O Loiro

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-Estou pensando no que falar. Prometo que amanhã eu falo com ele.

         -Deixa de ser indecisa, Aki! Fala logo!

         -Não sou indecisa... Só não sei o que falar. Amanhã. Amanhã é o dia.

         Aquelas garotas estavam conversando de novo na aula. Porque eu estou mesmo prestando atenção nelas? Temos prova de Literatura amanhã e eu não sei nada... Talvez eu devesse parar de tentar ouvir a conversa alheia e me concentrar na aula.

         Aquela ruiva continuava com a ideia de se declarar pro Senpai... Não que eu ache que o Senpai não mereça alguém que o ame de verdade... Mas porque ela? Bom, ela não é feia, e parece ser muito legal, mas... Ah, sei lá. Não consigo me acostumar a essa ideia.

         O sinal tocou. Ótimo, não prestei atenção na aula, estou ferrado na prova de amanhã. Por ser a última aula do dia, arrumei logo minhas coisas e desci para o treino. Kasamatsu-senpai me mataria se eu chegasse atrasado de novo. Comi alguma coisinha na cantina e fui direto trocar de roupa.

         Senpai estava com o mesmo humor de sempre. Ele mandou que corrêssemos em volta da quadra dez vezes. Nada demais. Depois, foi a vez de treinar arremessos. Joguei as bolas. Uma, duas, três, quatro. Errei a quinta, a sexta e a sétima.

         “Ótimo... Isso da garota me incomodou um pouco, não estou conseguindo me concentrar direito. Bem, isso acontece meio frequentemente, mas... Se ela se declarar pro Senpai, eles podem ficar juntos...”.

         -Oi! Kise!

         “M-Mas o Senpai não é bom com garotas, então não há jeito disso acontecer!”, senti meus olhos se estreitarem e o peito apertar. “Será?”.

         -Kise! Oi!!

         Quando me vi, estava jogado no chão. Minhas costas doíam. Kasamatsu-senpai estava parado na minha frente com os braços cruzados.

         -Ka... – ele parecia bem irritado – Kasamatsu-senpai...

         -KISE, PORQUE VOCÊ ESTÁ PARADO AÍ NÃO FAZENDO NADA?! ESTOU TE CHAMANDO HÁ SÉCULOS! VOU TE BATER, HEIN!

         Naquela hora, tudo ficou meio cinza. A voz de Senpai sumiu, eu só conseguia ver os lábios dele se mexendo, mas a voz que falava não era dele. Era minha. “Se... Se o Senpai ficar junto daquela garota...” a ruiva apareceu na minha mente, de costas para mim andando com Senpai ao seu lado. Ela sorria. “Ele não vai mais caminhar pra casa comigo? Ele não vai mais me incomodar?”. Naquela hora, Kasamatsu-senpai sorriu para a garota ao lado dele e pegou sua mão alegremente.

         “Não...”, pude sentir meus olhos se enchendo de lágrimas enquanto encarava o rosto furioso do Senpai, que ainda dava um sermão mesmo que eu não estivesse escutando. “Eu não gosto... Eu não gosto disso”. Minha cabeça caiu para baixo. Encarei minhas pernas, sentindo as lágrimas querendo escapar. Mordi o lábio.

         -Oi, Kise! Você está ouvindo?!

         Fechei os olhos com força. Porque meu coração doía tanto ao pensar no Senpai com aquela garota? Por quê? Por quê? Porque imaginar ele de mãos dadas com a ruiva me deixava tão inquieto?

         -H-Hey, Kise... O que há com você? – Senpai tinha parado de gritar, sua voz estava normal. Havia um tom de preocupação.

         “Porque eu estou assim?”

         Senti uma mão no meu cabelo, e meu rosto foi puxado para cima. Abri os olhos, assustado. Kasamatsu-senpai olhava para mim preocupado, agachado na minha frente segurando meu cabelo.

         -Você está se sentindo mal? Desculpa se eu te bati, eu não sabia. Você está bem? Quer ir à enfermaria?

         Ver a cara de preocupação dele fez meu coração se comprimir. Meus olhos se encheram de lágrimas de novo. A dor era muita, muita.

         “Essa pessoa é...”

         -Kise? – Senpai era só preocupação agora. Seus olhos estavam arregalados e brilhantes, uma gota de suor escorria de sua testa.

         Estiquei uma mão e puxei Kasamatsu-senpai para perto. Com força segurei sua nuca contra meu pescoço, e afundei meu rosto em seu ombro. Algumas lágrimas escaparam de repente. Não era minha intenção chorar, mas doía tanto.

         Senpai ficou rígido de repente, até sua respiração parou.

         -KISEEEE, O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! ME LARGA! OI!

         Apertei-o mais forte ainda ao sentir que ele tentava se afastar. Não poderia deixá-lo ir. Simplesmente não poderia. Doía. Doía muito.

         -Senpai... – sussurrei – Isso dói...

         -Sim, mas onde? – a voz dele mudou de novo. Ele até passou um braço atrás de mim e me abraçou também - Ei, Kise! Se você não me disser, eu não vou saber!

         -Dói... Isso dói...

         A imagem dos dois voltou à minha mente. Kasamatsu-senpai sorria muito alegremente pra garota. “Alguém ficando perto do Senpai... Só de imaginar isso... Dói... Realmente dói...”

         -Ei, alguém pode vir aqui? – a voz dele ecoava longe.

         -Por quê? – responderam.

         -Kise está agindo estranho!

         -Mas isso não é normal?

         “Mais alguém além de mim tocando o Senpai...”

         -Cala a boca e vem logo!

         “Eu não gosto disso...”

         “Não gosto”