Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 14
Capítulo Décimo Quarto: Izanami.


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores. Como estão?
Como prometido, trago pra vocês a continuação de Memórias Póstumas sem entrar em hiato de novo. UASHAUSHAUSHAUSHASUHAUSH Enfim, brincadeiras à parte, quero dedicar essa fic a todos os leitores que ainda acompanham e aos que começaram agora também. Especialmente, gostaria de agradecer à Hime-chan/Abelhinha Chan, que deixou uma maravilhosa recomendação; e à Wyvern, que acompanhou todo o processo criativo. Ademais, desejo a vocês uma boa leitura. ♥

Att.,
yin-yang.



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O silêncio entre nós pairava no ar outra vez, ainda que minhas dúvidas remanescessem e a melancolia dela se fizesse presente. Hesitante, cessei a quietude esmagadora que, pouco a pouco, aumentava minha ansiedade e gelava meu peito.

— Mikaru-san. – Chamei-a, mesmo que ainda duvidasse ter sido uma boa ideia. Ainda assim, eu precisava arriscar.

A lua estava totalmente encoberta pela sombra da noite, quando nossos olhos voltavam a se encontrar.

— Você me chamou por Izanami-no-Mikoto mais cedo... Por quê?

Sinceramente, eu imaginava receber dela aquele olhar julgador como de costume, porém, desta vez, foi diferente. Ao ajeitar sua postura, bem como as longas e densas camadas de tecido de suas vestes as quais se arrastavam ao chão, Mikaru retomava sua fala.

— Pois tu és sua reencarnação, Hyuuga Hinata. – Respondeu-me ela claramente, sem delongas. – Vós sois um só espírito, uma só alma.

Aquilo não parecia real. Na verdade, parecia-me tão irreal ao ponto de crer que ela estava a zombar de mim. Entretanto, eu estava errada. Seu olhar era inequívoco e suas palavras eram firmes. A mulher não era tão somente mera sacerdotisa, era genuinamente milenar – uma das donzelas de Amaterasu, ancestral à própria Kaguya.

— Como assim?

Incrédula, minha voz saía falha. Mesmo que quisesse nada perguntar, eu precisava saber.

 Sem perder sua compostura, a mulher sagrada respirou fundo. Tive, uma vez mais, a sensação de notar um olhar longínquo percorrer o cenário à nossa volta. Era como se ela revivesse cada memória em sua mente antes torná-las em palavras. 

— Assim como vós conheceis a lenda, depois que Izanagi-no-Ookami [1] desceu ao Yomi [2] para rever sua amada e quebrou sua promessa de não olhá-la sem seu enfeite de cabelo na última noite que teriam juntos, Izanami ordenou que seus filhos do Submundo o perseguissem e que o devorasse, tamanho era sua raiva e decepção para com seu cônjuge, que a rejeitou e a repudiou ao ver seu estado em declínio. Como consequência disso, o mundo passou a experimentar o ódio, a desarmonia, a dor. Para que a humanidade voltasse a conhecer o equilíbrio entre o bem e o mal, a vida e a morte, a luz e a sombra, tornou-se imprescindível a reconciliação entre ambos; o que, como podes presumir, não ocorreu. – Iniciou a profetisa, a fechar seus olhos por um breve momento antes de prosseguir. – Para compensar o peso e o vazio que a morte de Kamui lhe trouxe, Subaru, com todas as regalias que havia recebido, partiu a uma jornada em busca dos deuses da Criação.

A mulher, pois, fez uma pausa. Então, olhou novamente para mim, a observar se eu conseguia acompanhar suas palavras. Felizmente, sim, e eu dei sinal para que ela prosseguisse.  Satisfeita com meu assentimento, ela continuou:

— Com a espada dada por Susano’o, encantada sob as bênçãos de Amaterasu e à luz do Fragmento de Tenseigan, ele matou as divindades para que eles...

 – ...Para que eles pudessem noutrora reencarnar e resolver o impasse responsável pelo amaldiçoado fado que a humanidade teve que pagar ao longo de sua existência. – Eu completei juntamente com ela, uníssona.

A mulher se interrompeu brevemente, encarando-me de maneira fixa. Ela parecia surpresa, ainda que sua expressão não fosse muito fácil de ser decifrada.

Mesmo que fosse estranho, algo dentro de mim parecia reviver cada palavra exposta. Aquilo, de alguma forma, passava a fazer sentido – tanto que essas se tornavam lembranças e não mais explicações. Meu espírito se lembrava do horror, da dor, da rejeição. Ele também se lembrava do jovem mortal que desceu ao Yomi para libertar a deusa daquele destino; ele me concedeu aquela nova chance.

Como num déjà vu, cenas de um passado-futuro vinham também à minha mente; de tempos que vivenciei, mas que deixaram de existir, como realidades reescritas, uma em cima da outra. Houve reminiscências, nas quais meu desejo de outrora foi realizado e ao meu lado Naruto esteve; noutras, até filhos eu tive com ele. Entretanto – e aqui uma dura e cruel verdade –, a completude e a felicidade do meu ser não estavam presentes, pois sempre me faltava algo, bem no meu íntimo. Ao fim, eu acabava só; o destino era cruel e, em algum momento, me tomava tudo.

E, agora, eu finalmente entendi por que tudo me remetia ao Neji nii-san, meu querido primo; pois ele também é Izanagi-no-Ookami, meu amado esposo e irmão.

— Então despertaste, tu, finalmente. – Expressou-se a clériga.

Minha atenção voltava à pálida morena, quando essa retirava algo do interior de suas vestes. Ela então me mostrou aquela joia com um breve e tímido cintilante prateado.

— Antes de descer ao mundo dos mortos, ele partiu o Fragmento de Tenseigan e me entregou a metade, a fim de que eu terminasse sua jornada... Pois ele sabia que não poderia voltar. Ainda que o conseguisse, o tempo não era a favor dele, mero mortal.

 Fez-se uma pausa por um momento. Os olhos dela pareciam marejados, mesmo que lágrimas não escorressem ou sua entonação continuasse sem fraquejar. Parecia se perder em pensamentos, mas tão logo ela recuperou seu foco. Fez menção de continuar, mas eu a interrompi. O que eu vi e senti a pouco passavam a ter uma explicação. Sem receio ou dúvida, então eu concluí:

— Desde então, temos nos reencontrado nessa vida, várias vezes. O descontentamento do meu espírito sempre me trouxe até você, de um jeito ou de outro. Eu voltei no tempo inúmeras vezes e reescrevi futuros que hoje deixaram de existir, sem ter consciência de tê-los feito.

A música do festival à distância agora dava lugar ao som periódico das badaladas do grande sino do templo. Olhei para em direção da vila enquanto ouvia o soar vindo de lá. Eu sentia um aperto no meu peito, como se meu coração fosse ser esmagado. À medida que as coisas se tornavam claras, tudo aquilo começava a pesar – lembrança por lembrança, fato por fato.

— Céus. – Eu sorri nervosa, sentindo lagrimas se formarem aos meus olhos. – Como eu não me lembrava de tudo isso? Como... Como eu pude me esquecer de toda essa odisseia?

Ao passo que minhas palavras eram ditas, a lágrimas transbordavam, uma a uma, silenciosas. Meu corpo estava trêmulo e o pranto, cada vez mais, ficava difícil de segurar. Eu queria pôr cada pensamento para fora, mas minha voz havia sumido e tudo o que eu pude fazer foi chorar.

Calada, Mikaru esteve me observando longamente, sem julgamentos, sermões ou quaisquer juízos de valores. Tão logo, ela se aproximava a passos curtos e suaves. Cuidadosamente, então, ela pegava na minha mão e me entregava a joia, fazendo-me segurá-la firme. Ela voltava a me encarar, como para ter certeza de que eu prestava atenção.

— Este será teu último eclipse... O Fragmento de Tenseigan carrega o poder para apenas mais uma vez. – Contou-me ela, fechando minha mão com as dela. Ela então me esboçou um terno sorriso, exibindo-me, pela primeira vez, uma faceta amigável e de confiança para comigo. – Isto é tudo o que poderei fazer por ti e por Subaru... Eu não quero que tudo tenha sido em vão.

— Mikaru, eu não sei se vou cons-

Antes que eu pudesse concluir a fala, a mulher levantava sua mão e logo em seguida desferia um tapa à minha face, fitando-me séria. Agora era a vez dela me interromper. Eu a olhava insegura, incerta se realmente eu conseguiria, depois de tanto tempo, de tantas vezes.

— Não foste tu quem dissera que farias tudo diferente, que eu estava equivocada? Onde estão a coragem e a determinação com as quais me golpeaste? Este é teu limite? – Jogou-me na cara, bem direta. – Apenas vai e não olhes para trás, Hyuuga Hinata! Tu ainda te consideras uma kunoichi a temer desta maneira?

Com seus dizeres, minha mente se lembrava dos meus tempos de genin, quando nas eliminatórias do Exame Chuunin. Frente ao Neji nii-san, mesmo quando eu já estava quebrava, eu me levantei e o desafiei. Seria realmente injusto com ele e fora dos meus princípios ninjas se eu desistisse justo agora, que eu poderia reencontrá-lo, salvá-lo – tal qual na época eu não pude e tão somente mexi em sua ferida.

Mikaru estava certa. Eu disse que faria tudo diferente e definitivamente o farei – não tão somente porque sou Izanami-no-Mikoto, mas sim porque eu, Hyuuga Hinata, o amo e quero ser feliz ao seu lado.

Finalmente, eu sorri e segurei firme aquela joia. Para a donzela de Amaterasu, eu assenti, fitando-a nas suas rubras írises.

— Quando aqui eu retornar, Sacerdotisa de Takigakure, será em agradecimento e não mais por lamento. – Disse a ela, certa de minhas próprias palavras. – É uma promessa.

Com a resposta, a pedra a qual eu segurava passou a brilhar intensamente. A luz envolvia todo meu ser e eu senti meu corpo ficar gradativamente mais leve e translúcido. Em júbilo, a nobre tecelã se afastou e então sorriu.

— Promessa é dívida, filha da Folha. Lembra-te disso. 

Sem delongas, a morena cantou, uma vez mais, aquela melodia que outrora havia me chamado, a Melopeia de Subaru. Em consonância, sentia-me cada vez mais consumida pela força daquela luminescência e minha consciência se distanciava daquele presente. Eu fechei os olhos e segurei fortemente o cristal lunar, deixando que ele me guiasse pelo espaço temporal.

 A sensação que eu tinha naquele exato momento era de estar em queda livre, enquanto era possível ouvir cada recordação vivida. Elas se tornavam ecos, cada vez mais longínquos. Eu sentia o passado mais próximo – tanto que, pouco a pouco, o presente deixou de existir, virando apenas mais uma das possibilidades de futuro, como se nunca tivesse sido experimentada. As cordas do destino eram uma vez mais reorganizadas.

Eu respirei fundo e pressionei a pedra sobre meu peito, podendo aperceber aquela reconfortante energia. Eu não podia deixar o medo me vencer. Eu quero reencontrá-lo e fazer tudo diferente... Eu quero amá-lo, quero salvá-lo. Eu não quero vê-lo morrer outra vez por mim. Tudo o que eu quero é ser feliz com ele, junto dele. Foi por isso que cheguei até aqui. Eu simplesmente não posso me dar ao luxo de fraquejar – não mais. Eu não tinha mais o que temer.

Com a minha determinação, a regalia que eu carregava começou a irradiar aquela luz com mais vivacidade. Eu podia senti-la pujante como nunca esteve. Assim sendo, eu abri meus olhos e a afastei um pouco para vê-la. Sua luminosidade circundava meu redor e meu corpo, outrora em queda, agora passava a flutuar. A vestimenta tradicional festiva que eu trajava agora dava lugar àquele antigo uniforme de guerra e minha carne voltava à primavera da juventude.

Suavemente, meus pés tocaram o chão e soube que havia chegado a destino. A gema gradativamente perdia sua força e à minha frente, então, notei uma presença familiar. Ao reconhecê-la, eu sorri.

— Nós nos encontramos de novo. – Eu lhe disse, observando aquela conhecida águia alva diante de mim. – Muito obrigada por me guiar mais uma vez... Acho que hoje é a nossa despedida.

Aquela ave, como sempre, me olhava. Mesmo que calada, eu compreendia o que ela me falava. Sem hesitar, eu me aproximo dela e me preparo para recomeçar. Ao fundo, eu já ouço ruídos do campo de batalha.

— Vai ficar tudo bem. – Digo a mim mesma e ao pássaro, paciente. Minhas memórias sobre o que vivi ia gradativamente se apagando, mas eu sabia que isso fazia parte do processo. – Nada terá sido em vão.

Assim sendo, eu devolvo o Fragmento de Tenseigan a ele e esse tão logo passa a abrir suas asas níveas. Quando esse levantava voo, pois, a dimensão era uma vez mais tomada por um clarão. Antes de voltar completamente a ser a Hinata de dezesseis anos, eu fecho os olhos e sussurro ao meu coração:

— Tadaima, Neji nii-san. Watashi mo aishiteru. [3]


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Notas finais do capítulo

[1] - Deus da Criação e da Vida, segundo a mitologia japonesa. É também irmão e marido de Izanami-no-Mikoto, bem como pai da trindade divina Amaterasu, Susanoo e Tsukuyomi. É equiparável à parte "Yang" do Yin-Yang no Taoísmo.
[2] - Mundo dos Mortos da mitologia japonesa,equivalente ao Sheol, do judaísmo.
[3] - Trad.: "Estou de volta, Neji nii-san. Eu também te amo."



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