Uma coisa interessante sobre festas de caridade era que pelo menos 75% das pessoas simplesmente não doava nada por generosidade, e sim por promoção social.

Os habitantes da abastada cidade de Hainefield não eram muito diferentes da elite de outros lugares, como Upper East Side e Hampton. Era um lugar cheio de dinheiro e falsidade, e havia apenas três coisas que importavam para esses tipos de pessoa: Status, dinheiro e conforto. O maior exemplo disso era a senhora Carlton, que embora doasse quantias generosas para o fundo Humanitário de Hainefield chamava todo latino de “chicano” em um tom depreciativo.

Afinal ninguém é perfeito, mas tem muita gente que insiste em querer mostrar o contrario.

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– Ele continua olhando. Fico me perguntando quando vai vir falar com você.

– Para tomar o centésimo fora?

Lucy e Hanna conversavam em uma parte do salão, enquanto viam Derek Bayham, do lado oposto, com o olhar fixo, quase ferino, na direção delas.

– Você sabe, Lucy, a resistência dele em não aceitar que você nunca vai estar interessada é até divertida.

– Para você. Eu não suporto ter que ficar repetindo a mesma coisa para ele sempre. Tem todas essas outras garotas no pé dele, por que ele não desiste logo?

– Ora – Hanna disse em um tom malicioso – Porque você é Lucy Gylehart, proclamada a forma humana da beleza em Hainefield.

– Nossa Hanna, esse seu tom de voz combinado com essa expressão te fez parecer muito hétero agora – Lucy disse irônica. As duas caíram na risada.

– Com licença?

As garotas se viraram e deram de cara com Tyler Bayham. Irmão gêmeo de Derek e um dos garotos mais cobiçados pelo publico feminino. Tyler, assim como o irmão, tinha um notável cabelo castanho avermelhado, olhos azuis escuros e traços aristocráticos, uma mescla entre o suave feminino e o forte masculino. Diferente de Derek, que era arrogante e muitas vezes parecia esquecer os modos, era um perfeito gentleman

– Eu gostaria de falar com você, Lucy, se não for um incomodo. Em particular.

– Olha, Tyler, se for sobre seu irmão eu já disse que...

– Não, não é nada disso. Eu garanto.

– Certo – Hanna disse – acho que vou até a mesa pegar algo para beber. Vai querer que eu te traga alguma coisa, Lucy?

– Não, obrigada.

– Vamos até o jardim – Sugeriu o rapaz assim que Hanna saiu.

Passando por olhares curiosos, os dois seguiram ate o jardim. O local continha cercas vivas altíssimas e flores dos mais variados tipos. Sentaram-se em um banco de ferro pintado de branco.

– Então, Tyler, o que quer?

– Eu tenho uma proposta. Uma proposta que trará benefícios a nós dois. Mas antes tem que dar a sua palavra de que o que vou dizer aqui não será revelado a mais ninguém –Tyler parecia nervoso, como se o quer que seja que ele tinha para falar fosse algo muito sério, como aqueles segredos que não contamos nem a quem mais confiamos – Prometa.

– Eu prometo – falou sincera.

E suspirando pesadamente, ele soltou:

– Eu...eu sou gay.

“Wow”

O primeiro pensamento de Lucy foi que ela nunca imaginaria, mas depois de pensar um pouco se lembrou de como Tyler olhava para Brett Clough, o capitão do time de futebol. Era exatamente do jeito que ela deveria olhar. Tudo fazia sentido agora.

– Eh...legal. Mas por que você esta me contando isso mesmo?

– Ora...não está claro?

– Não para mim.

– Simples. Eu proponho que iniciemos um namoro.

– Há. Isso só pode ser brincadeira. Você acaba de dizer que e gay e logo depois me pede em namoro?

– Um namoro de fachada.

– Para esconder sua sexualidade?

– Não, minha bela. Para esconder a nossa sexualidade...

Ao ouvir isso, a garota ficou apreensiva.

– O que você esta insinuando? Eu não tenho nada a esconder!

– Tem certeza? Eu sei diferenciar uma amizade de um rolo. Você e sua amiguinha Brianna Coxx nunca me enganaram.

Lucy era conhecida por ser uma garota educada, mas como toda Queen Bee podia ficar muito perigosa quando irritada. Tyler sabia que precisava medir as palavras. Mas ele também sabia que se quisesse cumprir seu objetivo, teria que pressioná-la.

– Está enganado – ela estava visivelmente se segurando para não se alterar.

– Estou? Eu acho que não. Sabe, você assim como eu é muito difícil de identificar, Lucy, mas eu sou um bom observador. E observando você bem, nota-se que não liga para os garotos. Também nunca te vi com ninguém, é muito estranho que a garota mais bonita da escola nunca tenha tido nenhum namorado sério.

– E baseado em uma suposição estúpida você me acusa de...

– Você pelo visto é daquelas pessoas que negam até quanto podem não? – Tyler assumiu uma postura tranquila – Eu não estou aqui para te julgar, muito pelo contrario. Estou na mesma situação que você, e digo que o melhor agora é nos unirmos. Imagine o que seriamos, o que conseguiríamos juntos...

Aquilo era interessante, e olhando por esse lado Tyler tinha toda razão. Namorar um gay seria muito bom para ela, já que não precisaria fingir nada para ele. Não teria que beijá-lo quando estivessem sozinhos nem fazer nada mais. Apenas posariam de casal apaixonado na frente das outras pessoas. Sem contar que Tyler era um Bayham, que como ela fazia parte das cinco famílias. Eles iriam mais que dobrar sua influencia e popularidade.

Mas tinha outra questão. Ela precisava mesmo engatar um namoro de fachada com o primeiro que aparecesse? Tyler era um bom partido, mas Lucy era do tipo que considerava varias possibilidades antes de tomar uma decisão.

– Okay, sua afirmação quanto a minha sexualidade está correta, eu não vou negar, mas isso não significa que já vou dizendo “sim” para sua proposta. Tenho que pensar mais e respeito.

Tyler deu um sorriso radiante.

– Certo. Anote meu número no seu celular...

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Aileen Calverley se considerava neutra no jogo de interesses e falsidade de Hainefield. Pessoas dissimuladas existiam em todos os lugares e classes sociais, mas a alta sociedade parecia ter a maior concentração delas. Todo o tempo mentindo, omitindo e fingindo ser algo que não são, era assim que grande parte das pessoas em Hainefield levava a vida.

Com o smartphone em mãos, ela lia “Contos de duas cidades”, de Charles Dickens pela 35° vez. Era um dos seus livros preferidos do autor e embora sua mãe odiasse que ela lesse em festas Aileen não via outra alternativa, já que sua melhor amiga Barbara Wang ainda não havia voltado das férias na Coréia do Sul e conversas sobre futilidades, que ela sabia que era a única coisa que as pessoas da festa falariam, a deixavam com dor de cabeça. Foi quando levantou a cabeça e viu Lucy Gylehart e Tyler Bayham se dirigindo a porta que dava para o jardim.

“Interessante”. Pensou consigo.

Se tinha duas coisa que Aileen tinha certeza era 1° seu gaydar era muito certeiro e 2° ele sempre apitava para Tyler Bayham.

Tyler era o típico galã juvenil, gentil com todo mundo e nunca falava das mulheres como os outros garotos. Resumindo bom demais para ser hétero ou solteiro. Já Lucy a deusa da beleza adolescente, que se vestia melhor até que muita celebridade e tinha um milhão de garotos aos pés. Em resumo ela parecia ser a garota hétero regular, embora o gaydar da morena apitasse bem de leve às vezes.

De qualquer forma, quem tivesse o coração de Lucy era uma pessoa de muita sorte. Com seus cabelos loiros caramelo e olhos verdes claros, pele perfeita e porte elegante ela era a garota mais bonita da cidade, e Aileen se arriscava ate a dizer do país.

Espantando esses pensamentos da cabeça, ela decidiu voltar à leitura.

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– Demorou hein...O que o clone do Derek queria? Não vai me dizer que ele disse que esta apaixonado por você. Seria cômico demais...

– Não, muito longe disso, te conto depois. Brianna e Natalie já chegaram?

– Sim, há uns 5 minutos atrás, logo depois de você e o príncipe saírem.

– Então vamos até elas...

Foram para onde as outras duas se encontravam, e logo Lucy viu que Brianna tinha uma expressão de questionamento que a loira apostava ser por causa de Tyler. Não que ela fosse ciumenta, nem que achasse que o garoto tinha uma chance de verdade, mas curiosa ela estava.

Dando um olhar que dizia que contaria mais tarde, Lucy comprimentou as amigas e logo a conversa fluiu levemente entre as quatro, se encerrando quando o senhor Ward, dono da casa e anfitrião da festa, anunciou que sua esposa faria um discurso em minutos.

Todos se dirigiam as suas mesas, sendo a de Lucy e sua família uma das mais próximas do mini palco. Por ironia do destino, ou não, a da família de Tyler era logo ao lado da sua. Ele lançava olhares intensos de tempos em tempos a garota, que desviava.

Muitas pessoas notaram esses olhares, e as reações foram as mais diversas. Hanna estava confusa, Brianna impaciente, Natalie com raiva e Derek nervoso.

E Lucy?

Bom, ela só conseguia pensar na inesperada proposta.

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Ao chegar em casa, Lucy foi logo tirando os saltos e desfazendo o penteado. Tudo o que precisava agora era de um banho e depois cama. No final da festa Hanna e as outras até tentaram arrancar alguma coisa dela, mas ela alegara cansaço e se livrou, pelo menos por hora, do questionário das amigas.

Foi quando se sentou em sua cama e pegou o celular. Pensara durante todo o discurso da senhora Ward (que tinha sido longo e cansativo) sobre a proposta de Tyler, e já tinha tomado a decisão.

– Tyler Bayham?

– Eu tenho uma resposta para você.

– Se decidiu? Pode falar, doçura.

– Eu aceito.

– Ótimo! Não sabe o quanto me deixa feliz. Amanha combinaremos mais sobre o acordo na escola. Isso vai ser demais, Lucy. Você não tem ideia do quanto.

Sim, ela tinha.

Amanhã eles simplesmente seriam o maior assunto na escola.