Capítulo 22

POV Hermione Granger

– Ron, por que Harry ficou tão bravo comigo e você não? – Ron ficou com o rosto muito sério, algo bem raro nele. Ele parecia chateado com o que ia dizer.

– Harry não me disse nada, mas eu acho que ele pensa que você e Zabini estão namorando.

– Mas isso não o deixaria com toda aquela raiva.

– Não Mione, você não entendeu. Acho que Harry gosta de você.

Fiquei encarando Rony, incrédula. Como assim Harry gostava de mim? Ele não havia partido meu coração no começo do ano dizendo que estava apaixonado pela Cho Chang? Porque logo agora que eu finalmente havia me decidido Harry resolvia que gostava de mim? Quer dizer, se é que era isso mesmo, Rony podia estar errado. Harry sempre fora muito protetor e se preocupava mesmo comigo. Rony poderia apenas estar confundindo o cuidado de Harry com outra coisa.

De qualquer forma aquilo não saiu da minha cabeça durante todo o dia, eu preferi não descer pro almoço, Rony ficou preocupado com isso, tendo em vista que eu nem tinha tomado café da manhã, mas eu precisava ficar sozinha e pensar. Fui até a biblioteca e fiquei lá até pouco antes das aulas da tarde começarem, por sorte não fazíamos nenhuma daquelas aulas com Sonserina, ficamos alternando entre Corvinal e Lufa-Lufa e eu não tinha nenhuma aula extra com Malfoy.

Mas mesmo tentando pensar nas aulas e em outras coisas o que Rony havia me dito não deixava meus pensamentos quietos. Eu estava agitada e nervosa, eu nunca nem sequer pensei na possibilidade de que Harry pudesse se apaixonar por mim. Estava tudo errado, tudo de pernas pro ar. Primeiro eu era apaixonada pelo meu melhor amigo, depois me apaixono pelo meu inimigo, ele me corresponde, aí desisto do primeiro pra ficar com o segundo e agora meu melhor amigo resolve corresponder sentimentos que eu nem tenho mais? Meus deuses eu só podia ter ofendido a mãe do próprio Merlin pra merecer esse castigo. Resultado? Passei o dia inteiro sem prestar atenção em aula nenhuma, minha cabeça estava um caos, eu estava com sono, cansada, com fome e meu melhor amigo (que podia estar ou não apaixonado por mim) estava brigado comigo.

Quando entrei no salão pro jantar ele e Rony estavam sentados conversando, Harry parecia irritado e Ron parecia tentar explicar algo pra ele, mas assim que me viu, Harry levantou-se e foi sentar ao lado de Neville. Sentei com Rony e fiquei ali amuada. Comi praticamente em silêncio, que só era quebrado por algumas respostas curtas as coisas que Rony insistia em fazer pra tentar me animar. Vendo que suas tentativas só falhavam ele resolveu contar o que conversava com Harry antes que eu chegasse.

– Ele realmente está bravo com você. Eu disse pra ele que você havia ficado amiga do Zabini e ele ficou ainda mais irritado, disse pra ele que você não queria nos contar justamente por pensar que ficaríamos bravos com você, mas ele nem quis saber. Disse que você não tinha o direito de esconder essas coisas da gente porque somos seus verdadeiros amigos e que se o Zabini tinha se aproximado de você era porque queria alguma coisa. Disse que Sonserinos não fazem nada de graça e quando ele percebeu que você estava chegando disse que era pra eu lhe avisar que não era pra confiar muito nele, pois podia acabar quebrando a cara.

– Sei que vocês não gostam de Sonserinos, eu também não gosto, mas o Zabini não é um cara mau. Harry não pode me afastar dele por isso, é injusto. – disse a última parte baixando a cabeça pra esconder o rosto, ver Harry agir assim comigo me deixava triste e eu estava com os olhos marejados, lutando pra não chorar na mesa do jantar.

– Eu sei que é injusto. Mas eu já te falei o que eu penso que seja. – Rony ficou com o rosto sério novamente, havia tristeza em seu olhar. – Se Harry está gostando de você ele vai achar que esse papo de amigos é só enrolação.

– Mas Rony ele tem pelo menos que falar comigo. – disse ainda de cabeça baixa – Eu tenho o direito de tentar explicar, mesmo que ele não acredite em mim.

– Eu sei. Vou tentar convencer ele a conversar com você.

Mudamos de assunto até o acabarmos de jantar e então subimos pro salão comunal, peguei um dos meus livros e tentei estudar alguma coisa, sem sucesso claro, a cabeça ainda estava a mil por causa de tudo que acontecera durante o dia. Resolvi ficar observando Rony de esguelha. Ele conversava com Harry num canto do salão e Harry parecia contrariado, mas estava ouvindo, depois acho que mudaram de assunto e Harry ficou menos tenso, conversaram por mais uma meia hora e o salão começou a esvaziar. Rony subiu pro dormitório dos meninos e eu voltei minha atenção pro livro novamente.

Li por mais uns dez minutos enquanto os retardatários se recolhiam e eu me decidia se subia pra minha cama ou não. Eu devia estar exausta, e eu estava, mas sabia que não conseguiria dormir tão cedo. Me assustei quando Harry veio se sentar no sofá onde eu estava jogada, me ajeitei, fechei o livro e o pousei no colo e me virei pra encara-lo.

– Pensei que você já tivesse ido dormir, vi o Rony subindo.

– É. Eu ia, mas Rony me pediu que ouvisse você. Quero que você me explique essa história sobre o Zabini.

– Harry, não há o que explicar. Ele começou a falar comigo e no começo eu o rejeitei, mas nós acabamos virando amigos. Eu não queria ter amizades com sonserinos, mas o Blás não é má pessoa.

– Se era só amizade porque então você não contou pra mim e pro Rony, porque ficar mentindo e nos enrolando?

– Porque eu sabia que vocês iriam ficar bravos. E pra lhe falar a verdade Harry, eu esperava Rony agir daquele jeito e não você.

– Que jeito. Ficar com raiva por você estar mentindo pra gente?

– Não. Agir feito criança mimada. Depois que o Rony te contou sobre o que eu estava mentindo você preferiu continuar com raiva a vir conversar comigo e resolver. E Harry pelo amor de Merlin, quer me explicar porque você ficou tão bravo?

– Pensei que você estivesse tendo algo com o Zabini. Sei lá, pensei que você tava ficando com ele.

– Ok. E?

– E o que Hermione?

– Se eu estivesse Harry? Não tinha motivo pra você ter agido daquela forma. Bem, sei que você provavelmente estaria tentando me defender, aliás você está não é? Você é super protetor comigo e juro pra você, agradeço aos deuses por você ser assim, é como o irmão que eu não tive, mas...

– Mas nada Hermione, para.

– O que foi que eu...

– Eu estou preocupado sim, eu estava e estou tentando lhe defender, mas não diga que sou como um irmão pra você. Deuses, pare de mentir.

– E sobre o que eu estaria mentindo agora? – Harry tirou o livro que ainda estava no meu colo e o colocou na mesinha ao lado, então pegou minhas mãos nas suas e me encarou com seus olhos verdes.

– Eu já sei de tudo Hermione. Eu sei que você gosta de mim. Acha que eu não ia perceber? Você começou a mudar depois de eu ter lhe contado sobre estar apaixonado pela Cho. Eu não sou idiota Mi, sei juntar dois mais dois. Eu no começo rejeitei a possibilidade porque achei absurda, mas quanto mais o tempo passava mais você mudava, você foi se afastando da gente e começou a ficar estranha. Então eu percebi que essa era a única explicação, pensei nisso por muito tempo e comecei a perceber que meus sentimentos por você já não eram mais os mesmos. Percebi que não estava mais apaixonado pela Cho e sim por você. E então você foi me deixando mais preocupado com esse afastamento e as mentiras e eu não sabia como chegar em você, e então vem o Zabini com aquele bilhete e depois Rony me contando que você andava de papinho com ele por aí, você mentindo de novo. Eu explodi, eu fiquei morrendo de ciúmes, pensei que você tivesse me esquecido, me trocado, pior, me trocado por um sonserino. Eu tive medo de perder você. Quando Rony veio me dizer que vocês só eram amigos eu me recusei a acreditar, precisava ouvir isso de você, e agora que ouvi eu sei que vocês não tem nada. Mas aí você vem com “se” e me chamar de irmão? Não faça isso Mione. Eu já me sinto culpado demais por ter me apaixonado por você então por favor, eu lhe peço, não piore as coisas ok?

Eu não sabia o que pensar. Durante quase dois anos esperei que Harry me dissesse palavras como aquelas, dissesse que sentia o mesmo e que me amava, e agora que eu o havia superado ele simplesmente fazia isso.

– Harry, eu... eu não...

– Shhh. Mione, eu sei que você esperava que eu me tocasse mais cedo e eu lhe devo desculpas por isso, mas por favor. Diga que me aceita, diga que quer ser minha namorada e dê-me a honra de me acompanhar ao baile de Halloween nesse fim de semana.

Pelos deuses, o baile. Como eu podia ter me esquecido da porcaria do baile de Halloween? Claro, era meio difícil lembrar de um quando minha cabeça estava tão perturbada e mais ainda porque eu não tinha esperanças de que alguém fosse me convidar. No começo queria que Harry me convidasse, depois não queria que ninguém me convidasse e depois algumas vezes minha mente me fez imaginar como seria se Draco me convidasse, algo que era completamente impossível. Daí pra frente eu apenas ignorei o baile e acabei por esquecer completamente que o fim de outubro já seria no domingo.

– Não. – disse baixinho, olhei para ele, os profundos olhos verdes de Harry me encarando, ele não havia me escutado, eu sabia que o magoaria novamente assim que as palavras saíssem da minha boca, mas tinha que dizer. Reuni toda a coragem que encontrei – Não Harry. Não posso. Não posso lhe acompanhar no baile e não posso aceitar ser sua namorada. – Ele me olhou com o rosto demonstrando um misto de surpresa e decepção - Eu fui sim apaixonada por você, mas isso mudou. Sei que o que estou dizendo vai lhe magoar e acredite, eu sei o quanto dói. Mas Harry, você é meu melhor amigo. Eu me apaixonei por outra pessoa, me desculpe, me desculpe.

Lágrimas caiam copiosamente molhando minha blusa, eu havia baixado o rosto na última frase, eu jamais poderia olhar nos olhos de Harry e dizer que tinha me apaixonado por outra pessoa, eu não conseguia. As lágrimas estavam deixando minha visão embaçada, senti Harry soltar minhas mãos e virar-se no sofá, levantei meus olhos e ele fitava o fogo da lareira, perdido em pensamentos. Continuei chorando por muito tempo enquanto Harry apenas encarava as chamas da lareira. Eu já estava ficando preocupada com ele e pensei em aproximar várias e várias veze, mas tinha medo da reação que ele teria e por isso fiquei ali, apenas chorando, abraçada aos joelhos com o rosto escondido olhando pra ele de vez enquando pra ver se havia se mexido. Minhas lágrimas secaram, outras vieram e se foram e Harry continuava ali, imóvel, sem nenhuma expressão no rosto apenas fitando o fogo. Quando eu finalmente havia desistido de esperar que ele me respondesse ou dissesse algo, fiz menção de me levantar e o braço esticado de Harry me impediu. Olhei para o braço esticado na minha frente e fui virando lentamente o olhar na direção dele, Harry me olhava, e eu percebi que ele queria me dizer algo mas não tinha decidido se falava ou não. Fiquei parada ali apenas esperando até que ele baixou o braço e se dirigiu a mim.

– Como é que você me esqueceu tão rápido? Fui assim tão imbecil de não notar a tempo? Você realmente se apaixonou por outra pessoa Hermione? – balancei a cabeça em confirmação – Quem ele é?

– Harry, não, por favor...

– Eu sou seu melhor amigo não sou? Porque não pode me contar quem é o cara?

– Porque sei que você vai se magoar quando souber.

– É o Rony?

– O que? – me espantei, de onde Harry havia tirado aquilo?

– Não finja. É ele não é? Ele sempre foi apaixonado por você, era por causa dele que eu sentia culpa em ter me apaixonado por você. Você finalmente o correspondeu?

– Harry, não sei de onde tirou isso, mas não é o Ronald. Você e ele são meus amigos, meus melhores amigos.

– ENTÃO QUEM É HERMIONE? – ele gritou se levantando do sofá.

– Harry, shh. Todos os outros já estão dormindo.

– POUCO ME IMPORTA. QUEM É ELE HERMIONE? – de repente Harry pareceu lembrar de algo, ele me encarou com os olhos cheios de uma fúria assassina e me pegou pelos ombros. – Você mentiu não foi? É o Zabini não é? Que outro motivo ele teria pra simplesmente resolver virar seu amigo, e que outra razão você teria pra se aproximar dele. Pelo amor de deus Hermione. ELE É UM SONSERINO!

De repente vi Rony descendo as escadas, furioso, assim que viu Harry me segurando pelos ombros ele pareceu ficar fora de si.

– O que é que você pensa que tá fazendo Harry? – Disse dando um tapa nas mãos de Harry fazendo com que ele me soltasse - É a Hermione cara, porque você está ameaçando ela e porque todos esses gritos? Você acordou todos no dormitório masculino e provavelmente as meninas devem estar assustadas lá em cima.

Olhei pras escadas, as meninas estavam olhando o que acontecia encostadas na mureta que dividia as entradas de ambos os dormitórios e os meninos estavam descendo as escadas e se colocando entre mim e Harry. Os gêmeos se postaram ao lado de Rony e Gina desceu as escadas e colocou as mãos em meus ombros, me abraçando meio de lado.

– Não se mete nisso Ronald.

– Como assim não? Você tava gritando e atacando a Hermione! A HERMIONE CARA! O QUE MERDA ELA TE FEZ?

– NÃO É DA SUA CONTA!

Então todos fomos surpreendidos pelo barulho do quadro de entrada, ocupado por Sir Cadogan, dando passagem a uma McGonagall com cara de poucos amigos.

– Mas o que é que se passa aqui? Porque é que todos os alunos da Grifinória estão acordados às três da manhã? Porque toda essa gritaria? – Percy correu a responder.

– Desculpe professora. Ouvimos gritos vindos aqui da sala e descemos pra descobrir o que estava acontecendo.

– E quem estava brigando a essa hora da manhã? – Me apressei em tentar resolver as coisas.

– Professora, desculpe. Não era uma briga exatamente, Harry e eu estávamos discutindo e acabamos nos exaltando.

– Ora pare de mentir Hermione! – Rony virou-se para me encarar e depois olhou pra Minerva – Harry estava brigando com a Hermione, ouvimos os gritos dele e acordamos, reconheci a voz dele e desci, ele estava praticamente atacando a Mione, eles estavam brigados desde a manhã. E eu convenci eles a conversarem pra fazer as pazes. Obviamente não deu muito certo já que a Mione tá com os olhos vermelhos de choro.

– Pelas barbas de Merlin, todos os alunos acordados. Três da manhã. Todos para as camas agora. Quanto a você Sr. Potter, quinze pontos a menos para Grifinória e detenção. Está proibido de pisar no baile de Halloween. Srta. Granger, não sei o porquê das discussões de vocês e pouco me interessa, mas espero que não haja uma próxima vez para isto. – olhou para cima e viu que os alunos ainda olhavam curiosos – Não ouviram a minha ordem? Já para as camas.

Todos os outros foram se dispersando e voltando pra seus dormitórios e respectivas camas. Exceto por Harry, Rony, Jorge, Fred, eu e Gina. Minerva mandou que os gêmeos levassem Harry para a cama e Rony subiu atrás deles. Eu estava meio em choque, quanta coisa, era óbvio que isso amanhã seria a notícia de Hogwarts. Ó céus, só de pensar meu estômago já embrulhava. Olhei pra Gina e nós subimos as escadas enquanto Minerva saía de nossa sala comunal visivelmente atordoada.

Assim que entrei no dormitório, vi os rostos das outras meninas fixos em mim, Gina apenas me conduzia até minha cama. Troquei de roupa e coloquei meu pijama e observei Gina se recolher. Ela havia me dado uma olhada que dizia “Você precisa me contar tudo que aconteceu” antes de sumir atrás das cortinas. Fechei as minhas e olhei para o teto da cama, sem querer voltei a chorar. Será que as coisas poderiam ficar piores? Meu cansaço acabou por me vencer e eu adormeci enquanto chorava e pensava em como fazer as coisas voltarem ao normal.