A Herdeira escrita por Cate Cullen
Notas iniciais do capítulo
Desculpem-se se demorei muito.
Espero que gostem.
Beijos
Esme caminha até ao pátio pronta para dar um passeio a cavalo com Carlisle. Não há muita coisa para fazer no palácio a não ser aturar o Duque Aro e para isso a paciência de Esme já se esgotou.
- Estais linda. – elogia Carlisle pegando-lhe na mão e levando-a aos lábios.
- Obrigada. – murmura baixando os olhos. Os elogios espontâneos de Carlisle sempre a deixaram constrangida.
- Olhai para mim. – pede amorosamente. – Deixai-me ver esses olhos lindos.
Esme levanta os olhos com um sorriso.
- Amo-vos. – murmura ele e dá-lhe um pequeno beijo nos lábios.
Esme afasta-se.
- Alguém pode ver. – lembra olhando para os lados.
- E se virem? Apenas irão perceber que os seus soberanos estão apaixonados.
- Irão comentar. – murmura.
- Têm inveja. Inveja porque não têm uma esposa como esta.
- Ou um marido como este. – acrescenta Esme dando-lhe um beijo.
- Alguém pode ver. – brinca Carlisle olhando para os lados imitando-a.
- Parvo.
Ele ri.
Pega-lhe pela cintura para a pôr em cima do cavalo e sobe para o dele.
Saem a passo do palácio e cavalgam calmamente pelos caminhos em volta dos campos.
- Gosto tanto de passear assim pelos campos convosco, ouvir os pássaros, cheirar as flores, dar-vos a mão… - pega-lhe na mão amorosamente e cavalgam de mão dada.
Esme sorri para ele.
- Eu também gosto. Gosto de tudo o que faço convosco.
- Especialmente à noite, não? – pergunta provocadoramente.
- Deixai de ser parvo. Eu estava a falar no geral.
- E não há nenhuma preferência?
- Não, não há.
- Pronto, perdoai-me.
- Estais perdoado.
- Amo-vos.
- Acho que hoje já me dissestes isso mais de cem vezes.
Ele ri.
- E não gostais de ouvir?
Esme olha de lado para ele.
- Que achais?
- Não sei.
- Claro que gosto. Também vos amo.
Ao fundo, à porta de uma casa pequena Rose observa tudo. Observa o casal apaixonado cavalgar pelos campos. Imagina que podia ser ela e o nobre bonito a estarem ali. Imagina que deve ser uma sensação maravilhosa andar a cavalo. Cavalgar pelos campos, como o casal faz. Começam a andar a galope e o chapéu da mulher solta-se dos ganchos e cai na beira da estrada.
Esme pára o cavalo e salta para apanhar o chapéu. Debaixo dele está uma pequena cobra que lhe morde a mão fazendo-a dar um grito.
Carlisle salta do cavalo.
- Estais bem?
- Uma cobra!
Carlisle abraça Esme pela cintura fazendo-a levantar.
- Que foi, amor?
- Uma cobra! Mordeu-me na mão.
Carlisle pega-lhe na mão onde se vê uma pequena marca.
- Sentis-vos bem?
- Não sei, mas está a doer.
Rose observa tudo à distância. Eles pararam e estão a olhar para a mão da mulher.
Rose caminha pela estrada em direção a eles, quando está suficientemente perto percebe que são os reis. Aproxima-se mais.
- Majestades?
Eles viram-se.
Esme lembra-se do rosto da rapariga de qualquer lado.
- Posso ajudar? – pergunta Rose observando-os. – Está tudo bem?
Nesse instante Esme sente-se tonta.
- Carlisle… - murmura.
Ele agarra-a.
- Que aconteceu? – pergunta Rose preocupada com a palidez da rainha.
- Uma cobra mordeu-a. – explica Carlisle mostrando a mão da rainha.
- Meu Deus! Se era aquela é venenosa. – exclama Rose.
- Foi aquela. – murmura Carlisle. – Podeis ajudar?
- Claro. Trazei-a para minha casa.
Carlisle pega em Esme ao colo e segue Rose. Assim que entram na cozinha pequena ele senta-a numa cadeira.
Rose pega num pano e ata-o no braço da rainha com força. Pega numa pequena faca e corta um pouco a pele.
Esme fecha os olhos pela dor, Carlisle agarra-lhe a mão.
- Sentis-vos bem? – pergunta.
- Mais ou menos.
Rose pega-lhe na mão e começa a chupar o veneno. Depois começa a vasculhar as gavetas à procura de umas ervas e prepara um antídoto.
- Isto vai ajudar. – diz entregando-o à rainha. – Bebei.
Esme leva-o aos lábios e bebe-o.
- Sentis-vos melhor? – pergunta Rose.
- Estou um pouco cansada. – murmura Esme apoiando a cabeça no braço de Carlisle.
- É normal? Ela vai ficar bem? – pergunta aflito.
- Vai. – garante Rose sorrindo. – Chupei o veneno e dei-lhe um antídoto.
- Obrigada. – murmura Esme. – Qual é o vosso nome?
- Rose, Majestade. – murmura.
- Agradeço. – diz Carlisle. – Salvastes à razão da minha existência.
Rose sorri. Eles parecem tão apaixonados.
- Agradeço. – repete Esme. – Se calhar vamos andando.
Levanta-se. Carlisle agarra-a quando está prestes a cair.
- Talvez devam ficar. – diz Rose. – Podem ficar no meu quarto.
- Não queremos incomodar. – diz Carlisle.
- Não incomodam. Não podem cavalgar até ao palácio assim. Voltam amanhã de manhã.
- Certo. – concorda Carlisle.
- Mas a casa é pequena. – diz Esme. – Não queremos ocupar o vosso quarto, não queremos incomodar.
- Não vão incomodar. Não vos deixaria sair sem descansar, Majestade. Não estais em condições de cavalgar.
- Ela tem razão. – concorda Carlisle.
- No palácio vão ficar preocupados. – lembra Esme.
Carlisle suspira.
- Tendes razão. Tenho de ir lá avisar que ficareis aqui esta noite.
Esme agarra-lhe na mão. Não quer que ele a deixe.
- Eu voltarei daqui a meia hora. – promete e dá-lhe um pequeno beijo na testa. – Juro-vos.
- Eu tomarei conta de vós, Majestade. – diz Rose.
Esme sorri-lhe. A rapariga é tão simpática, tão querida.
Carlisle leva-a até ao quarto e deita-a na cama.
- Já volto. – dá-lhe um beijo leve e sai.
Esme ajeita-se na cama.
- Quereis comer alguma coisa? – pergunta.
- Não, obrigada. O vosso nome é mesmo Rose?
- É.
Faz-lhe lembrar o nome da filha, Rosalie. Rose poderia ser o diminutivo de Rosalie.
Rose repara que os olhos da rainha se enchem de lágrimas.
- Tendes dores? – pergunta aproximando-se.
- Não. – Esme abana a cabeça. – Tendes um nome parecido com o da minha filha.
- A princesa Victoria? – pergunta Rose com uma sobrancelha franzida.
- Não. Da minha outra filha.
- Tendes outra filha? – Rose nunca ouvira falar da existência de outra princesa.
- Desapareceu três semanas depois do nascimento. – mais lágrimas brotam dos olhos de Esme. – É natural que não vos lembreis disso.
- Nunca ouvi ninguém falar disso. – diz Rose.
- Costumo imagina-la e é assim que eu a imagino. Os cabelos louros como os de Carlisle. – passa-lhe a mão nos cabelos. – E os olhos azuis como os meus. Ela tinha uns olhos tão lindos, Carlisle dizia que eram iguais aos meus. – passa a mão nos olhos limpando as lágrimas. – Perdoa-me. É difícil não saber onde ela estará agora, se estará viva. Eu acredito que sim, mas…
Rose não consegue resistir a abraça-la.
- Não tendes de pedir desculpa, Majestade. Deve ser difícil perder um filho.
- Fiquei tão feliz quando ela nasceu. – murmura a rainha. – Quando a tive nos braços a primeira vez. Aquelas três semanas foram tão maravilhosas. E depois ela desapareceu. Embalei-a à noite, ela adormeceu no meu colo e na manhã seguinte a ama veio a correr ter comigo dizendo que quando acordara a menina não estava no quarto. Espero que esteja onde estiver, ela seja assim meiga, querida e simpática como vós. Espero que tenha sido amada, mesmo que não por mim.
- Tenho a certeza que foi. – murmura Rose para a consolar. – Talvez um dia ela saiba de quem é filha e venha ter convosco.
- É sempre essa a minha esperança. – murmura Esme.
Ouve-se a porta a abrir.
- Devem ser os meus pais. – diz Rose. – Deixai-vos estar aqui, eu vou avisa-los.
Rose sai do quarto deixando a rainha deitada na cama.
- Mãe. Pai. – diz chegando à cozinha.
- De quem é o cavalo que está lá fora? – pergunta Charlie desconfiado por ter visto um cavalo bem tratado, com sela e rédeas bordadas a ouro.
Renée pensou logo que podia ser o nobre que estivera a conversar com Rose no dia anterior, mas não disse nada.
- É da rainha. – murmura Rose.
Renée sente o coração parar.
- Que faz o cavalo da rainha aqui à porta? – pergunta.
- Sua Majestade foi mordida por uma cobra. – explica Rose. – Eu ofereci-me para ajudar. Ela andava a cavalgar com o rei e se eu não ajudasse podia ter morrido com o veneno da cobra.
- Ainda cá está? – pergunta Charlie.
- Eu sei que a casa é pequena, mas eu não a podia deixar cavalgar de volta ao palácio sem descansar.
- Ela não pode cá ficar! – declara Renée sem qualquer compaixão.
Nesse instante Esme aparece à porta do quarto. Renée e Charlie espantam-se com a beleza dela. Tem um ar régio apesar do cabelo solto. É elegante no vestido azul que condiz perfeitamente com a cor dos olhos. Renée arqueja ao perceber que são iguaizinhos aos de Rose.
- Tendes razão. – murmura Esme, a voz doce e meiga. – Eu não posso ficar. Vocês já devem ter coisas suficientes com que se preocupar. Não posso roubar o quarto à vossa querida filha Rose e não vos quero dar trabalho. Ficarei apenas até o meu marido voltar, assim que ele chegar poderemos ir embora.
- Não podeis cavalgar até ao palácio, Majestade. – defende Rose. – Insisto que passeis cá esta noite.
- Estarei a dar trabalho…
- Não temos condições, Rose. – lembra Renée. – Sua Majestade não poderá ficar, lamento.
- Ficará, mãe, eu insisto. Sua Majestade foi mordida por uma cobra venenosa, podia ter morrido. Não vou deixar que saia a cavalo a esta hora.
- Ela tem razão. – interfere Jacob que tem estado calado. – Sua Majestade deve descansar.
- Sim. – concorda Charlie apesar dos protestos da mulher. – Sua Majestade fica esta noite.
Esme faz-lhes um sorriso doce.
- Obrigada. – murmura.
- E agora deveis deitar-vos. – diz Rose pegando-lhe na mão e conduzindo-a de volta ao seu quarto. – Eu sei que a cama não é muito boa, mas não podeis andar por ai em pé.
- A cama é perfeita. – assegura Esme. – Eu é que não consigo estar quieta.
- Como eu. – Rose ajeita-lhe as almofadas. – Mas tendes de descansar. Vou-vos trazer uma tijela de sopa. Gostais de sopa, não gostais? – pergunta de repente pensando que na corte deve-se comer as melhores carnes e peixes.
- Claro que gosto, querida. – volta a assegurar Esme não querendo dar mais trabalho. – Não vos preocupeis.
- Eu prometi ao vosso marido que tomava conta de vós, e ele é o rei, não se pode quebrar uma promessa, especialmente se essa promessa é feita ao rei.
Esme ri.
- Estais a tomar muito bem conta de mim.
Rose sorri.
- Vou buscar a sopa.
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