Spotlight escrita por Noise Kyouko


Capítulo 14
Inebriante e Envolvente.


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está o novo capítulo. Muito obrigada aos leitores pelos comentários de boas vindas no capítulo anterior, vocês são uns amores



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– Então... Você está querendo dizer que está apaixonada por Aileen Calverley?

Lucy, Hanna e Tyler estavam almoçando no refeitório da escola. Natalie não tinha ido à aula, o motivo era alguma gripe muito forte ou algo do gênero, sinceramente a Gylehart não estava nem um pouco preocupada. Já Kaitlyn, que também passou a se sentar com o grupo, tinha ido falar com algum professor sobre a questão de como ficariam suas notas. Por isso, os três tinham a liberdade de conversar sobre assuntos “secretos” como a verdadeira vida amorosa do casal “Tycy”.

– Não, eu não estou dizendo que estou apaixonada, mas que há uma possibilidade de eu estar.

– Possibilidade de 100%, Né, fofa? – Tyler disse bebericando seu suco de morango – Não tem porque mentir pra gente, está tipo, tão na cara que você gosta dela...

– Sim, acha que não percebemos que você quase não tirou os olhos dela na aula de educação física? Mais óbvio que isso só se você sair gritando por aí... – A Dyer remendou.

– Parem de ficar de complô contra mim, isso não é justo – Lucy fingiu uma cara chateada.

– É porque você é teimosa. Admita logo que esta c-a-i-d-i-n-h-a pela toda nerd garota Calverley.

– Ela não é nerd, é geek, tem diferença.

– Que fofo, sabe os mínimos detalhes sobre ela – O garoto bateu palminhas – Eu já estou torcendo muito por esse casal. Qual será o nome? Lueen, Aileecy?

– Cruzes, os dois são ridículos.

– Eu gostei de Aileecy. Mas não dizem que há uma regra na junção de nomes de casais? Tipo, a pessoa ativa vem na frente da pessoa passiva? E então Lucy, você nunca me disse nada sobre suas preferências nesse quesito, sabe... – Hanna apoiou o queixo nas duas mãos e olhou para Lucy travessa. A loira em resposta apenas mostrou a língua e mordeu um pedaço de seu sanduíche.

Por alguns momentos o olhar de Lucy se dispersou até focar em uma pessoa que estava um pouco longe, mesas a frente dela: Aileen. A garota mostrava alguma coisa no smartphone para a amiga asiática (que Lucy não sabia o nome) e ria. Tyler a Hanna, logicamente, não deixaram de perceber onde estava a atenção de Lucy e começaram a fazer suas brincadeiras. A Gylehart, como esperado, ficou vermelha nas bochechas e virou o rosto para o lado, ameaçando os amigos com o garfo de plástico que estava em sua mão.

– Gente, dá pra parar de ficar encarando ela? Aileen vai achar que estamos falando dela...

– E não estamos? Dela e a sua paixão incontrolável por ela?

– Engraçadinhos... Tyler, se você já não tivesse namorado, eu te zoaria horrores com suas paixonites. E quanto a você, Hanna, deixa só eu descobrir de quem você gosta...

– Pode tentar, meu coração esta livre desde Adam...

– Sim, seu coração esta livre, mas algo me diz que tem um certo cara louquinho para ocupá-lo – Tyler soltou despreocupadamente.

– Hum... Agora sim – Lucy sorriu – Pode ir falando tudo que sabe, Bayham.

– Eu não sei de nada. – Hanna levantou as sobrancelhas.

– É porque você é muito distraída, Honey. Eu estou percebendo há um tempo Cliff Fishier, do time de futebol, te lançando olhares mais que interessados... Ele parece estar tão na sua quanto a Lucy está na da Aileen...

– Não faço ideia de quem seja esse cara – Hanna deu de ombros.

– Alto, gostoso, cabelos castanhos, olhos azuis-escuros e uma covinha do lado direito do rosto muito fofa...

– Sim, pode ser, mas ele é do time de futebol, sabemos como são caras do time de futebol...Só querem saber de uma coisa com as garotas.

– Mas ele é diferente – Tyler defendeu – Ao contrário do meu irmão babaca e do resto do time babaca, ele é decente. Ollie mesmo me disse – Se referiu ao namorado, Oliver Spart, também do time de futebol.

– Se ele está tão interessado porque não vem falar comigo?

– Ollie disse que ele é muito tímido. E também tem outra coisa: parece que Sam Wrise, aquele carinha que você rejeitou semanas atrás, espalhou pro time que você não curte caras brancos.

– Que cara idiota, não sabe lidar com o fato de ser rejeitado e quer inventar desculpas... – Lucy comentou.

– Tão típico. Mas quanto ao tal de Cliff, o Oliver pode dizer para ele que esse boato é infundado. Sabe, talvez esteja mesmo na hora de eu conhecer um cara bacana e tentar um compromisso mais sério, sabe?

– Assim que se fala, garota.

Tyler bateu um high five*1 com Hanna, e Lucy fez o mesmo.

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Em um dado momento da hora do almoço, Aileen pegou Lucy olhando para ela, e quilo fez seu coração disparar. Ela nunca tinha experimentando e sensação de flertar com outra pessoa e ser correspondida (pelo menos, ela pensava que aqueles olhares de Lucy queiram dizer que ela estava sim, interessada). Tinha até tido outras “paixonites” por outras garotas anteriormente, mas todas elas eram héteros e o romance ficava apenas na cabeça da Calverley.

Pela primeira vez, Aileen sentia as tão famosas “borboletas no estômago”, e ela já poderia dizer que aquilo era a melhor coisa do mundo. Claro que devia ir com calma, afinal tudo estava apenas começando, e antecipar as coisas dessa maneira poderia resultar nela tendo seu coração partido, mas a morena no fundo era muito romântica, e acreditava que não devia haver receios quando o assunto era o amor.

Sim, ela já tinha certeza que amava Lucy, se deu conta disso há muito tempo. Só faltava saber o que sentia a Gylehart.

– Porque a galerinha popular fica olhando na nossa direção? – Barbara Wang perguntou desconfiada.

– Eu na sei – Tentou disfarçar o rubor. Barbara era uma boa amiga e tudo o mais, mas Aileen ainda não sabia como ela reagiria ao saber que ela não estava nada interessada em garotos, e sim em garotas.

– Você está vermelha – Apontou a Wang e Aileen ficou desconcertada.

– Eu? Ah, deve ser o calor, sabe?

– Estamos no outono. Nem está calor. Você está parecendo envergonhada. Espere...

A asiática fez uma pausa, olhou para a mesa de Lucy e depois para a amiga. Então um brilho sagaz iluminou seus olhos. Aileen sentiu o estômago gelar, será que ela havia percebido a troca de olhares entre ela a garota loira?

– Eu já sei o que é... Você está vermelha porque gosta do Tyler Bayham, não é?

– O que? – A morena se sentiu confusa, mas logo depois aliviada – Há, isso é engraçado. Como chegou a brilhante conclusão?

– Ele começa a olhar pra gente e você fica mais vermelha que um tomate. Eu já te saquei, não adianta negar. Mas se quer um conselho de amiga, desista. Se a Lucy Gylehart sequer sonhar que você está a fim do namorado dela, tenho até pena do que ela fará com você. Sabe que Brianna Coxx foi exilada da terra da Poplandia justamente por ficar de olho no que não era dela, Né?

Aileen não sabia se ria ou fingia temer o aviso da amiga. Era tão engraçado as pessoas acreditarem nesse boato de Brianna tentar roubar o namorado de Lucy. Mal sabiam que a verdade estava bem longe de ser essa. Mas por hora, ela ia apenas concordar com a cabeça e voltar a comer seu lanche em paz com a amiga.

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– Para falar a verdade, eu não tenho um lugar em mente para irmos, então pensei que podíamos escolher juntas... – Lucy disse, enquanto tirava os olhos da estrada por um momento e encarava Aileen. Eram mais ou menos por volta das 17h00min, e as duas estavam indo ao encontro proposto pela Loira no dia anterior.

– Bom, isso seria legal. Você teria alguma sugestão? Eu nunca fui de ir muito a lugares, sabe. A não ser em feiras de quadrinhos com Barbara, restaurantes caretas com meus pais e esses eventos que Hainefield tem, às vezes.

– Hm, me deixa ver... Você está com muita fome?

– Não, para falar a verdade...

– Então, que tal isso: em vez de irmos a um restaurante, irmos a uma sorveteria... Sei de uma que abriu recentemente e está muito bem falada por ai. O nome é Marchetti, eu queria mesmo ir até lá.

– Acho que já ouvi falar dessa também... Não é aquela que vende sabores exóticos e iguarias diversas de sorvete?

– Essa mesma.

– Sei qual é então. Eu também andava querendo visitá-la, mas Barbara entrou numa de dieta e se recusa a comer uma infinidade de coisas.

– Barbara é aquela sua amiga, não? Eu acho que ela não precisa de dieta nenhuma, mas ok. Agora, mudando um pouco de assunto, ela sabe sobre você?

– Sobre mim?

– Sim, sobre você ser lésbica, sabe?

– Ah... Não, ela não sabe.

– Por quê? Acha que ela reagiria mal?

– Sinceramente, eu não sei. Nunca parei para pensar o que ela pensa do assunto? Quer dizer, não acho que ela seja preconceituosa, ela até gosta de yaoi. Você sabe o que é yaoi, né?

– Não faço ideia – Respondeu Lucy sinceramente.

– É romance entre dois caras, praticamente. Ela é bem fissurada nisso mesmo, vê tudo sobre o assunto: fanfic, mangás, anime e até filme.

– Isso é bom, não é? Deve indicar que ela não tem problemas com homossexualidade...

– Não sei. Isso é mais como um fetiche, não quer dizer exatamente que ela seja simpática aos gays e lésbicas. Sabe aquelas caras que adoram pornô lésbico? Então, isso não faz deles nem um pouco mente aberta, muito pela contrario, a maioria quer ver os gays mortos. Tenho um tio que é assim.

– Entendo, mas acho que você devia se abrir para ela. Melhores amigas são uma das pessoas mais importantes de nossa vida, como uma família mesmo. Eu no início fiquei com muito medo de Hanna me rejeitar depois que soubesse minha sexualidade, mas ela me apoiou totalmente quando contei. Se não fosse por ela, eu acho que teria sérios problemas de auto aceitação...

– É, eu tenho que tomar coragem e dizer para ela. Mas eu não sou como você, Lucy, confiante e tudo o mais...

– E quem disse que sou sempre assim? Tenho meus momentos de insegurança também...

– Quando?

– Quando te chamei para sair, por exemplo. – Lucy soltou, e só depois se deu conta do que tinha falado. Um pouco envergonhada, virou o rosto para a janela ao lado, e depois o manteve fixo na estrada.

E quanto ao Aileen, ela ficou muito surpresa e também feliz pelo que tinha ouvido. Saber que provocava timidez na inabalável Lucy Gylehart, a rainha da escola, era algo que ela nunca imaginava ser capaz.

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Finalmente, quando chegaram a Marchetti, Lucy e Aileen escolheram uma das elegantes mesas do local e se sentaram, a espera de uma das atendentes. Felizmente a sorveteira era meio afastada do centro de Hainefield, onde a maioria das pessoas conhecidas pelas duas se encontrava. Ali não havia risco de elas serem pegas no flagra.

Uma moça alta e loira veio trazer o cardápio, que incluía não só sorvetes dos mais variados sabores (muitos deles bem peculiares, como o sabor chá-verde, alcaçuz e pasme, até de bacon!). Também havia pratos feitos com sorvete, como sanduíche de sorvete e cookies, rocambole se sorvete e até carpaccio com sorvete.

Depois de fazerem seus pedidos, Lucy um sorvete de menta com creme de chocolate e Aileen bolo de baunilha com sorvete sabor morango, as duas voltaram a conversar:

– O lugar aqui é muito bonito, e refinado. – Começou Aileen – Sem contar o cardápio diferente de tudo que eu já vi na vida. Eu até já tinha ouvido falar dessas sorveterias especiais que vendem sorvetes com sabores pouco convencionais, mas era no oriente e na Europa, aqui nos Estados unidos só em Nova York.

– Hainefield é um antro de gente endinheirada, esses tipos de negócios sempre vêm para cá.

– Sim, os donos do negócio são bem espertos. Imagino poucos lugares onde alguém pagaria tanto por um sorvete.

– Quando nossos pedidos chegarem, saberemos se o preço vale mesmo a pena. Mas todas as resenhas que li na internet a respeito daqui eram bem positivas e cheias de elogios, acho que não vamos nos decepcionar.

– Muito bom... Mas Lucy, eu me dei conta de algo agora. De tantas garotas interessantes em Hainefield, porque justo eu?

A loira foi pega de surpresa pela pergunta. Nunca tinha parado para pensar a respeito. Bom, Aileen era bonita, inteligente e cativante. O jeito como ela se atrapalhava quando queria dizer alguma coisa, ou quando ela falava dessas coisas de ficção científica com entusiasmo e paixão nos olhos. Lucy achava tudo simplesmente fofo, tudo sobre a morena parecia interessante e encantador aos olhos dela, mesmo as coisas mais simples.

– Acho que vou ter que te responder com outra pergunta. E porque não você? Aileen, você é linda, e tem as qualidades mais fantásticas que nenhuma outra garota nunca chegaria nem perto de ter. Seus olhos... Eles brilham de um jeito maravilhoso quando você sorri. Não sei se alguém já chegou a te dizer o quanto você é incrível, mas se não, saiba que você é. Acho que seria mais interessante perguntar por que uma garota como você quereria sair comigo, uma menina narcisista, egocêntrica e mimada.

Lucy ficou impressionada consigo mesma. Ela nunca foi capaz de tecer tantos elogios assim a quem quer que fosse, e também nunca admitira tão abertamente os defeitos que ela sempre fingiu não saber que tinha. Por algum motivo, ela se sentia compelida a ser sincera e espontânea com Aileen.

– Uau, isso foi... – A Calverley estava também estava impressionada – Mas se quer saber, eu não acho que você seja narcisista e tudo o mais. Quer dizer, talvez só um pouquinho, mas acho que no fundo todo mundo é. Você só se cobra demais para ser essa garota perfeita que todo mundo idealiza. Mas eu tenho notado esse seu lado que talvez só Hanna conheça, esse lado doce e gentil. Acredite, você pode ser assim todo o tempo, se quiser.

Ia responder alguma coisa, mas a atendente voltou com os pedidos. As duas começaram a comer, e entre uma colherada e outra, conversavam sobre coisas banais, como os gostos de cada uma. Salvo a área musical, Lucy e Aileen não tinham tanto em comum, mas isso não era de fato ruim, já que uma ensinava a outra coisas novas.

Foi quando, depois de terem acabados de comer, elas se olharam nos olhos e por segundos nenhuma disse ou fez alguma coisa. Era como se naquele momento elas tivessem sido levadas a um lugar onde nada mais existia, só as duas. O que veio a seguir foi como magnetismo: Aileen foi atraída quase que inconscientemente até os lábios de Lucy.

Naquela mesma tarde, depois de deixar a Marchetti, as duas ainda ficaram uns bons minutos se beijando no carro da loira. Tudo estava tão perfeita, para as duas garotas, que parecia que nada mais importava.

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Ao chegar em casa e adentrar seu quarto, a primeira coisa que Lucy viu foi Hanna jogada confortavelmente em sua cama. A garota negra a olhava com o maior sorriso do mundo.

– Pode ir contando tudo sobre seu encontro, eu quero todos os detalhes possíveis.

E então Lucy narrou tudo que aconteceu na ida dela ao Marchetti com Aileen, das conversas até as seções de amasso. Hanna escutava tudo com visível satisfação no rosto, a amiga parecia genuinamente Feliz com tudo aquilo.

– Mas sei lá, pensando agora acho que fomos rápidas demais, sabe? Talvez devêssemos ter mais calma...

– Calma pra que, mulher? Já está bem óbvio o que está rolando entre vocês, não precisa de calma para nada. Deixe essas inseguranças que eu sei que rondam essa sua cabecinha e se joga.

– Você está certa...Não tem porque temer. A gente se gosta, isso está acontecendo – Se jogou de costas na cama e fechou os olhos.

Uma batida foi ouvida na porta. Lucy mandou entrar e Kaitlyn apareceu pedindo licença.

– Olá Lucy, olá Hanna. Vim aqui chamar você para o jantar que minha mãe esta dando lá em casa. Você também pode vir, Hanna, se quiser. – Convidou gentilmente.

– Não, obrigada. Disse aos meus pais que jantaria com eles. Mas agradeço o convite. – Hanna disse.

– Eu já estou descendo, só de um tempo para eu me ajeitar.

– Ok, tchau... – Depois disse a garota fechou a porta e foi embora.

– Não sei por que, mas algo me diz que essa garota não é confiável... – A Dyer falou.

– Intuição, é? – A loira provocou.

– Sim, de qualquer forma, tenha cuidado.

– Sempre tenho, você sabe disso.


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Notas finais do capítulo

*1 High five: Aquele típico cumprimento onde as pessoas espalmam as mãos no alto.



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