Loki: Segredos Sombrios escrita por Tenebris


Capítulo 12
Conexões


Notas iniciais do capítulo

Oi gente :D Capítulo novo pra vocês... Apenas dois dias de atraso, haha, estou melhorando :p Olha, esse capítulo pode soar estranho pra vocês. Tenho medo de que tenha ficado um pouco "denso" demais ou meio confuso. Sintam-se à vontade para deixar perguntas nos comentários ou nas MPs, mas já aviso a vocês que tudo será explicado mais pra frente. Certos mistérios surgirão, mas nos próximos capítulos tudo será explicado certinho e fará sentido pra vocês! Prometo! Qualquer coisa, vocês me encontram com mais frequência no twitter, que é @ohyeahmagneto :D Beijos!



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Vagamos assim durante um tempo. De mãos dadas, os corpos como vultos, intangíveis, atravessando tudo. Com uma surpresa, percebi uma coisa. Eu e Loki havíamos realmente nos transformado em sombra, e vagamos durante um curto período de tempo, porque o paredão de rochas que estivera atrás de nós era a parede final de uma caverna. Desse modo, ao atravessarmos essa parede de rochas que antes nos encurralara, agora dávamos de cara com uma ampla caverna, completamente oculta do lado de fora. Impossível de ser percebida.

Estávamos, agora, em uma caverna subterrânea.

Devido ao meu esforço físico e mental, desabei no chão, mas Loki me amparou. Novamente.

- Stella... Você nos tirou de lá. – Ele disse, meio hesitante. Talvez não acreditasse no que seus belos olhos verdes tinham presenciado.

E os meus olhos negros recuperavam gradualmente o foco, e a única sensação que realmente me incomodava era o frio e a tontura. Loki, ainda me amparando, nos levou até uma das paredes da caverna, fazendo com que eu me sentasse no chão com as costas apoiadas na tal parede. Novamente, foi um consolo, porque a umidade fria da parede ajudava a aliviar meu mal estar.

Loki sentou-se do meu lado, fitando-me com atenção e ressentimento. A caverna tinha o teto com diversos furos, porque a luz da lua penetrava nela e fazia o semblante do deus parecer mais sombrio do que nunca.

- Esse é o mais perto de um “obrigado” que eu vou chegar, não é? – Brinquei, para quebrar o gelo do momento.

- Provavelmente. – Disse Loki, e sua expressão pareceu anuviar-se um pouco. Seus olhos verdes se direcionavam para algum ponto da minha cabeça.

- Ótimo. Ferida de novo. – Ele bufou, levando seus dedos à minha cabeça.

- Como se eu escolhesse me machucar. – Reclamei, sentindo que o deus media também minha temperatura, com sua notável habilidade de tocar-me.

Loki me reprovou com o olhar, e eu sorri por essa reação dele.

- Eu nos tirei de lá. Isso deveria contar alguma coisa... Sabe, para responder às minhas perguntas. – Pedi inocentemente, sorrindo. O gesto provocou dores.

Loki sorriu lateralmente, e rasgou um pedaço de sua própria roupa.

- Você bateu a cabeça, não sabe o que está dizendo... Além do mais, eu vou salvar sua vida agora, pela segunda vez. Estamos quites. – Ele argumentou, aproximando-se de mim e fazendo uma atadura improvisada em minha testa.

- Por que está fazendo isso? Salvando-me pela segunda vez? – Indaguei, e Loki demorou a responder.

Sua expressão estava vaga, além dos limites das paredes rochosas que nos cercavam, e seus lábios eram uma linha fina que misturava ódio e talvez curiosidade. Os olhos verdes também cintilavam além dos limites da nossa conversa, do nosso tempo... Insondáveis e inalcançáveis.

- O que faria se estivesse no meu lugar? Você me salvaria? – Loki perguntou pausadamente, e tive a impressão de que ele não queria ouvir a resposta. Eu queria responder sim. E o fiz.

- Salvaria...

E, em minha opinião, era justamente essa a resposta que ele temia ouvir. Loki endureceu a expressão, e seu toque frio contra minha pele vacilou um pouco. Ora, um não era mais fácil de ser entendido. Um sim poderia mudar muita coisa.

Minha cabeça ainda doía, mas consegui encontrar forças para sustentar aquele olhar que, subitamente, pareceu querer me fulminar. Eu surpreendera Loki? Intimidara-o? Bom, acho que sim. Ele deteve seu toque contra minha pele e se afastou um pouco. As únicas coisas que eu ouvia era o batimento do meu coração acelerado e a respiração equilibrada do deus. Em seguida, houve um estrondo.

Tudo na caverna tremeu. Batidas seqüenciais de rochas caindo me fizeram hesitar. Eu e Loki nos entreolhamos, e só havia a compreensão entre nós pairando no ar. A compreensão de que os Gigantes de Rocha, acima de nós, estavam quebrando as pedras que constituíam o teto da caverna. Eles pretendiam fazê-lo desabar sobre nós.

Nesse momento, a ideia torturou meus pensamentos. Na minha mente, eu sempre estivera encurralada pelo deus da trapaça, por suas ameaças, jogos e manipulações. Agora, com uma dose extra de perigo, isso se tornava uma cruel realidade.

•••

 Eu sentia o toque trêmulo do deus, suas mãos vagando desesperadamente pela lateral do meu corpo, na tentativa arrebatadora de me fazer levantar. No entanto, eu não tinha mais domínio sobre meu próprio corpo. Minha cabeça ainda girava, e eu apenas enxergava o vulto de rochas mescladas ao semblante de Loki à minha frente.

Parte de mim ainda tinha plena consciência do que acontecia. Eu devia estar desmaiando nos braços do deus. Senti-me uma estúpida, uma fraca. Se havia algo que eu realmente odiava, era demonstrar fraqueza ou fragilidade na frente das pessoas. Principalmente quando isso envolvia Loki, já que minha intenção sempre fora intimidá-lo. Ao mesmo tempo em que minha mente chegou a essa conclusão, percebi que eu realmente estava debilitada. Eu gastara minhas energias lutando e usando meu poder para livrar eu e Loki de uma possível encrenca irresoluta. E agora pagava o preço por isso. Múltiplos ferimentos, energia esgotada, e minha fraqueza estampada na minha testa.

Embora em mal pudesse raciocinar, senti os braços de Loki me envolverem. Meus olhos e minhas atitudes estavam imprevisíveis. Eu tentava concentrar todas as minhas forças em permanecer lúcida e consciente, mas isso só fazia meu estado piorar. Eu me obrigava constantemente a manter os olhos abertos e tentar compreender o que estava de fato acontecendo.

Eu senti o toque frio de algo nas minhas costas. Pensei que fosse o chão rochoso da caverna, mas era um frio diferente... Por incrível que pareça, era um frio acolhedor, convidativo. Praticamente no limite entre a lucidez e o torpor, percebi que eu estava deitada no chão, mas com parte do corpo no colo de Loki. O deus jazia ajoelhado no chão, possivelmente tentando me manter acordada. Eu não entendi muito bem por que. Ele podia simplesmente procurar uma saída da caverna, escapar, e me deixar lá para morrer. Afinal, era o que um deus da trapaça faria. Mas meu raciocínio lento e comprometido não conseguiu ir muito mais distante.

Desse modo, eu foquei meus olhos em Loki. A serenidade maligna que sempre tomava conta do seu rosto agora estava perturbada pelo ligeiro desespero. Seu rosto parecia ainda mais lívido, os olhos verdes vagavam furtivos pelos cantos, em busca de um plano salvador. Os lábios eram uma linha fina, que ocasionalmente se abria para gritar meu nome com raiva e urgência. O semblante do deus beirava ao desalento.

Ao longe, eu ainda conseguia distinguir os estrondos de rochas sendo moídas violentamente, e a caverna toda tremia num embalo de terror. O pó das pedras voava suavemente no ar, como se dançasse. A voz de Loki soava, ora distante; ora perto, mas sempre com aquele tom de ameaça e perigo. Além disso, os toques do deus começaram a se tornar mais insistentes, e eu nem sequer tinha forças para protestar quando ele levava as mãos ao meu rosto, chamando-me como se não houvesse nada a ser feito.

E assim, eu sentia minha lucidez dizer adeus. Havia dor, mas eu estava quase me acostumando com ela. Meu organismo danificado já se habituara a trabalhar ao lado dessa velha companheira. Minha respiração foi ficando mais fraca, e eu sentia que inspirar doía até mesmo mais do que tentar permanecer consciente. O ar enchia meus pulmões, fazendo tudo arder. Assim, decidi fazer uma escolha. Eu nunca fora boa com essas coisas. A ideia de tomar decisões repentinas sempre me assustou, mas escolhi desmaiar tendo como última visão o rosto de Loki, clamando um nome que deveria ser o meu. Embora nem mesmo isso eu fosse capaz de reconhecer.

Meu olho fechara, mas não minha mente.

De súbito, senti algo diferente. Eu poderia ficar por milênios tentando encontrar algo que descrevesse o que senti, mas imprevisível e inexplicável ainda seriam as melhores definições.

Enfim, eu desmaiara. Disso eu tinha absoluta certeza. No entanto, uma sensação excêntrica se apossara de mim. Viera tão de repente, que eu achei que fosse só mais um produto de ilusão da minha mente desesperada. Mas não poderia ser somente isso. Afinal, minha mente não teria energia suficiente para produzir tamanhas emoções. Eram sentimentos tão reais e possíveis, que eu comecei a desconfiar. Mas minha cabeça não poderia ter feito nada disso. Então, por que eu tinha a impressão de que passara a tomar conhecimento dos pensamentos e anseios de Loki, o do deus da trapaça?

         Assim, enquanto eu estava desmaiada, com um mínimo de lucidez restante, eu tivera minhas alucinações. Eu não tinha ideia do que tinha acontecido. Eu não tinha ideia de como, ou onde eu estava. Não sabia se Loki estava bem, nem sabia se nós estávamos mortos ou não.

Mas comecei a ver, como se fosse uma ilusão muito rápida e certeira em minha mente, momentos e pensamentos do deus da trapaça. Eu visualizava-o sentado, na escuridão da noite, e sua perspectiva era como se fosse a minha própria.

Loki pensava sobre mim. Pensava no quanto eu era poderosa, e no quanto isso poderia ajudá-lo. Eu também percebi que ele considerava a hipótese de se afastar de mim, e tentar impedir que meu nome viesse à sua mente com tanta freqüência. Em seguida, Loki odiava-me. Isso porque ele não conseguia decifrar-me totalmente, e isso o deixava verdadeiramente frustrado. O deus da trapaça desejava aproximar-se de mim, sondar-me. Embora ele não tivesse planos determinados, algo nele – como seu instinto -, o alertava para minha presença. Ou seja, Loki estava se aproximando de mim buscando algo que nem mesmo ele sabia, mas que considerava importante. E fazia isso contra sua vontade. Parte do deus queria seguir com isso e manipular-me ao seu favor. E a outra parte dele queria se afastar, por recear o que minha presença induziria nele. Loki não gostava de lidar com o desconhecido, mas esse desconhecido o fascinava de maneira obscura e insondável. Esse desconhecido era eu.

•••

- Ah... – Murmurei preguiçosamente.

Não queria levantar. Depois de longos e incontáveis minutos sondando a mente de Loki, essa vulnerabilidade me cansava. Simultaneamente, enquanto eu parecia decifrar seus pensamentos, eu sentia que ele também poderia ter desvendado os meus. Tal sensação me incomodou. No entanto, algo a mais deveria ter acontecido.

De alguma forma, eu parecia mais disposta e descansada. O que teria ocorrido? Provavelmente, se minha mente estava trabalhando mais rápida e efetivamente, eu não devia estar morta.

Querendo comprovar isso, percebi que o ar que eu inspirava não fazia mais meus pulmões arderem. Ao contrário, era um ar fresco e suficiente. Minha cabeça ainda doía, mas em menor intensidade. Além disso, eu sentia uma sensação de frio no meu corpo que poderia estar vindo de uma relva bem fresca.

Quando tomei percepção de que poderia abrir os olhos, o fiz. A ideia de ter morrido que nem idiota me assustou, e eu desejei que estivesse em qualquer lugar que não fosse uma caverna destruída. Num ímpeto de fugacidade e raiva, percebi somente Loki ajoelhado à minha frente... Desse modo, levei uma de minhas mãos ao seu pescoço, num gesto rápido de ameaça, completamente confusa e fora de mim. Assim, eu estava sentada, segurando Loki pelo pescoço, arfando num gesto de desespero.

- Você costumava ser mais delicada... Para onde foram seus bons modos, Stella? – Loki perguntou bem humorado, num tom um tanto sufocado, devido à minha mão que o prensava. Seus olhos focalizavam minha mão com certo rancor.

Eu estava prestes a soltá-lo, quando um pensamento invadiu minha mente... Parecia ter vindo de Loki, porque era algo como: “Tão furiosa...”

Assustada, eu o larguei. E então, com surpresa, encarei uma floresta de pinheiros ao meu redor. Eu me aprumara prontamente, percebendo que estava sentada no que parecia ser o sobretudo verde e preto de Loki.

- O que? O que aconteceu? – Indaguei, confusa.

Sentada, meu olhos ávidos perscrutavam tudo ao meu redor, temendo que a paisagem fosse se desintegrar. Ao meu redor, só havia árvores. Isso mostrava que eu ainda estava viva. Loki estava se sentando ao meu lado, e tocava com ressentimento a área de seu pescoço que eu tinha agarrado.

- Sobrevivemos. É isso o que aconteceu. – Ele respondeu, ligeiramente agressivo.

Eu parei para pensar por um momento. Rapidamente, recalculei o que tinha acontecido. Nós tínhamos tentado fugir dos Gigantes de Rocha. Eu usara meu poder e nós fomos parar numa caverna. Eu estava ferida e esgotada. Os Gigantes resolveram nos soterrar. Eu desmaiara. Em seguida, comecei a ouvir os pensamentos de Loki, num turbilhão entre ilusões difusas. Agora, cá estava eu, viva. Mas ainda havia muito a ser explicado.

- Como sobreviemos? – Perguntei, levando uma mão à minha cabeça. Ainda doía.

- Você usou seu poder magnífico de nos transformar em sombra. Saímos da caverna. Ela foi soterrada. Aí, eu nos trouxe até aqui. – Loki explicou, olhando-me com uma diversão estranha.

Eu franzi a testa, dizendo:

- Não me lembro de nada. Mas... Eu não poderia ter usado meus poderes. Eu estava fraca demais para isso. Não teria funcionado.

A expressão divertida de Loki vacilou e traços de preocupação tomaram seu semblante fino:

- Não importa o que aconteceu. Você conseguiu usá-los e nós escapamos. Sabe... Devia aceitar os fatos e parar de ser ingrata tentando questioná-los. – Loki falou, entre um riso sarcástico.

Eu cruzei os braços. Quem ele pensava que era para me dar lição de moral?

- Questionar é uma das minhas especialidades. – Afirmei, dando de ombros.

E então, Loki me olhou de um jeito maligno, novamente me estudando, como se estivesse fazendo um diagnóstico interior. Seus olhos verdes percorriam o meu corpo, e se detiveram nos meus olhos negros obscuros e inexpressivos. No entanto, não fora como das outras vezes.

Loki tinha uma mão no queixo, e seu semblante misterioso tinha algo de diferente. Seus olhos sombrios e verdes fitavam-me com um interesse explícito, como se ele estivesse decifrando tudo que eu mais lutava para esconder. Depois disso, sua expressão beirava à satisfação, como se ele tivesse gostado do que acabara de encontrar em mim. Como se a trapaça, num ato maligno, certeiro e voraz, devorasse tudo o que a sombra lutara para ocultar. 


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Notas finais do capítulo

E aí? Surpresos? Felizes? Chateados? Confusos? Me contem!