Spotlight escrita por Noise Kyouko


Capítulo 19
Perdoe e Esqueça.


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo. TAN TAN TAN TAN. Nem acredito que falta tão pouco para o fim...



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– Lembro como se fosse ontem quando ganhei a chave desse armário junto com a senha… Perdi o papel com essa senha três dias depois, claro, e logicamente também demorei a guardar aquela combinação de números na cabeça…

Tyler esvaziava seu armário da escola. Ele se formaria dali a apenas uma semana, assim como outros seniores do Hainefield High. Lucy o acompanhava, segurando a caixa que ele colocava suas coisas.

– E quais são seus planos para depois da escola? – Perguntou a loira.

– Por enquanto, apenas ir para faculdade. Eu não comentei nada com você e as outras garotas antes porque meio que estava com medo de não dar certo, mas fui aceito na Universidade do Sul da Califórnia, no curso de Artes Dramáticas. Depois, estou planejando me assumir pros meus pais...

A Gylehart se moveu desconfortável ao ouvir aquilo. Evitava pensar naquilo, mas cedo ou tarde ela também teria que dizer a verdade aos pais, querendo ou não. Amava muito Aileen, e sabia que ela não aguentaria viver uma vida inteira nesse relacionamento secreto. Sendo sincera, nem a loira achava que aguentaria.

– Corajoso de sua parte. Não tem medo da reação do seu pai?

– Bom – Colocou o último item na caixa e fechou a porta do armário, trancando-o – É claro que quero do fundo do coração que ele me aceite e continue me amando, mas caso não aconteça, ficarei bem. Ganhei uma bolsa integral para estudar na USC, e posso muito bem começar a trabalhar, caso me falte dinheiro.

– Um garoto independente, que lindo – sorriu a garota. Tyler então pegou a caixa que ela segurava e os dois se dirigiam ao carro dele.

– Uma hora eu teria que ser. Mudando de assunto, cadê a Aileen, não vai ir embora com a gente hoje? Hanna eu sei que está indo com o Cliff agora…

– Está em alguma despedida ou sei lá de um daqueles mil grupos nerds que ela frequenta.

– Hum, ok então. – O Bayham abriu a porta para a amiga e depois deu a volta para entrar. Mesmo Lucy dizendo que não era necessário, ele não conseguia deixar de ser cavalheiro.

Antes de dar a partida, Tyler ficou alguns segundos parado, contemplativo. A Gylehart fez uma expressão confusa. Finalmente, o garoto suspirou e disse:

– Vou sentir falta disso, sabe? – Disse sorrindo.

– Ficar parado com o carro no estacionamento? – Perguntou brincalhona.

– Não, da escola, sabe? E da gente também. – Explicou – Antes de conhecer você eu vivia sozinho, porque tinha medo de ser quem era de verdade e afastar todo mundo. As pessoas costumavam dizer: você é Tyler Bayham, só fica sozinho se quiser, mas é essa mesma a verdade. Eu sempre estive sozinho por opção própria, para me proteger. Mas aí eu te fiz aquela proposta de namoro falso, e apesar de no início você não estar nem um pouco interessada em ser minha amiga, com o tempo isso foi mudando. – Olhou diretamente para Lucy – Você se tornou uma grande amiga, Lucy. Você, a Hanna e até mesmo a Aileen, que chegou um pouco depois. Graças a vocês, meu último ano na escola foi algo que eu vou gostar muito de recordar…

– Se isso é alguma tentativa de me fazer chorar, ela fracassou – Falou a garota, mas as lágrimas que se formavam no canto de seus olhos denunciavam sua mentira.

– Oh, não fique assim, Lucie, guarde o choro para minha formatura – Disse abraçando a amiga apertado – Eu sei que você vai sentir muito minha falta, também sentirei a sua. E não adianta negar que eu sei que você não é tão bitch quanto tenta fazer parecer. Não adianta mais, agora eu sei que Lucy Gylehart tem um coração.

– Você é um idiota convencido… Mas sim, confesso que vou sentir sua falta. – Admitiu com um sorriso – Mas ainda poderemos mantém contato. Sua universidade não fica tão longe de Hainefield…

– Tem toda razão. Ainda poderemos juntar todos e ir nos acabar de dançar no The Hoax: eu, você, Oliver, Aileen e a Hanna.

– A turma toda… – Sorriu a Gylehart

– Sim, a turma toda – Tyler concordou e deu a partida.

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Lucy estava deitada na cama junto de Aileen. As duas estavam abraçadas debaixo de um grosso cobertor, enquanto um filme qualquer passava na tela do notebook. Um pote grande com pipoca estava abandonado do lado das duas, que quase não tinham assistido de verdade metade do filme, por conta das carícias e beijos.

Tão perdidas uma na outra as garotas estavam, que demoraram um tempo para perceber que o filme já tinha acabado há alguns minutos, e agora apenas os créditos apareciam na tela. Lucy apenas o fechou e o guardou em cima do móvel que ficava ao lado de sua cama.

– Mais uma vez você não me deixou prestar atenção no filme… – Comentou Aileen com um sorriso.

– Podia ter me rejeitado, mas sabe que sou irresistível… – Falou beijando a boca da namorada demoradamente.

– E também convencida, muito convencida. Sem contar que pode ser bem teimosa e birrenta, quando quer.

– Ei, desde quando nossa sessão de namoro virou uma sessão para falar dos meus defeitos?

– Gosto de lembrar seus defeitos, assim fica claro que você é humana como eu e não uma ilusão perfeita criada pela minha mente. Sem contar que até mesmo seus defeitos são meio que um charme…

– Isso tem alguma coisa a ver com aqueles livros de ficção científica que você lê? – Perguntou a loira levantando uma sobrancelha. Aileen apenas riu e beijou seu rosto.

– Senhorita engraçadinha – Disse brincalhona, mas logo depois fez uma expressão séria – Lucy, há algo que eu queria falar com você faz algum tempo…

A Gylehart sentiu o coração saltar. Ela não gostava muito de conversas que começavam assim, geralmente não eram lá coisas realmente boas que vinham disso. Até ali, ela e Aileen nunca chegaram a ter uma conversa “séria”. A loira lembrava-se bem como tinha acabado a última, que tivera com Brianna há muito tempo. Ainda assim, resolveu escutar o que a morena queria dizer:

– Vá em frente…

Aileen respirou fundo, e então prosseguiu:

– É sobre a Brianna – Disse e viu e expressão da loira mudar, se tornando severa.

– O que você teria para me falar dela? – Perguntou cruzando os braços. Aileen sabia que teria que ser cuidadosa com as palavras, se não quisesse começar uma discussão.

– É uma coisa que notei sobre você faz em tempo… Que guarda um enorme rancor e ressentimento em relação a ela.

– Bom, ela me traiu. O que esperava, que eu construísse um a estátua dela para adorá-la? – Usou de seu cinismo. Não entendia por que a namorada tinha começado com esse assunto tão estressante.

– Não, não é isso –Rebateu a morena – Eu sei que uma traição é muito dura de se lidar, e ficar magoada por isso por um tempo é normal. Agora, guardar um rancor muito grande de tudo isso é que é o problema. Isso não é bom, Lucy, e em longo prazo pode ate te fazer muito mal, de verdade. Alimentar tantos sentimentos negativos assim pode acabar com você, acredite em mim.

– E o que quer que eu faça? – Sentou-se na cama e olhou para o teto. – Que eu vire melhor amiga dela?

– Nem melhor amiga e nem amiga, seria exigir muito. O que estou te aconselhando é desculpar ela, e talvez até mesmo perdoar. Tirar todo o rancor e ódio que está no seu coração. Isso te fará muito bem, não imagina o quanto. Enquanto não fizer isso, será como se não tivesse seguido em frente. Como se mesmo de uma forma ruim, ainda estivesse presa a esse passado com ela.

– Eu… – Lucy pensava no assunto. Talvez não fosse má ideia, no fim das contas, perdoar e esquecer tudo que acontecera entre ela e Brianna. Aquilo era tudo passado, de qualquer maneira. Ficar remoendo não traria nada de bom. Então olhou para Aileen e sorriu – Acho que tem razão. Já está mais que na hora de deixar tudo para trás.

Ao ouvir aquilo, a Calverley se jogou nos braços da loira e a encheu de beijos. No fim, até que não fora difícil fazer Lucy entender sua sugestão. Estava muito feliz por isso, porque toda vez que via a namorada demonstrar a raiva incontida que tinha de ex, sentia como se a história delas não tivesse de fato acabado.

– Mas então – Lucy interrompeu a série de beijos que lhe eram dados – Você, como minha atual namorada, não deveria ser a última pessoa a querer ver eu me acertar com minha ex?

– Talvez, se eu fosse insegura e egoísta. Mas como só quero o seu bem, então estou tranquila. Eu me garanto…

– E depois eu que sou a convencida… – Riu e depois deu um beijo demorado na outra.

E assim, as duas passaram a tarde toda em meio a carícias e beijos. Não havia espaços para dúvidas ali, estava ambas inegavelmente apaixonadas.

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A Gylehart estava em um canto, junto de Hanna e Aileen. Olhava todo o ambiente ao redor procurando uma certa pessoa.

Aquele era finalmente o dia da formatura no Hainefield High. Alunos, formandos e parentes lotavam quase todos os espaços do grande salão onde a cerimônia seria realizada. Mesas, balões e o resto da decoração usavam as cores da escola: o vermelho e o prata.

– Achei que já encontrei quem você está procurando – Aileen falou próxima ao ouvido da loira, apontando diretamente para uma garota de cabelos castanhos em uma beca vermelha conversando com seus pais. Era Brianna.

Lucy respirou fundo. Estava receosa em ir falar com a garota que era sua antiga namorada. Nunca imaginou que fosse dirigir a palavra a ela novamente, por que mesmo que tinha que aceitar a ideia (brilhante) de Aileen? Não seria tudo tão mais fácil se as coisas fossem continuar do jeito que estavam?

Como se a encorajasse, a Calverley pôs uma mão em suas costas, e empurrando suavemente para frente.

– Pode ir.

Olhou profundamente nos olhos da morena, e reunindo toda coragem que tinha, começou a andar em direção a Brianna. Hanna fez uma cara confusa, não imaginava por que raios Lucy estava indo até a ex-namorada. Aileen apenas disse que depois lhe explicaria.

– Com licença, posso falar com você um instante? – Perguntou assim que chegou onde os Coxx se encontravam. A castanha olhou-a surpresa, para então concordar. Brianna pediu licença aos pais e seguiu a loira até um canto mais afastado.

Aquela era a primeira vez, em muitos meses, que Lucy encarava Brianna de tão perto. Tão rápido seu coração batia, que ela sentia que ele pararia a qualquer instante. Mas toda aquela inquietude não era nenhum sinal de amor ou algo do tipo, ela sabia. Só estava assim porque aquela a sua frente tinha sido uma pessoa muito importante em sua vida que a magoara de uma forma muito intensa.

– Eu… – Nem tinha ideia de como começaria o que tinha a dizer. A Coxx apenas a olhava com atenção – Eu queria dizer que… Que eu…

– Está tudo bem? – Falou a garota pela primeira vez. Sabia que era extremamente raro ver Lucy vacilante.

– Sim, é só… – Suspirou pesadamente – Eu quero deixar tudo isso para trás, Brianna… Toda essa raiva que venho guardando por você pelo que aconteceu. Só quero eliminar o rancor, estar em paz comigo mesma. Quero que quando nos encontremos por acaso, eu não sinta algo ruim se remexer em meu coração. Eu quero te perdoar, mesmo que você nunca tenha pedido por isso.

Brianna ficou sem reação. Ali estava Lucy Gylehart, seu primeiro amor e alguém por quem tinha muita estima, dizendo que a perdoava por tudo. Nenhuma palavra poderia expressar o quanto ficou feliz em ouvir isso. Não teve uma noite que não se deitou em sua cama e se arrependeu amargamente de tê-la traído. Não desejava que as duas voltassem, tinha consciência que a Gylehart havia seguido em frente. Tudo que desejava era penas ficar em paz com ela.

– Nem sei o que dizer, Lucy – Confessou, enquanto as lágrimas ameaçavam se formar no canto de seus olhos – Era tudo que eu mais queria. Você tem razão, eu nunca pedi perdão, mas sempre foi esse meu desejo. Eu só não tive coragem porque pensava que você não aceitaria.

– Bom, uma pessoa especial conversou comigo – Sorriu e olhou para Aileen, que a observava de longe junto de Hanna – E me fez perceber que te odiar para sempre era ruim até para mim mesma. As coisas não precisam e não devem ser assim.

– Essa pessoa é realmente especial para você, não é? – Perguntou depois de notar o jeito devotado que a loira olhou para a garota de cabelos negros – Fico feliz por você ter achado alguém tão legal, de verdade.

– É… Mas enfim, vamos passar uma borracha sobre tudo que aconteceu no nosso termino?

Ofereceu uma mão para Brianna, que a apertou, para logo em seguida abraçar a loira. Lucy, de início, ficou surpresa com a atitude, mas depois retribuiu ao abraço.

– A propósito – A Gylehart disse depois que se separaram – Queria agradecer por ter avisado sobre Kaitlyn. Foi só uma pena eu ter ignorado e isso quase ter acabado em uma grande tragédia…

– Ela deu muito trabalho?

– Sim, mas por sorte consegui botá-la em seu devido lugar.

– Não seria Lucy Gylehart, a abelha rainha da escola, se não o fizesse… – Brianna declarou rindo.

– Certamente…

A conversa das duas foi interrompida por uma voz vinda dos alto-falantes anunciando que a cerimônia da formatura se iniciaria dali a bem poucos minutos. Despediram-se então e cada um foi para um canto.

– Uau, estou chocada – Hanna falou assim que Lucy chegou – Nem em meus mais loucos sonhos imaginava que veria você perdoando alguém algum dia…

– Isso só prova que sempre podemos ser surpreendidos pela vida, não é mesmo? – A loira disse.

– Ou também que a pessoa certa – Olhou para Aileen – Pode fazer até mesmo a Regina George da vida real amolecer um pouco o coração e parecer mais humana.

Lucy apenas revirou os olhos, enquanto um sorriso divertido aparecia em seu rosto. Mas no fundo sabia que o que a amiga dissera era verdade: A morena ao seu lado aos poucos ia contribuindo para que ela fosse mudando, e era para melhor. E do fundo de seu coração, E Gylehart agradecia por isso.

Pegou então a mão da namorada e deu o sorriso mais cheio de sinceridade e afeto que podia. Aileen retribuiu todo o carinho, e por alguns segundos, esqueceram-se de todos ao redor para focarem apenas uma na outra. Só cortaram o contato entre os olhares quando a voz de Tyler Bayham, o orador oficial da turma de formandos desse ano, ecoou por todo o salão.

– O ensino médio, muitos costumam dizer, é nada mais nada menos que o início da preparação para a vida adulta – Deu uma pausa, e continuou – Um pré-teste que continuará na universidade que tem como objetivo nos preparar para o que virá mais a frente. Eu discordo disso. Minha visão do ensino médio é que ele é um mundo a parte, uma fase da vida diferente de todas as outras. Entramos nele jovens, cheios de expectativa e medos, porque achamos que tudo o que fizermos nesses anos decidiram quem vamos ser no futuro. Mas o que não percebemos, não no começo, é que não temos que temer por isso. A escola acaba e no fim tudo muda: aquele nerd sem nenhuma autoestima vira CEO de uma valiosa e inovadora empresa de tecnologia; aquele jogador egocêntrico percebe que no colegial ele é o astro, mas lá fora, na vida real, ele é só mais um e aquela garota popular se dá conta que a menos que ela vire ditadora de algum país, as pessoas não vão aceitar sua vontade arbitraria. No fim, todos esses personagens que criamos para sermos aceitos, toda essa hierarquia que foi inventada para ditar quem devemos ser no ensino médio não vai importar – Respirou fundo e olhou para onde Lucy, Hanna e Aileen estavam, e em seguida para trás, onde Oliver se encontrava com os outros formandos – Apenas os amigos verdadeiros, e a amor puro e sincero é que vão. Essas pessoas, com quem podemos ser nós mesmos, são a parte mais preciosa do colegial. A parte que vale a pena ser lembrada, a parte que nós fará sentir saudades da escola, mesmo que quando estivéssemos nela, torcêssemos para acabar logo. Então alunas e alunos do Hainefield High, celebremos o fim desse universo louco, emocionante e incrível que é o ensino médio. Celebremos a turma de formandos do ano de 2013!

Toda a plateia ardeu em palmas, principalmente Lucy. A mensagem de Tyler tinha sido linda, e estava clara como cristal.


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês no capítulo 20, que vai ser postado amanhã, se Deus ou qualquer que seja a entidade regente do universo permitir. Um beijo e até lá, aguardem.



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