Finalmente eu a tinha em meus braços, podia sentir seu calor, seu perfume, a maciez da sua pele, estávamos tão próximos, nunca havia ficado tão feliz e realizado, desde o dia em que pus os olhos nela eu só conseguia pensar em ter um momento como esse. E agora estou aqui, no quarto dela, ao som de All You Need Is Love, com as mãos em suas costas e pernas, eu sei que devia parar, pode chegar alguém, mas não tenho força suficiente para isso.

Ele estava me deixando sem ar, mas eu não podia parar, estava envolvida de mais, e ele estava me causando, não sei, não achei que isso realmente pudesse acontecer, mas estou excitada, acho que é essa sensação, as mãos quentes dele percorrendo minhas coxas, melhor eu tomar as rédeas da situação antes que percamos o controle.

—Pedro, é melhor...-Ela disse se afastando, e sentando na cama, sentando na cama?! O que ela esta querendo?!

—O que? O que foi? Fiz alguma coisa? -Ele ficou todo envergonhado, que amor.

—Não, não fez nada de errado, mas acho melhor pararmos com isso, podia chegar alguém, seria difícil explicar, e também estou confusa. Por que fez isso?

—Eu entendo e concordo com você, estava tentando parar mas estava meio impossível.-Sentei na cama. Ah o que essa garota faz comigo? Se eu continuar aqui, tendo que olhar para esses olhos, esse rosto, esse corpo, não vou aguentar me manter longe.

—Você não respondeu, por que fez isso? Por que me beijou?

—Você quis que eu continuasse.

Ficamos em silêncio, não sabia o que dizer, eu havia trazido aquele garoto para o meu quarto, eu mal o conhecia, ele é mais forte que eu, poderia ter feito o que quisesse comigo! Agora estou arrependida, como vai ser agora? Como vou conseguir conversar com ele de novo e lembrar dos seus murmúrios e suspiros? Andar ao seu lado, sentir seu perfume e ter que me manter afastada?

—Eu acho melhor ir embora, como você disse, pode chegar alguém. Aqui estão seus brincos.- Retirei eles do bolso da bermuda e entreguei para ela.-Olha, isso que nós fizemos, não precisamos contar para ninguém, seria muito estranho e além do mais, foi só um beijo...

Ah garoto, foi muito mais que "só um beijo", acredite.

—Não vamos contar então. -Eu disse, levantando e estendendo a mão para ele.

—Certo. -Me levantei e apertamos as mãos como em um acordo. - Vou indo então...

—Obrigada por trazê-los para mim.

—Foi um prazer. Até depois. -Ele se virou e foi em direção à porta, os momentos que passamos juntos surgiram em minha mente e mais uma vez eu decidi agir.

—Espera, Pedro!

—O que foi?

—Poderia me dar um último primeiro beijo? –Devo ter corado, tenho certeza, nem sei como pude dizer essa frase olhando para aqueles olhos...

—Último primeiro beijo? -Preciso levar essa garota para casa, sério.

—Se não for um pedido absurdo e idiota.

—Não é.

Andei até ela, e a tomei em meus braços novamente, não havia muito tempo, possui sua boca com extrema urgência, não acreditava no que estava acontecendo, aquela garota, ora, ela me queria? Isso sim é idiotice! Desci os lábios por seu pescoço com beijos, exatamente como ela tinha feito, e reciprocamente nos arrepiamos, suas mãos pequenas sobre meu peito, tão frágil,mas tão sedutora, conseguia fazer de tudo para me arrancar suspiros incontroláveis e me fazer querer mais e mais. "Último primeiro beijo"? Não queria que fosse assim, esse não deveria ser o último.

A ideia de que ele não me negara mais um beijo me deixou encantada, ele me queria? Me sinto tão idiota ao pensar isso. Complexo de inferioridade me enchendo. Ter Pedro no meu quarto, com a casa vazia... O quão tarada estou? Por Deus Lola, o que está acontecendo? Você não era assim!

—Boa noite Lola.

E em questão de segundos, ele se afastou, quando abri os olhos, já estava sozinha novamente. Fui até a sacada, com a pernas trêmulas a me levarem, e o vi caminhar até o portão. Resolvi ficar mais alguns minutos ali, estava mesmo precisando de ar, o que aquele garoto me causara não está escrito na mais incrível obra de Shakespeare. Fiquei uns minutos observando a lua e as estrelas que haviam tomados seus lugares no teto escuro do infinito, e sem querer acabei olhando para a casa vizinha, a luz do quarto dele acendeu, resolvi que era melhor entrar, nada de conversas ou olhares a essa hora, ou eu não conseguiria dormir.

—FILHA! CHEGUEI! TEM COMO VIR ME AJUDAR A TERMINAR A JANTA?

Mãe? Mas já voltou? Quanto tempo eu fiquei deitada?

—Oi mãe, voltou rápido.-O balcão da cozinha estava lotado de sacolas, típico da minha mãe, não consegue ir no mercado e trazer apenas um produto.

—Está brincando comigo? Fiquei uma hora fora! O que fez de tão interessante que não viu o tempo passar, heim Dona Lola?

Se eu te contasse mãe, nem sei o que você faria...

—Estava estudando e acabei dormindo, deve ser por isso que passou tão rápido...

—Sei...

Alguns minutos depois meu pai chegou, e nós jantamos, ele contou que faltava pouco mais de duas semanas para a viagem deles, disse que estava muito animado, e eu pude ver o quão brilhante os olhos deles estavam. Deve ser muito bom ficar sozinha por um longo tempo com quem você ama. Fui para meu quarto, impressionante como aqueles minutos com o Pedro fizeram com que todo meu quarto ficasse com o cheiro dele, minhas roupas também, claro, ficamos tão próximos. Estou com um leve frio na barriga, depois daquela noite ridícula que quase perdi minha virgindade com um babaca, eu não havia beijado mais ninguém, e agora estava com aquelas cenas lindas repetindo e repetindo na minha cabeça, além, é claro, da excitação que senti, mas isso é um assunto em que tenho vergonha até de pensar. O mais difícil é que não posso contar isso para ninguém, nem para a Sophia, ela não acreditaria no que fiz e disse, mas me aconselharia.

Deitei na cama, e fiquei ali, observando o quarto, refazendo os beijos e abraços, vendo a cena como alguém de fora. Que saudade! Já tinha até me esquecido como é ficar pensando em alguém 3930157 horas do dia, e de cansaço acabei dormindo. Dormi tão profundamente.

Oh, darling.

Please believe me.

I'll never do you no harm.

Believe me when I tell you,

I'll never do you no harm.

(Oh Darling - The Beatles)

Meu primeiro pensamento, claro, foi o Pedro. Estou me sentindo uma garotinha apaixonada e patricinha, coisas que sempre tive repugnância, está ficando chato, mas não consigo evitar. Levantei, joguei uma água no rosto, vesti o uniforme e olhando para o espelho pensei se não seria melhor passar alguma maquiagem ou pentear melhor os cabelos, o que completa minha teoria que quando gostamos de alguém nos arrumamos mais e queremos impressionar. Peguei minha mochila e desci para a cozinha, encontrando a mesma cena de sempre, minha mãe preparando o cafe da manhã.

—Bom dia mãe! Tudo bom?

—Ora, ora, ora... bom dia minha filha, quantas palavras vindas de você logo de manhã...

—Se eu não falo você reclama, se eu falo você reclama! O que quer de mim?- falei rindo.

—Rindo também? Nossa! O que aconteceu? Não vai contar para sua doce e preocupada mamãe?

—Tenho que rir mesmo, é tão boba! Bom, acho melhor eu ir antes que você queira retirar alguma informação confidencial de mim. Tchauzinho!

—Filha, volta aqui e me conta!

Apertei o interfone e fiquei esperando, ansiosa, não sabia bem como iria agir, só que eu devia disfarçar para que as garotas não desconfiassem de nada. O portão se abriu e os irmãos apareceram, levei o olhos para a Duda imediatamente, evitaria contato visual com ele, assim seria mais fácil.

—Oi amiga! Nossa, o que aconteceu com você? O que é isso?

—Como assim?

Ela afastou meu cabelo para trás da orelha e apontou para algo.

—Isso!

—O que tem aí? Não estou entendendo.

—Essa mancha aqui, hmmm, parece que alguém te pegou de jeito e acabou deixando esse lembrete aqui.

O QUE?!