Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 13
Capítulo Décimo Terceiro: Subaru.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Há quanto tempo!
Antes de começarem a leitura, gostaria de pedir realmente desculpas pela demora em postar esse capítulo. Como eu já comentei com alguns e postei na fan page da fic no Facebook, esse projeto entrou em pausa há cerca de quatro anos, por motivos pessoais e de saúde. Não sei quantos ainda acompanham, por justamente ter já se passado tanto tempo desde a última atualização, mas finalmente consegui! Esse capítulo finalmente nasceu. çç
Desde já, quero agradecer a todos os que me deram suporte para estar aqui e me incentivaram a continuar essa filha única, da qual tanto me orgulho. Não sei se está aquelas coisas, mas posso garantir que foi de todo coração. Espero que tenham uma boa leitura.

Att,
yin-yang.



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Diante de mim, estava aquela mulher sacra e imponente uma vez mais. Com seu olhar sério e intimidador, ela me encarava, como se estivesse a me julgar. Naquela ponte, agora estava tão somente eu e ela. Ninguém mais. O silêncio era quase absoluto não fossem os passos delicados, porém seguros, da sacerdotisa e aquela música um tanto quanto longínqua do festival que chegava até nós. Pedante, parava bem em frente a mim. Parecia esperar alguma palavra minha que, honestamente, eu não sei se teria como ser proferida. Eu a fitei, confusa.

— E-Eu... – Tentei me pronunciar, porém mal sucedida. Não sabia o que falar ou como reagir.

— Não me faças repetir. – Falou ela. – Até quando tu pretendes negar tudo, Izanami-no-Mikoto? Até quando pretendes ficar adormecida?

Novamente, o silêncio pairava no ar. Nossos olhares se encontravam por uma fração de segundos e eu pude sentir aquelas írises opacas e rubras me oprimirem. Ela esperava uma resposta minha e eu só estava tentando entender a situação naquele momento. Mikaru aproximava ainda mais seu rosto, mirando-me firme.

— Não és capaz de perceber nada? – Perguntou-me, agora um pouco decepcionada.

— Perceber...? – Repeti, sem nada compreender. As coisas pareciam não ter nexo. – Desculpe, eu...

Suspirou logo em seguida, afastando-se lentamente de mim. Escorava-se no corrimão vermelho da ponte, enquanto fitava o luar de modo distante como parecia que nunca seria capaz de fazê-lo.

— É claro que não. – Disse ao não deixar me expressar. – Há quantos eclipses já estamos nisso e tu continuas aí, arruinada por tuas próprias escolhas?

Com aquelas palavras, eu abaixei minha cabeça, reflexiva. Alguma coisa do que ela falava agora parecia fazer algum sentido. Ela estava certa. Se hoje eu estava ali, chorando e amaldiçoando meu destino, é porque minhas escolhas me levaram àquela realidade. Eu quis fugir da dor e do sofrimento; isso havia me levado ao Naruto-kun – pois eu acreditava que ao seu lado, tudo o que me feria não tinha sentido e que ele lutaria por mim –, mas que hoje eu compreendia que nossos destinos apenas se cruzavam, nada além disso. Eu não fui feita para ele, tampouco ele para mim. Foi preciso que nós nos conhecêssemos, mas o meu grande erro foi querer fugir da minha sina e viver a dele. Rompi a linha vermelha do destino, a qual me levava a Neji nii-san, e, como resultado, eu voltei para o lugar de onde um dia tanto quis fugir e evitar. O que era minha provação agora havia se tornado minha condenação. Eu precisava dele comigo, logo ali, mas eu o havia perdido – e para sempre.

Eu me encolhi, trêmula. A consciência pesava e as lágrimas voltavam a rolar silenciosamente. Se arrependimento matasse, com certeza eu já estaria morta.

— Queria poder voltar no tempo e mudar as coisas... – Murmurei mais para mim do que para ela. – Se eu pudesse, faria tudo diferente.

— Não farias, não. – Respondeu-me ela prontamente.

Eu, realmente, não conseguia entender por que ela me tratava daquele jeito tão hostil, tão incrédulo e cético. Indignada, eu me levantei enquanto passava a encará-la e, sem delongas, minha mão colidia diretamente em sua face, dando-lhe um tapa.

— Por que você acha que eu não o faria? – Eu disse, talvez um pouco irritada.

A forma como ela me tratava já estava passando dos limites. Eu me sentia subestimada:

— Meus sentimentos são sinceros e não estou dizendo isso apenas da boca para fora. Que você não goste de mim, tudo bem, mas não venha dizer que eu não faria nada diferente, pois certamente o faria! – Proferi determinada em face de um semblante sério, porém com aquelas ousadas lágrimas prestes a cair.

Em silêncio ela me ouvia falar todas aquelas palavras afobadas e até desesperadas, sem se mover. Com a marca carmesim de minha mão nitidamente visível em seu rosto, ainda na mesma posição, ela encontrou meus olhos com os seus para logo em seguida se afastar e seu olhar ser desviado para aquela tão sublime lua cheia que, gradativa e lentamente, iniciava seu processo de sombreamento: o eclipse.  Sua mão tocava o corrimão vermelho com sutileza e, novamente, seus pensamentos pareciam terrivelmente distantes. Suspirou. Em seu olhar, mais uma vez, eu pude notar um misto de sentimentos.

— Durante milênios, trilhei inúmeros caminhos por esse mundo. Passei por diversas primaveras e incontáveis invernos. Vi reinos, clãs, aldeias e civilizações ascenderem e sucumbirem através de eras. Eu vi os horrores e as maravilhas... Tudo à vanguarda de meus olhos. Sou mais antiga do que podes imaginar. – Iniciou aquela que, por um momento, fez uma pequena pausa, longínquas em seus pensamentos. – Certamente, deve ter chegado aos teus ouvidos a Lenda de Subaru.  A que tomaste conhecimento, porém, não é a verdadeira. Quero que ouças atentamente aos dizeres que aqui eu proferir-te-ei.

Sem contrapor, assim, assenti. Era a primeira vez que ela parecia estrar disposta a esclarecer algo.

— Como reza a lenda, Subaru foi o humano mais puro, verdadeiro e justo que os deuses um dia já conheceram e que, por sua vez, confiaram. Aquele feito que é de teu conhecimento, porém, não fora o único. – Começou a mulher sagrada, paciente. Contar-te-ei, pois, o que de fato houve após a reconciliação dos Três Deuses Irmãos e a razão pela qual tu estás aqui.

 

— x –

Em cima das majestosas pedras do penhasco da grande cachoeira que naturalmente se encontrava com as águas mar, o humilde rounin, debaixo do auge do eclipse lunar, olhava para as entidades divinas logo à sua frente, sem medo ou qualquer tipo de ganância. Ainda que seu corpo estivesse visivelmente ferido, permanecia ali daquela forma serena e pacífica, sincera. Ele sorriu, satisfeito, ao ver o resultado de sua incessante busca e persistência. Como verdadeiros irmãos após uma discussão banal, os deuses finalmente pareciam ter posto fim às desavenças e amarguras. Eles se olhavam, saudosos e felizes, como se há anos não se vissem – o que de fato havia acontecido.

A cisão deles havia trazido, por muito tempo, a escuridão total à superfície, bem como um duradouro inverno gélido. Como reflexo, a sociedade havia passado a guerrear por medo ou sobrevivência, não sabia dizer ao certo. Agora, após longos anos, alguém poderia vislumbrar e admirar a esplêndida lua, bem como esperar e confiar no amanhecer do luminoso sol, mesmo que a tempestade e a agitação do mar se fizesse presente. 

Após o reencontro, os três deuses nobres se aproximaram do singelo andarilho sem rumo e, em uma longa reverência, eles o cumprimentaram. Estavam gratos por aquele homem ter-lhes proporcionado aquele momento.

— Nossos sinceros votos de gratidão a ti, humilde humano. – Disse a mais velha dos três, Amaterasu. – Lamentamos, apenas, os sacrifícios nascidos deste episódio.

— Graças a ti, humano, e a teu irmão pudemos, finalmente, compreender nossos laços e ir além dos ressentimentos e rancores. – Completou Tsukuyomi logo em seguida, ainda a manter sua reverência.

Silenciosamente, ao tomar por ouvido as palavras dos mesmos, o rounin olhou para baixo do penhasco, aonde as águas da cachoeira chegavam ao fim. Um olhar triste passageiramente era esboçado no semblante do jovem. Seus olhos em tons de âmbar ficavam levemente úmidos, contudo, nada além disso. O rapaz havia perdido naquela noite seu irmão mais velho, Kamui, por quem sempre teve muita admiração, embora nunca reconhecido como família por parte do mesmo. O mais velho sempre o havia culpado pela morte de sua mãe, única ascendente em comum entre ambos que logo falecera ao dar à luz ao mais novo. Ainda que, em determinadas fases da vida, Subaru tivesse se sentido frustrado e até mesmo ressentido, o mesmo deixou o orgulho de lado e quis de coração retomar aquele elo fraterno perdido e interrompido. Queria, pelo menos uma vez na vida, ser chamado de irmão.

~

— Solta-me! Prefiro morrer a ter tua ajuda! – Kamui exclamou irritado, suspenso no ar.

Subaru se sustentava a manter a katana cravada na rocha enquanto com a outra mão segurava firmemente o pulso do mais velho, impedindo a queda do mesmo naquele penhasco. Assim como o outro, seu corpo estava terrivelmente ferido.

— E eu prefiro morrer a te perder, nii-sama! – Respondeu igualmente exaltado o outro, trêmulo devido à força empregada naquela situação. Tentava puxar para cima.

— Não me chames assim! – Advertiu, recusando-se a aceitar aquele socorro. – Para de te importar!

— Não paro! – Retrucou logo em seguida. Ele ofegava, sentindo a dor estremecer seu corpo. Soltava um grito de agonia, já transpirando frio. – Podes me negar o quanto quiseres, mas não desistirei de ti, irmão!

A ferida adquirida mais cedo em combate ao proteger o mais velho se abria novamente. O sangue começava a escorrer pelo braço, manchando sua roupa cinza-azulada, até que chegava à mão que segurava o outro. Arfava, tentando não dar muita importância àquele incômodo, concentrado apenas em tentar puxá-lo.

O homem suspenso, assim que sentia aquele fluido rubro alheio derramado nas mãos de ambos, ficava assustado. Observava o tamanho esforço daquele que, mesmo em dor, não desistia de si.

— És um tolo?! – Gritou, aflito. – Não entendeste que te odeio? Larga tua mão da minha logo! Por que ainda queres salvar alguém que durante tua vida toda te destratou e desejou teu fim?

— Não me importo que tu me detestas! Eu, realmente, não me importo! – Protestou em igual tom. Sua respiração estava pesada. Seus olhos estavam marejados quando os do outro encontrou com os seus. – Eu sei que já atentaste contra minha vida... Eu sei que nunca gostaste de mim. Sei que me culpaste pela morte de nossa mãe, pois também me culpo! – As lágrimas, antes suspensas, agora caíam silenciosamente e paravam no rosto alheio. Ofegante, voltava a puxar o irmão, persistente. – Mas, nii-sama, eu estou aqui. E eu só tenho a ti nesse mundo. Por todo esse tempo, nós só tivemos um ao outro. E é por isso que, mesmo que me odeies e continues a me negar, eu não posso nem quero desistir de ti, meu irmão. Porque eu sempre estive aqui para ti... Nii-sama!

Ainda que estivesse incrédulo pela resposta alheia, Kamui fez-se ouvir suas palavras. Ao fim, ainda que silencioso, o mais velho esboçou um sorriso de canto.

— És... realmente o mais tolo que eu já conheci em vida... Todavia, também o mais puro. – Expressou finalmente, observando que o outro estava em seu limite e, mesmo assim, parecia realmente não querer lhe abandonar.

Sua mão começava a deslizar e o resultado daquilo era óbvio, não havia o que fazer. O mais novo estava arfante; era questão de segundos para que ambos despencassem daquele penhasco caso ele não o soltasse.

  – Sumanu, Subaru... Waga otouto yo. [1]

Aquelas haviam sido as últimas palavras proferidas por Kamui, quem, ao fim, esboçou um sincero e gentil sorriso para o mais novo antes de se soltar do mesmo. Subaru sentia as lágrimas caírem de seus olhos enquanto chamava alto pelo outro, tentando a todo custo segurá-lo de volta, mas sem sucesso. Quando o irmão sumiu de sua vista e pôde ouvi-lo cair no mar, o menor se encolheu, trêmulo, passando a abraçar a katana na qual firmemente se segurava. Ele finalmente o havia reconhecido – e, para tanto, morrido para salvá-lo.

~

 Sua atenção estava de volta aos deuses, tão logo seus pensamentos voltavam ao presente momento.

— Em sinal de nossa gratidão a ti, humilde mortal, gostaríamos de te presentear com algumas regalias. – Disse a deusa do sol graciosamente ao lado de seus dois irmãos.

Tão logo essa discursava, os demais também assentiram acerca daquele gesto. O primeiro a dar o primeiro passo foi Susano’oo, o mais novo e mais ousado dos três. Ao herói, o mesmo lhe entregou seu sabre.

— Essa é minha espada com a força divina da fúria dos mares. Sejam mortais ou kamis, onis ou youkais; se fores digno da vitória, nada conseguir-te-á abater.

Assim que o Senhor dos mares se afastava, era vez de Tsukuyomi se manifestar. A ele, então, o mesmo lhe concedeu uma joia transcendental, pálida e cintilante como os aspectos da lua.

— A ti, Subaru, confio o Fragmento de Tenseigan, a Verdadeira Pedra Lunar da Reencarnação herança e dádiva de meu povo, Ootsutsuki. Com esta, serás capaz de mudar o destino do espírito até seu último reluzir, quando a roda do destino definitivamente findar-se-á.

Tão logo aguardava seus irmãos se manifestarem, a deusa do Sol, Amaterasu, finalmente se pôs a pronunciar. De seu espelho que passava a se tornar luminoso, revelava-se, pois, uma bela e singela dama, cujos olhos eram rubros como o sangue e seus cabelos negros como a noite. Quando seu olhar encontrava o da garota, o rounin sentiu uma conexão divina e transcendental, algo que jamais havia experimentado antes. Por um momento, seu triste coração parecia se esquecer da dor da perda.

— Por fim, caro jovem herói – começou a divindade solar, tenra e graciosa –, a ti ofereço a mais nobre e habilidosa de minhas donzelas, Mikaru. Ela será tua libra e bússola; auxiliar-te-á a tecer as linhas do acaso e assim a trilhá-las. Será tua guia e companheira; teus olhos quando não puderes enxergar, teus braços quando não puderes alcançar e tuas pernas quando não puderes seguir.

Em silêncio, a tecelã dava alguns passos até o homem, fazendo uma cordial reverência para este. Em reciprocidade, esse também o fez, antes de sua atenção novamente voltar aos deuses. Desse modo, o mesmo se ajoelhava, humilde e respeitoso, em sinal de gratidão.

 – x –

 

— O mundo, tal qual conhecemos, voltara a conhecer crepúsculos e amanheceres, ciclo esse que há gerações já não se era vivido. – Relatou a sacerdotisa, tão logo a antiga história era contada. – Entretanto, a plena paz que Subaru tanto almejava não fora alcançada. A reconciliação da Trindade não havia sido o bastante para restabelecer o equilíbrio.

Sem dizer uma única palavra durante todo aquele lapso temporal em que a história era contada, eu estava ali, a ouvi-la. Não compreendia como aquilo poderia estar conectado a mim, mas Mikaru, pelo que deu para conhecer dela, ao menos comigo, nunca fora de falar algo se não fosse realmente necessário. Ainda que sua personalidade fosse calada e muitas vezes até rude em suas palavras, sua índole era inquestionável. ­


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Notas finais do capítulo

[1] Tradução: "Perdoa-me, Subaru... Meu caro irmão."



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