A Filha Da Capital escrita por Sekhmetpaws


Capítulo 34
Morte e Revolução




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Não percebemos como é frágil a vida até que alguém próximo pereça. Rimos na cara do perigo. Cuspimos no olho da morte, pois a coragem cresce com a ocasião. Podemos tomar como exemplo os carreiristas que a cada colheita partem alegremente numa viagem sem volta para massacrar e ser massacrados.

Essa regra não deixa de ser aplicada também nos tributos dessa edição. É preciso ser possuidor de uma coragem excessivamente grande ( ou dotado de uma covardia maior ainda) para ter a audácia de desafiar a capital.Principalmente se tratando de um bando de adolescentes.

Todos nós sabemos que um governo tão imponente e cruel não poderia ser derrubado pela ridícula idéia que algumas crianças possuíam sobre revolução. Muito menos pelas minúsculas tentativas de revolução que vieram a seguir (e foram devidamente abafadas).

Surpreso? Pois não deveria.

Uma historia com um começo tão pouco promissor obviamente não terá um final feliz.

Mas, nós não ainda não chegamos na parte em que tudo da errado.Nós estávamos falando sobre a morte.

Também não vejo motivos pelos quais deveríamos fazê-lo.

Você acha que conhece a morte.

Mas não a conhece

Não até vê-la.

Ve-la realmente.

E mesmo assim,a morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais.

Certo?

Voltemos a falar sobre os tributos.

Os mesmos que (em sua maioria) vieram para os jogos há alguns dias com superioridade e convictos que nada poderia atingi-los.Invencíveis.

Agora retornamos ao ponto que havíamos parado. Quatro tributos. Dois garotos. Duas garotas. Observando sem reação um corpo estendido no chão. Enquanto uma chuva torrencial caia e um pequeno apocalipse se formava em círculos viciosos.

Há poucos dias ninguém (nem mesmo nos seus sonhos mais loucos) teria imaginado que terminaria desse jeito.

Os tributos se afastaram dali, abandonando os corpos (afinal não havia mais nada que pudesse ajudá-los agora).

É tão estranho, não é? Se acostumar com a presença de alguém e depois vê-lo padecer diante dos nossos olhos. É estranho pensar que vocês nunca mais conversarão.

E o seu melhor amigo Jake nunca mais vai pular a janela da sua casa e gritar para que você acorde enquanto você grita de volta para que ele deixe você dormir e sua irmã de criação gritar para que vocês calem a boca.

Se eu fosse parar para pensar em tudo que poderia ter sido diferente se ambos não tivessem sido sorteados... Nesse momento eles poderiam estar no distrito doze.Tudo bem,talvez nãos seja o melhor lugar do mundo para se viver,mas era o único que eles conheciam (pelo menos é bem mais divertido do que as masmorras da capital).

Se a caça tivesse sido boa no domingo, seus pais estariam no prego negociando (são nas terças-feiras que as melhores mercadorias apareciam,ou pelo menos costumavam aparecer) enquanto Jake,Pansy,Dália e eu Dave estariam sentados na frente da barraca da Sra. Sae tomando uma grande tigela de sopa(embora a senhora Sae fosse uma negação na cozinha,ninguém nunca reclamou) conversando com a filha dela, Greasy.

É dessas pequenas coisas que eu sinto falta.

E mesmo que eu sinta falta dessas pequenas coisas, se analisarmos bem,a revolução nunca teria acontecido se eles não tivessem sido sorteados.

Falando nisso, eu deveria contar o que aconteceu a seguir:

As montanhas eram separadas por poucos metros que podiam ser facilmente vencidos com saltos longos.

Suas paredes eram esculpidas formando caminhos estreitos em forma de caracol que desciam em direção ao chão e mesmo porque, esta era a única direção a seguir agora. A montanha atrás deles explodiu em chamas (eu não faço a menor idéia de como isso foi possível).Um alarme soou em algum lugar.

O caminho tornou se tão estreito que só se passava uma pessoa de cada vez com as costas grudadas na parede. Seus corpos protestavam a cada passo. Ameaçando desmaiar de exaustão a cada segundo, mas, precisavam continuar.

O caminho de rocha acabou em algum ponto a mais ou menos 3 metros do chão.Dália saltou com a agilidade de um gato.Jake saltou em seguida,não com a mesma elegância mas, com a mesma eficiência.Robert e Paloma não tiveram a mesma sorte.Não haviam passado maior parte de suas vidas subindo em arvores para roubar ovos de pássaro e caças esquilos.O primeira se esborrachou no chão de pedra mas não se machucou muito(se você caísse provavelmente não morreria,eu acho) a garota não teve a mesma sorte e tentando cair de pé acabou com o tornozelo machucado.Talvez fraturado,mas nada muito grave.

Já no chão,as montanhas deram lugar a um labirinto de pedras de dezenas de metro de altura (que com certeza não estava lá da ultima vez que inspecionaram a arena,talvez fossem as “multidões de labirintos” marcadas no mapa).

Não havia mais tempo para imobilizar o tornozelo. Uivos enchiam o ar não muito longe dali. Os tributos já não tinham mais as montanhas como proteção. Paloma se apoio precariamente entre Robert e Jake recomeçando a correr (ou melhor, mancar).

Correr. A direção já não era mais importante só precisavam correr. Para longe de preferência. Correr para um lugar seguro se é que existe um lugar seguro. Correr. Respirar. O ar estava se tornando rarefeito e a temperatura era alarmante. Correr. Respirar. A fumaça queimava suas gargantas e fazia-os lacrimejar. Correr. Respirar. A tempestade havia parado em algum momento, mas ninguém percebeu. Agora cinzas choviam cinzas e brasas ardentes rodopiavam no ar como folhas de outono ( a diferença era que as folhas não te queimam quando você toca nelas).Correr. Respirar. Sobreviver.

Esquerda. Direita. Esquerda. Esquerda...

Os latidos sumiram depois que os tributos viraram na terceira direita.Os bestantes aparentemente haviam sido despistados.

Os tributos caíram no chão,exaustos, Paloma abraçava a própria perna mordendo o lábio inferior com força e o rosto contorcido em um careta de dor. Não havia nada por ali que pudesse ser usado para improvisar uma tala a não ser o arco. Mas,não poderiam utilizado,pois essa seria sua única defesa(por mais patético que fossem um arco e onze flechas) caso os bestantes voltassem.

Na verdade não havia mais nada a fazer alem de continuar correndo e esperar o melhor (por mais difícil que fosse).

Mochilas e armas já estavam a muito tempo perdidos.Jake ainda tinha uma garrafa d’água mas, água não ajuda em muita coisa quando a partir do momento que ela é aberta começa a entrar em ebulição e tem a mesma temperatura que o ar e as pedras e as pessoas e os bestantes.A própria pintura da garrafa começara a borbulhar e derreter

–Cuidado!-gritou Robert mergulhando em direção a onde Paloma estava sentada fazendo com que ela rolasse para direita gemendo de dor.

Uma grande pedra rolou do alto da formação rochosa parando bem aonde a garota havia estado segundos atrás.Ela saiu ilesa mas,Robert não teve a mesma sorte e acabou coma ambas as pernas presas sob a rocha.Ele gemeu de dor.

Os latidos recomeçaram seguidos pelo chão de garras arranhando o chão, aproximando-se.

Dália e Jake tentaram puxa-lo mas, era inútil e só fazia com que ele sentisse mais dor.

–Vocês não entendem? Acabou o tempo. Já era. –disse Paloma parecendo ao mesmo tempo seria furiosa e triste (se é que alguém pode parecer assim mas,ela parecia)-Vocês tem que continuar eles estão chegando.-Dizendo isso ela olhou para trás.

Dália parecia querer protestar, mas Paloma colou a palma da mão sobre sua boca impedindo que fala-se.

–Nós ficamos, vocês continuam. Vou tentar atrasar os bestantes.-ela sorriu fracamente.-Afinal todo munda aqui sabe que eu não ia confundir mesmo.

Como se para confirmar, seu tornozelo estalou fazendo com que ela resmungasse baixinho.

–Mas... -disseram os dois em uníssono.

O barulho dos bestantes se tornou mais alto e mais insistente.

–Se ficarem aqui os dois também vão morrer. E nós teremos falhado. -retrucou ela.

–E todos os nossos amigos terão morrido em vão-continuou Robert se manifestado pela primeira vez.

–E isso vai se repetir. Ano apos ano crianças serão mandadas para arena para morrer. Ele vai ter ganhado. Não podemos continuar vivendo assim.Ninguém pode.

Então eles correram talvez mais rápido do que seria possível em uma situação como aquela.

Continuaram correndo e pedra se tornou areia e chegaram ao céu aberto.A cornucópia se tornou visível.

E não olharam para trás.

Nenhuma vez.

Nem mesmo quando o canhão soou duas vezes consecutivas.

Ou quando a arena se tornou um circulo de fogo perfeito em volta da clareia devastada.

O ciclo recomeçou.

Correr e respirar.

Correr. Respirar.

Correr. Respirar. Sobreviver.

E agora que vemos nossos amigos sendo mortos e nosso mundo transformado em cinzas podemos finalmente ver.

Sabemos agora que somos mortais.


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Notas finais do capítulo

Olá leitores!Sim! você que esta lendo isso.me perdoem por não ter postado antes.Eu gostaria muito de ter postado.De verdade.Mas estou com muitos trabalhos na escola e quando eu finalmente poderia ter tido um tempo para escrever o comutador resolveu quebrar. Mas acho que a espera valeu deve ter valido a pena (ou não) o capitulo ficou bem maior que eu esperava sabendo que a ideia geral não era muito grande.Espero que tenham gostado.Nos vemos la nos comentários (a menos que vocês sejam leitores malvadas e não comentem).



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