Colecionador escrita por Cath Abreu


Capítulo 3
Epifania mortal


Notas iniciais do capítulo




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De volta para casa, eu não vi ninguém me seguindo, ninguém me encarou, estava tudo normal como de costume. Cheguei e a cena voltou a minha mente como um filme, as roupas espalhadas, meu cachorro Ronny jogado morto sobre o tapete pequeno da cozinha, meus pertences (os que restaram é claro) quebrados ou espalhados por toda a casa, eu tentei mas, as vezes um homem não se controla ao ver sua casa revirada e a esposa grávida morta no chão do quarto, eu fiz o que todos fazem nos filmes, me joguei de joelhos junto a ela, gritei seu nome aos céus entre soluços, bati as mãos fechadas no chão.  Nada adiantou, então voltei a realidade, atirei meu casaco no chão e fui pegar uma bebida.

Aquilo era como um curativo sobre uma ferida horrível, você olha pra ele, não é como vê-lo em si, mas você vê algo que te lembra exatamente a dor toda, exatamente toda a triste, você tem medo de tirar ele só para ver toda a desgraça do corte real.

-Ronny amigão, se lembra de quando fomos caçar nas montanhas? E você até pegou um coelho! –Acariciei a orelha do cão morto, estava tão bêbado que podia ouvir seus latidos alegres e as batidas de seu rabo no chão da sala, foi então que tudo começou... Minha nova vida, meu novo motivo de vida.  

Quando se caça, os caçadores levam um premio, comida pra a família ou um “troféu”  de sua caça. Algo para lembrar a adrenalina, o que sentiram na hora que venceram a outro ser. Na hora em que joguei o casaco, minha gravata e o que estava enrolado nela, voaram pela sala assim como Sam.

As orelhas, meu premio, meu suvenir, MEU. Simplesmente isso, quero dizer, estão mortos, para que precisam disso? Pra que precisam de algo? Peguei na geladeira um jarro de palmito em conserva e coloquei as orelhas ali, coloquei na geladeira, e ai dei uma arrumada na casa, levou algumas horas, entre juntar roupas do chão, repor objetos, jogar fora todo tipo de entulho, e por ultimo, o que fazer com minha mulher? Nunca tinha pensado no que faria se tivesse um cadáver em minhas mãos, um que importasse.

Então eu fiz o Maximo para limpar seu corpo, da maneira mais respeitosa possível, e deixei ela deitada sobre a cama, o presente que daríamos juntos a nosso filho estava embrulhado e repousava em seu colo.  Saí.

Comprei velas, um livro, cigarros, bebida, comida não perecível, formol, potes, ferramentas e polidor de prata, por ultimo um carrinho de pedreiro.

Voltando para casa, peguei tudo que poderia ser útil a mim e o que comprei, juntos os coloquei no carrinho de mão, meu novo meio de transporte, e é claro, no fundo do carrinho, uma mala com minhas roupas, mas não todas.

Meu plano era de uma simplicidade grandiosa, eu faria parecer que minha esposa Cloe, tinha ateado fogo na casa acidentalmente, então eu sairia despercebido logo no inicio do fogo, a noite, estaria escuro, depois de um tempo eu reapareceria, pasmo e dramático. O fogo teria sido supostamente provocado por velas.  

Horas mais tarde, tudo correu bem, agora estou vivendo em uma pensão, Dona Rosely me acolheu aqui gratuitamente, os outros inquilinos são um tanto quanto aborrecedores aborrecidos, Sr. Molly, um velho irlandês rabugento, aleijado, ele quase nunca sai do quarto. Senhorita Rink, uma moça de uns trinta anos, que não se casou, então ela vive para os rapazes, e é muito curiosa. Senhor Olaf, um homem extremamente conservador que gosta de criticar a todos, e sua filha Cassandra, que é uma garota muito religiosa e por fim o cavalheiro sentado em uma cadeira de balanço, no canto da sala, uma pessoa que parecia aquele tipo de pessoa que anda chamando atenção, mesmo sendo ele quem menos quer chamar atenção, mas está tão imerso e perdido no seu interior que nem nota os olhares queimando sobre ele. 


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