comemorar. A mesma clareira que hoje assombra meus pesadelos. Eu acreditei nele, é claro. Mas quando cheguei lá, não havia ninguém e nem piquenique nenhum. Tinha apenas o Royce. Ele era um cara alto e, apesar de magro, era bem mais forte do que eu. Então, quando ele veio pra cima de mim...

— Não! — Emmett me interrompeu, me assustando. — Não, não, não, não, não... Rose, ele...?

Seus olhos estavam arregalados na minha direção, finalmente entendendo o que tinha acontecido comigo. Eu comecei a chorar novamente e assenti confirmando. A vergonha que me inundava naquele momento não podia ser medida. Eu era uma vergonha por si só. E, agora que Emmett sabia a verdade, podia se afastar como todos os outros, menos Edward, fizeram. E a ideia de perder Emmett naquele momento soou pior do que todas as memórias e perdas que já tive na vida.

— Sim.

Emmett levantou subitamente com ambas as mãos na cabeça, completamente transtornado. Andou de um lado para o outro, bagunçando o tapete com suas pisadas fortes, e em seguida passou braço por uma mesinha cumprida derrubando tudo o que estava nela. Eu voltei a me encolher no sofá, com medo da fúria em seus olhos. Cada ruído de vidro se quebrando, cada baque de objetos indo ao chão diminuíam mais um pouco da minha coragem, encolhiam meu coração até ele parecer inexistente. Eu realmente não esperava essa reação. Aquilo era raiva de mim, ou frustração por eu não ser a mulher que ele idealizou? Pensar que eu o tinha decepcionado machucava mais do que o medo dos objetos sendo arremessados. Pedi a Deus para que ele se acalmasse, eu precisava que ele se acalmasse!

Emm jogou mais um vaso contra a parede antes de me encarar.

— Mas que desgraçado! Como ele pôde?! Meu Deus, Rose... Eu...

Contrariando todas as reações possíveis que eu poderia prever, essa não foi uma delas. Depois de quebrar o camarim, Emmett começou a chorar. Ele tentou esconder, mas estava realmente chorando. O que era aquilo, Senhor? Que expressão era aquela em seu em seu rosto? Não era repulsa ou pena. Ele tinha a expressão de uma criança que vê seu melhor amigo se machucar. Eu não sabia definir aquilo, mas me deu esperança. Ele voltou e se sentou do meu lado com os olhos escorrendo silenciosamente. Me diz como não se apaixonar por um homem assim?

— Quantas vezes? — ele perguntou, tentando disfarçar a voz embargada. — Quantas vezes aquele canalha ousou encostar em você?

— Não foi apenas uma vez. Isso continuou por mais um tempo — contei antes que perdesse a capacidade de falar. Emmett estava imóvel, sério como nunca o vi antes. — Ele ameaçou matar o meu irmão se eu contasse a alguém, e depois de ver o monstro que ele era eu não tive coragem de por a vida do meu irmão em risco. Royce era um psicopata, frio e violento. Não duvidei nem por um instante de que ele realmente fosse capaz de fazer algo com Edward. Ele sempre me levava para aquela mesma clareira. Aqueles foram os piores dias da minha vida. Eu não dormia mais, não comia direito, comecei a faltar nas aulas, morria de medo dos dias em que ele marcava de me encontrar e quando esses dias chegavam eu ficava aterrorizada. Cheguei a pensar em tirar a minha própria vida. Eventualmente Edward percebeu que eu estava estranha e começou a desconfiar. E então, exatamente um mês depois de eu completar dezesseis anos, eu descobri que estava grávida...

— Nick — Emmett sussurrou.

— Sim, Nick. A minha pepita de ouro, meu tesouro. Pode parecer estranho, mas eu a amei desde sempre. Ela foi a felicidade que Deus fez brotar da dor. A minha âncora, que fez eu me levantar e lutar contra o monstro que fez da minha vida um inferno. Royce nunca ficou sabendo da existência dela, nem sequer desconfiou da minha gravidez. Mas reuni as minhas forças e contei ao meu irmão. Ele ficou irado, é claro, queria caçar Royce com as próprias mãos, mas eu o impedi. Seria loucura e perigoso demais. Denunciamos aquele monstro e quando a minha vizinhança soube o que tinha acontecido eles se uniram para me proteger. Tomaram a minha causa como a causa deles. South L.A. é perigosa, mas não quando você é querida por lá. Meus pais sempre foram honestos, mas também sempre ajudaram quem podiam, inclusive aos membros das gangues próximas de casa. Meus vizinhos que me viram crescer juraram Royce de morte e o pai dele agiu rápido. Sumiu com o filho canalha dele no mundo, deixando para trás uma adolescente ferida e grávida. E, quando todos queriam que eu abortasse, Edward ficou do meu lado. Ele acalmou os meus medos e me revestindo da força de Deus eu consegui me reerguer. Quando Dominique nasceu eu já tinha completado dezessete anos. Foi só olhar para o rostinho dela por alguns segundos e eu sabia que tinha feito a coisa certa. Por ela, valeu a pena cada choro, cada pesadelos e cada dor. Ela foi a minha cura enviada dos céus. Então, com Royce longe e a minha filha nos braços, decidi esquecer; e com a ajuda de Deus e de Edward eu criei a minha filha da melhor maneira que pude.

— Onde ele está agora? O que aconteceu com esse desgraçado? — ele perguntou entre os dentes. Eu podia sentir a raiva dele, a inconformidade. Eu passei anos sentindo a mesma coisa antes de finalmente me libertar.

— Eu não sei onde ele está — respondi. — Eu levei muito tempo para me recuperar mas consegui, Emm. O amor de Deus, do meu irmão e da minha filha me curou. Eu não tenho ódio dele, mas o medo nunca foi embora totalmente. Royce era obsecado por mim, Emmett e ele só nunca veio atrás de nós porque tinha medo dos meus vizinhos. Por isso eu sempre aceitava empregos somente pelas redondezas de South L.A., nunca me mudei, me sentia segura lá. Mas agora Bella divulgou em rede nacional que nos mudamos, que eu tenho uma filha, e se ele resolver aparecer eu...

Comecei a chorar de novo, o medo me cegando. Eu precisava me acalmar e confiar em Deus. Ele sempre esteve comigo, não seria agora que me abandonaria. Onde está a sua fé, Rose? me perguntei, a fé que sempre te sustentou? Fui surpreendida novamente por Emmett, segurando as minhas mãos e tentando secar as minhas lágrimas. Encostei minha cabeça no ombro dele e fechei os olhos enquanto sentia ele me abraçando. Aquilo era bom. Desde o ocorrido eu tinha problemas em confiar em estranhos, mas Emmett fazia eu me sentir segura.

— Não consigo entender como alguém foi capaz de te fazer mal assim... Você é tão delicada, tão encantadora. Deixa eu proteger vocês, Rose — ele pediu. Eu me levantei para encará-lo.

— Como, Emm? — perguntei. — Emmett Cullen, me prometa que não vai atrás dele. Royce é perigoso, eu não posso te perder também. Por favor, me promete!

Ele sorriu e usou sua mão livre para colocar uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Desde pequena eu aprendi a interpretar a linguagem dos gestos. E os de Emmett sempre me demonstravam o tamanho do carinho que ele sentia por mim. A raiva estava indo embora, dando lugar à ternura.

— Você não vai me perder se não quiser — ele disse. — No nosso último encontro eu te fiz uma pergunta que você não respondeu.

Eu mordi os lábios, sabendo do que ele falava. Emmett tinha me pedido em namoro naquele ultimo encontro perfeito, no alto de uma roda gigante em um parque de diversões, e eu não respondi. Não porque não queria, nem porque não gostava dele. Emmett era um homem incrível, ele era tudo o que eu poderia pedir para Deus e mais. Ele fazia meu coração palpitar e a minha insegurança ir embora. Mas eu precisava pensar. Precisava conversar com o meu irmão. Precisava orar. E precisava que ele soubesse de tudo.

Eu conversei com Edward sobre aquilo e orei muito. Deus estava abrindo todas as portas para que aquilo acontecesse e Ele me deu o seu sim. Meu Pai, assim como meu irmão, estava de acordo. Emmett era o oposto do Royce em tudo. Gentil, altruísta, engraçado e amoroso. Eu sabia que com ele seria diferente de tudo o que já vivi.

Eu queria muito dizer sim, mas ainda não podia. Emmett era inocente demais para saber os riscos em que estava se colocando.

— Emmett, se Royce vier atrás da gente e me encontrar com outro homem, ele vai ficar duplamente mais perigoso. Só que então ele virá para cima de você! Você não entende isso? Ficar comigo pode colocar a sua vida em perigo.

Ele me olhou como se eu tivesse dito a maior besteira que ele já ouviu.

— Você está louca se acha que vou deixar você e Dominique à mercê desse bandido, Rosalie! Independente de você estar comigo ou não, vou proteger vocês. O programa foi transmitido ao vivo, mas darei um jeito impedir que seja reprisado. Vamos tirar as fotos de vocês da internet. Vou tomar cuidado na Charm para que suas fotos não saiam de dentro da agência. Vocês vão ficar seguras, eu prometo.

Eu estava emocionada. Emmett se importava mesmo com a gente, se importava comigo. Me oferecia proteção. E, Deus, como eu queria aceitar. Fechar os olhos e me jogar, sem medo e sem preocupações. Apenas ser feliz. Mas agora eu não podia pensar apenas em Dominique, porque o meu coração tinha se aberto para mais um amor também. Um amor cabeça dura, grandalhão e inocente demais para o seu próprio bem.

— E quem vai proteger você, Emmett? Não faz ideia do perigo ao qual está se expondo. Você tem que ficar longe...

— É tarde demais para ficar longe! Você não vê, Rose? É tarde demais para me pedir isso porque eu estou apaixonado por você.

Meu queixo caiu e voltei a olhar para ele. Ambos sabíamos o que sentíamos, mas nada nunca tinha sido dito tão explicitamente. Eu nunca tinha ouvido essas palavras com tanta sinceridade, tanta verdade nelas. A intensidade daquilo me arrebatou. Como eu podia sentir tamanho sentimento por alguém com tão pouco tempo de convívio?

— Emmett, eu...

— Para, Rose. Você está inventando desculpas porque está com medo. Você me ensinou tanto em tão pouco tempo, é a mulher mais forte que eu conheço e é a mulher que eu quero ter ao meu lado. — Emmett segurou minhas mãos com forças, ambas juntas entre nós. Eu olhei pela sala destruída, para o teto branco e então para o homem sentado bem à minha frente. O amor em seus olhos refletia os meus — Deus está nos dando uma nova chance. Para mim e para você. Eu nunca pensei que fosse conseguir confiar em outra mulher novamente, não depois da Cinthia. Pensei que a dor nunca passaria. Mas você e Dominique estão me curando, posso sentir a mudança em mim. Não tenha medo de aceitar algo que está vindo de Deus, Rosalie. Desde a primeira vez que eu te vi, eu sabia. E eu sei que você veio d’Ele para mim. Então, a menos que você possa me dizer que não sente o mesmo por mim, eu não vou desistir de você.

Eu lá estava eu novamente sem conseguir fazer as lágrimas pararem dentro de mim, mas agora elas eram de emoção. Emmett conseguiu mudar tudo em minutos, o medo em confiança, a dor em felicidade. E ele tinha a mais absoluta razão. Se eu tinha certeza de que Emmett era um presente de Deus, do que eu estava com medo? Posso ter medo de perder as coisas que o mundo me dá, mas se veio de Deus eu não tenho o que temer. O que Deus dá só Ele pode pegar de volta, nada pode tirar de mim. E se algum dia Deus pegar de volta, então novamente eu sei que Ele estará fazendo o melhor para mim.

Fechei meus olhos e sorri. Eu precisava parar de chorar e levantar a cabeça. Naquele momento eu pude sentir o amor de Deus naquela sala, envolvendo a minha vida. O bálsamo que eu precisava para seguir em frente veio do meu Senhor. Ele me deixou saber que estava ali, comigo. E como era mesmo aquele versículo?

O perfeito amor lança fora todo medo.

Abri os olhos para encarar Emmett novamente.

— Sim.

Ele piscou. Piscou novamente. Por um momento pensei que ele não tinha entendido o que eu quis dizer, mas então percebi que na verdade ele não estava era acreditando que tinha me convencido. Ele era sempre foi muito fácil de ler porque ele era sempre sincero.

— Sim para o que? — ele perguntou.

— Sim para nós — eu sorri. Beijei nossas mãos, que ainda estavam entrelaçadas. — Sim para o presente que Deus me deu. Você, Emmett Cullen, também é o homem que eu quero do meu lado. Obrigada por me fazer ver isso.

O sorriso que ele abriu foi o mais lindo que eu já vi em alguém. Era um sorriso de pura alegria. E a minha alegria refletia a dele. Ele se aproximou devagar, sem nunca desviar os olhos dos meus, até que nossos lábios estavam a centímetro de distância. Então ele parou.

— Não quero ir rápido de demais, posso esperar o tempo que for por você.

Meu estômago estava dando voltas, mas eu não conseguia distinguir se era de medo ou ansiedade. A última e única pessoa que beijei foi Royce, há quase sete anos atrás. Eu não tinha medo de Emmett, confiava plenamente nele. Meu medo era não corresponder às suas expectativas.

Emmett era gentil demais para avançar sem minha permissão e eu não tinha mais palavras, então eu fechei os olhos, me inclinei e eu o beijei. Eu não estava pronta para o que senti. Foi completamente diferente de tudo o que estava esperando. Eu podia sentia sua respiração calma, compassada, mas estava distraída demais para abrir meus olhos. Os lábios de Emmett eram doce, macios e gentis. Eles pediam permissão e, quando concedi, eles acariciaram os meus com tanta devoção que perdi o ar.

Emmett nos separou e sorriu. Enquanto acariciava o meu rosto, olhou profundamente para mim.

— Rosalie Masen, você aceita ser a minha namorada?

Eu sorri ao responder.

— Sim.

Sou completamente teu senhor
Não importa o que a vida me causou

 


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Notas finais do capítulo

Finalmente, um casal já foi! 0/
Eu estou com um tiquinho de dificuldade para desenvolver Jasper e Alice, então a partir daqui vamos explorar Bella e Edward mais um pouco.

O nome do capítulo veio da música Coração Que Sangra, da Fernanda Brum, e tive que colocar um trecho dela no final porque essa música me lembra tanto a Rose... Foi a minha inspiração para escrever a história dela.

https://www.letras.mus.br/fernanda-brum/coracao-que-sangra/

Esse é o link da música toda.
Não tenho o próximo capítulo ainda, o que significa que não faço ideia do que vai acontecer nele e nem quando será postado, mas espero que o mais rápido possível. Está nas mãos de Deus. Obrigada América, Liezel, BeeGomes e Marcela, essas princesas lindas que não me abandonaram mesmo com toda a demora. Deus abençoe muito vocês, meus amores!

Até mais ver,
B ♔

http://jornada-de-amor.blogspot.com/