A Herdeira escrita por Cate Cullen
Rose corre até junto do irmão.
- Quem era o homem com quem estáveis a falar? – pergunta Jacob.
- Acho que é um nobre importante da corte. – responde Rose.
Jacob olha para o sítio onde o cavalo se está a afastar.
- O que é que ele queria?
- Nada. – responde Rose. – Eu ajudei-o a sair da floresta noutro dia porque ele se tinha perdido e agora ele apenas me cumprimentou.
Jacob faz um ar duvidoso.
- Vede lá o que ele vos pede.
- Que dizeis?
- Geralmente um nobre não se aproxima de uma camponesa só para dizer olá. Ele deve querer que vos torneis sua amante.
Rose faz um ar chocado.
- Ele não é assim. – defendi-o.
- Como sabeis? Mal o conheceis.
- Conheço-o o suficiente.
- Já percebi que ele vos anda a dar a volta à cabeça, mana. Os pais não vão gostar nada de saber que vos dais com nobres.
- Eu sou crescidinha, Jacob. – diz Rose irritada. – Sei tomar conta de mim e é óbvio que não me vou tornar amante de ninguém por muito simpático que possa ser.
Corre até casa deixando o irmão para trás.
....
- Que vos queria ontem o noivo da princesa Victoria? – pergunta Leah a Rose quando vão juntas apanhar fruta ao pomar do pai de Rose.
- Noivo? – Rose olha para ela espantada.
- Sim. Aquele rapaz de ontem é o filho do Duque Aro, está prometido à princesa Victoria.
Rose sente-se um pouco magoada por ele não lhe ter dito nada.
- Tendes a certeza? – pergunta.
- Estava na Cidade de Volterra quando assinaram o acordo de casamento. Acho que vão casar quando a princesa fizer dezoito anos.
Rose baixa os olhos para o chão.
Não percebe porque está tão triste. Seria impossível ficarem juntos de qualquer forma. Ele é um nobre, ela uma camponesa. E também, um homem como ele nunca se apaixonaria por uma mulher como ela.
- Afinal que vos queria ele? – insiste Leah interrompendo-lhe os pensamentos.
- Nada de especial. – Rose encolhe os ombros. – Só dizer olá, uma vez que nos conhecemos quando o ajudei a sair da floresta.
- Ele só vos queria dizer olá? Tende cuidado, ele deve querer mais do que a vossa amizade.
Rose irrita-se.
- Outra vez essa conversa. Já o meu irmão me disse isso.
- Um nobre não se aproxima de uma camponesa para conversar. – avisa Leah. – Geralmente quer leva-la para a cama.
- Calai-vos com isso. – ordena Rose. – Ele é diferente.
- São todos iguais, Rose.
- Vós não o conheceis, eu conheço-o. Não podeis dizer que ele é igual aos outros se nunca falastes com ele uma única vez.
Começa a afastar-se.
- Onde ides? – pergunta Leah. – Vamos apanhar as maçãs.
- Ficai com as maçãs. Eu apanho as pêras.
- Rose, não fiqueis chateada, eu só disse o que é óbvio.
- Não o conheceis por isso não podeis falar.
Rose afasta-se em passos rápidos. Ela também não o conhece como afirmou. Nem sequer sabe o nome dele. “Será possível que eles tenham razão? Será que ele só me quer para amante? Também para que mais me quereria?”
...
Emmett não sabe o que se passa com ele. Rose não lhe sai dos pensamentos. Ele quer poder abraça-la, beija-la.
Não consegue concentrar-se no livro que está a ler. Vai até aos estábulos, manda selar um cavalo e volta a partir em direção à aldeia.
Não quer estar longe dela, na verdade não consegue. Ainda ontem a viu, mas já deseja vê-la outra vez.
Agora vai a passo pelo meio das casas tentando vê-la numa rua, numa janela, ou à porta de casa.
Acaba por vê-la a descascar ervilhas, sentada no chão em frente a uma casa pequena.
- Rose? – chama parando o cavalo na beira da estrada e desmontando.
Ela levanta os olhos e vê-o. O coração começa a bater mais depressa, mas a voz é dura e fria como gelo.
- Que fazeis aqui?
Ele pára perante o tom cortante dela.
- Precisava de vos ver. – murmura.
Ela levanta-se irritada.
- Mas eu não quero ver-vos. – declara sem qualquer simpatia.
- Porque não? – pergunta estranhando a atitude dela.
- Não quero voltar a ver-vos.
- Porquê? Que vos fiz?
- Tendes noiva.
Emmett pergunta-se como é que ela sabe.
- Pois tenho.
- E porque não me dissestes?
Emmett irrita-se.
- Porque não tendes nada a ver com isso. Não tenho de dar satisfações da minha vida a uma camponesa com o nariz empinado.
Rose recua um pouco. Ele magoou-a com aquelas palavras. Mas são a verdade. Ela não tem nada a ver com a vida dele. Ele não lhe prometeu nada. Mas deu-lhe esperança.
- Então porque viestes aqui ontem e hoje também? – pergunta.
- Porque me apeteceu. Não posso é?
- Não podeis andar por aí a passear e a chamar-me.
- Porque não?
- Porque podeis ser um nobre, mas não podeis dar-me ordens. Eu não sou vossa criada.
- Se fosseis não faláveis assim comigo.
- Falo como eu quiser. E agora desaparecei da minha vista.
Rose vira-lhe as costas e entra dentro de casa batendo com a porta.
Renée que estava a fazer o jantar vê a filha entrar e ouviu a discussão lá fora.
- Que se passa? – pergunta.
- Nada. – responde Rose sem paciência.
- Filha, dizei-me. Estáveis a falar com um nobre?
- Estava. – responde.
- Que queria ele?
- Deve querer seduzir-me. É o noivo da princesa Victoria, mas tem vindo todos os dias ver-me e eu ainda não percebi porquê. – senta-se na cadeira e apoia a cabeça na mesa.
- Ele vem ver-vos?
- É um estúpido. – diz chateada. – Tem a mania.
As lágrimas aparecem nos olhos de Rose.
- E eu cheguei a pensar que gostava de mim. – murmura.
Renée passa o braço em volta dos ombros da filha.
- Meu amor, ele nunca poderia ficar com uma mulher do povo por muito que goste de vós.
- Eu sei. Mas ele não gosta, é um idiota.
Levanta-se e sai para acabar de descascar as ervilhas.
Renée apoia-se na mesa. O noivo da princesa Victoria. Se Rose tivesse sido criada na corte como deveria, talvez nesta altura ele fosse o noivo dela. Esse pensamento pesa-lhe na consciência. E só agora percebe que a filha podia ter tido muito mais se ela tivesse arranjado coragem há dezoito anos para ir ao palácio real entregar a criança que encontrara.
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