A Filha Da Capital escrita por Sekhmetpaws


Capítulo 35
Lembre-se de quem é o verdadeiro inimigo




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Os tributos restantes prosseguiram correndo.Quase sem forças.

Não se lembravam a quanto tempo não dormiam ou comiam algo consistente.

E não percebiam o quanto o tempo passara de pressa, pois o sol não se erguia há muito tempo na arena .Pelo menos desde que a tempestade se formara.

E mesmo porque já não fazia diferença nenhuma.

Sendo assim era manhã de quarta feira.

Os habitantes das celas 1457 e 1458 eram outras pessoas (na verdade, “seres vivos” seria o termo correto,não tenho certeza se tigres e bolas de pelos alaranjadas e bigodudas gatos não contam exatamente como pessoas) que não haviam tido boas noites de sono.

Água pingava pelas frestas, sujeira se acumulava pelos cantos e os ratos passeavam alegremente entre as celas,embora nunca entrassem(provavelmente devido á presença dos felinos) ainda era possível ouvi-los chiando no escuro.Sem falar no cheiro de podridão impregnava o ar vindo dos esgotos poucos metros abaixo.

Mas,naquela manhã todos dormiam ,os gemidos constantes dos prisioneiros se convertiam em respirações pesadas e roncos ocasionais.Até mesmo os ratos pareciam estar adormecidos.Em transe.Esperando.Esperando.O ar parecia meio pesado e as coisas não pareciam ser que eram.E talvez não fossem.E se a caso fossem nãos e pareciam ser.{n/a: na verdade eu não faço a menor idéia do que estou falando}.

Tudo parecia meio cinzento e desbotado. E até mesmo o tempo parecia ter parado para esperar. Seja lá o que estivesse por vir.

E que com certeza não era nada bom.

Um único ser vivo permanecia desperto (e estava desperto a muito tempo,posso lhe afirmar)

A mulher, possuidora de longos e emaranhados cabelos negros e olhos fundos que a muito tempo haviam perdido sua vivacidade e olheiras realmente profundas olhava fixamente para o precário televisor.Assim,como todo o país deveria estar fazendo agora.

Observando. Observando em quanto os dois últimos tributos corriam por suas vidas.

Então ela sorriu e seus olhos brilharam pela primeira vez há muito tempo.

“É hoje...Tem que ser hoje” ela sussurrava repetindo baixinho para si mesma.

E posso lhe afirmar que ela estava completamente certa.

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E voltamos ao ponto de partida.

Um garoto e uma garota.

Correndo por suas vidas em direção á cornucópia que brilhava em contraste com o fogo.

Era possível ouvi-los ao longe. Você sabe,os bestantes. E estes ladravam como cães, mas, não tinham tanta pressa quanto antes, não havia mais para onde correr agora.

Suas roupas estavam chamuscadas e havia diversos cortes abertos. O cheiro de carne queimada empregava o ar, assim como a fumaça e as cinzas. Pelo menos metade dos cabelos dela, anteriormente compridissimos, haviam sido roubados pelo fogo algumas madeixas ainda fumegavam. A única coisa que eles podiam fazer era agradecer ao estilista dessa edição pelas botas coloridas serem que imunes ao fogo, senão fosse por isso ambos estariam em sérios problemas agora.

O garoto ajudou-a a subir. Ela guindou-o para cima e ambos se juntaram num abraço apertado que representava tudo o que palavras não poderiam expressar e ficaram ali por uma quantidade de tempo indefinida. Pois era o suficiente naquele momento e significava tanto, tanto que nunca deveria ter sido desfeito. Mas, foi.

Eles se separaram e ficaram ali encarando um ao outro. Seus olhos ardiam, suas mãos estavam cheios de bolhas e a pele parecia querer derreter.

O próprio chifre de ouro parecia aos poucos começar a se fundir(oque me faz acreditar que aquilo era apenas uma imitação barata para ser usada naquela edição e não estragar a verdadeira ou algo assim). O metal escorria em gotas gordas e pingava no chão.

Os bestantes finalmente haviam chegado e circulavam a cornucópia como abutres, esperando, esperando, pois não havia pressa. Dois tributos. Um vive. Outro morre. Um vencedor. Um derrotado.

Vencedor? Não. Vencedores nunca. Apenas sobreviventes.

Às vezes mais espertos, às vezes mais fortes, ou mais preparados ou apenas sortudos. Apenas sobreviventes.

E mesmo assim. Vale a pena?

Vale apena lutar tanto, sofrer tanto só para depois continuar sendo apenas um brinquedo. Um peão no jogo da capital?

Vale a pena ganhar milhões em quanto tantos não tem nada?

Vale a pena viver em um mundo como esse?

Eu não sei.

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Um pacificador desceu o ultimo lance das escadas. Ele gritou para os avox se apressarem em segui-lo, cada um equilibrando uma bandeja que continha uma substancia rançosa e acinzentada que nunca poderia ser chamada de comida.

Uma a uma as celas foram abertas e as bandejas entregues aos presos moribundos. O pacificador, inquieto trocava o peso do corpo de uma perna para a outra, enquanto brincava com suas armas distraidamente. Ele não estava muito feliz, sendo que era o único em serviço enquanto seus colegas de trabalho assistiam a grande final.

–Andem logo com isso!-gritou retirando o capacete (o que foi muita burrice, já veremos o motivo).

Um dos avox fez sinal agitando os braços (já que não podia falar) puxando a maçaneta em vão, alguem fazia pressão do lado de dentro.

O homem empurrou o servo. Em seguida dirigiu suas mãos a maçaneta da porta de ferro e puxou, mas esta não cedeu.

–Hey,você ai!-gritou pelas grades de uma pequena abertura. Lá dentro estava escuro e ele não conseguiu ver quem segurava a porta- Solte isso se não...

A pressão desapareceu subitamente e a porta foi aberta, com tamanha força que o homem puxava.

O pacificador só teve tempo de ver algo grande e peludo se aproximar rapidamente quando algo pesado bateu contra o lado esquerdo da sua cabeça e tudo ficou preto.

Quando acordou (algumas horas depois) suas armas e chaves haviam desaparecido.

.

.

.

–Sabe, eles tem razão. -disse Jake por fim.

–Eles quem?- perguntou Dália.

–Dave, Paloma, Robert, todo mundo. Não vale a pena viver num mundo como esse. -e continuou-Nós temos que continuar lutando.

–E é o que estamos fazendo não é?-ela questionou.

–Não. Você não vê? É inútil! Foi perda de tempo. Tudo o que fizemos todas essas pessoas que morreram, na verdade, não adiantou nada. –disse ele.

Dália abriu boca para dizer algo, mas ele a calou (isso tem acontecido muito com ela ultimamente).

–Nós fizemos tudo errado!-ele gritou.

Nesse momento eu entendi o que ele queria dizer. Realmente. Um ato revolucionário admito. Mas, não foi o suficiente. Foi uma boa idéia, é claro. E se ninguém lutar? Eles na podem nos obrigar a matar uns aos outros. Mas, essa nunca foi a questão.

Você não precisa matar ninguém se não quiser (a menos que precise disso para sobreviver). Essa nunca foi a intenção. Eles só querem que nossos amigos e família morram, não importo como. Apenas desejam a morte e essa foi a nossa punição. Afinal, a partir do momento que entra naquele trem, você já esta morto. Mesmo que você sobreviva. O corpo não é mais seu. A vida não é mais sua. Você pertence inteiramente á capital e vai fazer o que eles mandarem.

Sendo assim, a partir do momento que você entra naquela arena não a mais nada que você possa fazer. Apenas lutar e se manter respirando. A rebelião depende das pessoas que estão fora da arena, você só precisa achar um meio de convencê-las a lutar. Mostrar-lhes o poder que possuem. A capital não é tão forte quanto parece. Ou não teria sido derrubada por um punhado de amoras.

O fato dos tributos matarem uns aos outros só foi adicionado como um toque final (como quando você coloca uma salsinha no prato como decoração, mesmo sabendo que ninguém vai comer. Tudo bem, acho que esse foi um exemplo ruim).Apenas para que os distritos ficassem uns contra os outros,impedindo-os de se unirem para outra possível revolta.

Ela também parecia ter entendido.

–Um vive. Outro morre-Jake acrescentou por fim, nesse ponto ela rapidamente viu aonde ele queria chegar. Seus olhos lagrimejavam (talvez fosse por causa da fumaça mesmo).-Você sabe,eu não faria diferença nenhuma lá fora. Quem deve começar a revolução é você.

Então ele a puxou para um beijo. Isso não me surpreendeu nem um pouco. Eu sempre soube que ambos se amavam muito e você também não deve ter se surpreendido (principalmente, pois já sabia que isso aconteceria).

Os rostos por fim se afastaram.

–Permaneça forte. Continue lutando.

Ele começou a caminhar de costas se aproximando da beira do metal.

Tudo aconteceu numa fração de segundos.

Ele abriu os braços.

Seu pé esquerdo chegou á borda.

Ela se precipitou para tentar segura-lo.

Mas, era tarde demais.

Por fim antes de cair ele disse algo que motivaria a continuar nos anos que viriam a seguir.

Não direcionado a ela. Mas, a tudo e todos que assistiam á aquela edição.

A mesma frase que eu repito a você tantas décadas depois.

Enquanto caia pudemos ouvi-la ressoar em nossos ouvidos.

“Lembre-se de quem é o verdadeiro inimigo”


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Notas finais do capítulo

me perdoem por ficar tanto tempo sem postar.provavelmente vocês não me verão por um tempo (pelo menos até acabarem as minhas provas).Mas,não se preocupem,eu ja comecei a escrever o proximo capitulo (na parte de trás da prova de quimica,só falta o professor devolver.falando serio,quantos d vcs ja tinham se esquecido da existencia da sra. snow? Acho q esse cap ñ deve ter feito o menor sentido ñ é? ñ sei,ele fico muito diferente do que eu imaginava no começo da historia. Espero q tenham gostado. Nos vemos la nos comentarios



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