A Herdeira escrita por Cate Cullen


Capítulo 8
Noite Na Aldeia




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Renée serve o jantar com as mãos a tremer tal o nervosismo que sente por Rose estar com a rainha no quarto ao lado.

- Sentis-vos bem, mãe? – pergunta Jacob que observa a mãe com atenção já há algum tempo.

- Claro que sim, filho. Porque não haveria de estar? – responde Renée com ligeireza sentando-se.

- Pareceis nervosa, mãe.

Charlie troca um olhar com a mulher. Até o filho notou.

- Não estou nada, que disparate. Comei a sopa e calai-vos!

Jacob come observando a mãe pelo canto do olho.

...

- Eu não acredito que deixastes lá a mãe. – protesta Victoria. – E que ides voltar para lá. Não ireis passar a noite numa casinha no meio da aldeia, pois não?

- Filha, a vossa mãe não está em condições de voltar a cavalgar hoje. – diz Carlisle com paciência.

- Então levai uma carruagem para a trazer. – insiste Victoria. – A mãe está doente? A cobra fez-lhe mal?

- Mordeu-a, querida, e tinha veneno. Mas a mãe já está bem, apenas tem de descansar antes de voltar.

- Não podem passar a noite na aldeia como dois mendigos. A casa deve estar cheia de pulgas e as pessoas são tão grosseiras e andam sempre a queixar-se, não tomam banho, nem lavam as mãos antes de comer. São uns selvagens.

- Victoria, parai de falar assim do povo, um dia serão o vosso povo. – lembra o pai montando no cavalo.

- Estais sempre a dizer-me isso, eu já sei. O meu marido tratará deles, eu terei mais que fazer.

Experimentar vestidos e sapatos, calcula Carlisle conhecendo bem a filha.

- Pai, tomai conta da mãe. – pede Victoria, apesar de frívola e mimada sempre adorou a mãe. – Vede se ela volta bem amanhã.

- Não vos preocupeis. – Carlisle passa a mão nos cabelos da filha. – Ela voltará bem, pronta para vos abraçar.

Carlisle parte a galope com a carruagem atrás.

Victoria vira-se e vê Emmett a observa-la.

- Não vos preocupeis. – Emmett agarra-lhe na mão para a confortar. – Ela ficará bem. Não ouvistes o vosso pai? O veneno já tinha sido extraído e ela tomou um antídoto.

- E achais que alguém na aldeia sabe fazer isso como deve ser? – pergunta Victoria. – Eles nem médicos têm.

- Não penseis assim. – aconselha Emmett. – Se o vosso pai disse que a vossa mãe está bem é porque está, não acreditais nele?

- Ele pode apenas dize-lo para não me preocupar.

- Tenho a certeza que não.

- Vede porque não gosto do campo. A minha mãe devia fazer como eu e ficar sossegada no palácio.

- A vossa mãe gosta de andar a cavalo.

Victoria faz cara feia.

- Eu só a queria aqui em segurança.

Emmett abraça-a. A princesa parece tão frágil assim. Sempre foi muito mimada e protegida pela mãe.

- Nunca me deixeis, Emmett. – murmura Victoria. – Prometei-me.

- Nunca vos deixarei. – promete Emmett dando-lhe um leve beijo na cabeça.

...

Carlisle entra na pequena casa. Renée, Charlie e Jacob viram-se para a porta assim que a ouvem abrir.

- Majestade. – Jacob levanta-se e faz uma vénia. Os pais imitam-no.

- Senhores. Agradeço-lhes por me deixarem passar aqui a noite com a minha esposa. Podem arranjar qualquer coisa para os guardas e o cocheiro que estão lá fora. Eles dormirão na carruagem, mas precisam de comer. Senão for muito incómodo. – tira uma bolsa do cinto e poisa-a na mesa, ouve-se o barulho de moedas.

- Não é necessário. – diz Charlie olhando a bolsa.

- É um agradecimento. – diz Carlisle.

- Desejais comer alguma coisa? – pergunta Charlie.

- Comi no palácio, obrigado. Se me dão licença…

- Claro.

Carlisle entra no quarto onde deixara Esme.

- Amor. – murmura ela assim que o vê.

Rose vira-se.

- Majestade.

Carlisle caminha até Esme e abraça-a.

- Meu amor.

- Eu deixo-vos sozinhos. – diz Rose sorrindo-lhes.

- Obrigado. – diz Carlisle. – Obrigado, por terdes tomado conta dela e por a terdes salvo. Esme é a minha vida. – murmura e beija-lhe a mão.

- Salvá-la-ei as vezes que for necessário, Majestade, desde que os possa ver sempre felizes. – faz uma vénia e sai deixando-os sozinhos.

- Dói-vos a mão? – pergunta Carlisle observando a mão dela.

- Dói-me um pouco.

Ele dá-lhe um pequeno beijo na mão.

- Espero que passe depressa, não gosto nada de vos ver magoada.

Ela sorri e dá-lhe um beijo na face.

- Vai passar. A nossa filha?

- Ficou preocupada convosco e fartou-se de reclamar por passarmos cá a noite.

Esme ri.

- É típico dela.

Carlisle deita-se ao lado dela e puxa-a para os seus braços.

- Dormi, meu amor. – murmura ao ouvido dela. – Eu estou aqui convosco.

Esme põe a mão por cima da dele e fecha os olhos pronta para dormir.

...

Rose deita-se no colchão de palha posto no chão da cozinha.

- Os pais estão estranhos. – diz Jacob.

- Estranhos como? – pergunta Rose com uma sobrancelha franzida.

- Parece que não estão muito à vontade de ter Suas Majestades aqui.

- É natural. A nossa casa não tem condições para os reis.

- A mãe parecia bastante nervosa. – continua Jacob.

- Deve ser impressão vossa. – continua Rose espreguiçando-se. – Sabieis que a rainha teve outra filha?

- Outra filha? – pergunta Jacob.

- Sim. Desapareceu semanas depois do nascimento e nunca mais ninguém soube nada dela.

- Estranho.

- É, não é? A rainha ficou muito triste ao falar dela. – continua Rose. – Disse que espera que a filha seja assim como eu.

- Como vós? – Jacob está com ar de gozo.

- Meiga e simpática era o que queria dizer. Tive tanta pena. Deve ser difícil para uma mãe perder um filho, não imagino a dor que ela deve sentir.

Jacob encolhe os ombros e deita-se.

- Dormi e não penseis nisso.

- Será que os pais sabem?

- Sabem o quê?

- Do desaparecimento da princesa.

- Sei lá.

- É estranho nunca me terem falado dele.

- Porquê? Não é um assunto que se goste muito de falar e de qualquer forma já deve ter sido há muito tempo.

- Pois acho que sim.

- É natural que os pais não se lembrem, têm mais em que pensar. Boa noite.

- Coitadinha da rainha. Boa noite.

...

Renée ouviu a conversa dos filhos e fecha a porta do quarto preocupada.

- A rainha falou-lhe na filha. – murmura Renée. – Deve ter percebido algumas semelhanças. Na verdade qualquer pessoa percebe. Os olhos são os da mãe e o cabelo é do pai, o sorriso é da mãe. Ela é tão parecida com eles e tão pouco connosco.

Charlie abraça a mulher.

- Acalmai-vos. Eles vão-se embora amanhã, não vão perceber nada.

- E se perceberem? Vão tirar-nos a nossa menina.

- Não. Prometo-vos que não.

Renée encosta-se a ele a chorar.


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