A Herdeira escrita por Cate Cullen
Emmett não dormira nada de noite. Pensara em Rose. A forma como ela falara com ele, aquilo que lhe dissera, dava a intender que está apaixonada por ele.
Emmett passa as mãos na cabeça. Não se consegue manter afastado dela, essa é a verdade. Mas Rose não tinha nada de se meter na sua vida. Ela é uma camponesa, ele é um nobre noivo da princesa, não pode andar a cavalgar pelos campos para ver uma rapariga bonita que gosta de colher amoras.
Suspira.
É isso que lhe apetece fazer neste preciso momento. Deve-lhe um pedido de desculpas. Não devia ter falado com ela daquela maneira. “Mas ela também não tem nada a ver se vou casar ou não.” Pensa. “Eu vou casar e não consigo deixar de a visitar, não me consigo manter longe dela. Será que lhe dei esperanças? Será que ela sente o mesmo que eu e deseja estar perto de mim?”
Emmett volta a passar as mãos na cabeça.
Sai disparado do quarto e antes de se aperceber já está em cima do cavalo a caminho da aldeia para ver a bela camponesa.
...
Carlisle e Esme saem do quarto assim que ouvem barulho na cozinha.
- Majestades. – Rose faz-lhes uma vénia, Renée imita-a.
- Bom dia. – diz Esme com um sorriso.
- Sente-se bem? Dói-lhe a mão? – pergunta Rose aproximando-se.
- Não, querida, estou ótima e graças a ti. – passa a mão nos cabelos de Rose.
Renée observa a cena. A rainha a tocar assim na sua menina como se fosse a sua própria filha. “Não importa que seja. Fui eu que a criei e mãe é quem cria.”
- Querem comer alguma coisa? – pergunta Rose.
- Acho que já lhes demos demasiado trabalho. – diz Carlisle. – Comemos no palácio.
- Eu insisto…
- Não sejas insistente, Rose. – interrompe Renée ansiosa para os reis saírem de sua casa. – Nós não temos nada mais para oferecer a não ser pão duro, a comida do palácio deve ser muito melhor.
- O Jacob foi buscar leite e o pão é de ontem não está assim tão mau e temos presunto se quiserem e queijo. – continua Rose.
- Não temos queijo nenhum. – mente Renée antes que eles decidam ficar. – E o pão está duro porque me esqueci de o meter dentro da caixa. Só temos pão duro.
- Não está assim tão duro. – murmura Rose sem entender a atitude da mãe.
- Não digas disparates, está duríssimo. Não é comida que se sirva a Suas Majestades.
Carlisle e Esme trocam um olhar. Não é preciso lerem os pensamentos um do outro para saberem o que o outro está a pensar. Ela está a pô-los na rua.
- Nós temos de ir de qualquer forma. – diz Carlisle. – Não queremos incomodar mais. – sorri para Rose – Temos uma proposta para ti.
- Uma proposta? – perguntam Rose e Renée ao mesmo tempo.
- Gostaríamos imenso que fosses para a corte. – diz Esme. – É uma forma de agradecimento.
- Para a corte? – Rose não consegue acreditar.
- Sim. – confirma Carlisle. – Seríeis uma das damas de companhia de Esme ou da princesa Victoria se ela gostar de ti.
- E vou ter vestidos bonitos? – pergunta Rose sem pensar.
Esme e Carlisle olham um para o outro com um sorriso. Todas as raparigas têm um pouco de frivolidade.
- Sim. – diz Esme. – Vestidos, algumas jóias, um quarto grande que partilhareis com outras raparigas da tua idade.
- E vou participar nos bailes e festas da corte? – pergunta entusiasmada sem conseguir acreditar que lhe está a surgir uma oportunidade destas.
- Claro. – diz Carlisle. – Em todos os bailes, festas, caçadas, passeios a cavalo, jantares, em tudo.
- Meu Deus! – Rose leva as mãos ao rosto. – Mas eu não sei dançar.
- Irás aprender. – promete Esme.
- E a tocar violino e piano também?
- Claro que sim.
- Está fora de questão! – interrompe Renée acabando com a felicidade de Rose. – A minha filha fica comigo.
- Ela poderá vir a casa todas as semanas. – diz Esme. – Ou então pode vir também.
- Eu tenho trabalho a fazer no campo e a minha filha fica comigo. – declara Renée.
- Por favor, minha senhora, é uma grande oportunidade. – diz Carlisle. – Muitas gostariam de estar no seu lugar. A sua filha terá um lugar junto da família real, receberá um ordenado que tenho a certeza será de grande ajuda.
- Não quero o seu dinheiro para nada! – grita Renée.
- Mãe! – Rose está chocada.
- Pagaríamos o trabalho à sua filha. – diz Esme. – É uma grande oportunidade. A sua filha merece melhor do que viver aqui no campo.
- Ela sempre viveu aqui e é muito feliz.
- Acredito que sim, mas pode aprender mais na corte.
- Não vou permitir que roube a minha filha! – grita Renée, Jacob entra com os baldes de leite e fica parado à porta. – Rose é minha filha e a minha filha fica comigo.
- Mãe, pare com isso! Sua Majestade tem razão, eu desejo ir para a corte, não quero ficar aqui no campo.
- Cala-te e não te metas!
- Por favor, oiça a sua filha. – pede Carlisle. – Ela terá uma boa vida na corte e é isso que ela deseja.
- Cale-se.
- Mãe! – gritam Jacob e Rose ao mesmo tempo.
- Pode levar-me tudo, pode mandar prender-me, mas não me tira a minha filha. Ela é minha e nunca, nunca sairá daqui para se ir meter num dos seus palácios onde só há abutres a tentar chegar ao trono.
- Acalme-se. – pede Esme.
- Quer-me roubar a minha filha e pede para me acalmar?
- Por favor, pare com isso. – pede Carlisle. – Ninguém quer roubar a sua filha.
- Nós só lhe oferecemos um lugar na corte, nada mais.
- Querem levar-ma, querem roubar-ma. Querem-me tirar a minha filha. Lá porque perdeu a sua não significa que tenha de roubar a dos outros.
Aquela frase é como uma chapada no rosto de Esme.
- Mãe! – grita Rose ainda mais chocada.
Jacob pega no braço da mãe e fá-la sentar-se numa cadeira.
- Acalme-se, mãe. Não diga mais nada. – murmura ao ouvido dela.
Esme tem os olhos cheios de lágrimas.
- Perdoem-me. – murmura Rose.
Esme abana a cabeça.
- Nós vamos indo. – murmura Carlisle. – Agradeço por tudo.
- Eu queria muito ir. – diz Rose. – Desculpem.
Esme passa a mão no cabelo de Rose e faz um pequeno sorriso.
- Nunca me vou esquecer de ti. – promete. Leva a mão ao pescoço e tira o colar de safiras que condizem com os olhos. – Toma. É da cor dos teus olhos. – diz, dá-lhe um beijo na testa e sai acompanhada de Carlilse.
Jacob observa a cena. “As safiras condizem com os olhos da rainha e com os de Rose. Elas têm os olhos iguais, o mesmo tom de azul.” Pensa olhando com atenção para as duas antes de Esme e Carlisle desaparecerem quando a porta se fecha.
...
Emmett acaba de chegar a casa de Rose. Espanta-se ao ver a carruagem real à porta, os cavalos dos reis presos por soldados e só quando vê os reis saírem de dentro da pequena casa percebe, foi aqui que eles passaram a noite. Coincidência. Logo na casa da bela Rose. Parece que todos os nobres lhe vêm parar à porta.
Emmett percebe a tristeza no rosto da rainha.
- Majestades. – salta do cavalo entregando as rédeas a um dos guardas.
- Emmett? – Carlisle mostra-se espantado. – Aqui?
- Vim à vossa procura. – mente, mas é uma boa desculpa.
- Aconteceu alguma coisa? – pergunta Carlisle.
- Não. Só estava preocupado. Vossa Majestade está bem? – pergunta virando-se para a rainha.
Esme esboça um pequeno sorriso e assente.
- Estou, agradeço a preocupação.
- Victoria também está muito preocupada.
- Estávamos mesmo agora a prepararmo-nos para voltar. – diz Carlisle. – Vens?
- Agora que sei que estão bem vou dar umas voltas por aí.
- Fazeis bem. – diz a rainha. – Aproveitai o sol.
Os reis entram na carruagem que parte imediatamente.
Emmtt monta no cavalo e pára um pouco mais à frente de maneira a poder ver a casa. Quer ver Rose, esperará até ela sair. Quer vê-la e quer saber o que se passou para a rainha estar tão triste.
...
- Porque é que fez aquilo? – pergunta Rose. – Porque recusou?
- Tu és minha filha, ficas junto de mim.
- Eu quero ir para a corte, a mãe não percebe? Uma oportunidade destas acontece uma vez na vida, mãe. Eu não quero ser como a senhora que fica aqui no campo a trabalhar com as vacas e com os legumes, eu quero ir para a corte, quero viver junto da rainha, quero ser alguém e não apenas uma simples camponesa. Não quero ser desprezada pelos nobres, quero ser apreciada por eles, não quero que olhem para mim de lado e me atirem uma moeda, quero ter o meu próprio dinheiro, não quero partilhar o quarto com o meu irmão, quero partilha-lo com outras raparigas para podermos cochichar até tarde, ter conversas de raparigas e não quero casar com o pobre do vizinho do lado, quero casar com um nobre rico e belo que me ame.
- A corte torna as pessoas corruptas. – murmura Renée. – É um sítio horrível, onde só há intrigas e todos dizem mal uns dos outros.
- Não me interessa, quero ir para lá. E o que lhe deu para falar com a rainha daquela forma?
- Não fales assim comigo.
- Viu como falou com a rainha? Magoou-a não percebe? Perder um filho dói e ela sofre com isso e a mãe diz-lhe uma coisa daquelas. Foi horrível! Foi tão má! Destruiu-me a vida. Odeio-a!
Rose vira as costas e sai de casa a correr.
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