Seu último amor - Klaroline escrita por Jeniffer


Capítulo 4
Infinitos


Notas iniciais do capítulo

Antes de ler o capítulo novo, vou dar as boas notícias:a querida Eduardaaa está criando os looks da minha fic!!
Vou deixar o link no final. Deem uma olhada nas criações dela. São fantásticas!!

Agora, vamos à leitura.
Está na hora de outro personagem entrar em cena, não acham?
Aproveitem!!



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"Infinitos não são feitos para explorações casuais."

Sonhos com deuses e monstros, por Laini Taylor. Citação da página 379, na edição de 2015, da editora Intrínseca.

 

Acordei repentinamente de um sonho ruim. Depois de passados aqueles primeiros segundos de confusão, primeiro lembrei-me que estava em meu quarto, na casa de Klaus. Depois percebi que estava chorando. Puxei os cobertores até que eles cobrissem minha cabeça, e respirei lentamente, tentando me acalmar. Eu não conseguia me lembrar do sonho que tivera, mas eu sabia que era algo perturbador. A sensação de dor, desespero e solidão ainda estavam em mim. Quando estava um pouco mais calma, sentei-me na cama.

Havia uma pequena fresta entre as cortinas, deixando uma nesga de luz entrar. Peguei meu celular para verificar a hora. 7h18min.

­­— Muito cedo... – resmunguei. Mas mesmo assim, joguei os cobertores para o lado e saí da cama. Eu precisava me livrar daquela sensação tão ruim que estava me oprimindo. Abri as cortinas e deixei a luz do sol entrar e iluminar todo o quarto. Inconscientemente, toquei meu anel. Eu ficava muito agradecida a Bonnie todas as vezes em que eu sentia o sol em minha pele, e ela permanecia intacta. Se ela não tivesse enfeitiçado aquele anel para mim, eu nunca mais poderia sentir o singelo prazer de sentar em um parque para aproveitar uma tarde ensolarada. Suspirei. Eu sentia saudades dela...

Observei a bela vista que eu tinha daquela janela. Era incrível como tudo tinha mudado tão depressa. Eu estava em New Orleans há quase um mês, e me adaptei tão rápido que sinto como se estivesse aqui minha vida toda. E graças aos Klaus eu já conheço absolutamente tudo sobre os principais e mais interessantes pontos da cidade.

Klaus era, sem a menor sombra de dúvida, o melhor guia turístico do mundo. Visitar a cidade com ele era uma surpresa incrível. Ele não irá lhe contar sobre a arquitetura, os acontecimentos que marcaram época, como se tivesse lido tudo na internet. Klaus contava como contribuiu com a construção de um determinado prédio, e como foi a festa de inauguração. Ele discorria sobre o amor não correspondido do artista de um determinado quadro e explicava o porquê daquela paisagem pintada ser tão importante para o artista. Ele sabia de detalhes fascinantes e sabia por experiência própria.

Sentei-me em minha cama e mais uma vez verifiquei a hora. Liguei para delegacia de Mystic Falls.

— Filha! Que bom que me ligou! – minha mãe atendeu ao quarto toque, parecendo surpresa.

­—Oi, mãe! Como você está? – perguntei. Eu não ligava regularmente para ela, algo que me incomodava, mas os meus dias eram tão cheios... Klaus era um guia turístico muito disposto. E por mais que passássemos o dia inteiro fora e eu voltasse para casa completamente exausta, eu não conseguiria agir de outra maneira. Klaus fala da cidade como um pai orgulhoso fala de seu filho. Cada coisa que ele me apresentava era descrita com paixão, entusiasmo. Klaus amava New Orleans.

— Eu estou bem. Com saudades de você. Muita. – ela disse um pouco emocionada.

— Eu também estou com saudades, mãe...

— Caroline, eu não estou lhe cobrando, entenda. Mas eu gostaria de ter perguntar... – ela hesitou. – Quando você pretende voltar?

Eu tive a impressão de que o que ela realmente gostaria de perguntar era: “Você pretende voltar?”.

— Eu não sei, mãe. E que tudo está tão... Rápido. – eu ri, rapidamente.

— E como está a viagem?

—New Orleans é incrível, mãe! Você precisa conhecer um dia. Tudo aqui é fantástico! – acho que o entusiasmo de Klaus perante a cidade era um tanto contagioso.

— E você e o Klaus? Como estão as coisas, Caroline? – fiquei surpresa pelo modo como ela perguntou. Ela pensava em Klaus e eu como “nós”. Uau.

— Ele tem sido um verdadeiro cavalheiro, mãe. Eu posso garantir. – eu afirmei.

— Bem, eu espero que tudo esteja indo bem. Não foi por isso que você viajou?

— Exato. – respondi. Mas, será que era isso? Eu viajara para conhecer o verdadeiro Klaus. À esta altura eu posso afirmar que conheço muito sobre ele, mas... Quem ele é de verdade? Eu não sabia o quão próxima eu estava de conhecê-lo realmente.

— Filha, nós temos um caso em mãos... – minha mãe lamentou. – Eu preciso desligar.

— Tudo bem, mãe. Não interrompa seu trabalho por minha causa. – eu disse.

— Tudo bem. Mas me ligue mais vezes, está bem?

— Está bem. Eu vou ligar. – prometi.

— Eu te amo, filha.

— Eu te amo, mãe. – desliguei.

Desci as escadas e fui para a sala, onde a mesa para o café da manhã já estava posta. Klaus estava parado à janela, e não se virou quando disse:

— Bom dia, Love.

— Bom dia. – respondi, sentando-me.

— Como está sua mãe? – ele perguntou, ainda olhando para a janela.

— Está bem. Obrigada.

— Você me pareceu agitada. O que houve? – agora ele se vira, e seu olhar parece preocupado. Não gosto disso. Não estou acostumada com o Klaus inseguro, hesitante, superprotetor que ele tem sido comigo. Ele age como se eu pudesse escapar por entre seus dedos antes que tenha a chance de fazer algo a respeito. É... Angustiante.

— Eu tive um sonho ruim. – servi um pouco de suco. – Mas eu nem mesmo lembro sobre o que.

— Ah... – ele sorri, aliviado, sentando-se também. Ele não iria tomar café sem mim. Resolvi deixar o clima mais leve.

— Eu me lembro do que você me disse uma vez. – ele ergueu os olhos, curioso. – De que um dia eu ia aparecer em sua porta e te deixar me mostrar o que o mundo tem a oferecer.

­— E eu estava certo. Garoto de cidade pequena, vida de cidade pequena, não foi o suficiente para você.

— Mas você estava errado em uma coisa: isso não levou um século. – eu ri.

— Eu esperaria por você, Caroline. Mesmo que levasse um século. Ou até mesmo mais. - Mesmo não querendo, lembrei-me de quando deixei Tyler, e de como ele mesmo disse que não me esperaria para sempre. Eles são tão diferentes...

Klaus conseguia mudar muito rapidamente, e isso deixava evidente muitas coisas para mim. Quando se tratava de mim, de meu bem estar, de meus pensamentos e sentimentos, ele era muito hesitante, muito cuidadoso. Aquele era um terreno que ele ainda não conhecia. Mas quando se tratava do que ele sentia por mim, ele falava com intensidade, resoluto. Afinal, aquele era um terreno que só ele conhecia.

— Então... – tentei quebrar a tensão no ar. – O que o mundo tem a oferecer hoje à noite?

— Um amigo vai abrir um novo restaurante de comida italiana no centro da cidade. Ótima comida, um ambiente aconchegante. – ele voltou a falar com orgulho, e não duvidei nem por um segundo que ele participara do planejamento daquele restaurante. - Pensei que você gostaria de conhecer. Tenho certeza de que você irá gostar.

— Eu adoraria. – respondi. Klaus tinha uma capacidade impressionante de compreender o que eu gostava ou não. Há duas semanas sugeri que visitássemos um bar. Eu já havia passado por ele algumas vezes, e fiquei curiosa. Klaus disse que não, pois eu não gostaria do lugar. Insisti e ele acabou cedendo. Depois de trinta minutos eu levantei e fui embora. O bar era extremamente barulhento, com pouquíssimo espaço e drinks com absolutamente nada de diferente. Klaus levou-me para outro bar, há uma quadra dali, sugerindo-me tentar aquele. Lembro-me que só saímos de lá cinco horas depois.

***

Klaus disse que tinha assuntos a tratar na cidade e que ele demoraria, então passei o dia fazendo compras. Eu ainda tinha um pouco do dinheiro que trouxera, mas não iria durar muito. Eu precisava dar um jeito nisso, e isso não envolvia aceitar dinheiro do Klaus. Ele ofereceu-se para pagar minhas despesas, já que, segundo ele, eu era sua convidada de honra. Mas isso não parecia certo. Afinal, já que eu não estava ficando no hotel, sobrava um pouco mais de dinheiro.

Agora que eu já conhecia boa parte da cidade, as minhas compras foram mais focadas. Eu sabia onde as melhores lojas estavam localizadas, e isso me poupava muito tempo. Entrei em uma loja de vestidos e fui procurar algo para usar na inauguração.

Nenhuma das três atendentes se prestou a atender-me. Comecei a olhar os vestidos sozinha, mas eu podia sentir os olhares delas sobre mim. Não fiquei nem mesmo dez minutos naquela loja.

Comprei um vestido novo para a inauguração do restaurante em outra loja, onde ao menos eu fui atendida. Voltei para casa, mas Klaus não estava lá. Havia apenas um bilhete em cima do meu travesseiro. “Precisei sair, mas estarei de volta antes das 20h. Espere por mim, sweetheart. Love, Klaus.” Bem, isso me dava exatamente duas horas para me preparar. Então, era melhor começar.

***

Eu estava quase pronta. Fiquei em frente ao espelho e cuidadosamente coloquei minha presilha no cabelo. Deu uma volta, observando-me de todos os ângulos possíveis. Eu não sabia se eu estava de acordo, afinal eu não conhecia o restaurante.

— Caroline? Está pronta? – Klaus bateu à minha porta. Lancei um olhar fugaz para o relógio. 8h em ponto, é claro.

— Sim. Vou descer em um minuto. – falei.

Coloquei meu celular dentro de minha bolsa e saí do quarto, fechando a porta atrás de mim. Desci as escadas, ciente de que Klaus me observava, enquanto estava recostado no sofá da sala.

— Você está deslumbrante, Caroline. – ele disse, pegando minha mão e beijando-a suavemente.

— Você também está. – foi um elogio sincero. Não conheço nenhum homem que fique mais bonito em um terno do que Niklaus Mikaelson. – Vamos?

— Ainda não. – ele disse, um pouco nervoso. – Só falta uma coisa.

Ele voltou ao sofá em que estava recostada há um minuto e pegou uma caixa preta, não muito grande, com um delicado laço branco. Como o sofá estava virado para o outro lado, eu não a vira lá. Klaus a segurou nas mãos, parecendo indeciso.

— Eu tenho um presente para você. – ele disse.

—Um presente? – Klaus entregou-me a caixa. Era leve e delicada. Eu a abri e ofeguei. Dentro da caixa repousava um colar lindíssimo. Uma corrente dupla de prata, em que as correntes se entrelaçavam até chegar em um intricado pingente de arabescos, este todo formado por pedras. Eu poderia apostar que eram diamantes...

— É lindo, Klaus. – eu sussurrei. – Obrigada.

—Allow me. – ele pegou a caixa da minha mão e me guiou até o espelho no corredor. Gentilmente, ele colocou o colar em meu pescoço. Era incrivelmente bonito.

— Obrigada. Eu adorei. – eu disse, sinceramente.

­Klaus não respondeu, apenas sorriu, enquanto observava meu reflexo no espelho.

— Vamos? – ele me ofereceu seu braço, e eu o aceitei, acompanhando-o a porta.

— Nós vamos caminhar? – falei, quando ele não fez menção de pegar o carro.

—Se você não se importar... Não é muito longe daqui.

— Não, eu não me importo. Tudo bem. – me parabenizei mentalmente por ter desistido do salto alto e escolhido algo mais confortável.

Ele hesitou por um momento, mas por fim decidiu pegar minha mão. Ele entrelaçou seus dedos nos meus, e me olhou como se pedisse permissão. Eu sorri e desci o primeiro degrau da escada, deixando claro que estava tudo bem. Pois estava mesmo.

Nós caminhávamos calmamente pela calçada, ainda molhada da breve chuva de mais cedo. As árvores e flores pareciam brilhar com o reflexo das luzes na água acumulada em suas folhas. Havia uma brisa muito leve soprando, e mesmo não sentindo a temperatura, era uma noite quente. E eu sabia. Eu não lia mentes, mas podia ver no rosto das pessoas que passavam por nós o que eles estavam pensando. Para eles, éramos apenas um casal passeando juntos, de mãos dadas, saindo juntos. E quando olhei para nossas mãos juntas, tudo parecia certo. Eu gostava do toque dele, da segurança que me passava. Eu também sabia que não deveria me sentir assim, mas se alguém sabe como combater sentimentos assim, por favor, me ensine. Acho que eu poderia aprender sozinha, mas a questão é: eu não queria. Eu não queria mais combater aquilo. Tudo tinha ficado tão mais fácil quando baixei minha guarda, quando despi minha armadura e me permiti ficar perto do Klaus sem me preocupar em combatê-lo o tempo todo.

E então percebi que a hesitação dele quando perguntava algo sobre mim se dava pelo simples fato de ele não saber o que eu estava pensado agora. Klaus não sabia o quão feliz eu estava neste último mês que passei ao lado dele, em New Orleans. Ele não sabia que agora, caminhando de mãos dadas com ele, eu desejava que a caminhada fosse muito longa.

— Klaus...

— Chegamos. – ele falou ao mesmo tempo em que eu comecei a falar.

— O que você ia dizer? – ele perguntou.

Mas, o que eu queria falar? Queria dizer que tudo o que estava pensando, dizer que estar com ele nestas últimas semanas tinha sido tão fácil quanto respirar. Mas, na última hora, me contive.

— Nada. Vamos entrar.

***

O restaurante já estava praticamente cheio. Mas Klaus só precisou se apresentar na recepção e fomos levados para uma ala reservada. O ambiente em si não era muito grande, mas o pouco espaço era muito bem aproveitado. As mesas eram lindamente decoradas, com narcisos brancos no centro de cada uma delas. A iluminação, na área em que estávamos sentados, era um pouco mais fraca, criando aqueles ambientes à meia luz que davam certo ar de calma. Havia uma música instrumental tocando, em um volume alto o suficiente para permitir que os humanos conversassem sem ruídos. Porém, perto de nossa mesa, o som quase não existia. Isso me fez acreditar ainda mais que Klaus estava envolvido no projeto.

O garçom ofereceu-me um cardápio e escolhi algo leve. Klaus fez seu pedido e escolheu um vinho. Foi uma boa escolha. Eu entendia um pouco sobre vinhos, já que meu pai os adorava. Ele me ensinou algumas coisas.

— Este colar também tem uma história? – perguntei, depois que o garçom se afastou.

— Esta é uma das vantagens de se ter mil anos, sweetheart. Tudo sempre tem uma história. – Klaus respondeu, com um sorriso.

—E você pretende me contar?

— Se você quiser. – ele deu de ombros, mas eu vi um traço de tristeza em seus olhos. – Eu já lhe contei sobre Tatia?

—Aquela história da peça de teatro? – perguntei, um tanto surpresa por ele estar falando disso.

— Exatamente. Isso aconteceu há muito tempo... – ele olhava para o nada com ar nostálgico. – Tatia era belíssima, e um ser humano inigualável. Ela era bondosa, carinhosa e extremamente altruísta. Até mesmo comigo...

O garçom serviu o vinho, interrompendo o relato de Klaus. Eu experimentei, e já coloquei o restaurante no topo da minha lista de favoritos.

—Eu amei Tatia. Porém, Eljah também a amava. – Klaus também experimentou o vinho, e sua expressão era de aprovação.

— Na peça, a família não a aceitava... Foi isso que aconteceu?

—Não necessariamente a família, mas minha mãe. – ele estava com certa dificuldade de me olhar nos olhos. – Elijah e eu nos tornamos inimigos por causa dela, e minha mãe não gostou disso. Então ela a levou.

Eu tinha prestado bastante atenção na peça para saber o que “a levou” significava exatamente.

— Quando minha mãe nos transformou em vampiros, - ele continuou. – foi o sangue de Tatia que bebemos. Mas eu só descobri isso depois...

— Eu sinto muito... – falei, sinceramente. Eu sabia que a mãe de Klaus podia ser muito cruel quando queria.

— Eu fiz este colar para Tatia. – ele disse.

—Você fez? – eu fiquei impressionada.

— Eu o fiz com muito carinho, com muita dedicação. Tatia o adorava. Depois do feitiço de minha mãe, eu tive medo de que ela nunca mais quisesse me ver. Fui procurá-la e encontrei o colar, e então descobri o que minha mãe fizera. – ele me olhou nos olhos. – Eu prometi a mim mesmo que guardaria o colar até que encontrasse alguém digna de usá-lo.

Eu não sabia o que pensar sobre isso. Klaus fizera aquele colar para Tatia, e agora o estava dando para mim. Ele acredita que eu sou digna de usar algo que fez com tanto amor... Com todo o amor que ele um dia sentiu. Amor que talvez ele sinta novamente.

— Bem... Obrigada. Eu adorei.

Tudo seguia tranquilamente, até que ouvimos a incômoda microfonia de um microfone sendo ajustado. Olhei para o pequeno palco a alguns metros de nós, mesmo que até então eu nem mesmo o tivesse notado. Um homem dirigia-se para lá.

—Boa noite a todos. Eu gostaria de lhes dar às boas vindas ao novo restaurante de meu querido amigo Kyle. Aproveitem a noite.

Eu o aplaudi, como todos no restaurante fizeram. Bem, nem todos. Klaus ficou imóvel.

E então eu senti, pois afinal de contas foi tão nítido que seria impossível passar despercebido. Klaus estava relaxado, e de repente cada nervo de seu corpo se retesou, e por um momento a raiva que ele demonstrou foi tão grande que eu pensei que fosse fazê-lo explodir. Ele fulminava aquele homem com o olhar, mas ele começou a cantar, muito bem por sinal, e nem mesmo percebeu os olhares. E quando seus olhares se cruzaram a voz dele hesitou por um milissegundo, nada que um humano pudesse perceber, mas o fez ficar mais alerta. A agressividade era tão densa que eu poderia tocá-la.

—O que está havendo? Você o conhece? – perguntei.

— Por que não voltamos para casa, Caroline? – Klaus estava nervoso, e eu vi o quanto lhe custava continuar sendo gentil comigo, quando parecia que ele gostaria de simplesmente me colocar sobre o seu ombro e me levar embora dali.

— Já? Nós ainda nem começamos a comer... – não fazia muito tempo que estávamos lá, e eu estava aproveitando o momento . Eu não sei o que o fez ficar tão nervoso.

— Caroline, por favor. – ele lançou um rápido olhar para o cantor, e ficou mais tenso ainda. Pelo visto, o cantor optara pela menor versão da música, pois ele já estava deixando o palco, sendo aplaudido calorosamente. E então veio em direção à nossa mesa. —Não diga nada.

Klaus se esforçou para colocar um sorriso no rosto, mas eu sabia que aquela era apenas uma máscara. Ele estava possesso.

— Niklaus. – o cantor manteve sua voz controlada, mas ele também sorria.

— Marcel. – Klaus retribui o cumprimento, porém com uma frieza que poderia ter matado todos os passageiros do Titanic em segundos.

— Não o esperava aqui esta noite. – como Klaus estava se esforçando para não ser hostil, ele tentou amenizar o momento. – Achei que você não gostasse de comida italiana.

— E não gosto. Mas Kyle é um velho amigo, eu vim apenas prestigiar o evento. – Klaus estava claramente tentando fazê-lo desistir de ficar ali. Mas pelo visto ele tinha encontrado a personificação da teimosia.

— Entendo... – Klaus disse.

De repente, o tal Marcel pareceu me notar.

— Sangue novo? Com certeza você não é daqui. Eu me lembraria de alguém tão bonita. – Marcel estendeu a mão para mim, e o cumprimentei com um brevemente com um “olá” quase inaudível.

Klaus levantou-se e colocou uma mão sobre o ombro de Marcel. Com um pouco mais de força do que o habitual.

— Por que você não volta a cantar, Marcel, enquanto sua língua continua em sua boca? – Klaus falava baixo. – Você está me interrompendo.

Marcel riu, e então olhou para mim como se finalmente entendesse algo importante, como se tivesse resolvido um complicado problema matemático. Aquele olhar me fez tremer.

— Claro. Kyle pediu um show completo.

Marcel saiu com um enorme sorriso em seu rosto. Klaus voltou a se sentar e então começou a olhar ao redor. Algo me dizia que ele não estava procurando um garçom para pedir a conta.

— A próxima canção é muito especial. – a voz de Marcel saiu pelas caixas de som, alta e clara. – Especialmente dedicada à Caroline.

Levantei antes de Klaus, e fui o mais rápido que pude para fora do restaurante. Por que de repente eu me lembrei. A sensação de angústia que me dominou esta manhã voltara com uma força redobrada. Eu me lembrei do sonho como se o estivesse vivendo novamente. Nele, eu estava sendo perseguida, correndo por uma estrada deserta. Eu sabia que estava sendo seguida, mesmo não vendo ninguém, eu sentia. Parei por alguns segundos para verificar se via alguém e recomecei a correr. E então fui pega pelos cabelos e arremessada contra o chão, e alguém me imobilizou. Porém, eu não conseguia ver o rosto de quem estava sobre mim.

Eu corri porque o olhar de Marcel sobre mim ligava todos os alarmes do meu corpo. Meu instinto de sobrevivência gritava enlouquecidamente desde que ele dedicara a musica para mim, diretamente.

Mesmo que o meu nome não tivesse sido pronunciado em momento algum.

***

—O que foi aquilo?! – eu praticamente gritava quando chegamos em casa, tamanha era minha histeria. Instintivamente, tranquei a porta.

—Nada, sweetheart. Esqueça... – Klaus tentava me acalmar, mas parecia que ele mesmo estava tentando se convencer que tudo estava bem.

— Nada? Como assim, nada? Como aquele cara pode saber meu nome sem nem mesmo ter me visto antes? E por que vocês estavam se enfrentando tão abertamente?

Klaus suspirou, e me deixou sozinha por alguns segundos. Voltou com uma garrafa de vinho e estendeu-me uma taça. Recusei. Estava nervosa demais para beber.

— Sente-se, Caroline. E aceite o vinho. A história é longa...

***

E foi realmente longa. Mas ao final da garrafa de vinho eu já conhecia toda a história, e compreendia o porquê Klaus gostava tanto de New Orleans. Entendia também o porquê da hostilidade no restaurante. O fato de Klaus ter afrontado Marcel, matando um de seus “amigos”, desestabilizou seja o lá que o for que existia entre eles.

— Ele agora é muito mais cuidadoso do que antes. Marcel nunca foi idiota. Sabe que eu estou tentando tomar a cidade. – Klaus divagava, confabulando mais consigo mesmo do que comigo.

—Mas por qu? Pelo que você falou, ele controla muito bem a cidade. É um tirano, com certeza, mas conseguiu um equilíbrio que eu nunca vi...

— Sim, ele fez um ótimo trabalho, realmente. – ele ficou de pé. – Mas o problema, Caroline, é que esta cidade é minha. Eu a fiz ser o que é. Eu! Não Marcel. E eu quero minha cidade de volta.

Observei a emoção dele ao falar isso, e fiquei pasma quando finalmente percebi...

—Você o inveja. – Klaus parou de caminhar de um lado para o outro. Pareceu zangado, suspirou pesadamente e sentou-se ao meu lado, parecendo triste, no final das contas.

­ — Como não o invejaria? Ele tem tudo o que eu sempre quis. – ele parecia um pouco envergonhado de admitir isso para mim.

— E você vai tentar tirar isso dele?

— Vou. – ele sorriu, do jeito que sorria sempre que tinha planos em mente.

— Pelo que você me contou, ele tem um exército, Klaus. Um exército muito leal. – eu o avisei.

— E mesmo assim, continua em desvantagem. Ele não pode me ferir, sweeetheart. Eu tenho a última estaca de carvalho branco muito bem escondida. E, acima de tudo, eu sou imortal.

— Mas eu não. – disse. Levantei-me e fui para o meu quarto. Eu o ouvia me seguindo, mas não parei de caminhar. De repente, sentia-me muito cansada.

— O que você quer dizer? – ele entrou no meu quarto, segurando a porta antes que eu pudesse fechá-la. Uma raiva incompreensível começava a ferver dentro de mim.

— Sol, fogo, estacas... A lista de coisas que podem me matar é bem longa, Klaus. – eu disse, cruzando os braços.

— Eu ainda não entendi seu ponto, Caroline.

Suspirei. É claro que eu estava com raiva. Eu estava me sentindo... Rejeitada. Olhei-o nos olhos e perguntei:

— Você se importa comigo, Klaus?

— Mais do qualquer coisa neste mundo, Love. Você sabe disso. – ele veio até mim e envolveu minha mão nas suas.

— Eu estou com medo. – eu falava baixinho, devido ao medo e ao peso daquela verdade. Eu sentia que era muito nítido para todos que Klaus se importava comigo. Meu ego agradecia, é claro, mas eu também me sentia vulnerável. – O jeito como Marcel me olhou...

— Ele nunca conseguiria machucar você, Caroline. Isso eu posso garantir. – ele falava intensamente, como se fizesse algum juramento sagrado.

—Ah, claro que não. Porque eu sou imortal, tinha me esquecido disso... Você enlouqueceu? Ele tem um exército! Ele me mataria em segundos, se quisesse. – eu falei, exasperada.

— Eu o mataria antes mesmo que ele tivesse a chance. – ele ficou muito sério. – Você se lembra do que eu lhe disse quando procurávamos a Bonnie? Eu sou capaz de coisas terríveis, mas eu me importo com você. Só com você.

Fiquei imóvel. Aquele Marcel pareceu suficientemente ameaçador para mim, e mesmo sem saber o quanto o quanto a palavra “exército” significava para ele, eu estava com medo. Minha irritação se dava única e exclusivamente pela aparente indiferença de Klaus diante deste fato. Eu senti como se ele não se importasse, e isso trouxe de volta todas as minhas reservas sobre ele. Sempre pensei que ele me deixaria no exato momento que cansasse de mim. Talvez, depois de centenas de anos convivendo com pessoas que você sabe que não estarão com você para sempre, companhias passam a não ter tanto significado assim.

Mas eu estava errada. Ele não estava preocupado simplesmente por nem mesmo considerar isso como um cenário possível. Ele nunca deixaria Marcel encostar em um único fio de cabelo meu.

— Eu achei que você não se importasse. – sussurrei.

— Não seja boba, Caroline. É claro que eu me importo. E você não precisa se preocupar, pois eu vou cuidar de você. – ele colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha. – Eu finalmente a tenho comigo. Não vou deixar que nada, nem ninguém, afastem-na de mim agora. Eu quero uma eternidade ao seu lado, Caroline.

Acho que foi mais ou menos por aí que parei de raciocinar claramente. Eu senti todas as barreiras caindo, todas as defesas se desfazendo como um frágil papel. Desisti de pensar sobre algo que parecia tão certo, tão natural.

Eu o beijei. Por alguns segundos ele não se moveu, surpreso com minha atitude. Depois suas mãos estavam em minha cintura, sua boca ficou ansiosa pela minha. Logo eu estava com as costas na parede, e a sua boca estava meu pescoço, e suas mãos transformaram meu vestido em trapos. Não tive tempo de me importar com isso, minha mente estava totalmente focada em outra coisa.

Eu me sentia tão segura, tão amada. Não lembro exatamente como chegamos à minha cama, mas lembro de que permanecemos lá por muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Vocês podem ver o look feito pela Eduardaaa aqui: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=91185959&.locale=pt-br

Espero que tenham gostado :)