Colecionador escrita por Cath Abreu


Capítulo 2
Minha primeira vez




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-Vamos Annabeth, vai ser legal, amor com os mortos!

-Richard , seu gambá! Está tão bêbado que nem sabe mais o que fala...

Agora que eles tem nomes, só fico mais enraivecido, mais louco de cólera... Quando se sabe os nomes das pessoas que não gosta,  parece que eles te perseguem para aonde quer que você vá.

Ele a tomou nos braços e a beijou demoradamente, assistir isso sabendo que eu nunca mais amarei alguém, já me da um nó no estomago, acho que estou desenvolvendo ojeriza ao presenciar demonstrações de afeto...

Ele a debruçou sobre uma lapide envolvida por musgo e começou a beijar-lhe o pescoço, e roçar-se nela, estava me matando por dentro como um veneno de barata que foi ingerido por querer e você só fica esperando o óbito, você sabe que vai te matar, chegou um ponto em que perdi a visão clara, não respondia por mim, me curvei e peguei uma pá cortadeira suja e pesada, fui me aproximando de vagar, claro que eles estavam ocupados de mais, se preparando para perpetuar a espécie, a nojenta começou a rir e fazer sons sujos e pervertidos, demonstrando o quanto estava bêbada e o quanto aproveitava o gosto de êxtase, ele se curvou para beija, e então...

Então o cemitério foi recoberto por um véu de silencio, não se ouvi mais os passos de vosso narrador sorrateiro, não se ouvia mais os animais, nem os carros perdidos na noite, nem os dois ofegando, gemendo e sendo grotescos, só se ouviu o grito da garota nojenta que depois desmaiou. Ele caiu sobre ela, inconsciente e assim, eu senti o sangue em minhas veias novamente, o calor em meu corpo, meu coração batendo, e eu queríamos mais! Minha nova razão de viver, o novo fluido vermelho que fluiria em minhas veias.

Comecei a bater no rapaz inúmeras vezes, até sair sangue, isso só me fez gostar mais da situação, a sensação de estar no controle sobre um ser menor e mais fraco, a sensação de ter o poder para tirar uma vida, eu me senti forte e vivo, UM DEUS! então percebi que avia matado...

Matado uma pessoa, o filho de alguém, um humano, como o meu filho que nasceria, me sentei no chão, próximo ao cadáver, e foi quando, comecei a pensar, e se eles fossem como meus filhos seriam, vagabundos bêbados sem lei, que fazer o que querem sendo isso descente ou não, por um segundo me senti feliz que meu bebê não veria esse mundo sujo e podre, e nem ajudaria a apodrecê-lo.

Mas se foi um desses bastardos inglórios, vermes do mundo, que matou minha família, então minha raiva voltou, mais forte, vi no casaco do rapaz uma garrafa com rolha, a bebida era forte, desci tudo em dois goles, e ai não vi mais nada, a bebida desceu queimando e rasgando tudo, comecei a rir alto como um lobo uivando para a lua cheia, notei como a tal garota era bonita, mas quando se está bêbado e cego de adrenalina, o mundo todo é lindo, e me aproximei dela, recostei meu ouvido em seu peito quase nu, e ouvi seu coração, e gritei ao vento e a quem quisesse ouvir...

-AINDA ESTÁ BATENDO!

Soltei uma gargalhada, e a beijei, colei meus lábios na boca sem reação da garota, mas não com amor, com força, com ódio, então eu a estrangulei com toda a força que restava em meus músculos cansados. Ela estava chorando, dei um murro em seu rosto, minha mão ficou molhada com suas lagrimas e suja com a maquiagem barata, e ela caiu para traz da lapide e fez um som crocante. Crocante como o quebrar de ossinhos.

O céu fechou e a noite escura foi tomada por nuvens carregadas, iniciando uma tempestade, repentina de mais, parecia até que foi tudo programado para me limpar do sangue e enlamear meus sapatos, me sentei na lapide, junto aos cadáveres e aos recém cadáveres. Eu Havia Tirado Vidas. Mal podia conter os gritos de excitação em minha garganta molhada pela água da chuva.   

Peguei o corpo do rapaz e joguei numa moita, arrastei o da moça para o mesmo lugar, peguei a pá novamente, fui até o barracão no fim do cemitério, onde ficam as ferramentas do coveiro,  peguei dois sacos trançados que facilmente suportariam o peso, e um lindo facão de corte brilhante, quase novo e uma garrafa de vinho que estava perdida no meio de varias ferramentas, tirei meus sapatos, limpei-os e vesti um par de botas que estava encardidas de terra e lama. Com a chuva, meus sapatos ficariam enlameados e deixariam um rastro de sujeira pela cidade, isso seria realmente suspeito, mas o fato do pacato senhor Nicolas estar saindo do cemitério tarde da noite já era algo suspeito.

Até chegar ao local onde estavam os corpos frescos, a garrafa de vinho já estava meio vazia, eu estava ensopado e um pouco bêbado. Antes de tudo, queria uma lembrança do ocorrido, tentei o facão neles, cortando as orelhas esquerdas do casal, enrolei meus pequenos souvenires em minha gravata e pus no bolso, ai comecei o trabalho com a garota, cortei seus membros e a ensaquei, cavei um barraco, abri um tumulo antigo e sem nenhuma vela ou flores, e joguei o saco com a garota no caixão, como quando você é obrigado a entregar algo a alguém e joga com força para perto da pessoa, esperando que o objeto se perca ou quebre diante dos olhos dela.

Substituindo o corpo de um idoso que estava ali pelo da garota. Fatiei o corpo do rapaz que estava no arbusto, enquanto cantarolava, fatiei o velho, tudo isso com o lindo facão, ele brilhava e soava a cada corte como uma ferra de olhos prateados, meus braços já estavam cansados, coloquei os dois corpos em um mesmo saco, joguei no buraco que havia feito antes esse coquetel de pedaços, peças e ossos, e cobri de terra, as cabeças deles, enterrei em outro lugar, próximo onde ficam as ferramentas.

Limpei os objetos, com a água de uma torneira que tinha por ali, joguei um pouco de terra nelas, e as guardei exatamente aonde estavam, foi fácil saber aonde era, por que havia marcas de poeira, dei uma ultima olhada no facão, tão lindo e preciso, eu tinha que leva-lo comigo, mesmo que isso seja algo bem suspeito, “Venha comigo Sam, vamos ser amigos!”, peguei o facão e o observei novamente, tirei meu casaco e o enrolei, segurando-o como um bebê, “Pronto Sam, agora esta aquecido, não queremos que ninguém fique doente”.

Troquei meus sapatos e estava partindo, quando ouvi o grande portão do cemitério ranger, poderia ser alguém, enchi a garrafa de vinho com água e a tampei novamente, como a garrafa era escura, não se notava de longe, mas colocando contra a luz ficava visível a diferença, coloquei no lugar e saí pelos fundos do cemitério,  a rua estava deserta. 


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