A Herdeira escrita por Cate Cullen
Notas iniciais do capítulo
O meu presente de Natal atrasado.
Espero que gostem!
Victoria caminha em passos rápidos até aos aposentos da mãe. Tem que saber esta história direitinho, visto que ainda não percebeu nada desde a noite do baile.
Victoria nem sequer sabia que tinha uma irmã, e de repente o seu noivo trás uma rapariga e diz-lhe que é sua irmã, filha dos reis, ainda por cima mais velha.
Victoria entra na antecâmara da mãe e encontra-a juntamente com o seu pai e a detestável loira que se diz filha dos seus pais. Pelo que parece Esme está a tentar ensinar a rapariga a bordar.
– Assim estais a coser. – Diz Esme com um sorriso tirando o bordado da mão da filha.
– Eu só sei cozer. – Murmura Rose.
Esme sorri-lhe docemente enquanto desmancha os pontos mal feitos.
– Eu sei e isso já é muito bom. Mas tendes que apreender a bordar. Faz parte da educação de uma princesa, meu amor.
Rose já ouviu essa frase pela boca de quase toda a gente que lhe tem tentado ensinar alguma coisa.
– Porquê? – Pergunta com uns olhos curiosos virados na direção de Esme.
Esme morde o lábio tentando arranjar alguma explicação.
– É assim há muitos anos. – Diz calmamente voltando a devolver-lhe o bordado. – Todas as mulheres da nobreza e da burguesia têm de o saber fazer.
– Mas porquê?
Carlisle tem vontade de rir. Uma coisa que já conseguiu descobrir é que as duas mulheres, mãe e filha, são muito parecidas, mais do que poderia imaginar. Então na teimosia, nem se fala.
– Para poderem bordar colchas, lençóis, almofadas, lenços, panos de altar e todas essas coisas.
– E porque é que têm de bordar essas coisas?
Todas as damas admiram a paciência da rainha. Nenhuma delas a teria com tantas perguntas que a princesa faz.
– Para ser sincera, minha querida, porque não têm mais nada para fazer.
A gargalhada é geral com o comentário da rainha.
– Mas eu posso coser camisas para os pobres, já vos vi faze-lo e não me importo de o fazer também. – Diz animada. – E posso cozinhar e ajudar na limpeza do palácio. É tão grande que imagino que seja muito difícil limpá-lo todo, especialmente a seguir aos jantares.
Esme sorri.
– Neste momento tendes que aprender a bordar e depois, quando souberes, podeis coser as camisas para os pobres. Mas limpar o palácio e cozinhar não são tarefas de uma princesa.
– Mas porquê? Se os criados o fazem.
– Para isso é que contratamos criados, Rose. – Esme passa-lhe a mão no cabelo. – Eles são muitos e recebem pelo trabalho que fazem. E ainda têm direito a ficar com toda a comida que sobra dos jantares. Não tendes que vos preocupar com eles.
Rose suspira e olha para o bordado. Há tanta coisa que ainda tem de aprender.
– Quando chegarmos à capital tereis professores como a vossa irmã. – Diz Carlisle.
– Capital? Vamos para a capital?
– Claro, querida. – Esme acaricia-lhe a face. – É lá que fica a nossa residência oficial. Só estamos aqui por ser verão.
– E a minha outra família?
Esme e Carlisle entreolham-se.
– O Carlisle já falou com os vossos pais e eles vão deixar as terras ao cuidado de uns vizinhos vossos e irão connosco para a capital. – Explica Esme.
Rose assente mais descansada. Sente-se melhor se souber que os pais vivem debaixo do mesmo teto que ela.
– E vamos quando?
– Para a semana. – Informa Carlisle. – E lá começareis a ter as aulas que uma princesa deve ter.
– Vou ter aulas de quê? – Pergunta curiosa.
– História, línguas, ciência, astronomia, política, economia, música e dança. – Enumera Esme.
Rose abre muito os olhos.
– Não vou conseguir aprender isso tudo.
– Claro que conseguireis. – Diz Carlisle. – Sois uma rapariga inteligente. Tenho a certeza que já sabeis alguma coisa. Sabeis ler?
Rose baixa os olhos.
– Muito mal. – Murmura.
– Ireis aprender. – Assegura Carlisle. – E escreveis?
– Mal para os padrões da corte. – Admite.
– E de história, sabeis alguma coisa? – Pergunta.
Rose abana a cabeça.
– Mas conheceis as plantas e os animais, certo?
Nessa altura Rose assente mais confiante. Se vai aprender coisas sobre as plantas e os animais não será tão difícil ter tantas aulas.
– E já observastes o céu à noite? – Pergunta Esme.
– Já olhei para as estrelas muitas vezes.
– Com o professor de astronomia ireis ficar a conhecer as constelações.
– O que é isso?
– Conjuntos de estrelas que parecem formar desenhos. – Explica Esme.
– Parece ser giro.
– E ireis aprender a falar francês e espanhol, assim com italiano e alemão.
– Tantas?
– Vamos começar apenas pelo francês. – Sossega-a Esme. – E também tereis aulas de dança e música.
– O que se aprende em música?
– A tocar instrumentos e em dança aprendereis a dançar as danças da corte.
Rose sorri. Sempre quis saber dançar as danças pormenorizadas da corte em que os pares fazem os mesmos movimentos todos ao mesmo tempo.
– Mãe, pai. – A voz de Victoria faz todos olharem para a princesa.
Rose acha-a muito bonita. Tem a pele muito branca, parecida com porcelana, os olhos são verdes e os cabelos ainda mais ruivos que os da rainha caem-lhe em canudos pelos ombros. E veste-se lindamente com vestidos cheios de folhos e rendas. O de hoje é azul-escuro e rosa na parte da frente do corpete e nos folhos das mangas que lhe chegam apenas ao cotovelo.
– Victoria, sentai-vos aqui, querida. – Carlisle faz sinal para a cadeira ao seu lado.
– Eu quero falar convosco. – Victoria observa o pai de sobrancelhas franzidas o que indica que a conversa não irá ser boa. – É urgente e privado.
– Poderei estar presente na conversa ou é assim tão privado? – Pergunta Esme na brincadeira.
– A ideia é estardes também.
Com um gesto de Esme as damas de companhia poisam os bordados e saem.
– Ela também. – Victoria olha para Rose de uma forma que a deixa desconfortável.
– A Rose é vossa irmã, não temos segredos dela. – Diz Carlisle calmamente.
Victoria cruza os braços chateada.
– Que história é essa de ela ser minha irmã?
O desprezo na voz dela é evidente.
– Eu não tenho irmãos sou filha única.
Esme levanta-se e aproxima-se dela calmamente. Talvez lhe devesse ter contado, mas falar no assunto sempre lhe custou tanto. Revê-lo todo de novo só aumentaria a sua dor.
– Victoria, antes de vós eu tive outra filha. – Esme olha nos olhos dela enquanto fala. – Desapareceu do berçário com poucas semanas de vida. Ainda nem sequer sorria. – Victoria vê lágrimas nos olhos da mãe. – Nunca soubemos o que tinha acontecido. Essa criança é a Rose. Vós ouvistes a história no salão quando o Emmett a apresentou.
– Porque é que nunca me dissestes nada?
– Porque não queria pensar no assunto, não queria falar dele, apesar de estar sempre nos meus pensamentos. E tinha medo, querida, tinha medo que também vós desaparecêsseis.
– Mesmo assim. Não tinham de me esconder que tenho uma irmã que agora aparece de repente e me rouba o noivo e todos os direitos ao trono.
– O quê? – Rose levanta-se. – O que é eu tenho a ver com o trono.
Victoria faz um ar irónico.
– É tão campónia que nem sabe que é o filho mais velho que herda o trono, em caso de não existir filho, a filha mais velha.
Rose senta-se de novo sentindo que não aguentará em pé. Quer dizer que será rainha. Rainha de Volterra, mesmo tendo vivido toda a sua vida como uma mulher do povo, tendo vivido toda a sua vida sem qualquer preparação para reinar.
– Isso não é possível! – Declara.
– Só não acontecerá se a sucessão for alterada.
– Victoria, já chega! – Carlisle levanta-se. – Não há necessidade de preocupar a vossa irmã com isso. Ainda não está nada decidido. Pode mudar muita coisa até lá.
Nesse instante Emmett entra.
– Porque é que não me disseram? – Pergunta Rose.
– Como eu disse não está nada decidido. – Repete Carlisle. – Ninguém diz que sereis vós a herdar.
– Mas pela lógica sou eu.
Victoria revira os olhos.
– Ao menos tem cabeça para chegar lá.
– Rose. – Esme vira-se para a filha. – Se quando chegar à altura vós não estiverdes preparada o vosso pai pode alterar a sucessão.
– Quando estiver morto? – Pergunta Victoria secamente.
– Não. – Esme vira-se para ela, os olhos gelados. – Antes de morrer.
– Quer dizer que neste momento não há herdeiro declarado? – Victoria olha do pai para a mãe.
– Neste momento a sucessão está em aberto. – Confirma Carlisle.
– E porque não me nomeiam logo a mim herdeira? – Pergunta Victoria. – Se todos sabemos que essa campónia nunca conseguirá fazer mais que esfregar as escadas.
– Victoria!
O olhar da mãe não a cala.
– Eu sempre fui a vossa herdeira e agora só porque aparece uma parva qualquer a dizer que é vossa filha têm a sucessão em aberto quando eu sempre fui preparada para reinar.
– Victoria, acabámos de dizer que está em aberto. – Repete Carlisle. – Eu ainda não tenho quarenta anos, nem a vossa mãe. Esperamos viver muito mais anos, teremos tempo de averiguar se Rose está preparada ou se sereis vós a rainha, mas vós Victoria também não estais preparada.
Victoria arregala os olhos.
– Como o podeis dizer? Sempre fui a herdeira porque é que agora não ei de estar preparada?
– Nunca estivestes. – É Esme quem fala. – Porque uma rainha não despreza o povo e é isso que fazeis sempre.
– Vocês são muito injustos! – Grita. – Eu odeio-vos!
Dá meia volta e sai do quarto.
– Victoria! – Esme sai atrás dela.
Carlisle olha para Emmett que assiste à cena em silêncio.
– Desculpai-me deixar-vos assim. – Desculpa-se antes de sair também.
Emmett olha para uma Rose pálida.
– Estais bem? – Pergunta aproximando-se.
– Acabei de saber que posso vir a ser rainha. – Murmura levantando-se.
Emmett acaricia-lhe o rosto belo.
– E se fordes sereis uma excelente rainha como Inglaterra nunca viu.
Rose faz um pequeno sorriso.
– Não acredito nem um pouco nisso.
Emmett sorri.
– Sois filha de Carlisle e Esme. Os vossos pais são os melhores monarcas que já reinaram neste reino. Sendo filha deles, sereis igualmente boa.
Rose suspira.
– Uma pessoa que não percebe nada de protocolos e ainda menos de política não pode ser rainha.
Emmett rodeia-lhe a cintura com os braços.
– Não percebeis agora, amor, mais ireis aprender até serdes tão boa como qualquer político. E eu acredito que conseguireis.
– Acreditai por mim, então.
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