Colecionador escrita por Cath Abreu


Capítulo 5
Dia do pagamento




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Fiquei sentando, no café enfrente ao escritório da fabrica, esperando, anotei o nome de todos os funcionários em uma folha de papel, a cada um que saia eu marcava um “x”. Foi difícil me lembrar de todos os nomes, por isso eu tive que ir até o escritório antes, aonde eu pude passar pelo nome de todos anotado em uma placa em frente a suas mesas, o escritório era bem pequeno. A ultima a sair foi Caroline. Parecia confusa, feliz e com as roupas um pouco bagunçadas, eu sempre soube que eles tinham um caso, Caroline é bonita, pele clara, cabelos loiros, olhos verdes e belas e longas pernas.

Mas quem sou eu para julgar a beleza feminina? Um “pseudo viúvo” desgraçado.  

Paguei a conta do café, dei uns trocados a mais para o dono confirmar que eu nunca estive lá. Ele parece tão desinteressado em mim que nem vai se lembrar deste rosto, semi encoberto por um chapéu barato.

 Estava tudo aberto e escuro no prédio, passei tanto tempo fazendo hora extra no escuro que já sei andar por aqui nessas condições.

Até a sala do chefe já sentia meu ego inflando, a respiração se tornando mais lenta, estava tão calmo que quase atingi o nirvana, meus passos quase afundavam no chão, parecia que o cenário flutuava ao meu redor.

Cheguei à sala. O futuro local do crime. No ar da sala apenas o som de páginas sendo viradas e o rodopio das pás do ventilador. Peguei o pé de cabra que trouxe, abria porta e me escondia atrás dela, de modo que parecesse ter sido aberta sozinha. Meu chefe sempre foi supersticioso.

O som das paginas cessou. Ouvi um suspiro pesado.

Minhas mãos estavam tremendo e sentia ondas de energia aumentando a velocidade dos batimentos cardíacos deste pobre coitado.

Assim que ele saiu o atingi na cabeça com o pé de cabra, usando a parte curvada par não deixar um corte. Ele caiu no chão um pouco tonto.

-Olá senhor. –Sorri triunfante, mas apenas estava começando.

Amarrei-o na cadeira giratória do escritório.  Desacordado.  Peguei na dispensa um borrifado para regar as plantas, substituí o que tinha dentro por água sanitária. Espirei no rosto do imbecil, se estiver desacordado não vai ter graça.

Acordou soluçando.

-QUE DIABOS ESTÁ FAZENDO SEU DEMENTE? FICOU LOUCO?! ME TIRE DAQUI AGORA!

-Boa noite senhor...

Tranquei a porta, tinha um radio ali no escritório, CDs de jazz, coloquei um cd qual quer e aumente o volume.  

-Sinta a musica senhor. –Uma gargalhada que escapou da garganta, rasgou meu rosto em um sorriso tremulo.

-ESTÁ LOUCO! SOCORRO! AJUDA!

-IMPLORE SEU PORCO! Implore e eu o deixarei livre.

Ele continuou pedindo socorro. Dei uma pancada de pé de cabra no estomago dele, ficou sem ar e parou de gritar para tomar fôlego.  O som do ferro gelado tocando a camisa do desgraçado era como uma batida da musica. Senti os pêlos do pescoço re arrepiarem de novo. Estralei o pescoço. A de uma forte batida em uma de suas costelas. O estalo fantasmagórico ecoou pela sala. “Crek”. Musica para os meus ouvidos, delírio dos meus olhos. 

-O senhor não sabe o que eu daria para ter feito isso muito antes. O senhor não sabe o prazer que me dá ouvir seus osso quebrando!

Fiquei novamente cego de prazer e sedento por sangue. Eu queria que ele sofresse e só depois ele teria minha permissão para arder nas chamas do inferno.

-PARE SEU DRESGRAÇADO! NÃO SABE A HORA DE PARAR?! Decidiu virar homem agora que não tem ninguém para esquentar sua cama?

Meus lábios tremiam, soltei o pé de cabra no chão.  

-Você ainda não sabe o que é sofrer, o que é viver a sombra suja, banhado de suor e lagrimas. Não ter nada e ainda lutar por uma migalha suja sua.

Pequenas gotas de saliva cristalina voaram para fora da minha boca ao fim da frase, me senti envergonhado a principio, mas esse sentimento não durou segundos, meus dentes superiores pressionando os inferiores, num sorriso mandibular maníaco incontrolável.

-Fique calminho Sam... logo o papai vai lhe trazer para fora, para brincar com o amigo do papai. – Minha voz tinha um tom seco porem claro.

Meu chefe permanecia com os olhos parados no chão, cabeça abaixada. Tirei um rolo plástico  da valise. Dei um chute firme na cadeira giratória. Ela deslizou sobre o chão até bater em uma estante, mas não a ponto de derruba-la, para minha sorte.

-Olhei para mim, seu miserável! Quando estiver morto, talvez eu faça uma visitinha aos seus familiares.

Minha testa gotejava suor, devia ter trazido uma bebida, pareceu funcionar da ultima vez. Passei a mão pelos cabelos arrumando os para trás. Tirei Sam da bolsa, o usei para levantar o queixo do meu refém.  E sensação de ter seu inimigo, submisso, segurando os sentimentos dentro dele, forçando-os a escorrer garganta a baixo como eu sempre fiz.     

  -Olhe para mim quando falar com você, seu rato covarde!

-COVARDE? – cuspiu em meus sapatos – O senhor, senhor Nicolas é o monstro covarde pervertido aos males do mundo aqui. SANGUE SUJA! E tudo que eu lhe dei, tudo que eu lhe fiz?! Manter-lhe nesse emprego a pedido de sua noiva, mesmo achando o senhor UM PORCO DESLEIXADO E PREGUIÇOSO!

Meu sangue ferver e por um momento achei que fosse soltar fumaça pelas narinas como uma fera bestial, minha visão ficou turva novamente, o sorriso mandibular voltou a dominar meu rosto, a respiração pesada... está na hora.

Girei a cadeira de costas para mim, aumente o volume da musica. Estralei os nos dos dedos, o balanço da musica me pareceu dominar vez ou outra. Desenrolei um pouco do plástico.

-Você nunca mais... NUNCA MAIS, vai falar sobre a minha Cloe.

Num movimento mais que rápido, cego de cólera passei o plástico no rosto do animal, se debatendo e lutando contra a asfixia iminente. A musica estava no auge das batidas loucas e oscilantes de jazz. Era animado, não como o jazz que se conhece por melancólico.

Meus músculos empenhados em manter o rosto dele contra o plástico, no vácuo, perdendo o ar, os dele tentando fazer exatamente o oposto.  Vosso narrador, como rapaz esforçado que sempre foi, conseguiu vencer a pequena disputa.

Soltei-o, ele caiu como uma fruta podre no chão, desacordado com rastros de lagrima no rosto. Não, mata-lo agora, seria muito piedoso.  Fui até minha valise, peguei um pequeno kit de costura. Costurar a pálpebra do olho direito no rosto, para que permanecesse fechado, só um olho, se não ele jamais veria o toque final da minha obra prima. Ainda desacordado, coloquei ele sobre a mesa, sua mesa. Amarrei bem para que não se mova muito durante a pequena extrassão que farei.

Prendi sacos de gelo nas mãos dele. Vai precisar estar bem anestesiado. Elásticos com arame para manter sua boca bem aberta. Vesti minhas luvas amarelas. Posicionei a luminária do escritório no rosto dele. Seus olhos começaram a tremer, um deles abriu, ele tentou gritar, mas a posição da boca fazia com que o som saísse estranho, era mais como um gemido muito alto.

-Sempre achei sua voz extremamente irritante.  Mas agora o problema acabou.

O olho aberto estava lacrimejando muito, vermelho e irritado, o outro estava tremulo, saltitando no lugar.

-Não precisa me agradecer por limpar o sangue do seu rosto.

Agarrei a língua dele com uma pinça, hora de agir Sam! Passei a faca, o movimento prateado rápido como um relâmpago cortando céu em noite de tempestade.   Ele soltou um grito agourento. Peguei meu pequeno premio, e enrolei em um lenço que trouxe. Coloquei no bolso traseiro da calça.

Um sorriso vitorioso brotou em meu rosto, assim que limpei tudo, ele não parava de se debater, hora de acabar logo com isso. Mas antes de pensar em um modo de acabar com o sofrimento do pobre animal, encontrei uma garrafa de whisky.    


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