Meu Deus, o que eu faço agora? Como pude ser tão idiota? Deixar meu brinco cair no quarto dele? Não há desculpas para isso! O que eu direi, que estava apenas observando as coisas dele?

—Então, você quer que eu os leve aí?- O Pedro perguntou na maior inocência do mundo, não percebendo o conflito mental que estava ocorrendo ali, bem próximo, na sacada ao lado.

—Ah, eu não sei, pode ser, tem problema em trazer aqui? Não posso sair agora.

—Tudo bem, já já vou aí.

Que vergonha! Nossa, espera aí... ELE VAI VIR AQUI?! Olha só esse quarto está uma bagunça enorme, o Pedro não pode ver isso!

Corri feito doida pelo quarto juntando todas as roupas que estavam espalhadas e os sapatos que estavam fora do lugar, empilhei meus livros e discos da melhor forma possível, quando tudo terminou, olhei para o espelho e percebi que estava com a roupa toda úmida e os cabelos péssimos devido a água da piscina. Ele não me disse quanto tempo ia demorar, não sabia se eu poderia tomar um banho ou não, se ele chegasse e eu estivesse no chuveiro seria... bem, acho que eu não me importaria... O que estou dizendo? Esse menino está me deixando louca, uns desejos que eu nunca havia pensado que poderia ter. Decidi que o melhor a fazer era, primeiramente, avisar minha mãe que o vizinho poderia chegar para me entregar uma coisa que eu havia esquecido, isso já a deixaria nervosa, pois odiava que eu esquecesse das coisas, então resolvi nem contar que eram os tais brincos que pertenceram à minha avó Mafalda, depois eu tomaria meu banho tranquila, mas claro, eu deixaria explícito o meu desejo de ele entregar diretamente à mim, e não para ela.

Desci as escadas rapidamente, pronta para explicar tudo para ela, mas me deparo com um bilhete colado na porta da geladeira:

Filha, tive que ir até o mercado, esqueci de comprar a massa de tomate! Não fique preocupada caso eu demore, agora é hora de pico, vou tentar não pegar trânsito. Não estou levando as chaves!

Beijos, mamãe.

Melhor eu apressar meu banho já que agora não terei uma "recepcionista". Entrei no chuveiro, passei o shampoo e condicionador o mais rápido que pude, em menos de sete minutos eu já estava me secando e indo até o guarda-roupa, coloquei um short jeans e uma blusa regata mais soltinha, penteei o cabelo,que ainda estava molhado, mas nem me preocupei em secá-lo, gosto tanto dele assim. E pronto, nada mais, afinal, eu nem sabia se ele passaria do portão! Fui até a sacada e percebi que a luz do quarto dele estava apagada, e dentro de alguns segundos o interfone tocou, esperei alguns momentos, fui até o corredor, apertei o botão e voltei para a sacada. Eu não tinha muito bem um plano, mas queria que ele viesse até meu quarto, não me julgue, não pretendo fazer nada com ele! Mas preciso desse momento. Voltei para a sacada e vi que ele estava mesmo entrando!

—PEDRO!- Ele olhou para os lados para saber de onde vinha a voz. - AQUI EM CIMA!

—Oi, sua maluca!- Ele disse, finalmente me vendo.- Não vai descer, não?

—Estou tão cansada, se importa de trazer aqui?

—OK, mas por onde eu entro?

—Continua até o fim do corredor, então sobe as escadas que tem na sala, a porta do meu quarto ta aberta.

—Já vou.

E foi nessa hora que eu me desesperei, que ideia foi aquela, trazer um menino para o meu quarto? Se minha mãe descobre uma coisa dessas ela me mata! Mas poxa vida, isso é tão emocionante, quebrar as regras, estar no limite, acho que é essa adrenalina que as pessoas sentem quando estão fazendo algo que sabem que é errado, porém bom. Ouvi os passos dele nos primeiros degraus, e por impulso peguei o primeiro disco que vi pela frente e coloquei para tocar, não sei porque, mas senti que isso me acalmaria, o que de fato aconteceu. Foi quando, mesmo com a porta escancarada, Pedro bateu:

—Será que eu posso entrar?

Ele estava com o cabelo molhado também, e mesmo estando separados por vários metros eu consegui sentir seu perfume, tão bom, o mesmo perfume que havia ficado em mim durante a tarde.

—Claro, fica à vontade. -Se quiser deitar na cama e tirar essa camis... Lola, para! Se concentra!

—Eu acho que isso pertence à você... -Com passos lentos ele veio em minha direção, levantou a mão e eu estava esperando para dar de cara com os brincos dourados quando fui surpreendida por um beijo. UM BEIJO! O Pedro simplesmente voou em direção a minha boca, eu fui invadida por aquele choque, eu não podia nem acreditar, tão bom e ele parou...

—Me desculpa Lola, eu não devia ter feito isso, desculpa mesmo.-Ele levou a mão à cabeça e abaixou o rosto levemente corado.

Não, não podia acabar assim, eu tinha que fazer algo, dizer algo!

—Tem razão, você não devia ter feito isso.-Ele fechou os olhos, envergonhado.- Você não devia ter parado.

Com um movimento rápido ele me encarou, com a expressão confusa, as bochechas ainda mais vermelhas, variando olhar para minha boca e meus olhos, eu sorri para ele, e foi quando, mais uma vez, todo meu corpo relaxou, pude sentir seus lábios macios, as mãos quentes subindo e descendo nas minhas costas e braços, seu perfume me hipnotizando e seu calor, tão delicioso,que me deixava tranquila e protegida. Eu precisava de mais, mesmo ali, grudados, precisava dele mais perto. Desci toda a extensão do seu pescoço com beijos e Pedro me agarrou pela cintura, os braços rígidos, me prendendo entre ele e a parede... Há essa hora eu já não ouvia mais nada... Não sei dizer qual música tocava, não sei qual dos Beatles cantava ou que horas eram. Apenas me lembro do beijo viciante, das mãos que desciam pelas minhas costas e pernas, do seu perfume e do intenso abraço. Me lembro de todo o amor e da felicidade.

Eu lembrarei de tudo. Tudo que é importante. Sempre e para sempre.