Seu último amor - Klaroline escrita por Jeniffer


Capítulo 10
As coisas mais terríveis


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês tenham notado os avisos que adicionei nesta fic.

Caso não tenham, devo avisá-los: este capítulo contêm tortura.

Como já havia falado no capítulo anterior, voltamos à narrativa da Caroline!

Aproveitem!



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"As coisas mais terríveis que os homens fazem são em nome do amor."

Cidade dos ossos, por Cassandra Clare. Citação da página 108, na edição de 2014, da editora Galera Record.

 

Vozes. Risos. Sons metálicos. Eu não conseguia me concentrar em nenhum deles por muito tempo. Minha mente estava confusa, eu me sentia um pouco tonta. Tudo isso chegava até meus ouvidos, mas se perdiam e eu não conseguia compreendê-los. Eu não sabia onde estava, não conseguia lembrar-me de muita coisa. Mas, em compensação, eu podia sentir a verbena ficando cada vez mais fraca em meu corpo, e isso ajudava. Eu estava ficando mais consciente, e estava voltando a sentir meu corpo. Porém, com uma pontada de desespero, percebi que eu não conseguia me mover. Tentei movimentar meus braços, minhas pernas, mas era como se elas não estivessem mais ligadas ao meu corpo, como se eu já não estivesse mais no controle. Sentia uma dor incômoda em minha mandíbula quando tentei articular algumas palavras. Quando tentei abrir os olhos, uma forte luz cegou-me, me obrigando a fechá-los novamente.

— Parece que alguém decidiu finalmente acordar. – eu fiquei mais alerta. A voz de Marcel tinha um efeito imediato em meu sistema nervoso, colocando meu instinto de sobrevivência no alerta máximo. – Nada disso é divertido enquanto você está inconsciente.

Eu abri os olhos novamente, apenas um pouco. Vi quando Marcel se colocou entre mim e a luz, o que me impedia de focalizar seu rosto. Ele se aproximou e me colocou na vertical rapidamente. Senti uma forte dor com a mudança brusca de posição, o que só me fez ficar ainda mais tonta. Mas, pelo menos a luz já não incidia sobre meus olhos, e pude abri-los um pouco mais. E então eu entendi por que eu continuava de pé, mesmo sem estar me esforçando para isso, mesmo sem sentir o chão sob meus pés.

Eu estava presa.

Aquilo parecia uma das antigas mesas da Inquisição, algo que se vê nos livros de história. Ela era grande, quadrada, e mantinha meus braços e pernas afastados, quase como se eu estivesse sendo crucificada. Meus pulsos estavam envoltos por ferros, que se pareciam com algemas de rastreamento, que os mantinham imóveis, e por isso eu senti como se eles não me obedecessem. O mesmo acontecia com meus tornozelos, presos da mesma maneira, mantendo minhas pernas afastadas, e outro em minha cintura, impedindo que eu pendesse para frente. Tentei mover meus braços, mas logo vi que isso não era uma boa ideia. Aquelas algemas tinham verbena e estavam me queimando. Movê-los só piorava a dor. Eu também estava amordaçada, o que justificava a dor em minha mandíbula.

— Caroline Forbes. Que bom que acordou para brincar. – Marcel sorriu de uma maneira diabólica.

Eu grunhi em resposta, afinal, eu estava amordaçada. Agora eu já me sentia totalmente desperta, e muito mais alerta. Eu não sentia mais nenhuma gota de verbena em meu corpo.

—Vamos tirar esta mordaça, assim você poderá falar. – Marcel se aproximou de mim, e eu tentei me afastar o máximo que pude, mas a dor em meus pulsos me fez parar. – Fique quieta, ou vai acabar se machucando.

Com um movimento rápido ele arrancou a mordaça. Movimentei minha mandíbula, tentando aliviar um pouco da dor. Eu senti como se estivesse amordaçada há muito tempo, pois minha mandíbula estava bastante rígida.

— Esta mesa é incrível, não acha? Ela pode ser colocada tanto na horizontal quanto na vertical, para que eu possa aproveitar o máximo possível da diversão. – ele começou a se vangloriar. – Foi projetada pelo Brad. Ele foi um personagem importante para a Inquisição Espanhola.

Até então eu não tinha notado os outros vampiros presentes. Havia três, um pouco distantes, apenas observando. Um deles acenou levemente com a cabeça, então ele devia ser o Brad. Então, eu imaginara corretamente. Inúmeras “bruxas” poderiam ter passado por esta mesa. E agora eu estava presa a ela.

Eu comecei a olhar ao redor. Eu estava em um galpão, e a julgar pelo aspecto de abandono, ninguém o utilizava há décadas. Além dos vampiros ao lado de Brad, havia outros, no alto do galpão, observando-me. Eu não consegui contar quantos. Eu estava no centro do lugar, visível para qualquer um que estivesse presente, em qualquer ângulo. Marcel gostava de plateia. Eu estava presa em um maldito palco. Aquilo era um show e eu era parte da atração principal.

— O que você quer? – perguntei, com os dentes cerrados. Eu estava com muita raiva. Se não estivesse presa, provavelmente já teria tentado matá-lo.

— Você é direta. – ele riu. – Eu gosto.

Fiquei enojada. Eu estava me sentindo extremamente desprotegida naquela situação. Eu não conseguia me movimentar, e nem sabia onde estava. Talvez, com um pouco de sorte, eu ainda estivesse em New Orleans. Mas o que isso importava? A única pessoa nesta cidade que pode me ajudar não sabe que estou aqui. Eu não avisara Klaus que estava voltando, então ele não teria como saber que eu já deveria ter chegado à sua casa há muito tempo, apesar de eu não ter certeza de quanto tempo permaneci desacordada.

— Klaus fez uma grande bagunça na minha cidade, Caroline. Quase matou um de meus amigos, fez uma grande confusão. Ele vai ter que pagar por isso. Afinal de contas, eu sou o rei aqui.

— Isso me parece algo que você deve resolver com ele. – minha voz estava ficando mais forte, e a dor em minha mandíbula agora era ignorável. Isso era algo que eu devia ao meu pai. Apesar de ter sido pelos motivos e métodos errados, ele me ensinara a lidar com a dor.

— Direta e com uma língua afiada. – Marcel se aproximou de mim, e com a ponta do dedo traçou uma linha da minha têmpora direita até meu queixo. – Eu gosto mais ainda.

Eu tentei me afastar o máximo que pude, mas isso não era muita coisa. Eu não estava mais vestindo minha jaqueta, e minha blusa não tinha mangas, o que expunha ainda mais meus pulsos e braços. Pelo menos eu ainda vestia minha calça, mas ela fora dobrada para expor os tornozelos.

Outro vampiro saiu de alguma sala trazendo uma maleta, o que prendeu a atenção de Marcel por alguns segundos. Ele entregou a maleta a Marcel e foi se juntar ao pequeno grupo de Brad.

— Klaus é imortal, eu sei disso. – Marcel falava enquanto abria a maleta sobre a mesa. – Mas eu ainda posso feri-lo. E eu vou fazer isso onde mais dói: você.

Ele começou a organizar uma série de instrumentos ao meu lado. Observei-o atônita. Ele iria me torturar.

— Então, nós temos que motivar o Klaus a me obedecer. E essa é a maneira mais divertida de se fazer isso...

Marcel pegou um copo com água, escolheu uma seringa na mesa, a maior delas obviamente, e a encheu. Colocou sobre meu braço direito, procurou minha veia e injetou. Eu urrei de dor. A água tinha verbena.

— Queima, não é? – ele ria. Eu tentei forçar mais uma vez os ferros em meus pulsos. – Oh, deixe-me avisá-la de uma coisa. Eu não tentaria fugir se fosse você. Afinal, Brad é um gênio. Está vendo aquelas estacas no teto?

Ele acendeu mais uma luz e eu as vi. Vária estacas, presas como estalactites, tão afiadas que eu quase podia vê-las reluzirem.

— Caso não tenha percebido, as estacas estão ligadas aos grilhões. Se qualquer um deles se quebrar... bem, você já viu um elástico arrebentar, Caroline? É o mesmo princípio.

E naquele momento, eu pensei que aquela mesa seria meu leito de morte.

***

Depois do que eu julguei ser um século, Marcel decidiu parar. Pelo menos por um tempo. A essa altura, eu estava exausta, e já sabia a serventia de cada um dos objetos na mesa. Havia sangue por todo meu corpo. Ele me cortara, batera e queimara tantas vezes que eu perdera a conta. Por vezes perdi até a consciência. E eu percebi com tristeza que, quanto mais tempo se passava, mais eu estava demorando em me curar. Marcel havia feito um corte profundo em minha perna e lavado com verbena há muito tempo atrás, e o corte ainda nem cicatrizara.

— Eu acho que é hora de ligar para o Klaus. – eu o ouvi dizer. Marcel colocara a mesa de volta na posição horizontal, e então eu pude descansar um pouco meu pescoço. Quando eu ouvi dizer isso, me enchi de esperança. Talvez eu pudesse gritar, pedir ajuda ao Klaus.

Mas Marcel saiu da sala, e eu pude ouvi-lo conversar, mas eu não entendia o que estava sendo dito. Meus ouvidos também estavam machucados. Depois de alguns minutos ele voltara dizendo:

— Acho que você precisa de um pouco de motivação, não acha, Klaus?

Ele deixara o celular ao meu lado, mas um dos vampiros colocou suas mãos sobre minha boca, antes que eu tivesse a chance de dizer qualquer coisa. Todavia, fraca como eu estava, não sei se conseguiria.

Marcel puxou a pálpebra de meu olho direito, expondo meu olho e me impedindo de piscar. Depois despejou água com verbena.

Meu grito deve ter ecoado por toda a terra.

E então eu desmaiei.

***

Eu li em algum lugar, ou alguém me disse, ou minha mente inventou, eu nem consigo pensar direito... Que o desmaio é a proteção de nosso cérebro contra informações que não suportamos. E uma autodefesa quando o cérebro sabe que uma determinada informação é muito ruim e a não suportaremos. Para que não entremos em colapso, nós desmaiamos. Neste momento, eu acho que isso é totalmente verdadeiro. A inconsciência é um lugar tão calmo, tão pacífico. Um lugar em que eu queria permanecer para sempre.

É uma pena que a inconsciência não durou muito.

Eu recobrei a consciência enquanto Marcel tentava me fazer beber uma bolsa de sangue. Quando percebi que aquilo era sangue, e que o estavam dando a mim, bebi avidamente. Quando terminei, ele me ofereceu outra, eu também a bebi até o fim.

— Isso mesmo... Beba, Caroline. Beba o quanto quiser. Você precisa se curar.

Eu ainda não conseguia abrir meu olho direito. Quando terminei de beber a terceira bolsa, pude senti-lo melhorar. Com medo, tentei abri-lo. Mas com alívio percebi que minha visão estava perfeita. Já podia sentir minha perna nova em folha. E por um momento eu me deliciei com o fato de, finalmente, não sentir mais nenhuma dor. Aproveitei o ar que entrava e saía facilmente de meus pulmões. Aproveitei o fato de estar em paz por alguns minutos. E então, resolvi testar minha voz.

— Por que está fazendo isso?

— Eu sou um homem misericordioso, Caroline. – ele acariciou meu rosto novamente. – Mas principalmente porque você está desmaiando muito seguidamente agora e eu preciso de você desperta e totalmente curada.

Eu voltei a sentir aquela pontinha de esperança que senti quando ele citou o nome do Klaus. Talvez ele tivesse desistido. Afinal, se Klaus aparecesse e me visse naquele estado deplorável, ele ficaria furioso. Sorri aliviada. Talvez ainda houvesse uma chance.

Marcel se aproximou sorrindo, e quase encostando seus lábios em minha orelha, sussurrou:

— Só para que eu possa começar tudo de novo.

Fiz uma promessa para mim mesma: eu nunca mais me permitiria sentir esperança novamente.

***

As “brincadeiras” de Marcel pareciam não ter fim. Quando ele se cansou de simplesmente cortar e açoitar, ele começou a colocar pedaços de ferro nos cortes, o que impedia meu corpo de curar aquele ferimento. E então ele dirigiu sua atenção aos ossos. Com as suas próprias mãos ele quebrou quase todos os ossos do meu corpo.

Quando eu ficava exausta, quando eu podia jurar que não sobreviveria a mais nada, ele me dava algumas bolsas de sangue para que eu me curasse, e então começava tudo novamente. Ele era cruelmente incansável.

Eu não consegui me concentrar na contagem, mas eu acredito que foi depois de me curar pela quarta vez, Marcel resolveu testar uma nova teoria. Ele queria descobrir até que ponto o sangue de um vampiro conseguiria curar totalmente um ferimento. Basicamente, ele quis saber se eu me curaria caso ele decepasse um dos meus braços. Ele começou com os dedos, e continuava cortando até quando decepá-los.

E então ele resolver testar a tese com meu pulso direito. Com a ajuda de Brad, acrescentaram um grilhão improvisado em cotovelo, para que pudessem liberar meu pulso. Eu fiquei tensa, com medo de que eles cometessem algum erro e todas aquelas estacas atravessassem meu corpo.

Eu não acho que já tenha sentido uma dor tão grande quanto aquela. A sensação de ter sua mão quase que separada de seu corpo, de enviar comandos que não eram obedecidos, foi uma das coisas mais agonizantes que já senti.

A recuperação foi muito mais lenta, até porque eu estava muito fraca naquele momento. Marcel resolveu sentar e esperar.

— Em que está pensando, Caroline? - Diferentes e torturantes maneiras de te matar.

Fiquei em silêncio.

— Você ainda está esperando o Klaus? – Klaus.­ Percebi, com imensa tristeza, que eu não fazia a menor ideia de quanto tempo estava presa à esta mesa. Podem ter se passados dias, ou apenas algumas horas. O tempo deixou de significar alguma coisa para mim. Trancada neste galpão imundo, onde nem mesmo uma nesga de luz entrava, eu não sabia quando era dia ou noite.

Para mim, eu já estava aqui há pelo menos dois séculos. E me entristeceu ainda mais perceber que eu não conseguia lembrar-me de quando fora a última vez que pensei em Klaus. No começo, ele preenchia cada um dos meus pensamentos. Mas isso foi morrendo, até que se acabou. Talvez em alguma parte de minha alma, em algum lugar remoto, eu ainda esperasse por ele. Mas eu duvidava que eu fosse sair daquele lugar maldito.

— Ele está levando bastante tempo, não acha? Eu estou ficando cansado de esperar. – Marcel fingiu olhar as horas, mesmo sem estar usando um relógio.

— Então vá embora. Se Klaus não o matar, eu mesma o farei. – respondi, olhando fixamente para as estacas no teto, desejando que alguma delas atravessasse meu coração e colocasse um fim no sofrimento.

— Talvez eu esteja enganado, no final das contas. – Marcel se aproximou de mim. – Talvez Klaus não se tenha o menor interesse em você. Acho que eu apostei no cavalo errado.

— Ou talvez você devesse ir para o inferno.

Marcel riu.

— Eu gosto de você, Caroline. Gosto mesmo. É uma pena que você tenha que morrer. Sabe, esta é a única maneira de ensinar uma lição ao Klaus. Ele precisa aprender que esta cidade é minha e de mais ninguém. – mais uma vez ele acariciou meu rosto. – Mas talvez... Talvez a gente devesse se divertir um pouco antes de eu matá-la. Afinal, uma beleza como a sua não deveria ser desperdiçada.

Ele correu os dedos pelo meu braço, e depois por debaixo de minha blusa. Ele respirava mais rapidamente.

—Você gostaria disso, não é, sua vadia? Você gostaria, sim...

Eu estava imóvel, quase não respirava. E então, Marcel correu seus dedos por meus lábios.

E então eu mordi um de seus dedos, arrancando-o completamente de sua mão direita. Marcel gritou e se afastou, praguejando. Cuspi seu dedo no chão.

— Vamos ver se seu sangue vai curá-lo disso.

***

Porém, eu estava muito fraca para conseguir quebrar algum daqueles grilhões e fugir das estacas ao mesmo tempo. E meu pequeno ataque só serviu para deixar Marcel furioso.

— Sua vadia! Você vai pagar por isso! – ele rosnou.

Ele colocou a mesa na vertical de maneira brusca e começou a me bater. Eu sentia as pancadas, mas a dor já era minha velha amiga. Acostumamos-nos uma a outra. Era bom sentir dor. Significava que eu ainda estava viva.

Quando acreditei que iria desmaiar novamente, ouvi um estrondo. Marcel parou e ficou alerta.

— Marcel, ele está aqui! – ouvi alguém gritar.

— Já era hora... – Marcel falou, baixinho. Desferiu mais um soco em meu rosto e se afastou. E então eu os vi.

Klaus entrara no galpão, seguido por inúmeras pessoas, tantas que eu nem mesmo consegui contar. Eu não os conhecia, e também não me importei nem um pouco com isso. Eu só conseguia olhar para Klaus.

Ele não usava uma armadura reluzente, e com certeza não havia nenhum cavalo branco lá fora. Mas naquele momento eu era uma donzela indefesa. Eu precisava ser salva.

E então, saindo do meio daquele enorme grupo, Tyler olhou para mim. Eu fiquei paralisada.

Tyler também estava aqui.

— Ataquem! – Marcel gritou para todos os vampiros paralisados naquele galpão. Eu notei o medo nos olhos dele.

E depois de um segundo de silêncio, um segundo em que o tempo pareceu parar, o caos se instalou naquele lugar.

Os vampiros que estavam no alto do galpão se lançaram sobre o grupo que estava com Klaus. Quando eles revidaram eu percebi que eles eram híbridos. Todos eles.

Eu vi outros vampiros entrando no galpão. Vampiros que eu não vira até então, e que provavelmente estavam de vigia no lado de fora. Mas nenhum deles sobreviveu por muito tempo. Eu ouvia gritos, via a confusão que se desenrolava, mas não conseguia distinguir muita coisa.

Mas eu vi quando Marcel se viu no meio daquela confusão e então para mim. Ele estava perdendo. Eu vi a cabeça de Brad ser jogada contra a parede, e vi outros vampiros mortos pelo chão. O veneno demoraria a matá-los, caso fossem mordidos apenas uma vez. Mas os corpos estavam estraçalhados. O veneno deve tê-los matado em segundos.

Marcel estava ficando sem ninguém. E no momento, eu era seu único escudo.

Ele se lançou sobre mim, mas quando estava há apenas alguns centímetros de mim, Klaus o atingiu. Vários outros híbridos vieram ao encontro de Klaus, carregando pesadas correntes. Em questão de segundos, Marcel estava preso e totalmente imobilizado.

E então tudo ficou quieto.

O silêncio da morte reinou naquele lugar abandonado.

***

Klaus olhou para mim, pela primeira vez realmente me vendo. Eu deveria estar com uma aparência horrível. A última bolsa de sangue que bebi me foi dada há várias horas atrás. Eu ainda não me curara do último ataque de violência de Marcel.

— O que você fez? – a voz de Klaus era apenas um sussurro agoniado.

— Eu disse que você deveria se apressar, Klaus. Eu tive muito tempo livre. – Marcel ria.

­— Se ainda há algum vampiro por perto, matem. Deixem Marcel vivo. – Klaus ordenou.

— A gente deveria matar esse vampiro idiota! – gritou um dos híbridos.

— Não! – disse Klaus. – Eu mesmo vou cuidar dele.

Tyler veio até mim, pronto para me tirar daquela mesa de tortura.

— Não! – eu gritei, quando Tyler tentou arrancar um dos grilhões. – Não faça isso!

— Caroline, está tudo bem. Eu vou te tirar daqui. – disse Tyler. – Eu vou cuidar de você.

— Eles estão ligados às estacas. No teto. Vão disparar caso algum se quebre. – fiquei surpresa em como cada palavra era extremamente penosa para mim.

Klaus avaliou o teto, e olhou preocupado para mim. Tyler estava tentando encontrar o mecanismo que soltaria as estacas.

— Tudo bem. Vou dar um jeito. – Klaus veio até mim e acariciou meu rosto. Lembrei-me de quantas vezes Marcel fizera o mesmo gesto, e fiquei feliz em perceber a diferença. O toque de Klaus era reconfortante. – Vocês, venham aqui!

Ele apontara para quatro híbridos que observavam Marcel com olhar de nojo e raiva.

— Vocês e Tyler arrancam os grilhões e eu a tiro daqui. Todos juntos! Arranquem e se afastem rápido.

Ouvi Klaus guiar a contagem até o número três. Quando ele gritou “três”, eu senti meus pulsos e tornozelos ficando livres e os braços de Klaus me carregarem. Eu gritei de dor. A mudança brusca de posição fora violenta para o meu corpo machucado. Mas eu senti o alívio por não estar mais presa e por não estar mais sendo constantemente queimada pela verbena. Eu ouvi as estacas sendo lançadas como flechas contra a mesa.

— Caroline... – eu senti o alívio na voz de Klaus quando ele me abraçou, ao mesmo tempo me amparando. Eu não tinha forças para ficar de pé. Mas o alívio dele também era o meu. Eu estava em seus braços novamente, e para mim, aquele era o único lugar seguro no mundo todo.

Lancei um olhar fugaz para a mesa, agora cravejada de estacas. Se eu estivesse aí, não haveria nem a mais remota chance de sobreviver. Observei uma estaca específica, que parecia ser a mais afiada de todas: a que teria atravessado meu coração caso eu ainda estivesse lá.

— Você veio... – eu disse, fraca. – Eu achei que você não viesse.

— Eu sempre vou cuidar de você, Caroline. – ele falava baixinho, ao pé ouvido. – Eu a salvaria mesmo se tivesse de começar a Terceira Guerra Mundial para isso.

Eu me aconcheguei em seus braços, desejando nunca mais sair dali.

— Tyler, leve-a para minha casa. Eu vou terminar as coisas por aqui. – disse Klaus.

Senti os braços de Klaus serem substituídos pelos braços de Tyler, cedo de mais. Eu estava ficando reconfortada, estava baixando minha guarda. Eu podia sentir que desmaiaria novamente, levada pelo cansaço.

— Está tudo bem agora, Car. Eu vou cuidar de você. Você vai ficar bem. Vai ficar tudo bem. – Tyler sussurrava sem parar.

Eu senti o torpor se espalhando pelo meu corpo, deixando minhas pálpebras cada vez mais pesadas. Eu queria me entregar à inconsciência, mas enquanto Tyler me levava para fora daquele cenário de horror, meus olhos não deixaram os de Klaus por nenhum momento. Ele parecia tão triste, mas também tão aliviado.

E então ele ficou furioso, e a última coisa que vi antes de Tyler atravessar a porta, foi Klaus pegando a corrente que prendia o pescoço de Marcel.

Acho que aquele palco presenciaria mais um show.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Até o próximo capítulo!



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