A Herdeira escrita por Cate Cullen


Capítulo 22
Sucessão


Notas iniciais do capítulo

O meu presente de Natal atrasado.
Espero que gostem!



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Victoria caminha em passos rápidos até aos aposentos da mãe. Tem que saber esta história direitinho, visto que ainda não percebeu nada desde a noite do baile.

Victoria nem sequer sabia que tinha uma irmã, e de repente o seu noivo trás uma rapariga e diz-lhe que é sua irmã, filha dos reis, ainda por cima mais velha.

Victoria entra na antecâmara da mãe e encontra-a juntamente com o seu pai e a detestável loira que se diz filha dos seus pais. Pelo que parece Esme está a tentar ensinar a rapariga a bordar.

– Assim estais a coser. – Diz Esme com um sorriso tirando o bordado da mão da filha.

– Eu só sei cozer. – Murmura Rose.

Esme sorri-lhe docemente enquanto desmancha os pontos mal feitos.

– Eu sei e isso já é muito bom. Mas tendes que apreender a bordar. Faz parte da educação de uma princesa, meu amor.

Rose já ouviu essa frase pela boca de quase toda a gente que lhe tem tentado ensinar alguma coisa.

– Porquê? – Pergunta com uns olhos curiosos virados na direção de Esme.

Esme morde o lábio tentando arranjar alguma explicação.

– É assim há muitos anos. – Diz calmamente voltando a devolver-lhe o bordado. – Todas as mulheres da nobreza e da burguesia têm de o saber fazer.

– Mas porquê?

Carlisle tem vontade de rir. Uma coisa que já conseguiu descobrir é que as duas mulheres, mãe e filha, são muito parecidas, mais do que poderia imaginar. Então na teimosia, nem se fala.

– Para poderem bordar colchas, lençóis, almofadas, lenços, panos de altar e todas essas coisas.

– E porque é que têm de bordar essas coisas?

Todas as damas admiram a paciência da rainha. Nenhuma delas a teria com tantas perguntas que a princesa faz.

– Para ser sincera, minha querida, porque não têm mais nada para fazer.

A gargalhada é geral com o comentário da rainha.

– Mas eu posso coser camisas para os pobres, já vos vi faze-lo e não me importo de o fazer também. – Diz animada. – E posso cozinhar e ajudar na limpeza do palácio. É tão grande que imagino que seja muito difícil limpá-lo todo, especialmente a seguir aos jantares.

Esme sorri.

– Neste momento tendes que aprender a bordar e depois, quando souberes, podeis coser as camisas para os pobres. Mas limpar o palácio e cozinhar não são tarefas de uma princesa.

– Mas porquê? Se os criados o fazem.

– Para isso é que contratamos criados, Rose. – Esme passa-lhe a mão no cabelo. – Eles são muitos e recebem pelo trabalho que fazem. E ainda têm direito a ficar com toda a comida que sobra dos jantares. Não tendes que vos preocupar com eles.

Rose suspira e olha para o bordado. Há tanta coisa que ainda tem de aprender.

– Quando chegarmos à capital tereis professores como a vossa irmã. – Diz Carlisle.

– Capital? Vamos para a capital?

– Claro, querida. – Esme acaricia-lhe a face. – É lá que fica a nossa residência oficial. Só estamos aqui por ser verão.

– E a minha outra família?

Esme e Carlisle entreolham-se.

– O Carlisle já falou com os vossos pais e eles vão deixar as terras ao cuidado de uns vizinhos vossos e irão connosco para a capital. – Explica Esme.

Rose assente mais descansada. Sente-se melhor se souber que os pais vivem debaixo do mesmo teto que ela.

– E vamos quando?

– Para a semana. – Informa Carlisle. – E lá começareis a ter as aulas que uma princesa deve ter.

– Vou ter aulas de quê? – Pergunta curiosa.

– História, línguas, ciência, astronomia, política, economia, música e dança. – Enumera Esme.

Rose abre muito os olhos.

– Não vou conseguir aprender isso tudo.

– Claro que conseguireis. – Diz Carlisle. – Sois uma rapariga inteligente. Tenho a certeza que já sabeis alguma coisa. Sabeis ler?

Rose baixa os olhos.

– Muito mal. – Murmura.

– Ireis aprender. – Assegura Carlisle. – E escreveis?

– Mal para os padrões da corte. – Admite.

– E de história, sabeis alguma coisa? – Pergunta.

Rose abana a cabeça.

– Mas conheceis as plantas e os animais, certo?

Nessa altura Rose assente mais confiante. Se vai aprender coisas sobre as plantas e os animais não será tão difícil ter tantas aulas.

– E já observastes o céu à noite? – Pergunta Esme.

– Já olhei para as estrelas muitas vezes.

– Com o professor de astronomia ireis ficar a conhecer as constelações.

– O que é isso?

– Conjuntos de estrelas que parecem formar desenhos. – Explica Esme.

– Parece ser giro.

– E ireis aprender a falar francês e espanhol, assim com italiano e alemão.

– Tantas?

– Vamos começar apenas pelo francês. – Sossega-a Esme. – E também tereis aulas de dança e música.

– O que se aprende em música?

– A tocar instrumentos e em dança aprendereis a dançar as danças da corte.

Rose sorri. Sempre quis saber dançar as danças pormenorizadas da corte em que os pares fazem os mesmos movimentos todos ao mesmo tempo.

– Mãe, pai. – A voz de Victoria faz todos olharem para a princesa.

Rose acha-a muito bonita. Tem a pele muito branca, parecida com porcelana, os olhos são verdes e os cabelos ainda mais ruivos que os da rainha caem-lhe em canudos pelos ombros. E veste-se lindamente com vestidos cheios de folhos e rendas. O de hoje é azul-escuro e rosa na parte da frente do corpete e nos folhos das mangas que lhe chegam apenas ao cotovelo.

– Victoria, sentai-vos aqui, querida. – Carlisle faz sinal para a cadeira ao seu lado.

– Eu quero falar convosco. – Victoria observa o pai de sobrancelhas franzidas o que indica que a conversa não irá ser boa. – É urgente e privado.

– Poderei estar presente na conversa ou é assim tão privado? – Pergunta Esme na brincadeira.

– A ideia é estardes também.

Com um gesto de Esme as damas de companhia poisam os bordados e saem.

– Ela também. – Victoria olha para Rose de uma forma que a deixa desconfortável.

– A Rose é vossa irmã, não temos segredos dela. – Diz Carlisle calmamente.

Victoria cruza os braços chateada.

– Que história é essa de ela ser minha irmã?

O desprezo na voz dela é evidente.

– Eu não tenho irmãos sou filha única.

Esme levanta-se e aproxima-se dela calmamente. Talvez lhe devesse ter contado, mas falar no assunto sempre lhe custou tanto. Revê-lo todo de novo só aumentaria a sua dor.

– Victoria, antes de vós eu tive outra filha. – Esme olha nos olhos dela enquanto fala. – Desapareceu do berçário com poucas semanas de vida. Ainda nem sequer sorria. – Victoria vê lágrimas nos olhos da mãe. – Nunca soubemos o que tinha acontecido. Essa criança é a Rose. Vós ouvistes a história no salão quando o Emmett a apresentou.

– Porque é que nunca me dissestes nada?

– Porque não queria pensar no assunto, não queria falar dele, apesar de estar sempre nos meus pensamentos. E tinha medo, querida, tinha medo que também vós desaparecêsseis.

– Mesmo assim. Não tinham de me esconder que tenho uma irmã que agora aparece de repente e me rouba o noivo e todos os direitos ao trono.

– O quê? – Rose levanta-se. – O que é eu tenho a ver com o trono.

Victoria faz um ar irónico.

– É tão campónia que nem sabe que é o filho mais velho que herda o trono, em caso de não existir filho, a filha mais velha.

Rose senta-se de novo sentindo que não aguentará em pé. Quer dizer que será rainha. Rainha de Volterra, mesmo tendo vivido toda a sua vida como uma mulher do povo, tendo vivido toda a sua vida sem qualquer preparação para reinar.

– Isso não é possível! – Declara.

– Só não acontecerá se a sucessão for alterada.

– Victoria, já chega! – Carlisle levanta-se. – Não há necessidade de preocupar a vossa irmã com isso. Ainda não está nada decidido. Pode mudar muita coisa até lá.

Nesse instante Emmett entra.

– Porque é que não me disseram? – Pergunta Rose.

– Como eu disse não está nada decidido. – Repete Carlisle. – Ninguém diz que sereis vós a herdar.

– Mas pela lógica sou eu.

Victoria revira os olhos.

– Ao menos tem cabeça para chegar lá.

– Rose. – Esme vira-se para a filha. – Se quando chegar à altura vós não estiverdes preparada o vosso pai pode alterar a sucessão.

– Quando estiver morto? – Pergunta Victoria secamente.

– Não. – Esme vira-se para ela, os olhos gelados. – Antes de morrer.

– Quer dizer que neste momento não há herdeiro declarado? – Victoria olha do pai para a mãe.

– Neste momento a sucessão está em aberto. – Confirma Carlisle.

– E porque não me nomeiam logo a mim herdeira? – Pergunta Victoria. – Se todos sabemos que essa campónia nunca conseguirá fazer mais que esfregar as escadas.

– Victoria!

O olhar da mãe não a cala.

– Eu sempre fui a vossa herdeira e agora só porque aparece uma parva qualquer a dizer que é vossa filha têm a sucessão em aberto quando eu sempre fui preparada para reinar.

– Victoria, acabámos de dizer que está em aberto. – Repete Carlisle. – Eu ainda não tenho quarenta anos, nem a vossa mãe. Esperamos viver muito mais anos, teremos tempo de averiguar se Rose está preparada ou se sereis vós a rainha, mas vós Victoria também não estais preparada.

Victoria arregala os olhos.

– Como o podeis dizer? Sempre fui a herdeira porque é que agora não ei de estar preparada?

– Nunca estivestes. – É Esme quem fala. – Porque uma rainha não despreza o povo e é isso que fazeis sempre.

– Vocês são muito injustos! – Grita. – Eu odeio-vos!

Dá meia volta e sai do quarto.

– Victoria! – Esme sai atrás dela.

Carlisle olha para Emmett que assiste à cena em silêncio.

– Desculpai-me deixar-vos assim. – Desculpa-se antes de sair também.

Emmett olha para uma Rose pálida.

– Estais bem? – Pergunta aproximando-se.

– Acabei de saber que posso vir a ser rainha. – Murmura levantando-se.

Emmett acaricia-lhe o rosto belo.

– E se fordes sereis uma excelente rainha como Inglaterra nunca viu.

Rose faz um pequeno sorriso.

– Não acredito nem um pouco nisso.

Emmett sorri.

– Sois filha de Carlisle e Esme. Os vossos pais são os melhores monarcas que já reinaram neste reino. Sendo filha deles, sereis igualmente boa.

Rose suspira.

– Uma pessoa que não percebe nada de protocolos e ainda menos de política não pode ser rainha.

Emmett rodeia-lhe a cintura com os braços.

– Não percebeis agora, amor, mais ireis aprender até serdes tão boa como qualquer político. E eu acredito que conseguireis.

– Acreditai por mim, então.


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