Saio de casa mais uma vez, assim os meus pais iriam pensar que eu fui à escola, o que na verdade era em tese.

Chego à escola antes que o sino bata para começar a aula, fico sentada em um banquinho da praça de frente para a escola para tentar falar com ele antes que ele entrasse.

Depois de mais ou menos uns 10 minutos o vejo chegando, e para variar, com várias meninas ao redor dele, era só o que me faltava, corro em sua direção antes que ele entre e digo esbaforida:

_ Hiley, eu preciso falar com você. – Ele se vira surpreso para mim, por eu ter me dirigido a ele já que não é com muita frequência que isso acontece.

_ Com todo o prazer. – Responde ele, dando uma piscadela para mim, ele olha para todas aquelas meninas com um olhar de pena e diz. – Meninas, infelizmente eu vou ter que deixar vocês, mais tarde a gente se vê.

Dito isto, ele coloca um braço ao redor do meu pescoço e me leva para um lugar distante da escola, quando ainda estamos nos afastando ouço uma das garotas falarem:

_ Essa idiota quer tudo para ela.

Dirigimos-nos a uma árvore a uns 100 metros da escola e então ele se aproxima de mim, mas eu o empurro e ficamos um de frente para o outro:

_ Eu te disse para nunca mais triscar um dedo em mim.                                                              

_ Pensei que você tivesse me chamado para isso. – Diz ele dando um sorriso idiota.

_ Como se eu quisesse isso. – Respondo ironicamente.

_ Eu sei que você quer, só não quer admitir.

_ Cala a boca, o assunto que eu tenho a tratar é muito mais do que isso. – Levanto a cabeça e olho diretamente nos seus olhos. – Como é que você tem coragem de se divertir enquanto o seu irmão está sofrendo em sua própria casa, você ainda não se tocou o que pode acontecer se essa profecia se realizar?

_ Opa, opa, opa, pelo que eu sei quem fez todo esse estrago foi você e não eu. – Diz ele cruzando os braços e encostando-se ao tronco da árvore.

_ É por isso que eu estou aqui, para tentar concertar todo esse estrago. – Respondo, também cruzando os braços.

_ E o que eu tenho a ver com isso? – Pergunta ele apertando os olhos, como se quisesse adivinhar o que eu estava pensando, o que era bem óbvio.

_ Por qual outro motivo eu iria te procurar? Eu estou aqui porque preciso da sua ajuda para tentar acabar com essa profecia.

_ Uma profecia não pode ser desfeita. – Responde ele secamente.

_ Nada é impossível, e se tivermos que ir ao inferno para tentar desfazer, nós iremos.

_ Como assim nós? Você acha mesmo que eu irei te ajudar?

_ Eu não acho, eu tenho certeza, e vai ser agora. – Respondo puxando seu braço, teríamos que ir até a casa dele para resolver isso, ele se desvencilha de mim e fica parado, viro-me para ele e digo. – Hiley, vamos logo, não temos tempo a perder. – Digo tentando puxar mais uma vez a sua mão, mas ele a puxa novamente.

_ O que eu irei ganhar com isso? – Eu não acredito que ele tinha perguntado isso, era a vida do seu irmão que estava em jogo.

_ Eu só não soco a sua cara agora porque não temos tempo a perder, agora vamos. – Digo me virando e indo em direção a sua casa, ele dá uma risadinha atrás de mim e diz:

_ Duvido que você fizesse isso.

_ Cala a boca e vamos logo.

Fiquei surpresa quando ele me seguiu, assim corremos em direção a sua casa, chegamos lá em menos de 5 minutos, Lucy estava na porta com os olhos vermelhos, o que será que tinha acontecido?

_ Lucy, o que aconteceu? – Pergunto correndo em sua direção e a abraçando.

_ Joana, o David, eu estava na cozinha preparando o seu café da manhã e quando voltei ao seu quarto ele não estava mais lá, procurei por todos os cantos e nada.

_ Então quer dizer que o meu irmãozinho fugiu? – Debocha Hiley, aquilo já era demais, viro-me para ele e despejo tudo de uma vez.

_ Você é um idiota, frio, só pensa em você mesmo, enquanto o seu irmão pode estar Deus sabe onde, você está aí debochando, até um animal é mais humano que você, você não liga para o que está acontecendo ou para o que vai acontecer com o seu irmão, aliás, nem sei se você pode ser considerado como um irmão. – Paro para retomar o fôlego, aquilo já estava me cansando.

_ Não ligue para ele. – Diz Lucy.

_ Venha Lucy, vamos para dentro. – Digo, ignorando as lágrimas que rolam por minha face.

                                                               __**__

Sento-me de frente para Lucy e digo:

_ Lucy, eu sei que Louis já foi à procura de alguma forma de ajudar, mas como eu fui à causadora disso eu tenho o direito e o dever de poder ajudar também, a senhora tem alguma suposição de onde David pode ter ido?

_ Tenho. – Sussurra ela com a voz um pouco rouca.

_ E para onde seria? – Pergunto, tendo uma leve suspeita que eu não queria que fosse concretizada.

_ Para o submundo.

_ A senhora sabe alguma forma de podermos ir até lá? – Pergunto tentando manter a postura de uma garota não desesperada.

_ Você acha mesmo que eu vou com você até lá? – Pergunta Hiley encostado na soleira da porta da cozinha. Ignoro-o e continuo a esperar a resposta de Lucy.

_ Joana, eu sei um caminho que pode chegar até lá, mas é muito perigoso.

_ Dona Lucy, estamos falando de David, eu preciso fazer isso, não posso deixar que nada de ruim aconteça com ele por minha culpa, eu nunca me perdoaria.

_ Eu já não posso dizer o mesmo. – Diz Hiley.

_ Cala a boca. – Respondo. – E então Lucy, a senhora pode nos dizer?

_ Tudo bem, mas irei demorar um pouco para preparar tudo.

_ Preparar o quê? – Pergunto intrigada.

_ Para vocês irem até o submundo, eu preciso fazer várias poções, coisas da minha família.

_ A tá, tudo bem. – Respondo como se aquilo fosse à coisa mais normal do mundo. – Já que é assim, eu vou para a minha casa pegar algumas roupas, daqui a pouco eu volto, e você Hiley. – Digo virando-me em direção a ele. – Vá arrumar as suas coisas, não temos tempo a perder.

Ignoro a reação dele e vou correndo para a minha casa, eu iria para o submundo, teria que me preparar para tudo isso.

                                                                 __**__

Começo a arrumar a minha mala, estava pegando as primeiras roupas que eu via pela frente, teria que ser o mais rápido possível.

_ Filha, porque você não foi à aula... – Viro-me e é a minha mãe parada no meio do quarto. – O que você está fazendo? A onde você pensa que vai?

_ Mãe, eu não tenho tempo para explicar agora. – Respondo, tentando fechar a minha mala que parecia mais uma frasqueira.

_ Você vai me explicar agora mesmo. – Diz ela me empurrando para a cama e se sentando ao meu lado. – Pode começar.

_ O David vai virar um demônio e eu estou indo ao inferno para poder impedir isso. – Falo já me levantando, pegando a minha mala e saindo do quarto.

_ O quê? Como assim? Volte aqui. – Diz a minha mãe atrás de mim, viro-me para ela, dou-lhe um beijo no rosto, olho nos seus olhos e digo. – Mãe, confie em mim.

_ E as suas amigas? – Pergunta ela com lágrimas nos olhos.

_ Se elas perguntarem diga que se eu voltar eu explico, dá um beijo no papai por mim.

_ Como assim se você voltar? – Pergunta ela, mas eu já estava longe.

Chego à casa de David e pergunto:

_ Já está tudo pronto?

_ Sim. – Responde Lucy. – Vocês só têm que tomar uma colher dessa poção que fiz e estará lá.

_ Cadê Hiley? – Pergunto.

_ Estou aqui. – Responde ele. – Essa é a pior aventura que eu estou enfrentando.

_ Acredite, você não está sozinho.

_ Bom aqui está. – Diz Lucy entregando para cada um de nós um frasco com uma bebida verde dentro. – Antes de vocês beberem, eu quero desejar sorte para cada um de vocês, vocês irão encontrar criaturas inexplicáveis nesse outro mundo, então, por favor, nunca saiam um do lado do outro.

_ Pode deixar mamãe, eu prometo que nunca irei sair. – Diz Hiley dando um beijo em sua mãe, meu Deus, ele era capaz disso?

_ Lucy, eu prometo que irei encontrá-lo. – Digo dando um beijo e um abraço.

_ Eu acredito em você Joana, eu acredito em você. – Diz ela. – Agora podem tomar. – Fala ela apontando para o frasco.

Olho para o frasco e digo para Hiley:

_ Iremos tomar juntos.

_ Como você quiser.

No três nós tomamos o líquido, ele tem um gosto indecifrável, as minhas vistas ficam meio embaçadas e a última coisa que vejo é Lucy limpando suas lágrimas.