ISABELLA PDV

Minha alma estava agitada quando acordei naquela manhã de sexta. As ultimas duas semanas tinham se passado de maneira amistosa. Depois da conversa que tive com Rosalie decidimos não tocar mais no assunto e ela não insistiu. Edward não tocou mais no assunto também e eu fiquei satisfeita. Criamos uma espécie de rotina. Eu o via quando ia para o estúdio gravar algo e deixava Eden sob seus cuidados, e quando terminava ia embora e a levava junto. Nos dias em que eu não tinha nada a gravar, evitava ir para o estúdio por saber que o encontraria. Porém tive que ir até a casa dele duas vezes entre aquele tempo, por insistência de Eden em vê-lo, e ela dormiu lá por duas noites, também. Desenvolvemos uma camaradagem amigável, mas não almoçamos mais juntos, não ficamos mais a sós e eu não cumpri a palavra de voltar há igreja na semana seguinte. Porém, apesar da distancia física não impedia a proximidade nos meus pensamentos. Edward se tornara figura carimbada na maioria deles e eu tentava insistentemente expulsá-lo da minha mente, sem sucesso.

E hoje era o dia da bendita entrevista que deixou a todos ansiosos nos últimos dias.

Confesso que me arrumei um pouquinho mais do que o habitual, por saber que estaria com Edward hoje. Faziam três dias que eu não o via. E eu mesma arrumei Eden, uma vez que me sobrara tempo para isso. Eu tinha mandado Emmett cancelar todos os meus compromissos do dia, deixando-me apenas com a entrevista que já seria estressante o bastante. Minha mãe iria fazer uma de suas visitas beneficentes a um orfanato — coisa que ela nunca deixou de fazer desde que nos adotou — e levaria Eden e Nick junto para um passeio de avós e netas, que as manteria longe da entrevista e da mira maliciosa de Charise. A parte ruim era que eu passaria muitas horas longe da minha filha hoje.

Eu não tinha exatamente concordado com esse passeio. Eden nunca foi a um orfanato com a minha mãe, ela nunca teve contato com essas coisas porque eu sempre fiz questão de não deixá-la conhecer esse lado do mundo, o lado de onde eu vim. O lado da pobreza, da tristeza e da carência. Eu tinha até mesmo feito os Masen se mudar de casa por causa disso. Eu preferia que Esme as levasse para outro lugar. Mas Edward insistiu mortalmente, disse que seria bom para ela conhecer crianças que não tinham tudo o que ela tinha e que exercitaria a solidariedade dela. Tivemos uma pequena discussão até que ele conseguiu convencer Edeline a me pedir pra ir, o que quebrou minhas barreiras. Nisso, Nick também quis ir e assim ficou.

Mamãe passou em casa para pegar Edeline e aproveitamos a companhia para irmos todos juntos para a casa de Edward, onde minha mãe pegaria Nick e onde eu, Emmett e Alice fomos convidados para tomar café da manhã com eles. Eu estava um tanto quanto nervosa. Se por ver Edward ou pela entrevista, não sabia dizer.

— Bom dia! — saudamos assim que Edward abriu a porta. Ele estava com a cara amassada de sono, o cabelo todo bagunçado e usava uma camiseta branca e uma calça de moletom. E até assim ficava lindo. — Acho que alguém acabou de sair da cama — completei.

— Acordou agora, papai? — Eden, que estava no meu colo, perguntou.

— Sim, princesa. Hoje é um dia importante, o que me dá direito de acordar tarde, não é? — Edward tirou Eden do meu colo e beijou sua bochecha. — Espero realmente que Rose tenha feito o café, ou ficarei com cara de tacho aqui na porta. Entrem.

Nós o seguimos para dentro da casa. Olhei em volta e estranhei. Estava tudo milimetricamente arrumado, exatamente como no dia em que vieram para cá. Nem parecia que alguém morava ali. Nem a minha casa, que possuía uma infinidade de empregados para limpar tudo, parecia tão intocada. Era como se eles não estivessem confortáveis para tocar nas coisas.

— Se não fosse por mim, o que seria de você, irmão? — Rosalie surgiu da cozinha com um pano de prato no ombro e um sorriso no rosto. Rosalie cumprimentou cada um de nós com um beijo no rosto, corando quando chegou à Emmett.

Emmett e Rosalie saíram diversas vezes nos últimos dias, mas Emmett me confessou que ainda não tinham se beijado. Rose, apesar de estar a cada dia mais confiante, ainda era muito reservada. E tinha o pequeno fato de que Emmett tinha pedido ela em namoro há apenas dois dias e ela não respondeu. Emm não soube explicar o motivo, mas estava esperando pacientemente o tempo dela. Entretanto, o clima inevitavelmente estava um pouco estranho.

— Bom dia, Rose — disse minha mãe, alheia ao constrangimento. — Onde está Nick? Já estamos um pouco atrasadas.

— Dominique Masen! — gritou Rose. Dez segundos depois, a saltitante garotinha apareceu descendo as escadas com uma mochilinha rosa nas costas. — Na bolsinha tem uma garrafinha de água, alguns remédios e o picador dela.

Também já havíamos marcado um consulta com o pediatra da Eden para Dominique. Emmett fez questão de cuidar dessa parte do acordo para mim, e agora o médico de confiança da minha filha já estava ciente da condição da prima dela e pronto para examiná-la da melhor forma possível na semana que vem.

— Pode ficar tranquila, Rose, vou cuidar bem dessa princesa — sorriu minha mãe. — Agora Edward, me dê a minha outra princesa e tchau para vocês!

Eden desceu do colo de Edward, me deu um beijo e saiu correndo atrás da avó. Edward pediu um minuto para se trocar e então eu segui Rosalie, que tinha escapulido para a cozinha enquanto Emmett e Alice ligavam a TV na sala. Eu não tinha falado com ela desde o ocorrido e estava preocupada também. Eu sabia que Emmett tinha ficado bem chateado e, embora não tivesse desistido, estava um pouco desencorajado. Pelo pouco que eu já conhecia de Rosalie, ela deve ter tido um motivo sério para ter recusado o pedido porque eu sabia que ela estava apaixonada por Emmett. Só um cego não veria como os dois se completavam. Eu queria saber o motivo pelo qual Rose rejeitaria a felicidade que lhe estava sendo oferecida. Minha quase cunhada organizava pães na mesa quando a encurralei.

Ela me olhou. Sabia o que eu queria.

— Se vai me botar contra a parede, faça isso enquanto põe as xicaras na mesa — ela instruiu, apontando para as xicaras no armário que precisavam ser organizadas na mesa.

Obedeci, indo pegar os objetos.

— Você está bem? — não olhei para ela enquanto falava, fingindo estar concentrada na tarefa.

A mão de Rose tremia ao segurar as xícaras, era visível seu nervosismo com a situação. Como suspeitei, ela não estava bem.

— Por que não estaria? Só porque sou uma idiota que está prestes a perder o homem mais maravilhoso que conheci na vida?

Ela parou de mexer nos pães, apoiou as duas mãos na mesa e olhou para cima. Imaginei que estivesse se esforçando para não chorar. Abandonei as xicaras também, puxando-a para se sentar. Ela estava séria, mas seus lábios tremiam.

— Me desculpa, Bella.

Ergui uma sobrancelha.

— Te desculpar pelo que?

— Por magoar o seu irmão — ela lamentou. — Ele fechou uma roda gigante de um parque de diversão, ele fez tudo ser tão perfeito... E eu o magoei. Tive tanto medo de me machucar, e fui eu quem fez mal a ele no final.

— Rose, você não o magoou. Emm não soube me explicar seus motivos, mas ele não desistiu. Ele esta esperando o seu tempo. Eu quero saber é se você desistiu dele.

Os olhos dela se encheram de lagrimas, mas ela não deixou nenhuma cair.

— Eu sou tão patética. Ele deveria desistir, para o bem dele. Encontrar alguém que o mereça, alguém que esteja a altura dele.

— E quem foi que te disse que você não está?

Ela respirou fundo e se levantou.

— Bella, por favor. Não posso dar uma resposta agora. Se é mesmo minha amiga, não insista.

Assenti, compreendendo a necessidade de privacidade dela. E eu sabia que o que estava impedindo Rosalie de ser feliz era algo dentro dela que eu ainda desconhecia, portanto não poderia opinar. Eu só não queria ver ela e meus irmãos se afastando quando estava claro que deveriam ficar juntos.

Mesmo se eu quisesse insistir, não teria conseguido. Emmett, Alice e Edward entraram na cozinha naquele momento, alheios à conversa.

— Então... Tudo pronto para a entrevista? — perguntou Emmett, sentando-se na outra cadeira ao lado de Rose na mesa e já passando requeijão em um pedaço de torrada.

Fingindo que nada tinha acontecido, eu e Rosalie começamos a nos servir também. Se alguém percebeu alguma coisa, não comentaram.

— Sim, repassei a história mil vezes na mente, estou pronta. — anunciei. Virei-me para Edward e Rose. — E vocês?

— Um pouco nervoso, mas acho que sim — disse Edward.

— Eu não, porque não vou aparecer — declarou Rose. — Vou assistir dos bastidores, quietinha no meu canto.

— O quê? — Alice quase gritou. — Rosalie, você precisa aparecer. O foco está em Edward e em você, Cherise vai querer algumas palavras suas, o mundo vai querer algumas palavras suas!

— Então o mundo vai ter que se contentar com as palavras de Edward. Não vou aparecer, não quero meu rosto sendo reconhecido nas ruas. Pensei que tinha deixado isso bem claro.

— Mas...

— Chega, Alice. — Emmett interrompeu. — Rose não quer aparecer, então ela não vai.

— Obrigada, Emm.

Eles trocaram um sorriso amistoso. Eu ia rebater, e pela cara de Alice, ela também. Era estranha essa obsessão de Rosalie por se esconder, não querer mostrar o rosto... Parecia que estava fugindo de algo. Ou de alguém. E talvez isso tivesse a ver com a recusa de Rosalie em ser feliz.

— Acho que nossos nervos não estão muito bem... Que tal fazermos algo pra esquecermos essa entrevista por um tempo?

— Algo como... Um filme de terror? — Emmett perguntou, com um sorriso malicioso no rosto.

— Filme de terror? — perguntou Rose. — Não sei, Emm...

— Ah, Ursinha, vamos! Eu trouxe um aqui comigo, já estava planejando assistirmos de qualquer forma.

Pelo sorriso singelo que Rose abriu, eu sabia que ela estava feliz por Emmett não ter desistido. E, conhecendo o meu irmão, eu sabia bem qual a intenção dele com aquela sugestão.

— Filmes de terror não são muito legais, Emmett... — Edward comentou.

— Ah, não me diga que tem medo, Edward? — provoquei, querendo ajudar Emmett.

Lancei um olhar incisivo para ele, indicando Rose e Emm com a cabeça. Alice decidiu ajudar também.

— Vamos, deixem de ser maricas — disse ela.

Edward estreitou os olhos e olhou de canto para Rose. Ele tinha entendido.

— Você vai ver quem é o maricas quando estiver berrando de medo.

— Ninguém aqui vai berrar, querido — empinei o nariz, para reafirmar minha teoria.

~//~

Eu berrei. E muito.

Não estava acostumada a assistir filmes de terror e tinha certeza de que depois daquele eu jamais voltaria a dormir tranquilamente de novo.

Depois que todos concordaram em assistir o filme, nos acomodamos no sofá e com um balde de pipoca o filme começou. Tudo estava bem no inicio, eu estava séria com os braços cruzados demonstrando toda a minha coragem. Até o primeiro ruído de espírito começar.

Peguei uma almofada no sofá e apertei contra o peito, tentando não fazer escândalo. Àquela altura Rosalie já estava segurando a mão de Emmett com tanta força que suas juntas estavam vermelhas, mas meu irmão sorria tanto que duvidei que o aperto dela causasse dor. Na verdade eu duvidava até que ele estivesse prestando atenção no filme.

Conforme a história avançava e as músicas de suspense aumentavam, fui recolhendo meu pé para cima do sofá e, inconscientemente, chegando mais perto de Edward, que era quem estava do meu lado esquerdo. Minha mente estava alerta, estava na cara que algo ruim estava prestes a acontecer com aquela menina... Alice pegou a outra almofada e escondeu o rosto. Meu peito se apertou em ansiedade. Não moça, não desce a escada... Meu peito acelerou. Ela desceu. E, quando ela acendeu a luz foi quando eu pulei.

— Aah! — exclamei. Nem tive tempo para pensar. Escondei meu rosto entre o peito e o braço de Edward, forçando-o a passar o braço ao meu redor. Uma parte da minha mente registrou o calor de seu braço ao meu redor, mas a outra parte estava paralisada de medo.

— Calma Bella, é só um filme — Edward riu da minha cara. Ele não parecia nem um pouco assustado.

— Não quero mais ver, não quero!

— Também acho melhor desligarmos — Alice me apoiou. Eu concordei veementemente.

— Para de frescura, Bella. Já está na metade — Emmett respondeu. — Rosalie está aguentando melhor do que vocês.

De fato, Rosalie segurava firme a mão de Emmett, mas era só. Ela sorriu presunçosamente para nós.

— É preciso um pouco mais do que isso para me assustar.

Como eu e Alice fomos minoria, o filme continuou. Me recusei a levantar a cabeça do peito de Edward e ele tão pouco me soltou. Eu estaria constrangida se não estivesse com tanto medo. Tinha feito tanto esforço para me manter longe dele e agora estava completamente aninhada em seu peito tremendo de medo. Mas pelo que pude entender da história era sobre um homem que tinha constantes pesadelos antes de ir viajar com a família, e quando ele chega no hotel todos os personagens de seus pesadelos estão lá, incluindo um ventríloquo muito macabro e um menino que está sempre chorando. Não prestei atenção no final, quanto mais os gritos saindo da Tv aumentavam, mais eu me encolhia.

— Ele vai morrer? — perguntei, me referindo à criança chorando.

— Ele já está morto, Bella. Está morto desde o inicio do filme...

— O quê?! — assustada, levantei a cabeça de supetão, dando de cara com Edward que tinha se abaixado à altura do meu rosto para me responder em voz baixa.

— Todos no hotel estão mortos, menos o ventríloquo. Acho que o boneco dele controla os espíritos — ouvi Emmett explicando.

Mas nem eu e nem Edward estávamos mais ouvindo. Com o meu susto, nossos rostos tinham ficado tão próximo que a ponta dos narizes se tocavam. Desde aquele primeiro beijo nós estávamos nos evitando. Não dava para ficar tão próxima assim de Edward sem querê-lo. E eu não queria querê-lo.

Um último grito ecoou da TV e Alice gritou. Subitamente percebemos o que estava acontecendo e nos afastamos no mesmo momento. Quando olhei para a tela da TV, os créditos estavam subindo.

— Eu não vou dormir por um bom tempo — Alice murmurou. — Você está bem, Bella?

Eu rapidamente me desvencilhei dos braços de Edward e coloquei meus pés no chão. Minhas bochechas queimavam e Edward olhava para o chão, sem saber o que fazer.

— Eu... Hum...

— Duas medrosas — Rosalie riu, mas me lançou um olhar cheio de significado. Alice jogou sua almofada na cara da dela e essa foi a nossa deixa para levantar do sofá e fingir que nada tinha acontecido.

— Ou você é muito corajosa, Ursinha — Emmett declarou. Rosalie sorriu para ele e eu fui até o aparelho de DVD retirar o filme e desligar a TV. Por mim eu quebrava aquele filme para que nunca mais fosse reproduzido, mas me contentei em guardá-lo e mandar Emmett nunca mais aparecer com ele na minha frente.

— Aham — pigarreei. — Se todos estiverem prontos, acho que já está na hora de irmos para o estúdio, não?

— Está certíssima, irmã. A entrevista é daqui a uma hora e meia e vocês ainda precisam se preparar. Simbora meu povo!

Com a declaração de Emmett, partimos todos para o estúdio. Era tão estranho passar o meu dia sem a minha filha comigo. Eu olhava para os lados procurando por ela e depois percebia que ela não estava presente. Mas era necessário tê-la longe, Charise podia ser bem intrometida e maldosa e eu não queria Edeline na mira dela.

Chegamos e fomos escoltados para um camarim especial do estúdio. Como aquele não era o estúdio do meu pai tudo era diferente, embora não desconhecido. Eu já tinha dado algumas entrevistas para aquele programa antes e eles conheciam as minhas preferências. Dispensei o maquiador deles, Alice já estava preparada para aquele dia. Ela entregou a Edward a roupa que ele usaria e eu fui colocada em um vestido elegante, longo e da cor azul turquesa. Meu cabelo foi semi preso e cacheado e meu rosto devidamente maquiado. No final do processo eu ostentava uma aparência elegante e séria, porém jovem. Alice nunca parava de me surpreender.

— Uou! —Rosalie exclamou.

Ao mesmo tempo em que eu levantava da cadeira de maquiagem, Edward saía do banheiro da suíte trajando um terno azul meia noite alinhado e aberto, com a lapela preta e uma camisa branca por baixo. Seu cabelo estava modelado com gel. A ausência de gravata e o paletó aberto deixava o look despojado e formal ao mesmo tempo. Ele estava... Deslumbrante. Meu peito acelerou.

— Uau mesmo! Você está incrivelmente bonito, Edward — eu o elogiei sem me preocupar com o que significaria. Ele estava perfeito, alguém tinha que dizer.

— Não se comparado com você — ele sorriu torto.

— Vocês estão parecendo o rei e a rainha de um baile de gala — Rosalie guinchou, suas mãos estavam juntas ao peito e seus olhos brilhavam. Ela parecia enxergar mais do que eu conseguia captar.

— Dez minutos — um rapaz jovem enfiou a cabeça para dentro do camarim. Estava com uma prancheta na mão e tinha uma expressão ansiosa.

— Já estamos a caminho — Alice respondeu e ele saiu. Ela nos olhou. — Vocês estão prontos? Lembram o que deve ser dito?

— Sim, baixinha. Tudo sobre controle — Edward garantiu.

— Bella, tente fugir de assuntos muito íntimos, sabe que Charise vai tentar pressioná-la.

— Estou ciente disso, Alice — suspirei.

— E, por favor, não perca a paciência com ela. Não precisamos de uma discussão ao vivo no Global Secrets, ok? — eu não respondi. Apenas revirei os olhos. — Ok, Isabella?

Bufei.

— Entendi, Polly! Vou me comportar.

Ela fez uma careta, mas não respondeu. Saímos todos juntos em direção ao cenário do GS, uma sala quase toda branca, cercada por telas, um palco, uma pequena plateia do lado direito e no centro um espaçoso sofá vermelho de veludo que era a marca de Charise. Ela já estava lá, é claro. O programa já estava no ar e ela estava fazendo a abertura. Rapidamente colocaram microfones em nossas roupas e nos direcionaram ao palco. Alice, Emmett e Rosalie foram acomodados em cadeiras ao lado das câmeras, de onde poderiam assistir tudo sem aparecer nas filmagens.

Eu e Edward nos aproximamos de Charise. Eu sorri para ele ao notar seu nervosismo, tentando fazer ficar mais fácil. Ele sorriu de volta. Quando Charise nos viu, anunciou o tema do programa e chamou nossos nomes. Ela usava um terninho feminino elegante, uma echarpe verde folha e um salto peep toe branco. Seus cabelos ruivos estavam soltos e cacheados.

— Isa Marie em pessoa, senhoras e senhores! — ela se levantou para me dar beijinhos no rosto. Quando entramos os gritos da plateia aumentaram. — Suas aparições aqui no GS são sempre memoráveis! Seja bem vinda.

— Obrigada, Charise. É um prazer estar aqui — sorri para ela e para as câmeras ao mesmo tempo.

— E você deve ser Edward Masen — depois de ler o nome certo na ficha, ela abriu um sorriso para ele, que ficou vermelho. — Podem se sentar, fiquem a vontade.

EDWARD PDV

Nos sentamos no sofá, de frente para Charise. Foram pouquíssimas vezes em que eu realmente tinha parado para assistir o programa dela, mas conhecia sua fama. Só que jamais imaginei que estaria no programa dela, sendo entrevistado ao vivo em rede nacional. Minhas mãos suavam e minha garganta estava seca, mas tentei parecer o mais normal possível. Não queria envergonhar a Bella, que parecia tão a vontade diante de tudo aquilo. Charise cruzou as pernas e arrumou algumas fichas em sua mão.

— Então, Edward. Você andou despertando a curiosidade da nação nesses últimos dias...

— Garanto que não foi a minha intenção — respondi, arrancando risinhos da plateia.

— E ainda por cima é modesto!

Ela sorriu e voltou-se novamente para as câmeras. Enquanto algumas imagens minhas com Bella surgiam na tela, Charise recontava ao público toda a polêmica que foi gerada em torno de nós. Era tão estranho me ver assim, nas telas, como alvo de curiosidade e de pessoas que não tinham nada mais para fazer além de se preocupar com a vida alheia.

— Então, Edward, faz quanto tempo que Isa te contratou?

Eu engasguei. Não pude evitar porque o choque foi grande. Como ela sabia? Como poderia ter descoberto?! Nos bastidores pude ver Rosalie nervosa também, me olhando. Olhei para Bella desesperado por ajuda.

— Acho que não entendemos sua pergunta, Charise — ela disse.

Charise virou-se novamente para Bella.

— Isa, você divulgou abertamente que estaria pronta para revelar hoje os segredos que cercaram sua vida nesses últimos tempos... Muitas especulações foram feitas de todas as partes. De amante à babá. Não só eu, mas o mundo quer ouvir da sua boca: quem é essa beldade que agora anda com você e atende pelo nome de Edward? Ele é realmente a nova babá de Edeline?

Eu e Bella trocamos um olhar. Fiquei aliviado quando percebi que ela falava sobre meu suposto cargo de babá, e não do acordo sobre fingir se pai da Eden. Ambos sabíamos exatamente o que seria dito agora, ensaiamos até expressões e reações.

— Não, Charise. Edward não é babá da Eden. Isso vai ser um choque para o meu público, mas... Edward é o pai biológico da Edeline.

Um coro de “oooh” veio da plateia e um burburinho se formou. Charise deu um tempo para a plateia se acalmar e voltou-se para nós com uma expressão surpresa em seu rosto.

— Certo, essa foi realmente uma surpresa... Mike Newton negou isso neste mesmo palco, Isa. E, levando em conta a procedência da nossa princesa... Toda a América acompanhou a sua gravidez, sua produção independente e você enfrentou muita crítica na época em que decidiu ser mãe solteira. Lutou pelo seu sonho, provou aos seus fãs que era capaz e conseguiu! Nos deu um presente maravilhoso, Edeline hoje representa toda a inocência e doçura do país — enquanto ela falava, imagens de Bella grávida preenchiam as telas do cenário. Eu estava quase hipnotizado olhando para as fotos, para a beleza de cada pose. Bella e Edeline como uma só, o barrigão e o amor nos olhos de Bella em cada foto. — Eu tenho que perguntar, Isa, como isso pode ser possível?

— Todo mundo conhece a minha regra de ouro: se Edeline quer, Edeline tem. Ela me pediu o pai, Charise, e então eu fui atrás dele. Contratei um detetive para localizar o doador que selecionei há anos atrás e tudo me levou até Edward e sua família...

Bella continuou uma história longa e com detalhes totalmente falsos. Ela contou sobre a relação que estabelecemos, disse que me procurou e me contou que eu era o pai da Eden e que eu prontamente me dispus a conhecê-la. Apesar de ser tudo uma grande mentira, eu podia imaginar a cena como se realmente tivesse acontecido. No final, Charise parecia intrigada.

— Acho que ninguém imaginava que você fosse levar essa regra tão a sério, Isa. Nós amamos a Eden, mas você a mima demais, não?

— Pode até ser que sim, mas a minha filha é feliz e isso é só o que me importa. E o resto acredito ser problema meu apenas.

— Não mais, Isa. Eden tem um pai agora — a plateia aplaudiu a resposta afiada de Charise e ela virou-se para mim. — E como foi descobrir que você era pai de uma pequena celebridade, Edward? Acredito que tenha sido um choque.

Eu me virei para a ruiva, tentando esquecer a plateia e todas as câmeras. Se eu parasse para pensar, acabaria congelando.

— Foi sim, Charise. Foi um choque no inicio, mas Edeline é uma criança adorável e estou feliz agora.

— Como foi conhecê-la? Assumir esse papel de pai da Princesa da América?

— Como eu disse, Edeline é uma criança adorável. Ela é carinhosa, me acolheu em seu coração desde nosso primeiro encontro e sou muito sortudo por ter ela como filha — respondi sinceramente. — Não vejo mais a Eden como celebridade ou como Princesa da América. Agora, ela é apenas minha filha. Uma criança que merece e já tem todo o meu amor.

Mais palmas soaram da plateia e Bella olhava para mim com os olhos brilhando. Essas palavras não foram combinadas, saíram da minha boca com a maior sinceridade possível. Eu já amava Eden como filha e aquilo tinha se tornado irreversível.

— Se não for inconveniente, pode nos dizer o que te levou a doar sêmen para uma clinica de fertilização?

Assenti. Eu sabia que essa pergunta viria.

— Há cinco anos atrás eu realmente precisava muito de dinheiro. A clínica apareceu no meu caminho e me ofereceu uma boa quantia pelo trabalho. Me informaram que só trabalhavam com doações anônimas e parecia simples. Eu fiz — respondi. Tentei ser o mais verdadeiro possível. — Depois me arrependi de ter feito aquilo. Estou muito feliz de poder compensar depois de tanto anos, assumindo Eden e cuidando dela como o pai que eu deveria ter sido desde sempre.

Era verdade. Mesmo que eu ainda não tivesse encontrado meu filho de verdade, eu estava feliz por poder compensar isso dando a Eden o amor de pai que ela precisava encontrar.

— Está nos dizendo que assumiu totalmente o seu papel de pai e que ama Eden? Não há nenhum interesse financeiro nessa relação? Por que você tem andado para cima e para baixo com Isa, então?

Franzi o cenho. Que tipo de pergunta era aquela? Bella, ao meu lado, permanecia calada. Ela me incentivou a responder com o olhar.

— Sim, eu assumi inteiramente o meu papel de pai na vida da Edeline e eu a amo. Não há interesse algum nisso. Tenho acompanhado a Bella simplesmente para estar perto da Eden, que não fica longe da mãe.

A plateia arfou e por alguns segundos tudo ficou em silêncio. Bella parecia calma, mas de longe eu pude ver Emmett e Alice com os olhos arregalados. Eu disse algo errado?

— Em todos esse anos de carreira, eu confesso que nunca ouvi ninguém chamar a Isa de Bella, com exceção dos membros da família Cullen. Mas você parece usar o apelido com muita intimidade — disse Charise, e no mesmo momento eu entendi o que tinha feito de errado. Droga! Tínhamos combinado previamente de eu não utilizar o apelido dela durante o programa, mas eu não estava acostumado com aquilo. Era muito difícil medir cada palavra antes de dizer. — Seja sincero, querido Edward... Há algum interesse amoroso despertando entre você e Isa Marie? De onde saiu essa intimidade?

Eu me calei. Concordei com aquela falsa história, mas deixei claro que nenhuma palavra mentirosa sairia da minha boca. Mas como eu poderia responder aquilo sem mentir? Bella tem me deixado louco, turvado meus pensamentos e confundido tudo em mim. Seu cheiro, sua imagem, sua voz... Tudo em mim se agitava quando eu pensava nela. Nós nos beijamos! Como eu poderia mentir e dizer que não havia nada entre nós?

Eu havia estragado tudo com aquele beijo. Tantos anos planejando, tantos sonhos, para no final meus desejos me cegarem e jogarem tudo pro alto. Eu podia ter feito direito, mas a desrespeitei e provei a mim mesmo que nunca seria digno de uma mulher como ela. De família, uma mãe incrível e uma mulher surpreendente. Não, eu jamais a mereceria.

Mas Charise ainda estava ali esperando uma resposta enquanto eu estava devaneando sobre Bella. Uma resposta que eu não poderia dar.

— Não há absolutamente nada entre nós, Charise — Bella tomou a frente e respondeu. Fiquei aliviado, mas atento à suas palavras. — Edward tem sido um bom pai para a minha filha e nossas famílias se deram muito bem logo de cara, mas é apenas isso. Eu dei liberdade a ele para me chamar de Bella, porque nos tornamos amigos. É só.

Confesso que ouvir aquilo de Bella não foi fácil. Eu sabia que nunca nada daria certo entre nós, mas saber dela que não havia nenhum interesse em mim... Sua voz estava tão firme, tão certa. Eu realmente a desapontei naquele dia e não tinha volta.

— Difícil acreditar nisso, Isa, porque nem mesmo seu noivo a chama de Bella...

— Que noivo? — Bella interrompeu. Ela estava mortalmente séria, brava. Tocar no assunto Mike a deixava fora de si.

— Mike Newton, oras. Quantos noivos você tem?

— No momento nenhum, Charise.

Mais uma reação de choque. Bella estava proporcionando o furo do ano para aquele programa. Charise, embora chocada, parecia eufórica.

— Isa Marie, rainha dos holofotes, está realmente negando seu noivado com Mike Newton que já foi confirmado publicamente?

— Sim, estou. Não me lembro de ter confirmado nada disso. Nunca tive nada com o Newton. Gravamos um dueto juntos para o meu novo CD que será lançado neste mês, mas a nossa relação nunca passou do profissional.

Todos estavam sérios, eu podia sentir a tensão do mundo concentrada naquela sala. Nos fundos, Alice sorria.

— Está alegando que Mike mentiu, então?

— Certamente que mentiu.

A plateia explodiu em gritos. Alguns xingavam, alguns só gritavam, outros até mesmo choravam. Foi alvoroço até conseguir acalmar todo mundo. Charise chamou um comercial e ainda assim a plateia não se acalmou.

— O que está acontecendo, Bella? — aproveitei o intervalo e perguntei. Charise estava cercada de maquiadores retocando seu rosto enquanto assistentes de palco acalmavam a plateia.

— Tanto o meu fan clube quando o fan clube do Mike torciam muito para que virássemos um casal. Eles estavam nas nuvens pensando que estávamos juntos e agora eu acabei com o sonho deles — Bella explicou rapidamente.

— Estão assim só porque um casal que estranhos que eles nunca conhecerem pessoalmente não estão juntos? — perguntei, incrédulo. Até onde poderia chegar a futilidade humana?

— Basicamente sim — ela confirmou.

Antes que eu me desse conta, plateia já estava mais calma e eles deram um sinal indicando que voltaríamos ao ar. Charise anunciou a volta e recapitulou a última declaração de Bella antes de voltar a atenção novamente para nós.

— Isso está ficando cada vez mais interessante, Isa. Você afirma não ter nenhuma relação com Mike, e ele afirma que vocês estão noivos. Os fãs de vocês estão confusos e em choque. Como devemos reagir a isso?

— Charise, eu amo os meus fãs — Bella sorriu. — Eles me fazem ser quem eu sou e eu canto e atuo por eles. E por amá-los é que não posso deixar que sejam iludidos. Não sei mesmo qual foi a intenção de Mike afirmando aquilo, mas não estamos noivos e nem nunca namoramos. Detesto decepcionar a todos, mas não tenho nenhum tipo de interesse amoroso em Mike Newton. E peço aos Isarkles que confiem em mim quando digo que nunca daríamos certo.

— Ok, parece que os sites estarão fervendo hoje! — Charise riu. — Você é mesmo cheia de mistérios, Isa.

— Nem tanto — Bella sorriu. Acho que o pior já tinha passado.

— Muito bem... Edward! — Charise exclamou, chamando a atenção para mim novamente. — Então você e Isa mantém uma relação de amizade?

— Sim. Acho que agora que assumi a paternidade da Eden, é saudável sermos amigos.

— E onde está a nossa princesa hoje? Pensei que teríamos a honra de vê-la interagindo com o pai.

— Infelizmente Eden está com a avó e a prima em um passeio beneficente a um orfanato hoje.

Pela cara que Emmett fez dos bastidores, eu tinha dito outra coisa errada.

— Hum... Prima? — Charise quase ronronou. Era incrível o quanto aquela mulher pegava as coisas no ar! — Então Eden ganhou uma prima na bagagem? Seria a criança loira que vimos em algumas fotos junto com vocês? E a outra mulher loira é mãe dela? São a sua família?

Droga, droga, droga! Deixar Rosalie e Dominique fora dessa entrevista era muito importante para Rose. Eu não podia expô-las, não podia! Mas agora não havia mais saída. Não podia mentir.

— Sim — confirmei em voz baixa. — São a minha irmã e a minha sobrinha.

Rosalie arregalou os olhos. Mesmo de longe, pude sentir seu nervosismo. Tentei lhe enviar um pedido de desculpas pelo olhar.

— E onde elas estão agora?

— Como eu disse, Dominique saiu com Eden e Esme. E Rosalie...

Hesitei.

— Rosalie Masen está bem aqui, América! — Charise gritou. A expressão do choque de Rose era nítida enquanto a câmera se virava para ela.

Ela não se mexeu enquanto a entrevistadora chamava-a para o palco. Estava travada de medo. Emmett disse algo no ouvido dela e a fez andar lentamente até o palco. Ela tentou ajeitar o vestido vermelho de algodão simples que estava vestindo, mas graças a Deus Alice tinha se intrometido no nosso guarda roupas e só deixado peças apresentáveis nele.

Rosalie sentou-se lentamente do meu lado, o mais escondido das câmeras possível. Mas era tarde demais, o close já estava bem no rosto dela. Eu quis pegar a minha irmã e levá-la para longe, para um lugar seguro e escondido. Fiz uma oração silenciosa a Deus, pedindo proteção.

— Rosalie Masen! A nova tia da Princesa da América! É um prazer conhecê-la.

— O prazer é meu — Rose respondeu em voz baixa e olhando para o chão. Ela procurou a minha mão e quando encontrou eu apertei nossos dedos, tentando passar um pouco de coragem para ela.

— Não precisa ficar tímida querida, somos todos amigos aqui — Charise riu. — Então, conte-me um pouco sobre vocês. De onde vocês vem?

— Nascemos e crescemos em South L.A. — ela respondeu, sabiamente ocultando nosso endereço atual.

— South L.A.? — Charise questionou. — Quer dizer que os boatos de que a nossa princesinha está frequentando o bairro mais perigoso da cidade é verdade?

— Claro que não — Bella interrompeu na hora. — Os Masen vieram de lá, mas atualmente moram no centro de Los Angeles, em um agradável condomínio residencial. Foi onde encontrei Edward.

Eu podia sentir o terror de Rosalie crescendo. Aquilo estava ficando cada vez pior. Bella não tinha como saber o perigo ao qual estava nos expondo, nem o quanto aquela entrevista desencadearia uma série de eventos desagradáveis em nossas vidas.

— Ah, compreendo Isa. Obrigada pelo esclarecimento — Charise prosseguiu. — Então Rosalie, você é a mãe daquela criança adorável? Dominique, não é?

— Sim.

— Quantos anos ela tem?

— Seis anos.

— E o pai dela?

Rosalie apertou meus dedos com força, seus olhos se encheram de lágrimas. Sem dizer uma palavra ela levantou do sofá, correu para fora do cenário e sumiu da nossa visão. Emmett imediatamente correu atrás dela.

Tanto Bella quando Charise estavam de boca aberta. Eu precisava ir atrás dela.

— Pode nos explicar o que foi isso, Edward? — Charise perguntou em uma voz neutra. — Tem algo a ver com o pai da sua sobrinha?

— Peço desculpas, mas preciso ir ver a minha irmã. Com licença.

Não me importei com a reação do público. Corri para os bastidores em direção à Rosalie.