— Se explique. E eu quero uma boa explicação, mocinho.

Evitei tremer enquanto encarava o General; ele definitivamente não estava de bom humor. Resolvi tirar a pose de machão por algum tempo para desabafar com ele. Agora, ele não era o diretor que dava medo, ou o ex-general quatro estrelas, era apenas o homem que me acolheu quando mais ninguém o fez.

— Eu não sei, ta legal? Essas semanas estão me deixando confuso com tudo! Eu e Macintosh estávamos nos alfinetando e... — Oh... — Ele disse... — Balancei a cabeça com força dispersando meus pensamentos, enquanto podia ouvir a risadinha de Rapunzel lá dentro. — Não interessa! Eu só sei que numa hora estávamos discutindo e na outra ele estava beijando meu punho. Eu não sei porque não gosto dele, pai. Não sei mesmo.

Meu pai me olhou de um jeito estranho, como se estivesse lendo meus pensamentos.

— Refresque minha memória. Macintosh não namora a DunBroch?

Revirei os olhos. — Sim, mas o que isso tem haver?

— DunBroch. A garota que você se queixa desde a quinta série. — Não eram perguntas. Eu já estava ficando impaciente.

— Sim, pai, a ruiva arrogante que anda fazendo muitas visitas para você esses dias.

Ele balançou a cabeça, talvez se lembrando de como ela realmente é.

Então, do nada, ele começou a rir; explodiu em gargalhadas escandalosas que me fez dar um salto assustado. As pobres janelas imediatamente começaram a tremer.

— Oh Jack. Então é isso... Devo admitir que demorou, hein? — E continuou a rir.

— Isso? Isso o quê?

— Vejo que ainda não percebeu. — Deu mais algumas risadas. — Bem, Jack, tudo o que devo fazer é te aconselhar.

“Por favor. Seria muito gentil da sua parte.” Pensei ironicamente.

— Se for para dar uma surra em Macintosh, não faça na escola, então eu não preciso ter que ficar te punindo, ta legal?

Alguns pais podem dizer “Violência nunca leva a nada”, ou “Nada que um bom diálogo não faça”. Já o meu diz: “Quebra a cara dele quando eu não estiver por perto para não precisar te suspender”.

Eu amo meu pai.

— Mas pai, se você sabe o que tem de errado comigo, eu adoraria se me dissesse. — Disse irônico. Será que ele não percebe o quão confuso estou?

— Jack, por acaso a DunBroch já teve outros namorados? — Maldito, fugiu completamente do assunto!

— Não, pai, não que eu saiba. Mas o que ela tem a haver com isso? Estamos falando de mim!

— Oh... — Então voltou a rir descontroladamente. Ele socava a bancada com força e eu já estava imaginando se iriamos ter que comprar outra quando ele finalmente se acalmasse.

— Qual a graça?! — Berrei exasperado.

— Oh filho... Você é tão idiota!

— Ah, valeu pai! Também te amo! — Exclamei jogando os braços por alto.

Ele balançou a cabeça, como se não acreditasse o quão imbecil eu supostamente sou.

— Filho, me desculpe, mas nisso você está sozinho. Eu não posso pegar na sua mãozinha e te ajudar, me desculpe.

Grunhi indignado e fui correndo para meu quarto. Ainda podia ouvir as gargalhadas dele. “Sabe Jack, ele tem razão. Você é um estúpido.”, ouvi Rapunzel dizer.

Ah, que ótimo! Agora minha própria consciência me acha idiota.

[...]

Hoje eu tive um sonho estranho. Bizarro para dizer o menos.

Eu estava em alguma boate bem movimenta. Tinha gente dançando em todo quanto é lado, enquanto eu estava do lado de fora tentando me esgueirar para dentro, mas não para dançar e sim para fazer algo realmente importante. Não me lembro o que era, mas a situação era desesperadora.

Estava quase dando um soco no segurança quando um corpo se jogou no meu. Sei que sou lindo e irresistível, mas ainda fico bem surpreso quando vejo garotas se jogando em cima de mim. Literalmente.

Comecei a acariciar a cabeça da garota que se jogou em mim, como um afago carinhoso. Tinha começado a chover e ela usava uma capa que tampava toda a sua cabeça. Eu, de alguma forma, sabia que ela estava chorando e sussurrava que tudo ia ficar bem.

Carrego-a para uma das lojas fechadas que tinham pela aquela rua e nos sentamos na calçada, meio protegidos da chuva. Seu corpo tremia pelos soluços e eu sentia uma dor enorme no coração, como se aquele choro também fosse meu.

Ela se deitou no meu colo e logo dormiu, quando descobri isso porque ela tinha parado de tremer. Dei um pequeno sorriso e acariciei seu braço, talvez pelo calor corporal, talvez porque gostasse de fazer carinho nela. Não tenho certeza.

Senti um imenso impulso de tirar aquela capa da cabeça dela e limpar suas lágrimas com beijos. Estava quase tirando a capa quando...

Fui violentamente derrubado da cama.

Maldito seja, Aster.

— Levante, girassol! — Ele disse enquanto sacudia meu corpo com tanta força que achava que meu pescoço tinha se tornado uma mola.

— NÃO! — Berrei exasperado. — CAI FORA ASTER!

Me joguei de volta a cama, tentando desesperadamente voltar ao sonho e descobrir quem era a garota. Ou pelo menos como ela era.

Aster me deu um soco na cabeça.

— Larga de ser idiota, ou ao menos tente, temos aula, esqueceu? O General disse — Aster limpou a garganta e imitou a voz grossa com um leve sotaque russo do meu pai. — “Faça o Jack acordar, eu até tentei, mas ele não para de resmungar algo sobre deixar ele entrar. Eu não vou dar carona para aquele inútil que não consegue nem invadir lugares no próprio sonho, se virem.”.

Meu pai me ama tanto que fico tocado.

— Tudo bem, seu babaca, agora cai fora daqui enquanto eu me visto. — Disse já tirando a camiseta e indo para o banheiro do corredor.

Aster piscou.

— Sobre isso... Jack, não! Espera!

Tarde demais.

Estava abrindo a porta do meu próprio banheiro e o que vi foi... Bem, foi algo que todo garoto de 16 anos sonha.

Uma garota sem a blusa.

O problema era que a garota era Ana.

Fechei a porta com tanta força que fez um barulho de trovão que ecoou pela casa. Demorou exatos dois segundos para eu a ouvir gritar.

Eu me dirigi para o meu quarto com passos rápidos e pesados.

— ASTER BUNNYMUND!

Aster se fez de desentendido e me olhou de forma falsamente indagadora.

— O que diabos a Ana está fazendo na minha casa, no meu banheiro, sem a droga da blusa?

— Me desculpe! Ela apareceu lá em casa e- Espera, sem o quê?

Talvez eu devesse ter fechado a boca depois de “banheiro”.

Aster pulou no meu pescoço e já estava me estrangulando quando ouvimos um pigarro acima de nós, já que estávamos rolando pelo chão.

— Oh... Ana... — De repente, Aster virou um coelhinho assustado. — Então. Sinto muito pelo que esse babaca fez! Ele devia ter batido primeiro!— Me olhou de forma acusadora.

— É claro. — Concordei com a cabeça. — Eu sou muito idiota por não ter batido na porta do meu próprio banheiro, cujo, eu achei que não tinha ninguém. Eu deveria ter pensado “Deve ter alguma garota com o sutiã a mostra do outro lado, melhor eu bater para o vento”.

As vezes minha impulsividade me faz perceber o quão idiota eu ajo. Aster estava praticamente roxo e estava com cara de “Você-será-o-meu-café-da-manhã!” e Ana estava tão envergonhada que cobria o rosto com as mãos.

Corri para o banheiro de forma tão rápida que talvez tenha deixado uma parte do corpo para trás.

Por garantia, tranquei a porta e refleti um pouco, percebendo que nem na droga do meu banheiro conseguia entrar sem alguma coisa acontecer – como meu amado pai disse - ou alguma garota estar envolvida.

Vida, você pode piorar?

[...]

Depois de levar dois socos de Aster e um tapa de Ana, estávamos indo para a escola a pé, os três lado a lado. Resolvi finalmente tirar uma duvida da minha cabeça.

— Então... Ana. – Ela me olhou de lado quando a chamei. - Posso saber porque você estava seminua no meu banheiro? Não que eu esteja reclamando. — Por garantia, me aconcheguei mais para o lado de Ana, caso Aster pule no meu pescoço novamente.

— Estava na casa de Aster, pensei em ir para a escola com ele, mas ele disse que não tinha nada em casa para comer. Eu disse que tudo bem, mas ele disse para irmos na sua casa, que íamos poder comer lá. Disse que não precisava te incomodar, mas ele insistiu. Aster disse que viu alguém por lá e ia te acordar, me disse para esperá-lo na cozinha. Ouvi o barulho da garagem, mas deixei para lá. Logo Aster desceu e disse para tomarmos café sem você, que você ia demorar. Só que ele me entregou a xícara com o café na mesma hora em que fui pegar a xícara da mesa, então ela caiu na minha roupa. Estava trocando de roupa na hora.

Olhei para a nova “blusa” que Ana estava usando.

— Essa não é sua jaqueta sem mangas favorita, Aster? — Foi uma pergunta retórica. Dei uma risadinha. — Então... Você está usando a blusa manchada por baixo, ou está usando apenas a jaqueta?

Levei um tapa tão forte na nuca que avancei mais dois passos involuntários.

— Pervertido! Está muito calor para usar duas blusas, ta legal? Se você fizer mais alguma piadinha... — Disse Ana em tom de aviso.

— É. — Disse Aster sombriamente. Recuei dois passos. — Fica na sua, Frost.

Resolvi ficar na minha. Rapunzel estava calada na minha mente, talvez esteja dormindo ainda, ou talvez tudo que ela ia me dizer como repreensão eu já ouvi e senti daqueles dois.

[...]

Estava com tanto medo daqueles dois que esqueci de perguntar como anda o status de relacionamento deles. Agora já estávamos na escola, e resolvi perguntar apenas para Aster mais tarde.

Flynn já estava no pátio, esperando Rapunzel, então decidi falar com ele.

— E aí, cara?

— E aí. Jack, o que o diretor North te deu? — Eu poderia fazer alguma piadinha com duplo sentido, mas pensei melhor e resolvi ignorar.

— Suspensão pelo resto do dia. Mas já posso assistir aulas. Perdi alguma coisa?

— Depende do ponto de vista.

Já ia perguntar o que quis dizer quando ele me deixou falando com o vento. Saiu de modo apressado e logo estava pendurado em cima de Rapunzel – que hoje estava vestindo um belo de um short jeans deixando suas lindas e torneadas pernas a mostra, para a total alegria masculina – tentando a esconder ao máximo.

— Oi Rapunzel. — Disse.

— Bom dia, Jack! — Ela respondeu alegremente. Ignorando o fato de Flynn estar praticamente em cima dela.

— Então, o que aconteceu ontem depois da briga?

Rapunzel corou e soltou algumas risadinhas. Flynn nem se incomodou em responder.

— As pessoas começaram a fazer apostas... Se você ia terminar o que começou, quais foram seus motivos e... — Ela deu mais uma risadinha. Isso não é um bom sinal. — O nome de Merida entrou em todas elas. Todo mundo acha que você está a fim da Merida!

É O QUE?!