- Como está a Annie? - perguntei para Finnick.

- Em segurança. Como está o Ethan? - ele respondeu tirando os olhos da TV onde se passava as colheitas nos outros distritos.

- Eu... Não conseguimos conversar ainda.

- Está com medo? - ele pausou o vídeo no momento da colheita do Distrito 3. 

- Você teve medo quando foi?

- Não é justo, eu tinha apenas catorze anos! - ele deu aquele sorriso irresistível e eu não pude fazer nada além de sorrir também.

- Algum conselho, mentor? - disse meio ironicamente após alguns segundos em silêncio.

- A melhor coisa que você poderá fazer, não poderá ser feita na arena.

- Como assim? 

- Faça as pessoas te amarem. Faça com que a Capital queira você viva. Bom, digamos que você já tem uma grande vantagem por ser minha irmã... - ele passou as mãos no cabelo como um ator de cinema em frente a milhares de jornalistas. 

- Meu irmão é muito metido mesmo. - disse rindo e joguei uma almofada nele bagunçando seu cabelo. Ele riu e deu play novamente no vídeo.

- Isso está parecendo armação da Capital. - ele disse enquanto seu sorriso sumia e ele assistia à garota sorteada do 3 subir ao palco. Ela parecia bem surpresa e assustada.

- O que?

- Tá vendo aquele garoto sentado ali?

- Sim... - olhei o garoto de cabelos pretos no palco.

- Ele também é mentor e sua irmã foi sorteada. Acho que o idealizador dos Jogos esse ano está tentando fazer um grande confronto, e é claro que a irmã do Finnick Odair não poderia ficar de fora... - ele disse tristemente como se toda a fama que ele havia conseguido na Capital, só lhe trouxesse sofrimento. Ele estava sofrendo por mim. Conseguia perceber isso por conhecer meu irmão minha vida inteira. 

- Posso te perguntar uma coisa? - minha voz começava a falhar. Eu temia esse momento, mas eu precisava lhe perguntar aquilo. Ele fez que sim com a cabeça e seus olhos verdes como o mar se fixaram em mim me deixando ainda mais nervosa.

- Você... Não vai... Quero dizer... Você será o mesmo mentor para mim e para o Ethan, não é? Digo, eu não vou ter privilégios...

- Anna... Você já sabe a resposta.

- Você não pode! Finnick, é o Ethan! Meu melhor amigo, irmão da Annie! 

- Eu sei Anna, mas eu tenho que te proteger. Você é a única família que me resta.

- Finnick, eu sei que é difícil pra você, eu sei como você está se sentindo, mas é diferente! É o Ethan! Por favor, por mim, não deixa ele morrer.

- Isso significaria deixar você morrer, e você sabe que não pode me pedir isso. Eu adoro o Ethan, mas você sabe que se eu puder fazer alguma coisa, e como mentor eu posso, eu não posso pensar na hipótese de te perder.

- Finnick, por favor...

Ele suspirou. Eu estava quase me desmanchando em lágrimas. Ele me beijou na testa.

- Está bem, vou tentar ser imparcial.

- Prometa...

Ele fechou os olhos como se dizer aquilo fosse muito doloroso.

- Está bem. Eu prometo.

Eu o abracei o mais forte que consegui. Seus braços fortes me envolviam me dando proteção e isso era tudo o que eu precisava no momento. Eu não conseguira mais me segurar, lágrimas escorriam dos meus olhos verdes (única semelhança física entre mim e Finnick) pela minha pele agora vermelha devido ao choro. Finnick correu os dedos pelos meus longos cabelos me acalmando. 

- Está tudo bem. Assim é a vida, e dor é só um simples compromisso. - Finnick disse baixinho.

Apesar de tudo, eu sabia que ele não seria capaz de cumprir a promessa, mas só estar ali já me confortava e se fosse para o pior acontecer, que não fosse por minha culpa ou de Finnick. Pensei em Ethan. Em Finnick, em Annie. Nos outros tributos que perderiam a vida. Em mim, no que me esperava. Minha cabeça estava prestes a explodir, mas na minha mente me convenci a deixar tudo isso pra ser pensado amanhã.