Colecionador escrita por Cath Abreu


Capítulo 6
A epifania, a fama e mais outra noite




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Meia garrafa, já estava cego de loucura sanguinária nas veias quando me dei conta de que já estava ali tempo de mais. Já devia ter perdido muito sangue.

-Olhe só... que sujeira você fez aqui chefinho.

Limpei os lábios com a manga da camisa.

Meu plano inicial era pregar suas mãos na porta e deixa-lo morrendo de hemorragia. Mas isso daria certo trabalho, e já estava cansadíssimo, um golpe rápido, simples e limpo, quebrar o pescoço, quanto o fazia, senti seu olho dramaticamente me fitando, como se dissesse que eu iria me lembrar disso, mas é justamente o que eu quero.  

 Peguei ele nas costas e coloquei no chão, preguei suas costas no capacho que ficava em frente a porta.

-Bem vindo, seu bastardo nojento.

Passei um tempo limpando a bagunça e cantarolando o jazz que foi trilha sonora do meu pequeno baile. Peguei a garrafa e coloquei na valise.

Voltei para casa, caminhando na noite fria, sendo quase carregado pelas vagarosas ondas geladas de vento.  Entrei em casa, estava tudo silencioso, calmo e morto. Assim como o presentinho que deixei há pouco tempo.                       

Cheguei ao corredor do meu quarto, quando fiquei paralisado por um momento, havia um feixe de luz amarelada vazando por baixo da porta. Na hora, me dei conta de que não sabia quase nada sobre meus colegas de casa, muito menos quem pertencia a qual quarto, foi então que fui possuído por um sentimento misto de ansiedade e curiosidade, borbulhando como uma ferida de queimadura.

Tentei ignorar, respirei fundo e quando estava quase na porta do quarto, ouvi uma voz. Era a senhorita Amanda Rink. Vestia um roupão de seda cor de rosa, os cabelos levemente bagunçados, uma alça fina e preta a mostra pendurada no ombro.

-Boa noite... –fez uma cara pensativa- Senhor Conger, o que faz na rua tão tarde, se é que posso ter a ousadia de lhe perguntar.

Mulher mais ousada que essa, não acredito que exista, por ousada quero dizer promiscua.

-Boa noite, me permita desculpar-me, mas creio que isso não lhe diz respeito.

Tossi para disfarçar o tom de desprezo em minha voz. Despedi-me mais uma vez e entrei em meu quarto.  Estava cansado, minha cabeça latejava, guardei meu mais novo premio, junto dos outros, limpei os equipamentos, limpei a valise, guardei tudo. Caí na cama como um cachorro vagabundo caindo de moleza na sarjeta, deitado no sol.

Mas não consegui dormir, por que a morte de um de meus grandes inimigos não me deixou em êxtase? Foi então que me ocorreu a epifania, matar desconhecido não tinha nenhum envolvimento emocional, matar desconhecidos, despedaçar a vida de gente que não me deve nada, como fizeram comigo, isso era êxtase, isso era prazer.

A partir desse ponto, matar se tornou minha paixão, eu vivia para ver as pessoas sofrerem, era o que me alimentava, me nutria, completava, em um mês já estava sendo procurado por vários detetives, cães do governo e todo tipo de caçar de recompensas moderno possível.  Mas ninguém suspeitava do pobre Nicolas, recentemente arrumei um emprego na sapataria.

A noite estava sem estrelas, um dia perfeito para se divertir um pouco. Há tempos eu observava um casal que ia namorar na calada da noite em uma casa abandonada. Cenário melhor que esse não haveria nem em um milhão de anos.  

O plano era bem simples. Feridas abertas.

Cheguei rondando a casa, bem devagar, a lua estava alta como um espectador empolgado com o próximo ato de uma opera macabra. Já podia sentir os pelos finos dos braços por baixo da jaqueta se levantando, prontos para luta, esperando pelo ápice da noite.

Vamos nos divertir garoto Sam. Minha criança sorridente e brilhante.

Esperei um tempo, abaixado na janela, quando comecei a ouvir, os sons pervertidos se escondendo na noite, estalos, baba, o barulho gosmento de um beijo caloroso, suspiros entrecortados de satisfação, senti-me salivante, com o gosto suculento de um drinque vermelho de pura violência.  Vio-lencia, até a palavra me fazia estremecer com o tom de sucesso que tinha.

Abri a garrafa de vinho tinto que trouxe, chacoalhei um pouco, bebi um ou dois goles. Esperei pacientemente. Quando os sons cessaram. Eu sabia que era minha vez de agir. Entrei pela parte de trás da casa, a porta era velha, com um pouco de pressão ela se abriu como o sorrisinho de uma criança levada.

Entrei e fui até a sala, o único som era o couro de minhas botas se esticando com forme eu andava. Os dois levados, estavam dormindo abraçados, enrolados em um tipo de cobertor azul petróleo, parecia à definição da palavra “conforto” ou “afeto”.

Eu não me preocupava com cobrir o rosto. Nem por um segundo, quando começava o trabalho, eu sabia que eles não iriam contar para ninguém, não iriam contar mais nada, nunca mais.

Agora eu tinha equipamentos de qualidade em meu arsenal.  Mas antes de tudo, o bom e velho tio pé de cabra. Acertei em cheio a cabeça do rapaz. Ele não se moveu, a garota acordou com o estalo, se mexeu um pouco.

-Boa noite madame.

Puxei o rapaz desacordado, segurando firme em seu pescoço, o pequeno Sammy apontado para ele, a ponta da faca cintilando, quase tocando a pele do rosto, caído pesadamente no ar.

-Vista-se, não sou obrigado a ver vulgaridade de uma meretriz qual quer.  

-Do que está falando? Você sabe quem eu sou? Largue-o. Largue-o agora!

Um risco de sangue escorreu da bochecha dele quando raspei a faca de leve. A garota deu um suspiro de agonia e foi engatinhando enrolada no cobertor, se vestiu e voltou para mim.

-O que você quer? Quem é você?

-Eu sou o faxineiro, sou o rei da noite, o vampiro, Jack estripador, eu apenas venho tirar o lixo e...

-SEU DISGRAÇADO, do que está falando?!?!

-Sua imunda, você não é nada melhor que eu, seus pais sabem que está aqui? Copulando com esse rapaz? Sabem que a princesinha deles estava rolando na sujeira e gemendo? Escute aqui, acabou para você.

Ela ficou ajoelhada no chão, e gritando “por favor não!”, ou “não me machuque”.  Levou um tempo, mas por fim eu consegui prende-la em uma cadeira. Amordaçar.  Pendurei um gancho no teto.  Fita isolante na boca do garoto.

Fiquei sentando ouvindo a garota choramingar e esperando ele acordar. Não pude segurar o sorriso que brotou em meu rosto, de orelha a orelha. Já começa a sentir a energia rodopiando entre cada célula do meu corpo.  


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Notas finais do capítulo

demorou mais chegou :V



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