Seu último amor - Klaroline escrita por Jeniffer


Capítulo 3
Raios de sol


Notas iniciais do capítulo

Antes de qualquer coisa: MUITO OBRIGADA!

Muito obrigada a todos vocês que leem minha fic, que a acompanham, que comentaram... Um obrigada maior ainda para quem colocou minha fic entre suas favoritas mesmo ela estando só no começo... Vocês não tem ideia do quão importante é para mim ler os comentários de vocês.

Aproveitem o reencontro com o Klaus!



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"Sinto que fui rasgada e aberta, e colocaram raio de sol dentro de mim."

Incendeia-me, por Tahereh Mafi. Citação da página 302, na edição de 2014, da editora Novo Conceito.

 

O hotel Doubletreea foi um dos primeiros hotéis que encontrei em minha pesquisa na internet, e não era de todo ruim. O quarto não era exatamente grande, mas eu ficaria bem acomodada. A cama estava perfeitamente arrumada, com lençóis brancos, e adornada com travesseiros e almofadas com toques de dourado. Ao lado da cama havia uma poltrona, e em frente a ela, uma televisão. O quarto ainda me oferecia uma pequena varanda, com uma vista linda de New Orleans. Tudo isso por um preço muito razoável.

Deixei minhas malas em um canto, tranquei a porta, tirei os sapatos e fui até a sacada. Com a escala demorada, quando cheguei a New Orleans o dia estava quase amanhecendo. Apoiei-me na beirada da sacada, de onde observei o sol nascer. Não pude evitar pensar que eu estava muito próxima de um ponto sem retorno. Repentinamente eu saíra de casa e partira para New Orleans. E agora, observando o sol nascer, percebi que aquele era o meu primeiro dia. Uma nova Caroline nascera e isso era renovador. Acho que a velha Caroline se perdeu em algum lugar durante o trajeto, mas isso não me importava. Ela levara consigo meus medos e minhas hesitações.

Olhei para a cama. O voo me deixou cansada, mas eu não queria dormir. Eu queria sair e... procurar. Então, tomei banho e troquei de roupa, e decidi tomar café em algum lugar. Perguntei na recepção do hotel onde poderia encontrar um bom lugar para tomar meu café da manhã, e eles me indicaram vários estabelecimentos no centro da cidade. Mas, segundo a recepcionista, eles estavam localizados um tanto longe do hotel. O gerente, muito atencioso, chamou um táxi para mim.

O motorista do táxi deixou-me em frente a um bom restaurante, mas eu estava com vontade conhecer a cidade. Caminhei algumas quadras e fiquei cada vez mais encantada. Era como se em cada esquina houvesse alguém fazendo algum tipo de arte. Havia dança, pintura, música... tudo. Havia uma mulher vendendo colares, e me aproximei para olhar. Alguns eram realmente bonitos.

— Bom dia! Primeira vez na cidade? – ela falava com empolgação. Fiquei me perguntando se eu tinha cara de turista, se estava tão óbvio assim que eu não era daqui. Mas eu não sei como são as pessoas daqui, e não sei o que pode me fazer diferente deles. Decidi que provavelmente era apenas uma pergunta exploratória, até mesmo aleatória, algo para começar uma conversa. Ela não poderia saber que sou de Mystic Falls só de olhar para mim. Ou poderia?

— Sim, é minha primeira vez aqui. – sorri de volta.

— Então você deve levar um desses com você. – ela me mostrou um colar particular, que possuía aqueles velhos pingentes que podemos abrir e colocar alguma foto nele. Só que aquele não parecia ser possível abrir. – É um amuleto. Se você pretende ficar na cidade durante a noite, mantenha-o sempre com você.

Fiquei apreensiva com o tom de preocupação daquela mulher. Ela me olhava com intensidade, como se tentasse ler meus olhos. Resolvi comprar.

— Ele é muito bonito. Eu vou levar. – eu sorri para ela. – Você se importa de embalar para mim?

Eu não pretendia usá-lo agora, afinal de contas, eu já estava usando um colar.

— Claro, querida. – eu a observei embrulhá-lo com cuidado em um saquinho de papel e entregá-lo a mim.

Quando entreguei o dinheiro, ela segurou minha mão. Eu vi sua expressão endurecer.

— Obrigada. Tenha um bom dia. – ela não respondeu. Afastei-me de lá, enquanto a mulher ainda me olhava, pensativa.

Abri o pequeno pacote para olhar mais atentamente aquele colar, enquanto caminhava para longe. Ele era bonito, com certeza, mas quando o toquei, ele me queimou. Assustei-me. Era um colar com verbena, algo que ela disse que me protegeria durante a noite. Um aviso perturbador em minha mente me alertava para levar o aviso dela muito a sério. Estou em uma cidade grande afinal, e talvez os vampiros não precisem se esconder tanto aqui. E pelo visto, nem mesmo as bruxas, pois aquela mulher com toda a certeza era uma delas. De certo modo fiquei agradecida pela preocupação daquela mulher, tentando me proteger de mim mesma. Por mais irônico que isso fosse.

Deixei o colar na primeira lata de lixo que encontrei pelo caminho.

Enquanto pensava nisso, levantei o olhar em direção a um restaurante do outro lado da rua. Parei no meio da calçada, repentinamente. Alguém esbarrou em mim e falou alguma coisa que não ouvi, pois eu estava prestando atenção em outra coisa.

Sentado ao sol, bebendo café naquele pequeno restaurante, com o olhar fixo no céu, estava Klaus. E não muito surpreendentemente, meu coração deu um salto. Não achei que o encontraria tão rápido, afinal não estávamos mais em Mystic Falls. Mas, de algum modo, lá estava ele, bem à minha frente.

Posicionei-me de modo que ele não conseguisse me ver, escondendo-me precariamente atrás de um carro, e fiquei observando-o. Vi quando pediu mais um café, e vi a garçonete inclinando-se e sorrindo um pouco demais na direção de Klaus, e tudo o que ele fazia era apenas dar mais uma nota de gorjeta. Ri daquela cena. Klaus estava tão absorto em seus próprios pensamentos, que nem ao menos a notava o valor das notas, apenas as distribuía. A garçonete ficava muito contente com isso.

Peguei meu celular e liguei para ele. Klaus pareceu irritado pelo toque do celular, mas sorriu de maneira resplandecente quando viu quem estava ligando para ele. Atendeu-me no segundo toque.

— Caroline. Achei que nunca mais me ligaria. Há alguém morrendo por veneno de lobisomem? – eu o via rindo, mas senti uma pontada de culpa. Eu realmente só ligava para ele quando precisava dele.

—Oi, Klaus. Não, ninguém está morrendo.

— Então, a que devo o prazer de ouvir a sua voz? – ele perguntou.

— Quero saber como você está. – eu ri quando vi a expressão surpresa dele. Aposto que ele teria a mesma reação se eu tivesse ligado para anunciar o apocalipse zumbi.

— Eu estou como sempre estive, Caroline. – eu o vi franzir a sobrancelha, como se não entendesse a pergunta. – Mas o que despertou sua curiosidade?

— Aproveitando New Orleans, suponho. – instiguei-o. Ele não parecia muito disposto a falar.

— Este é um dos meus lugares favoritos no mundo todo. Eu sempre aproveito a cidade. – ele se inclinou para frente, ficou mais sério. – Mas com toda a certeza eu aproveitaria ainda mais se você estivesse aqui.

— Então o seu convite continua de pé? – perguntei.

— Sempre ficará, Caroline. Eu sempre vou esperar por você, eu lhe disse que pretendia, e vou ser, o seu último amor. New Orleans não é tão divertida sem a sua companhia.

Sai de meu esconderijo improvisado, mas ele não me viu. Ele nem mesmo desconfiava que eu estava ali, não havia razão para me procurar pelos cantos.

—Ora Klaus, deixe disso... Aquela garçonete com certeza ficaria muito feliz em lhe fazer companhia.

Ele ficou tenso, e começou a olhar para todos os lados, intrigado, procurando-me. Quando seus olhos encontraram os meus, seu celular caiu, mas sua mão continuou imóvel. Interrompi a ligação e acenei brevemente. Ele retribui com um sorriso que parecia grande demais para seu rosto.

Aquele sorriso era a recompensa. Depois de uma briga, despedidas apressadas, uma fuga no meio da noite, o sorriso de Klaus, a felicidade em seus olhos, me fez perceber que tudo valera a pena. Fez-me lembrar da razão pela qual que abandonara tudo e fugira.

Atravessei a rua, e olhando-o nos olhos o tempo todo, um tanto ansiosa. Eu precisava admitir: eu sentia saudades dele. E finalmente, depois de tanto tempo, vê-lo novamente me fazia sorrir. O tipo de sorriso sincero que há tempos eu não sorria.

Quando cheguei à mesa ele levantou, e um tanto rápido demais, e não soube se deveria me abraçar ou não, então optou por um singelo beijo em minha mão direita enquanto fazia uma pequena reverência, exatamente o tipo de cavalheirismo que se pode ler em um romance do século dezoito.

— Eu não acredito que você está aqui. – a voz dele era quase um sussurro, como se eu fosse uma aparição divina.

— Mas eu estou. – seguiu-se um breve silêncio, que ficava um pouco incômodo por ele não deixar de me olhar nem mesmo um segundo. – E ainda não tomei café da manhã.

— Claro, que indelicado de minha parte. Garçonete, por favor. – ele pediu café e comida e dispensou a garçonete com um breve aceno, sem gorjetas. Não pude deixar de notar a decepção dela. Olhei ao redor. O restaurante era muito bonito, tranquilo e aconchegante. Havia flores que cresciam prendendo-se à parede, como se tentassem escalá-la, deixando o restaurante ainda mais bonito.

— Pare com isso, Klaus. – disse, sem olhar para ele, ainda admirando as flores.

— Com o que, sweetheart? – ele disse, parecendo surpreso.

— De me olhar como se estivesse esperando que eu suma em pleno ar. – brinquei.

— Mas eu estou esperando. – ele disse, muito sério. – Talvez, em algum lugar de minha mente, eu ainda acreditasse que você nunca concordaria em se juntar a mim nesta excelente cidade. Mas você está aqui, sentada em minha frente, e eu custo a acreditar que isso não é um sonho.

— Você tem certeza de que acordou hoje? Que eu não sou uma miragem? – eu ri.

— Não, não tenho certeza. Não mais. – ele ria também. - Mas isso não importa. Se isso for só um sonho, eu estou mais do que grato em não ter acordado. E espero que eu durma por muito, muito tempo.

Meu coração se apertou. Eu também tinha a sensação de estar em um sonho, como se a qualquer momento eu pudesse acordar e perceber que ainda estou em minha cama, em Mystic Falls.

— Bem, eu espero que você não esteja querendo dormir logo agora, pois eu aposto que tem muito que me mostrar ainda.

— Quando você chegou à cidade, Caroline? – ele perguntou.

— Eu acabei de chegar. – respondi. A garçonete trouxe uma xícara de café para mim. Um pouco do café caiu na mesa, por causa da total falta de delicadeza dela ao deixar a xícara. Bebi um gole e depois acrescentei um pouco de açúcar.

— Por que não me ligou? Eu poderia tê-la esperado no aeroporto. – eu tinha pensado nisso, mas eu só conseguia imaginar Klaus me esperando com um enorme comitê de boas vindas. Muito embaraçoso.

— Não era necessário. Você já está contratado como meu guia turístico, não precisa ser meu motorista também.

Larguei a xícara. É claro que ele o faria, se eu pedisse. Eu tinha a sensação de que Klaus faria qualquer coisa por mim, me acompanharia em qualquer lugar. Esperaria por mim.

— E quando vamos começar com os passeios turísticos? Eu vi algumas coisas muito interessantes no caminho...

— Nós temos tempo, não temos, love? – eu estreitei os olhos, avaliando-o. Klaus estava tentando induzir minha resposta. – Podemos começar mais tarde, ou até mesmo amanhã. Agora aproveite o café da manhã. – a garçonete apareceu novamente, deixando alguns pães e um pouco de geleia. Ela hesitou um alguns segundos, esperando uma gorjeta que nunca veio.

— Vamos começar hoje mesmo. – eu disse, decidida. Não que eu estivesse com pressa, eu só estava ansiosa.

— Não tenha pressa, sweetheart. Eu não sei até quando você pretende ficar, mas eu espero que seja para sempre.

***

Depois do café caminhamos por um parque muito bonito, próximo do restaurante. Caminhávamos a uma distância segura um do outro, e Klaus mantinha as mãos firmemente entrelaçadas atrás de si , como se precisasse contê-las. Quando ele finalmente as relaxou, precisou desviar de outro pedestre e nossas mãos se tocaram levemente. Fingi não notar, mas tive de colocar minhas mãos nos bolsos, só por precaução.

— Onde você está instalada, Caroline?

Respondi, pronunciando, com toda certeza de maneira incorreta, o nome difícil daquele hotel. Klaus parou abruptamente.

— Aquilo é uma espelunca. Você não pode ficar lá. – ele parecia aflito.

— É o que posso pagar, Klaus. E não é tão ruim assim. – afirmei.

— Não. Você vai ficar em minha casa, sem discussão. – ele disse, resoluto, sem deixar espaço para debates sobre a questão. – Venha.

Ele pegou minha mão e me guiou até a rua, onde chamou um táxi. Abriu a porta para que eu entrasse e depois se sentou ao meu lado. Fomos até o hotel, onde ele deu instruções para que o motorista esperasse por nós.

Guiei-o até o quarto. Minhas malas permaneciam intocadas em um canto. Klaus fez questão de carregá-las, e eu não vi razão para discutir com ele, então deixei que as levasse até o táxi. Depois Klaus informou um endereço ao motorista.

— Você merece instalações melhores do que aquelas, sweetheart. – ele disse, enquanto seguíamos no táxi para... eu não fazia a menor ideia de para onde estávamos indo.

Dez minutos depois eu pude ver qual era o nosso destino.

A casa de Klaus era ainda mais luxuosa do que a que ele tinha em Mystic Falls. Aliás, chamar aquilo de casa não estava certo. Era uma mansão, daquelas que vemos em filme ou revistas, que parecem grandes demais para uma única pessoa, e que a sala abrigaria confortavelmente nossa casa inteira.

Mais uma vez ele pegou minha mão para me guiar até a entrada, e eu tive a impressão de que ele buscava razões para isso, para constantemente tocar em minha mão, em meu braço, como se quisesse se certificar que ainda estava ali, que eu era sólida. Eu desejei que ele procurasse razões mais arduamente.

Uma senhora abriu a porta.

— Klaus, seja bem vindo.

— Senhora Kate. Por favor, convide a Caroline para entrar. – ela a estava hipnotizando.

— Caroline, por favor, entre. Seja muito bem vinda. – a senhora Kate aparentava ter quase setenta anos. Tinha um sorriso muito simpático e uma aparência frágil devido a idade avançada, mas ao mesmo tempo era muito saudável e ativa. Fiquei pensando se Klaus explicaria aquela situação.

— Obrigada, senhora Kate.

Logo depois que entrei, a senhora Kate pediu licença para buscar algo para bebermos e saiu de cena. Olhei para Klaus, inquiridoramente.

— Comprei a casa dela, mas deixei a escritura no nome dela. Eu a hipnotizei para continuar morando aqui e tomar conta da casa.

— Por que?

— A casa é segura. Eu só poderia entrar sem ser convidado se a casa não tivesse dono, mas este privilégio se estenderia a qualquer outro vampiro. Deste modo, a casa é segura tanto para mim quanto para ela. Tem funcionado muito bem.

— Mas e a família dela? – se aquela mansão pertencia à senhora Kate, ela deveria ter uma família numerosa.

— Ela não tem família. Não mais. – Klaus chamou um empregado e disse para levar minhas malas para cima.

— O que você quer dizer com “não mais”? – perguntei.

— Peter, o único filho da senhora Kate, morreu pouco depois de interná-la em um asilo. A saúde dela estava bastante debilitada.

— Não tenho certeza se entendi isso direito... – eu estava confusa. A senhora Kate parecia muito saudável para a sua idade.

— Peter internou sua própria mãe para que pudesse controlar os bens dela, que como você pode ver, não são poucos. – Klaus abriu os braços, mostrando a grandiosidade da fortuna da senhora Kate. – Peter morreu depois de uma festa muito animada, se é que me entende.

— E como a senhora Kate lida com isso? – eu me entristeci com a história daquela simpática senhora.

—Eu usei meu sangue para curá-la e agora ela tem uma saúde invejável. Do contrário, ela teria falecido há muito tempo atrás. Eu a hipnotizei e desde então também vivo nesta casa.

Fiquei surpresa com a história. E Klaus percebeu minha surpresa. Ele até mesmo parecia um pouco envergonhado em contar, como se ele não devesse usar aquilo para se vangloriar. Mas, no fundo, ele a ajudara.

— Que bom que você a ajudou. – eu disse, sinceramente.

—Vamos, eu vou lhe mostrar algo incrível. – disse Klaus, cortando o assunto. Eu não tentei retomá-lo, afinal, estávamos chegando muito perto das verdadeiras emoções dele. E eu sabia que esse não era um caminho tão rápido assim.

***

Klaus me levou até uma praça, e então pediu que eu fechasse os olhos. Obedeci, um tanto desconfiada. Ele riu de minha hesitação. Depois de me guiar por alguns minutos, ele disse:

—Pode olhar agora.

Deu um giro completo, observando tudo ao meu redor. Para onde que eu olhasse alguém estava pintando um quadro. Era um caleidoscópio de cores, formas e movimentos. Era surpreendente.

— É por isso que eu amo esta cidade, Caroline. Aqui, a arte brota como a natureza.

Ele parecia muito tenso, mesmo admirando os quadros, e observando-me de soslaio.

—Alguns são realmente bons. Este aqui, - apontei para um à minha esquerda. – me faz lembrar o seu floco de neve gigante.

Ele riu e pareceu mais relaxado. A tensão dele era puramente medo. Ele parecia temeroso sobre como eu vou reagir, o que vou dizer ou fazer.

— Então você ainda lembra-se daquele quadro? Nunca vou me perdoar por ter feito algo tão literal... – ele disse, sorrindo.

— Na verdade, era um quadro lindo. O que fez com ele? – eu caminhava lentamente, observando os quadros. Klaus acompanhava-me, um passo atrás de mim.

— Está em uma das salas da casa, vou mostrá-lo a você quando voltarmos. – Klaus franziu a testa, ponderando sobre algo que queria perguntar, eu desconfiei. – Lindo quadro, você disse?

Eu ri, e olhei para ele, que continuava a me observar com nervosismo. Eu não o culpava. Todas as vezes que fui gentil com ele, era apenas uma distração para armarmos alguma coisa contra ele.

— Sim, um lindo quadro. Apesar de eu me sentir diminuída observando-o.

— Diminuída? – ele ficou surpreso. – Como assim?

— Aquele floco de neve não era realmente gigante, era apenas visto através de uma perspectiva diferente. Aquilo parecia ser visto por alguém muito pequeno, observando um floco de neve. Senti-me diminuída, não de uma maneira negativa, mas de uma maneira respeitosa, como aquela sensação de se sentir pequeno diante de algo grandioso, maior do que nós mesmos. E depois de alguns minutos, percebi que olhar o quadro de fora era quase como menosprezar os sentimentos das pessoas. Porque para aquela pessoa olhando o floco de neve, ele era grandioso e belo. E para quem apenas olhava o quadro, nada mais era do que um simples floco de neve. – eu o olhei nos olhos. – O valor das coisas é uma percepção muito subjetiva.

Klaus me olhou, surpreso. É claro que eu não entendia nada de arte, e provavelmente tinha falado besteira, mas foi exatamente assim que eu me senti.

— De fato, muito subjetiva... é algo muito difícil de se mensurar. – ele concordou. – Você tem alguma ideia do valor de este momento para mim? De você estar aqui?

— Como você disse, é difícil de mensurar. – eu tentei rir, mas ele olhava-me com muita intensidade.

— Tente ver através da minha perspectiva, Caroline. Não olhe só para o quadro. – ele gentilmente envolveu minha mão com as suas. – Você realmente entendeu aquilo. Eu a vejo daquela forma, como algo grandioso, que me diminuí de uma maneira respeitosa. I fancy you.

Eu soltei o ar. Nem mesmo percebi que o estava segurando.

— Bem... – eu tentei quebrar aquela intensidade. Estava chegando a níveis estratosféricos. – É bom saber que você me vê como um floco de neve. Da próxima vez, quem sabe você me retrate com uma cenoura no nariz.

Ele riu abertamente.

— Ah, Caroline... Como é possível que eu tenha sobrevivido todo este tempo sem você ao meu lado?

***

Eu vi muito pouco da cidade, ainda havia muito que explorar, o que admirar. Mas com toda a minha transferência do hotel para a casa de Klaus, e o passeio no parque, já nos aproximávamos do fim da tarde. Klaus me levou de volta para casa e disse:

— Se vista e vamos sair para jantar. – ele falou de maneira gentil, apesar de ter soado como um comando.

— Claro. Só preciso descobrir onde é o banheiro, e onde minhas malas foram parar. – eu olhei ao redor. A casa era realmente grande, e procurar por elas poderia levar um certo tempo.

Klaus ficou ansioso de repente, o que me deixou um pouco preocupada.

— Venha, eu vou lhe mostrar o seu quarto.

Ele segurou minha mão para poder guiar-me. Eu sorri com aquele gesto, tão presente hoje, tão constante. No andar de cima, ele foi até a terceira porta à esquerda e parou, soltando-me. Suas mãos estavam agitadas.

— Klaus, está tudo bem?

— Caroline, eu sei que isso pode parecer um pouco estranho, mas por favor, por favor, não pense mal disso. Eu só estava tentando... tentando... me precaver.

Instintivamente, dei um passo para trás.

— Do que você está falando?

Ele não respondeu, apenas abriu a porta e me convidou para entrar. O quarto era grande, espaçoso. Minhas malas estavam perto da cama, uma grande e luxuosa com dossel, grossos cobertores brancos e inúmeros travesseiros. Havia um closet com início visível, mas não pude estimar o tamanho. Vi meu reflexo em um espelho enorme do lado esquerdo, perto de várias e várias prateleiras vazias. Uma mesa espaçosa e uma cadeira ocupavam o canto direito. E uma imensa janela, com pesadas cortinas vermelho sangue, agora abertas, revelando uma vista incrível. Eu fiquei confusa.

— Por que eu pensaria mal por você ter um quarto nesta mansão? – perguntei, tentado parecer descontraída. – Você provavelmente tem dezenas deles por aqui.

— Porque este não é um quarto qualquer. Eu o fiz para você.

E então as coisas começaram a fazer sentido. As prateleiras vazias estavam lá para que eu pudesse preenchê-las com livros. O closet tinha muito espaço, era óbvio, mas parte dele já estava ocupada por roupas que ele havia comprado, e outros vestidos da sua horripilante coleção de troféus da família Mikaelson. Tudo pensado para mim. Cada detalhe.

Eu achei aquilo muito carinhoso.

— Para alguém que disse acreditar que eu nunca viria você se preparou bem rápido. – brinquei, fazendo-o rir. – Então, se você me der licença, vou me trocar.

Fui em direção às minhas malas.

— Caroline?

— Sim, Klaus?

— Eu estou muito feliz que você finalmente esteja aqui.

Ele saiu antes que eu tivesse a chance de pronunciar as palavras que estavam em minha boca. Sussurrei-as assim mesmo.

— Eu também.

***

Joguei-me na cama para observar o quarto. Cada detalhe fora planejado para mim, o que eu achei surpreendente, pois eu acreditava que o Klaus soubesse muito pouco a meu respeito. Seja por conhecimento ou por sorte, ele acertara até mesmo detalhes absurdos, como ter escolhido minhas cores favoritas para pintar as paredes do quarto.

Peguei a menor de minhas malas e coloquei-a sobre a cama. Peguei alguns itens que precisava e fui para o banheiro. Tomei um banho rápido e voltei para o quarto.

Fui até o closet e fiquei sem ar. Atrevo-me a dizer que era maior do que o quarto, e as roupas... bem, Klaus tem muito bom gosto. Ainda havia muito espaço livre para mim, porém, mesmo que apenas uma parte dele estivesse preenchida, eu poderia ficar ali por horas. Escolhi o que julguei ser o vestido mais lindo que havia ali. Quando me olhei no espelho, eu parecia com alguém que iria assistir uma ópera. Desci as escadas e não o vi em lugar nenhum.

— Klaus? – chamei.

— Estou aqui, sweetheart. – ele saiu da sala de jantar, vestindo um smoking impecável, que o deixava... deslumbrante.

— Você está linda, Caroline. Digna da realeza. – ele elogiou.

— Você também. – olhei para o meu vestido. - Talvez devêssemos ir à ópera hoje à noite.

— Talvez devêssemos. – ele riu. – Todavia, há uma peça maravilhosa em cartaz. Você gostaria de ir?

— Eu adoraria.

Assistimos uma representação excelente, que eu não conhecia. A história era sobre um homem que amava muito uma mulher, mas a família não dele não a aceitava. A família acaba assassinando a mulher. Uma história triste, sofrida, mas mesmo assim linda, que fez Klaus se emocionar. Quando achei que ele começaria a chorar, ele disfarçou e se recompôs.

Quando saímos de lá, perguntei:

— Você já conhecia a história?

— Sim. Eu ajudei na composição dela. – ele falou rapidamente, enquanto abria a porta do carro.

—Você conhece o autor?

— Ele foi meu amigo por muito tempo... – ele sentou-se ao volante. – Na verdade, eu fui a inspiração dele.

Fiquei sem palavras. Eu sabia que a família de Klaus era constituída basicamente por pessoas malucas.

— Até que ponto a história é verídica? – perguntei, baixinho.

Klaus suspirou e acelerou o carro. Passou alguns minutos em silêncio, e quando achei que não pronunciaria mais nenhuma palavra, ele disse:

— O nome dela era Tatia. – ele falou, calmamente. – Mas esta é uma longa história para outra hora.

Decidi não insistir no assunto, uma vez que parecia ser algo tão penoso para ele. Klaus nos levou para um restaurante.

Esquecido o assunto, o clima ficou mais leve. Tudo transcorria muito bem, e não me surpreendi com aquilo. Eu vim decidida a dar uma chance a ele, a conhecê-lo melhor. Não construí todos os muros que eu costumava construir quando estava perto dele, não fiquei repassando em minha mente as coisas horríveis que ele já fizera, como uma lista de motivos para mantê-lo afastado. E agora, assim sem defesas, ele me encantava cada vez mais. Klaus era a personificação do perfeito cavalheiro.

Ele abriu a porta do carro, puxou a cadeira para mim. Seguiu todas as regras, que eu já julgara mortas e enterradas, de etiqueta da mais alta sociedade. Deixei que ele escolhesse o que iríamos comer.

Quando a comida chegou, Klaus disse:

— Caroline, posso falar francamente com você?

— Você estava mentindo este tempo todo? – eu ri da tensão dele. Era incrível como ele ficava ansioso de uma hora para outra, quando falava comigo sobre algo mais pessoal.

— Não, não estava.

— Então, continue. Não precisa pedir minha permissão.

— Este tem sido o melhor dia de toda a minha vida. – os olhos dele pareciam estar pegando fogo, tamanha a intensidade com que olhava para mim. Aquilo me tirou o ar. – E eu sei que estou correndo o risco de estragar tudo, e isso me apavora, mas eu preciso perguntar, preciso de uma resposta.

Ele continuava a me olhar. Eu sabia que pelas convenções da sociedade esta era a minha hora de falar, responder algo ou incentivá-lo a continuar, mas as letras dançavam em minha cabeça, fugindo uma das outras, incapazes de se juntar em uma ordem coerente. Ele desistiu de esperar o fim deste balé enlouquecido e falou:

—Por que você veio a New Orleans?

Eu sabia que chegaríamos a este momento. Esta singela pergunta sempre esteve presente, se esgueirando pelos cantos, observando, esperando o momento oportuno para aparecer.

—Posso ser sincera com você? – perguntei, baixinho.

­— Você esteve mentindo este tempo todo? – ele brincou, apesar de estar muito nervoso. Então assentiu para que eu continuasse.

— Eu fiquei muito tentada com o seu convite. – eu admiti. – Você me ofereceu tudo àquilo que eu sempre quis.

— O quê? – ele perguntou.

— O mundo. – eu sorri para ele, e num ato impulsivo, coloquei minha mão sobre a dele. – Eu fiquei pensando em seu convite e na vida que eu estava levando em Mystic Falls, e percebi que queria estar aqui. Eu quero que você me mostre a comida, a música, a arte e a cultura do mundo todo, não só daqui. Eu não quero ficar presa à Mystic Falls, presa àquele mundo previsível, e desde que eu saí de lá, me sinto... livre. Mais do que jamais me senti.

— Eu me lembro do meu aniversário – continuei, olhando-nos olhos e vendo a sua surpresa aumentar a cada palavra dita. - o meu primeiro aniversário como vampira. Eu estava em minha cama, morrendo por uma mordida de lobisomem, e você me contou um segredo...

— Há um mundo inteiro esperando por você. – ele falou, retirou sua mão da minha e recostou-se na cadeira. – Eu me lembro disso. Lembro-me também que fui eu quem fez com quem o Tyler lhe mordesse.

— Foi um efeito colateral, nada pessoal, você disse...

— E mesmo assim... aqui está você. Por que Caroline? Por que está aqui?

—Sabe, este foi um dos grandes motivos pelos quais eu evitava você. Eu tenho medo de você. Eu sempre pensei que não havia razão para me aproximar de você, pois chegaria um dia em que você iria querer alguma coisa, e eu seria uma pedra no caminho. E você se livraria de mim facilmente, com um estalar de dedos. – eu me sentia bem por confessar este medo. – Você fez com que o Tyler me mordesse para atingir o Stefan. Você me mordeu, e me assistiu definhar, para atingir o Tyler. Eu senti como se, quando não estava sendo legal comigo, você estava pensando em maneiras de me matar.

—Eu nunca a mataria, Caroline. Eu sou impulsivo, mas eu nunca a mataria. – ele parecia magoado. – Eu não saberia viver se você estivesse morta. Eu percebi isso há muito tempo atrás. Quando Alaric prendeu você e Elena na escola, e eu... eu fiquei apavorado. Eu achei que ele poderia te machucar de tantas maneiras...

­­— Eu me lembro disso... – falei.

— Eu não me lembro de ter sentido tanto medo antes, em toda a minha vida. – ele afirmou, com total sinceridade.

— Eu decidi vir até aqui e dar uma chance a essa situação. Eu quero conhecê-lo, Klaus. O verdadeiro Klaus. Eu não estou pré-julgando você, e estou até mesmo me esforçando para não pensar nas coisas horríveis que você já fez, porque eu percebi que eu não posso esquecê-las, mas talvez quando eu colocar tudo na balança, elas podem acabar não pesando tanto assim.

—Você vai me dar uma chance, é isso que está dizendo? - seus olhos brilharam. Ele ergueu sua taça, propondo um brinde.

— Exato. Então, não estrague tudo. – eu o alertei, antes de bater levemente minha taça na sua.

Ele sorriu, bebeu um gole de vinho e então, envolveu minha mão entre as suas e disse:

— Eu me lembro daquele aniversário. Eu sei que o que ficou em sua memória foi a ideia da morte iminente, mas não é isso que me faz lembrar daquele dia.

— E o que o faz lembrar daquele dia? – perguntei, genuinamente curiosa.

O jeito como ele me olhou poderia ter derretido o Polo Norte.

— Foi quando me apaixonei por você.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado!
Muito obrigada pelos comentários e até o próximo capítulo!



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