Loki: Segredos Sombrios escrita por Tenebris


Capítulo 9
Expedição


Notas iniciais do capítulo

E aí, queridos? Demorei, mas valeu a pena. Esse capítulo é grande - arrisco-me a dizer que o maior em uma fic minha até hoje hahha - e tem bastante coisa. Além disso, eu estava escrevendo uma cena tensa da minha outra fic, Renascer da Fênix, e acabei atrasando um pouco nesta. Maaaaaas, sei que vocês vão me perdoar né? Se preparem, segundo meus cálculos, tem surpresa no capítulo 11/12 :D Beeeeeeeeeeeeijos



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Eu e Lucca deixamos a tenda, encontrando os Vingadores em seguida. Eles estavam treinando ao ar livre na presença da legião de Soldados Asgardianos. De alguma forma, ao deixar o interior do espaço de treinamento e ir para o campo, senti-me mais aliviada. Dei um longo suspiro e meus pulmões receberam o novo ar com ânsia e avidez. Acho que eu estava me sentindo um pouco claustrofóbica devido à minha conversa com Loki.

- Ei! – Lucca me chamou, segurando-me pelo pulso. – Do que aquela rena ambulante estava falando?

Eu mordi um lábio, consternada. Ok. Eu precisava improvisar. Eu costumava ser boa nisso, já que a profissão de mafiosa exigia a capacidade de inventar mentiras em momentos inesperados. Não sei por que eu travei um pouco naquele momento.

- É que... Essa arma pertence a ele. Ele não quer que eu me esqueça de devolver. – Comentei casualmente, mostrando-lhe a lança negra.

Lucca alisou a barba, enquanto me fitava com desconfiança. Em geral, ele percebia tudo o que queria descobrir só de olhar para mim e analisar minhas atitudes. Ele me conhecia muito bem, e devo dizer que 90% de suas deduções costumavam ser corretas. Contudo, quando ele me perguntava alguma coisa, era porque não tinha conseguido descobrir sozinho anteriormente. E se não tinha conseguido descobrir sozinho, era porque eu estava escondendo algo dele. Em suma, ele não acreditou totalmente na minha história.

E eu estava tão desesperada intimamente, que me precipitei. Ele ameaçou virar-se e ir treinar; mas foi minha vez de segurá-lo. Eu disse, quase sussurrando:

- Não comenta com ninguém, você sabe... O cara não é a melhor companhia para uma Vingadora.

Lucca arqueou as sobrancelhas, de um modo que indicava sua concordância comigo. Tranqüilizei-me, mas um sorriso travesso e ambicioso surgiu em seus lábios. E eu conhecia aquele sorriso.

- Ótimo. Eu ajudo você... E você me ajuda. Preciso de um favor.

Revirei os olhos e cruzei os braços, prevendo que ele falaria isso.

- Ah, Lucca! – Bufei, me controlando para não chamar a atenção dos outros. – O que você quer?

E então, Lucca me abraçou, conduzindo meu corpo para outra direção. Eu fitei os olhos negros dele; e estes pareciam audaciosos, determinados, e sonhadores... Segui a sua linha de visão, e vi para onde Lucca olhava com tanto afinco.

Em meio aos soldados que lutavam, uma figura feminina se destacava. Lady Sif.

Eu a observei, olhando com descrença para Lucca. Lady Sif era uma mulher alta, extremamente forte, com longos cabelos escuros presos em um único rabo de cavalo, que caíam lindamente sobre suas costas. Ela usava uma roupa feminina de guerra, e manuseava a espada com muita habilidade e destreza. O olhar dela exalava letalidade e perigo. Ótimo. Olha onde eu estava me metendo...

- Ajude-me a conquistá-la... E ninguém fica sabendo do Homem Rena. – Disse Lucca, olhando indiscretamente para Sif e suas belas curvas.

- Eu te peço praticamente para não fazer nada. Só para ficar quieto. E você me dá uma missão impossível... – Comentei, desvencilhando-me do abraço de meu irmão.

- Você escolhe... – Ele disse, dramático. Mas ele sabia que eu o apoiaria.

- Ok. Mas não me responsabilizo se ela fulminar você. – Disse, rindo, e me afastei para ir treinar junto dos outros. 

Depois de um longo dia treinando, novamente o sol ia se pondo. A claridade alaranjada da tarde ia sendo substituída por nuances de azul pálido, levemente escuro. Todos os Vingadores e Soldados estavam se aprontando e indo jantar no Palácio, e restavam alguns poucos atrasados. Logicamente, eu estava no grupo desses últimos.

Desse modo, apoiei meu pé em um banco simples de madeira e estiquei meu corpo, curvando-me sobre minha lança a fim de afiá-la.

Eu pegara uma espada de metal, e agora a usava para deixar a minha arma ainda mais afiada, depois de um longo dia de treino pesado. O tinir das armas, arranhando uma à outra, era um consolo aos meus ouvidos em meio ao silêncio do acampamento de guerra. Quase não havia luz, e a pouca que havia era proveniente da lua, ou de pequenos conjuntos de fogueiras.

E essa luz – ainda que pouca -, foi o suficiente para permitir minha leitura, enquanto afiava minha lança. “Mischief” brilhava em dourado intenso na base da arma, tirando meu foco toda vez que eu a lia. A simples leitura da inscrição desconcentrava-me. Tal como a própria pessoa que levava aquele nome me desconcentrava...

Quando acabei o serviço, caminhei até o Palácio. Estava determinada a me juntar aos outros. No entanto, foi quando vi Loki caminhando displicentemente pelo acampamento de guerra. Não sei se ele percebeu que, mesmo estando longe, eu o olhava. Ele tinha os braços postos cuidadosamente atrás das costas, e olhava para cada canto do acampamento furtivamente, perscrutando-o com seus olhos verdes irrequietos e chamejantes. O clássico sorriso lateral brincava no seu rosto e fazia minha respiração gradualmente se desestabilizar.

Então, naquele momento, tomei uma séria decisão. Eu e Loki tínhamos umas dívidas pendentes. Eu o salvara, e ele respondera às minhas perguntas. Ele me salvara, e era minha vez de responder às dúvidas dele. No entanto, era impossível estar na presença do deus sem ter a sensação de estar sendo manipulada... De alguma forma, eu me sentia induzida a pensar ou a fazer o que o deus desejava.

A própria aura dele inspirava essa dominação. Como se, de qualquer jeito, qualquer um fosse submetido às vontades do deus, desejando isso ou não. Loki sempre parecia ter o controle sobre a situação.

Por isso, resolvi que, a partir daquele momento, eu usaria a nossa aproximação ao meu favor. Ora, Loki era o deus da trapaça. Tentara matar Thor, roubar o trono de Asgard e explodir meia Nova York, deixando um bando de alienígenas invadirem o local. Ele não era nem um pouco digno de confiança. Com certeza devia estar planejando algo... As aparições e sumiços repentinos. Tudo devia ter uma explicação. Loki devia estar planejando algo.

Não evitei pensar como uma Vingadora. E evitei, menos ainda, pensar como uma mercenária, que eu de fato era. Eu usaria a minha aproximação com Loki para tentar descobrir os planos do deus. Eu iria enganá-lo, intimidá-lo, ludibriá-lo e até manipulá-lo, caso fosse preciso. Mas eu iria conseguir as informações que eu queria sobre ele. Desse modo, com alguma informação descoberta, eu podia vendê-la, e tirar mais dinheiro da SHIELD. Ok. Talvez não fosse a coisa mais ética a se fazer. Mas quando essa minha missão tinha sido ética?

A SHIELD estava me pagando para estar ali e designar meu papel. E eu estava apenas indo atrás do bônus. Guardei essa informação e esse pequeno plano junto de mim. Então seria assim. Eu me aproximaria do deus da trapaça para tirar informações dele a qualquer custo. Provavelmente, Loki também já estava fazendo o mesmo comigo. Eu não seria estúpida de dizer que ele não estava. Afinal, ele se aproximara de mim com algum interesse oculto, visando algo que julgava útil para si. Então, ele já devia estar me manipulando, e eu não negaria isso. Eu só não sabia o porquê de tal interesse da parte dele. Mas, com certeza, Loki já devia estar tentando me manipular... Só faltava descobrir os motivos disso.

E eu iria descobrir. E iria mostrar que muitas vezes, as sombras podem ser tão trapaceiras quanto os próprios deuses.

Desse modo, outra longa semana se passou. Tudo se seguiu no mesmo ritmo. Ao longo desses dias, eu e os Vingadores dedicávamos parte do dia ao treinamento, e a outra parte a reconstruir pontos da cidade que tinham sido destruídos pelo recente ataque Jotun.

Mesmo assim, tudo era feito com uma ligeira tensão no ar. Era como se nada do que fizéssemos bastasse para trazer novamente a paz Asgardiana. Ora, a guerra não terminara. Era como se a qualquer momento um Gigante de Gelo fosse aparecer e te transformar num picolé com pernas. Além disso, eu passava a maior parte do tempo ao lado de Steve e Tony, nas missões e treinos. E eu mal via Loki.

Possivelmente, ele não se achava digno de treinar com todos os outros; e menos ainda, digno de reconstruir a cidade que tanto odiava. Ele sempre dava um jeito de sumir nessas horas. A grande ironia era que ele vagava no Palácio como uma sombra... Aparecendo e desaparecendo com rapidez e agilidade, como se andasse sem rumo e sem propósito. Como se apenas fizesse parte da decoração do Palácio. Bem, eu tinha certeza de que ele planejava diametralmente o oposto disso.

 Aliás, tudo o que ele fazia tinha um propósito oculto. A questão, essencialmente impossível de responder, era quais propósitos viviam ocultos sob sua lábia e seus olhos verdes sagazes.

Inclusive, acho que conversei com o deus poucas vezes. No máximo, trocamos algum cumprimento porque Thor estava comigo. Isso me irritou, porque me fez pensar em como meu plano estava indo mal. Como eu tiraria alguma informação dele, se nem sequer conseguia chegar perto e sustentar alguma conversa com o deus?

Mas prometi para mim mesma que teria paciência. Era uma missão particular que exigia tempo e muito cuidado. Tentei me concentrar na grana que viria depois. Funcionou como um consolo imediato.

E assim, completava-se um mês da minha presença em Asgard. Na manhã desse mesmo dia, fazia um frio quase insuportável no local. Eu saí cedo para treinar, a fim de tentar me distrair um pouco. Estava frustrada em relação à Loki que precisava ocupar minha mente. Poucos soldados haviam de fato acordado, e o acampamento fazia-se silencioso. A neblina tomava conta do local.

Caminhei apressadamente até a Sala de Treinamentos. Com alguma surpresa, avistei Lady Sif treinando. Foi a deixa que eu precisava. Eu a cumprimentei, e ela me olhou com certa desdém que me incomodou. Depois disso, resolvi chamar Lucca a fim de cumprir minha parte no trato. Não demorou muito e ele chegou. Deixeis os dois treinando e saí de lá. Lucca, em geral, lutava bem. Mas a presença da mulher o desconcentrava ao ponto de deixar a luta quase cômica. Com um risinho, deixei o lugar.

Já no lado de fora do acampamento, sentei no chão perto de uma fogueira, evitando os olhares curiosos dos soldados. E de súbito, avistei Steve correndo preocupado.

Levantei-me, lamentando deixar o calor que emanava da fogueira, e me juntei a ele.

- Steve, está tudo bem? – Perguntei, percebendo claramente pelo olhar dele que não.

- Não. Chame os outros. Thor quer organizar uma expedição. Heimdall observou um novo ataque. Gigantes de Rocha estão vindo para nos atacar.

Eu fitei Steve pelo que pareceram longos e torturantes segundos. Em seguida, assenti, correndo para a direção oposta à que o Capitão tomava. Ele devia estar reunindo alguns Vingadores, e eu reuniria a outra parte do grupo.

Olhei para o meu relógio e vi que eram onze horas da manhã, mas o tempo estava tão fechado que parecia ser muito mais cedo do que isto. Ademais, fazia muito frio. O céu asgardiano, geralmente límpido e com sua resplandecente claridade dourada, agora estava cinza opaco, com pesadas e negras nuvens.

Pensei, então, em chamar Lucca e Lady Sif, que ainda deviam estar treinando. Corri até a tenda de treinamentos e entrei, sem fazer barulho. Avistei Lucca e Sif numa batalha dinâmica e movimentada. A expressão do meu irmão revelava que ele devia estar em desvantagem, porque era de puro descontentamento. Ele franzia a testa, e contraía os olhos negros, cerrando os lábios numa linha fina. Lady Sif olhava-o com seus olhos emblemáticos e superiores, arqueando as sobrancelhas num gesto de fúria e determinação.

Lucca usava uma espécie de machado. Acho que era a arma que ele mais se adaptara, porque exigia tanto habilidade, quanto força. E Lady Sif usava uma espada de bronze, a qual ela manuseava com leveza e firmeza simultaneamente, de algum modo. A batalha entre eles estava equilibrada, até o momento em que Sif chutou as costelas de Lucca, empurrando-o para trás violentamente. Eu não saberia dizer há quanto tempo eles deviam estar lutando, mas meu irmão arquejou como se já estivesse deveras cansado. E acho que ele perderia essa luta...

Sif sorriu amplamente, exibindo dentes brancos e reluzentes de alguém que já sorrira muito daquela forma, nas longas batalhas que já vivenciara. Lucca piscou para ela de um jeito sedutor, e um fino traço de humor percorreu o sorriso de Sif. Ela apontou a espada para a garganta dele, aproximando-se lentamente. Eu tinha certeza de que ela não iria matá-lo, mas o olhar dela era tão penetrante que tive medo de que se esquecesse de que aquilo era apenas um treinamento.

E eu ainda observava-os assim, sem ser vista, quando vi Lady Sif largar a espada no chão. O objeto caiu com um barulho metálico e estrondoso. Ela levou às mãos à cabeça, mordendo o lábio num gesto de aflição. Então, Lucca aproveitou-se disso. Deu uma rasteira nela, mas ao invés de deixá-la cair, amparou-a. Lucca envolveu seus braços ao redor de Sif e olhou-a com a expressão travessa.

- Você sabe se defender de um ataque físico. Mas não sabe se defender de um ataque mental... – Comentou Lucca, com o rosto muito perto do de Sif. Aquela história não acabaria bem...

Lucca devia ter invadido a mente dela, e tê-la feito largar a espada. Em seguida, com Sif atordoada, ele lhe dera uma rasteira, mas não para ela cair. E, sim, para poder segurá-la e evitar que caísse. Lucca e seus modos excêntricos de seduzir moças...

- Você me atacou mentalmente, soldado? – Indagou Sif, olhando-o com ligeira aversão. Lucca ainda tinha os braços casualmente envolvidos na base da cintura dela. Lucca fez um gesto com a cabeça que indicava “sim”.

- E porque não fez isso logo no começo da batalha? Poderia ter vencido... – Perguntou Sif, olhando para os braços de Lucca envolvidos ao redor dela, e depois, olhando para a expressão enigmática e divertida dele.

- Esse é só um de meus segredos. Pode tentar descobrir todos eles, se quiser... – Disse Lucca, e eu ri de onde estava. Ele estava tentando conquistar uma guerreira daquela forma? Francamente...

Sif fechou a expressão, e seus olhos tornaram a parecer tão emblemáticos e letais quando o céu nebuloso lá de fora. E, de súbito, ela estendeu os braços e desferiu um sonoro tapa no rosto de Lucca. Meu irmão olhou-a totalmente incrédulo.

Eu segurei, novamente, uma risada. Mas aí me lembrei de que, caso Lucca não conseguisse ficar com Sif, ele poderia entregar meu segredo sobre Loki a todos os outros. Meu bom humor passara.

- Nunca gostei muito de segredos, soldado. – Declarou Sif, retirando de si bruscamente as mãos de Lucca que ainda a envolviam. Ela ameaçou andar e ir para a direção onde eu estava, e foi minha vez de agir.

Apareci para eles, andando casualmente, como se nunca tivesse parado para espiá-los.

- Ah... Atrapalho? – Perguntei, fazendo-me de sonsa.

- Claro que não, guerreira. – Disse Sif, ainda com a expressão fechada. No entanto, assim que os olhos de Sif se desviaram dos de Lucca, eu podia jurar que vi um leve sorriso brincar nos lábios dela.

- Ataque? – Perguntaram Lucca e Sif para mim, enquanto nós íamos em direção à fogueira central do acampamento de guerra.

- Sim. Gigantes de Rocha, pelo que me disseram... Steve pediu para que todos se reunissem... – Expliquei, andando apressada.

O acampamento de guerra estava montado nos jardins de Odin, e sua fogueira principal localizava-se no centro. Era uma fogueira enorme, ao redor da qual os soldados costumavam se reunir.

Nós nos aproximamos de lá, e percebi que Thor falava para todos. Eu acenei para Steve, apontando para Sif e Lucca, indicando que eu os havia trazido. Steve saiu de onde estava e se juntou a mim. E Thor continuava seu pronunciamento, de modo que todos os Vingadores e soldados presentes pudessem ouvi-lo.

- Meus amigos... Esta manhã, Heimdall observou uma perturbação no equilíbrio da Árvore da Vida. Gigantes de Rocha estão planejando nos atacar. Eles estão mobilizando suas tropas e chegarão a Asgard dentro de três dias. Estive conversando com todos, e chegamos a uma conclusão.

Thor tinha os olhos azuis obstinados, que focalizavam o horizonte além de nós. Ele daria um bom rei, percebi. Falava com a distinção magnífica de um monarca, e com a habilidade e motivação de um guerreiro.

- Bem... Não queremos mais guerra e destruição em Asgard. Nossas famílias e amigos já sofreram muito com isso. Nesse caso, vamos fazer o mesmo que eles! Vamos movimentar nossas tropas e atacar os Gigantes antes mesmo que eles cheguem até aqui! Assim, evitaremos trazer uma batalha para Asgard e enfrentamos nosso inimigo desprevenido!

Um murmúrio geral de concordância ecoou pelo lugar. Eu refleti sobre a proposta de Thor, e percebi que era mesmo uma ideia melhor. Contudo, fiquei ligeiramente apreensiva, é verdade. Uma coisa é você lutar em outra dimensão com inimigos que invadem sua cidade. Outra coisa é você sair do lugar que conhece e enfrentar o inimigo em terras desconhecidas, numa dimensão imensurável. Steve olhou para mim, com aqueles olhos azuis que tinham o poder de me tranqüilizar. Eu sorri para ele.

E Thor continuou, com um fraco sorriso:

- Ótimo. Vamos arrumar o acampamento e partir em duas horas. Há um portal a cinco milhas, ao leste de Asgard. Nós vamos encontrar os Gigantes de Rocha antes que eles nos encontrem e vamos destruí-los! – Thor gritava, brandindo seu machado. E Finalizou com essa frase marcante. - Se não queremos que a Guerra venha até nós e nossos filhos, nós iremos até ela!

E duas horas depois, era exatamente isso que fazíamos.

Os soldados desmontaram o acampamento, com alguma espécie de mágica, porque tudo ocorrera muito rápido. Os Asgardianos possuíam conhecimento dessa magia, de modo que montar e desmontar o acampamento de guerra não demorava muito tempo, e nem dava trabalho. Eu e os Vingadores arrumamos nossas coisas em uma mochila que a SHIELD nos dera, mas não nos fora permitido levar muita coisa. Somente o essencial para uma viagem de guerra. Suprimentos, roupas, água, armas e coisas do tipo.

Naquele momento, eu estava com minha mochila já pesando nas minhas costas. Eu me encontrava na porta do Palácio de Asgard com os Vingadores, observando aquela movimentação intensa. Havia cerca de duzentos soldados asgardianos se preparando. A maioria já estava com seus trajes de batalha. Alguns iam com cavalos, e outros levavam mais bagagem do que o normal. Deduzi que fossem armas. Além disso, havia Loki. Ele apareceu no meio de nossa reunião, e ficara resolvido que ele iria também. A ideia me deixou ligeiramente desconfortável... E o mais estranho, em minha opinião, era ele ter aceitado tal oferta.

- São vinte horas de viagem a pé... Vai ser como na época das Cruzadas... – Comentou sabiamente Bruce Banner, segurando sua maleta com as mãos trêmulas.

- Tem medo de cavalos, doutor? – Provocou Lucca, rindo amigavelmente. Até mesmo Stark riu da piada.

- Tenho medo do “Outro cara” se perder pelo caminho... Parece que a estrada até o portal é bem... Abandonada. – Comentou Banner, ajeitando os óculos. Era uma mania bem curiosa...

- Vai ser um saco dormir nas barracas... Vocês sabiam que o Clint ronca? – Disse Tony, abraçando o amigo com o qual brincara. Clint sorriu fracamente.

E um riso geral ecoou entre nós.

- Bom... Então está tudo pronto? – Era Nick Fury. Ele também iria.

Nick olhou diretamente para Steve, e eu segui seus olhos de modo a também fitar o Capitão. Os olhos azuis de Steve estavam como os de Thor há minutos atrás, focalizando o horizonte, pensando nas nossas reais chances de vencer. Acho que eram boas, porque Steve falou com determinação:

- Prontos. Como sempre, Fury...

•••

- Você não caminhava quando vivia Itália? – Riu Steve. E eu praticamente mancava de tanto ter andado.

Bom, a expedição partira. Recebera o nome de Expedição Sieg. Era algo que significava vitória... Enfim, a cena estava inimaginável. Thor ia à frente de todos, junto com seus outros amigos Asgardianos e os soldados do primeiro escalão. Em seguida, uns cento e cinqüenta soldados. Por último, eu, os Vingadores e Loki. Nessa disposição, marcharmos numa caminhada a pé, por uma estrada que ficava a leste do Palácio de Asgard. Ela nos levaria até um portal, por onde os Gigantes de Rocha deveriam aparecer.

E já estávamos caminhando fazia cerca de cinco horas. Lucca tentava puxar assunto com uma guerreira que estava perto de nós. Tony cogitava a possibilidade de ligar a armadura e ir voando. Thor não estava presente. Natasha e Clint caminhavam lado a lado silenciosamente. Banner ia também, parecendo pensativo. Loki caminhava displicentemente, sozinho, mas parecia não se importar com isso. Umas três vezes ele lançou olhares para mim, que eu ignorei sem saber por quê. E eu e Steve ficamos um pouco para trás, com ele tirando uma com a minha cara por eu ser lerda.

- Bom... Caminhava. Mas não cinco horas por dia. – Comentei. Já estava quase anoitecendo. O céu, àquela altura, era um crepúsculo roxo.

- Depois de alguns anos congelado, acho que não me importo mais de andar bastante... – Ele comentou. A expressão dele sempre ficava enigmática quando se recordava do passado. Acho que tinha algo que ele gostava muito de se lembrar daquela época... Um dia eu descobriria o que era.

- Todos nós temos um passado conturbado, não é mesmo? – Falei, chutando uma pedra que estava em meu caminho.

- Não quero esquecer o meu. Acho que... Fiz as escolhas certas. Bom, na maioria das vezes. – Ele disse, e me lançou um sorriso triste.

- Eu também fiz as melhores escolhas que podia. Arrependo-me apenas de uma coisa. Deveria ter sido mais esperta na hora de negociar com a Yakuza e ter fugido... – Comentei, rindo levemente.

Steve me olhou com apreensão. Eu tocara no assunto da prisão, e esse assunto sempre parecia mexer mais com ele do que comigo de fato.

- Não se arrepende de ter sido criminosa? Quer dizer, não que seja do mal, você sabe... É só que, você foi presa... Não que seja um problema pra mim, mas é que... Ah, me desculpe. – Steve disse, tentando justificar-se. Esse jeito dele todo confuso de lidar com mulheres era algo que realmente me divertia. Eu dei de ombros. Tenho certeza de que Steve não pretendia me fazer sentir mal.

- Relaxa, Capitão... Eu entendi o que quis dizer. E, bem. Acho que é uma questão de valores. Eu tenho os meus e você os seus. Mas eu admiro sua coragem, sua espontaneidade, sua confiança... – Elogiei Steve, dando tapinhas nas costas dele.

Ele sorriu, e pareceu ligeiramente mais tranquilo.

- Eu nasci na família Alessa. A última família de feiticeiros desde a época de Roma Antiga. Nasci num castelo e desde pequena sabia qual seria meu destino. Sustentar a riqueza da família, conseguir mais poder, e praticar nossa própria política e ideologia. Eu acredito nisso. Por enquanto, é o que me basta... – Eu disse, tentando explicar para Steve que não brigaria com ele por causa dessa nossa disposição diferente de idéias.

- Apesar de... Bem, termos opiniões diferentes, sei que você é uma pessoa legal. Você está aqui somente pelo dinheiro? Não, esquece... Não quero que responda isso. – Steve riu sonoramente. A risada dele, por incrível que pareça, me fez esquecer de que estávamos praticamente caminhando para a morte em questão de horas, em terrenos desconhecidos. A risada dele quebrou toda a tensão do momento, o que me deixou muito grata.

- Você quem sabe... – Afirmei, rindo também. O pior era que eu mesma tinha medo de responder àquela pergunta. Era só pelo dinheiro que eu estava ali... Não era?

- Bem... Eu não devia achar você essa pessoa legal, mas eu acho. Você evitou que a SHIELD explodisse. Poderia ter deixado o lugar ir pelos ares, mas me avisou. – Steve sorriu para mim, e eu retribuí o sorriso.

- E viramos amigos improváveis. O Capitão América e a mafiosa italiana... – Eu disse, fazendo gesto de aspas com as mãos.

Steve prolongou sua risada por alguns segundos, para depois cair em seus próprios pensamentos. Seus olhos azuis perderam o foco, e ele tinha uma mão posta cuidadosamente no queixo, como se refletisse.

- Sim... Muita coisa improvável... – Steve acrescentou, quase murmurando. Não acho que eu devesse ter ouvido.

- O quê? – Indaguei.

Steve piscou várias vezes, e depois me encarou. Ele tinha a expressão suave, um sorriso fino e sublime moldava seus lábios. Eu acho que perdi a conta dos segundos que se passaram, e fiquei apenas observando aquela expressão única do Capitão. Também me era indecifrável, mas de um jeito convidativo. Indecifrável de um jeito que eu sabia que poderia decifrar, se persistisse.

E o Capitão não respondera à minha pergunta.

Depois de mais duas horas de caminhada, totalizando sete horas, foi anunciado que pararíamos para descansar. Com o auxílio daquela magia que eu não compreendia muito bem, em questão de minutos o acampamento estava montado, tal como ele o era originalmente nos jardins de Odin.

Eu e os Vingadores acendemos uma fogueira e nos reunimos ao redor dela. Steve e Natasha pegaram emprestado alguns utensílios com os soldados asgardianos e preparavam algum alimento para nós, da forma como podiam. Olhei para o meu relógio. Nove horas da noite. Mordi o lábio de apreensão, e fiquei contente por Steve me estender uma caneca com chá fervendo. Eu estava precisando daquilo.

- Quando precisarem de uma cozinheira, chamem o Steve. – Disse Tony, levantando sua caneca e mostrando-a ao Capitão para provocá-lo. – Mas eu preferiria um bom e velho Johnnie Walker.

Depois disso, ficou decidido que metade dos Vingadores dormiria. A outra metade vigiaria. Depois, o inverso seria feito, a fim de que sempre tivéssemos vigias disponíveis. A sorte não costumava andar muito do meu lado, e no mesmo momento fiquei sabendo de duas coisas. A primeira, eu dividiria uma barraca com alguém, porque não havia barracas suficientes disponíveis. A segunda, meu turno de vigia era o primeiro.

Assenti perante essa ordem dada por Fury, e sentei no chão ao lado da fogueira. Tudo era silêncio. O céu mesclava nuances de preto e púrpura. Ao redor da estrada, árvores e pinheiros infindáveis. Nada além disso. Então por que eu tinha a impressão de que olhos verdes imprevisíveis sempre me sondavam?


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Notas finais do capítulo

E aí? Lembrando que reviews e recomendações me motivam a escrever mais, melhor e a postar com mais frequência :D