Loki: Segredos Sombrios escrita por Tenebris


Capítulo 35
Alternativas


Notas iniciais do capítulo

Faltam só mais dois capítulos pra história terminar, gente! Não vou me alongar, quero apenas que vocês leiam e me digam o que acharam. Quanto aos comentários antigos, eu prometo que responderei TODOS logo, o mais rápido possível, pra responder bem respondido! Estou meio enrolada com semana de provas e aulas de direção! Me desejem sorte e vamos que vamos, hahahaha! Beijos e até mais! ♥



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– Deixa ela ir... – Ouvi uma voz murmurar no meu quarto, enquanto eu já cruzava o corredor às pressas. Era Steve Rogers. Esse foi o único momento em que cogitei alterar meus planos. Steve parecia levemente triste com tudo isso. Eu só não sabia seus verdadeiros motivos. Por mais que ele fosse sincero comigo, eu sabia que existiam segredos entre nós que não eram compartilhados, o que não era necessariamente errado. Então, por que eu estava me sentindo mal ao deixar Steve ir embora? Caso eu ficasse em Asgard e não quisesse voltar para a Terra, como ele lidaria com isso? Porque, se Steve fosse magoado, eu sentia que também seria magoada, de alguma forma. E eu, ainda que não soubesse muito bem definir de que maneira, desejava Steve perto de mim. Contudo, respirei fundo, afastei tais pensamentos da minha cabeça e continuei firme em meus passos.

Cheguei em pouco tempo à área em que havia algumas celas, no subsolo do Palácio. Era um corredor largo, porém curto em extensão. A julgar pelo brilho leve vindo do fundo, Loki deveria estar na última das celas.

Eu caminhei, evitando ao máximo fazer barulho. As celas eram comuns, de ferro escuro e polido. Porém, evidentemente deveriam ser magicamente enfeitiçadas para enclausurar e evitar fugas.

– Ora, ora... A morte não lhe assustou o suficiente, Dama Sombria? – Perguntou Loki.

O deus estava sentado num banco de pedra, ao fundo da cela. Tinha os braços apoiados nos joelhos e o queixo entre suas mãos, numa pose displicente. Seus olhos verdes exibiam ameaça e certa satisfação em me ver, mas era nítido que o deus não estava nada feliz em estar ali. Seus lábios finos se curvaram num sorriso lateral ousado e charmoso. Eu sorri para ele, verdadeiramente contente por ainda tê-lo perto de mim, ainda que separados por aquela maldita grade.

– Poucas coisas me assustam, Loki... – Comentei de maneira enigmática, postando-me diante das grades, olhando torto para o deus. Meu olhar acompanhava o dele, ambos estando igualmente intensos e recíprocos.

Seguiu-se um momento de silêncio, quando Loki disse, com um tom divertido e sarcástico:

– Stella! Assim você me ofende...

– O quê? – Eu indaguei, momentaneamente confusa. Franzi a testa para o deus e avancei um pouco mais em direção à sua cela.

– Você olha para mim com receio, como se temesse nunca mais me ver. Acha mesmo que isso irá me segurar? – Loki falou casualmente, olhando com certa raiva voraz para a grade negra que nos separava. Eu ri de leve, entendendo de imediato que o deus deveria ter um plano. Ou, assim ele queria que eu pensasse, pelo menos.

– Não. – Comentei, fitando o chão durante algum tempo. - Poucas coisas me assustam. Assim como poucas coisas te impedem de fazer algo.

Loki deixou escapar um risinho, levantando-se e caminhando de modo a ficar o mais próximo possível de mim.

– Exatamente. Tenho sete dias para pensar num plano e escapar. É um bom desafio... É bem entediante ficar nesse lugar, então será divertido pensar em algo. Quanto mais ousado, melhor. – O deus sorriu fraco. - Mas... Fico feliz por estar bem. Nós dois conseguimos o que queríamos, afinal.

Era minha vez de sorrir. Loki tinha razão. Grades e julgamentos nunca o detiveram. Não era agora que o deteriam. Eu era uma tola em me preocupar... O deus escaparia e teria o que desejava: A mim. E eu também conseguiria o que eu queria. Nossos desejos andavam juntos. De repente, tudo pareceu claro para mim. Eu e Loki não tínhamos quaisquer limites.

– Ainda não exatamente... – Eu disse, dando de ombros. - Mas estamos no caminho certo e... Eu gostaria de agradecer... Pelo que você fez.

Eu tornei a encará-lo. Loki sorriu satisfeito. Ele adorava ser bajulado. E dessa vez, ele realmente merecia reconhecimento.

– Não foi fácil, mas não me arrependo. – Ele comentou, orgulhoso. - Eu considero como minha missão particular salvar você. Afinal, você é única, Stella... Ainda podemos fazer muitas coisas juntos. Eu quero você perto de mim.

Loki tocou minha mão, por meio das brechas na grade. Ele me olhava com seus olhos verdes hipnóticos e murmurava sedutoramente, com suas frases sempre cheias de múltiplos significados e diversas entrelinhas. Eu poderia gastar horas interpretando suas frases sem nunca achar nada conclusivo, mas eu sempre me divertiria tentando entender seu modo peculiar de dizer que, entre outras coisas, me desejava.

Além disso, ele me desejava porque sabia que, juntos, nada poderia nos impedir. E eu, pela primeira vez, tomava consciência disso... Eu e Loki éramos poderosos. Praticamente invencíveis. Poderíamos fazer o que quiséssemos. O mundo poderia dobrar-se ante nossas vontades. Suspirei, pensando em tudo isso. As idéias pareciam atraentes demais, como se fossem uma armadilha bem caprichada. Deveria haver algum custo para toda essa glória. Sempre tinha...

– O que houve? Você precisa de um convite por escrito para fugir comigo? – Disse Loki, irônico. Olhava-me com cuidado e curiosidade.

– Não... É que eu não posso sair de Asgard. Os Vingadores estão prestes a ir embora, mas eu não posso. Foi aqui que eu “morri”, e não posso deixar esse lugar. – Comentei, sentindo o peso das palavras em meus ombros.

Loki acariciou minha mão com a sua. Seus dedos longos estavam pálidos e gelados, e plenamente capazes de arrancar arrepios da minha pele trêmula.

– Deve existir algum jeito. Somos feiticeiros. Vamos pensar em algo. Além disso, agora temos dois problemas para eu pensar. Você acabou de dificultar meu desafio. Gosto disso. – Ele riu, sorrindo maliciosamente.

A ideia de ele estar preso mal o afetava. E, sim. Eu acreditava. Loki já devia ter planejado algum meio de escapar. Se ele ainda estava nas celas, era porque tinha algum motivo. Imaginei que ele deveria ter conquistado algum poder, com a Energia que retirara de mim. O deus possuía seus próprios meios...

– Tomara que consiga... – Eu disse, motivando-o e mostrando minha concordância. Loki sorriu.

– Eu sempre consigo. Você sabe bem disso... Só peço que não se desespere. Grades nunca foram o bastante para nos prender, tampouco para nos separar. – Loki levou minha mão ao seu rosto. - Eu já lhe disse uma vez... A sombra e a trapaça andam lado a lado. Elas sempre se reencontram.

Eu fechei os olhos, sentindo as carícias do deus. Meu coração palpitava e eu queria arrancar aquelas grades a qualquer custo. Lamentei que devesse haver uma grande carga de magia nelas.

Invariavelmente, um leve sentimento de tristeza tomou conta de mim. Era um misto de sensações. Pelo que eu havia me tornado, ainda que eu não soubesse exatamente o quê. Tristeza pelo fato de os Vingadores irem embora e me deixarem aqui... Afinal, eu ficaria longe de todos. Principalmente do meu irmão e de Steve. E tristeza pela possibilidade – ainda existente e bem real – de nunca mais ver Loki. Mas, como era de se esperar, eu me rendia a ele. Nossas mãos se tocavam. Eu fechei os olhos, para aflorar meus sentidos. Eu disse, murmurando no ouvido do deus:

– A sombra e a trapaça se tornam cada vez mais difíceis de separar. E cada vez mais poderosas.

••

Eu já estava a uns cinco corredores distante da cela de Loki. A tristeza parecia aumentar de intensidade. Eu juntei todas minhas forças para não desabar no chão e enterrar meu rosto em lágrimas certeiras. Mesmo assim, a tristeza ainda parecia me consumir. Talvez fosse bom aliviar um pouco os meus sentimentos.

Encostei-me contra a parede de pedra bruta do subsolo. A temperatura baixa era um reconforto pra mim. Suspirei pesadamente várias vezes. Invariavelmente, deixei algumas lágrimas escaparem. Elas ardiam meu rosto, na trilha por onde passavam.

Eu sufoquei um murmúrio, quando Steve Rogers apareceu entre os corredores. Ele parecia surpreso de me encontrar, mas simultaneamente satisfeito. Acho que ele estava procurando por mim... Eu enxuguei meu rosto levemente úmido com as costas das mãos, nervosa.

– Não precisa fingir, Stella... – Steve disse, com um risinho triste. – Sou só... Eu. Pode chorar.

Eu suspirei longamente, sorrindo de leve para o Capitão. Ele estava diante de mim. Tinha as mãos caídas casualmente ao lado do enorme e forte corpo. Seus olhos eram serenos, mas havia algo de preocupação neles. Steve parecia levemente desapontado com alguma coisa, mas ao mesmo tempo determinado. Como se estivesse em missão. Isso me intrigou e ao mesmo tempo me chateou. Eu não queria lhe causar nenhuma dor ou mágoa. Eu odiava ser a causa da tristeza dele.

Eu respirei fundo, olhando fixamente para Steve. Seus olhos e sua expressão eram tão intensos que eu não conseguia me deter muito tempo neles. Meus olhos furtivos procuravam brechas para não precisar encará-lo.

– Eu estou bem... – Comentei inutilmente.

– Quando você diz que está bem, geralmente não está. – Steve comentou. Ele olhava para mim com gentileza e leve repreensão. – Mas eu entendo... Diante de tudo que está acontecendo.

Eu me encolhi, cruzando os braços. Estava curiosa a respeito do que Steve queria comigo, mas também estava temerosa. Não consegui pensar em nada possível e isso me assustou.

– Eu sei que... Você não quer se afastar do Loki. – Steve murmurou aquelas palavras de maneira quase inexpressiva.

No entanto, elas foram como flechas direto no meu peito. Era como se minha mais nova cicatriz fosse reaberta e nunca mais fosse se fechar. As palavras de Steve doíam nele. E doíam mais em mim. Steve era o homem mais exemplar que eu conhecera. Eu o admirava. Ele me fazia crer que eu sempre poderia ser o melhor possível. Ele via luz onde só havia trevas. Ele acreditava em mim. Ele... Gostava de mim. E eu fora uma estúpida. Eu me recusara a acreditar nesse fato, e agora ele desabava diante de mim e eu não conseguia lidar com isso. Eu era fraca. Uma bomba relógio que explodia e destruía tudo ao meu redor. Eu não sabia lidar com as pessoas mais honestas do mundo, sem machucá-las e sem machucar a mim mesma. Senti-me ridícula por isso. Eu poderia invadir um banco, um museu, e lidar com mafiosos da Yakuza sem ganhar um arranhão sequer.

Mas não conseguia conversar honestamente com o único cara que provavelmente acreditou em mim de maneira sincera e justa. Não sem feri-lo e magoá-lo de graça... Eu tinha o dom de fazer as pessoas se afastarem de mim. Steve olhou-me sem hesitar. Seus olhos azuis foram da serenidade à melancolia. Mas ainda eram firmes e intensos, sustentando meus patéticos olhos negros e arredios. Eu não queria encará-lo. Ele não merecia olhar para mim. Eu era fraca e idiota. Eu sabia que Steve sofria ao tocar no assunto Loki... Mas ele o fazia. Ele, ao contrário de mim, não negava a realidade que estava ali, estampada diante de seus olhos. Ele, mesmo magoado, lidava com nobreza com essa situação.

Eu me perdi em algumas palavras, e senti que todas elas só conseguiam contribuir para minha garganta fechar e me provocar vergonha. Eu corei de raiva. Raiva por magoar Steve. Raiva por ser fraca e imbecil... Eu tentava desviar o olhar do de Steve, mas era impossível. Seu azul magnetizava. Ele falava, mantendo o tom normal e casual. Contudo, a decepção se tornava pouco a pouco mais visível:

– Não precisa dizer nada. Eu entendo você... Eu já a observei muito, e aprendi a decifrá-la, ou pelo menos uma parte de você... – Ele riu tristemente. - Você me convida a decifrá-la. Chega a ser intrigante...

Eu correspondi ao seu sorriso fraco. Coloquei meu cabelo atrás da orelha. Eu estava nervosa. Envergonhada. Com raiva e nojo de mim mesma. Steve era único... Enquanto para muitos eu era um enigma, ele aprendera a lidar comigo de maneira tão fácil, leve, simples... E, mesmo assim, ele não desistia de mim. Ele sabia o que era acreditar em alguém de verdade. Ele mesmo já passara por isso.

– Eu não sei o que dizer, Steve... – Comentei toscamente, perdida entre ações, pensamentos e sentimentos. Tudo girava em torno de mim. Eu não conseguia agir com clareza ou firmeza. Novamente, eu era uma bomba relógio. Poderia cometer – voluntariamente ou não – uma besteira a qualquer momento. Eu estava me sentindo imprevisível. Sentimentos e conflitos me consumiam como se nunca fosse possível solucioná-los. Minha vida era um labirinto, ou um campo minado. Alguém sempre saía perdido ou machucado. E, dependendo do caso, os dois.

Steve pegou firme em minhas mãos, segurando-as de um modo como nunca antes eu vira... Eu via em seus olhos azuis. Estava escrito neles. Se aquele momento pudesse ser alguma coisa para Steve, seria eterno... Aquilo partiu meu coração. A urgência em suas palavras aumentou, quando ele falou apressadamente, ainda me fitando:

– Apenas prometa que vai prestar atenção em tudo o que eu disser.

Eu assenti, sem saber o que esperar. Steve ficou um tempo sem reação. Acho que ele estava se certificando de que eu estava física e mentalmente sã para ouvi-lo adequadamente.

Steve falava pausadamente, como se quisesse ter a certeza de que eu não perderia nenhum detalhe.

– Quando estávamos em uma batalha pelos outros reinos, eu encontrei uma coisa no chão. Perguntei a Thor o que era. Ele me disse que era um artefato mágico muito raro. A coisa escolhe que pessoas podem usá-lo. E, se apareceu para mim, era porque eu deveria usá-lo.

Eu franzi o cenho, novamente confusa e intrigada. Não conseguia prever onde Steve queria chegar e tudo o que eu mais desejava era que a dor sumisse. Era um desejo infantil e impossível. Mas a realidade estava me assustando. Como eu poderia lidar com tudo o que andava acontecendo em minha vida?

– E eu quero te entregar esse artefato. Você precisa mais dele do que eu... Thor me disse que, com o tempo, eu saberia o que fazer com ele. E eu tenho certeza de que deve ser seu. Afinal, Loki realmente foi injustiçado. Ele salvou você... E teve a infelicidade de já ter cometido outros crimes. Agora será banido. Mas... Não seria certo. E você deseja tê-lo... Ao seu lado. Sei que não suportaria ficar sem ele. E, tecnicamente, vocês nunca mais vão poder se ver...

Steve diminuiu seu tom de voz, e aos poucos sua expressão tornou-se fechada e sombria, beirando a melancolia. Novamente, eu sentia que buracos eram abertos no meu peito.

– Não negue, Stella... – Steve continuou, ainda sem me olhar.

Ele estendeu uma pequena ampulheta dourada na minha frente. O Capitão pegou a palma da minha mão direita e colocou o objeto em cima dela. Era ornamentado e cheio de desenhos minúsculos. Cabia perfeitamente na minha mão. A areia, imóvel dentro do objeto, era como pó de ouro. Eu ainda estava sem reação.

Dessa vez, Steve tornou a olhar para mim. Seus olhos eram determinados. Novamente, havia neles aquele impulso de liderança que Steve geralmente desenvolvia nas batalhas.

– O que você mais quer no momento? – Ele perguntou, franzindo a testa.

– Sei lá! Só quero acabar com isso! Voltar no tempo e evitar todo esse sofrimento! – Desabafei, nervosa. Minha voz se tornava afetada e eu sentia lágrimas quererem brotar dos meus olhos teimosos.

Um vestígio de sorriso surgiu nos lábios de Steve. Ele se aproximou de mim o suficiente para que eu sentisse o calor de seu corpo contra o meu. O Capitão me encarou com seus grandes olhos azuis e disse, obstinado, como se tivesse a certeza mais absoluta na ponta da língua:

– Então. Desejo realizado. É justamente isso que vamos fazer, Stella... Voltar no tempo.


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Notas finais do capítulo

E aí?