Seu último amor - Klaroline escrita por Jeniffer


Capítulo 9
Escuridão


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem a leitura :)



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"A escuridão é sempre assustadora se você nunca a viu de verdade".

O circo mecânico Tresaulti, por Genevieve Valentine. Citação da página 166, na edição de 2011, da editora Darkside.

 

Tyler POV

A garrafa de uísque caiu no chão com um baque. Eu estava esperando que ela quebrasse, mas o impacto foi amortecido pelo tapete persa de minha mãe. O mesmo tapete estúpido que eu manchara de tinta quando era criança. Na verdade, se você levantar o canto esquerdo do sofá verá que a mancha verde continua lá, já desbotada, mas ainda presente. Eu nunca esqueceria aquela mancha verde. Aquilo me rendera um mês de castigo. Minha mãe amava aquele maldito tapete.

Eu me levantei com um pouco de dificuldade do sofá e me arrastei até a adega. Eu costumava pensar que este era um dos lugares mais amplos da casa, com toda esta interminável coleção de bebidas do meu pai. Hoje eu estou achando ela muito pequena para me satisfazer totalmente. Acho que tudo muda de perspectiva quando você cresce.

Peguei uma garrafa de vinho. Acho que era minha quinta garrafa... Eu não tinha certeza. Voltei para o sofá. A sala era o único cômodo iluminado na casa inteira, e só estava assim por causa da lareira. Outra mania de minha mãe. Sempre acender a lareira quando anoitecesse em dias frios, para manter a casa aquecida. Porque eu continuava a seguir as regras dela como se ela ainda estivesse aqui?

Ergui o sofá sem dificuldades, e lá estava ela: a mancha verde, escondida como algo vergonhoso, um segredo hediondo. Deixei a garrafa no chão e peguei o tapete, e comecei a rasgá-lo em tiras e colocar uma por uma no fogo. Quem precisa de um tapete persa? Manter a casa aquecida era muito mais importante.

Voltei a deitar no sofá. Caroline gostava daquele tapete. Achava bonito e macio. Nós transamos naquele tapete uma vez. Talvez fosse bom deixá-lo queimar. Eu desejei poder rasgar minhas memórias em pedaços e jogá-las ao fogo também.

Caroline partira. Não houve um adeus, nem despedidas. Nem coisa alguma. Ela só... foi. Novamente.

Eu fui procurá-la no dia seguinte. Afinal, ambos sabíamos que o que havia acontecido entre nós significara alguma coisa. Para mim, significara muitas coisas. Eu senti como se ela fosse voltar, como se ela sempre fosse voltar, independentemente do que acontecesse. Mas eu estava errado. Ela simplesmente partira.

Tentei beber outro gole da garrafa de vinho, mas ela estava vazia. Estranho. Eu não me lembrava de tê-la bebido. Eu estava cansado. Cansado de beber mais uma garrafa, cansado de pensar, cansado de tentar. Eu queria dormir. Queria pegar outra garrafa na adega e ir dormir. Mas a adega era longe do sofá e eu estava cansado. E minha cama estava igualmente longe, e ainda tinha uma escada no meio do caminho. Eu não conseguiria subir dezessete degraus. Havia dezessete degraus. Eu sabia. Eu já havia contado todos os eles, há muitos anos atrás. Ou seriam vinte e sete?

Eu precisava dormir. O sofá era um bom lugar. Eu poderia dormir aqui. Era só virar para o outro e fechar os...

***

— Tyler! Tyler! Abra a porta!

— Só mais cinco minutos... – respondi, instintivamente.

— Tyler! – o grito fora tão alto, com voz de comando, eu acordei assustado. Vou ignorar o fato de eu ter caído do sofá durante o processo.

Fui cambaleando até a porta. Minha cabeça doía, mas eu estava muito mais lúcido do que ontem à noite. Quando abri a porta, me deparei com a Liz.

— Venha até a delegacia. – nossa, ela estava nervosa.

— Bom dia para você também. – eu disse, apesar de não saber que horas eram. – O que está acontecendo, Liz?

— Eu não tenho tempo para explicar. Agora entre no carro e eu vou te levar até a delegacia.

Obedeci prontamente. Liz não é o tipo de pessoa que você quer contrariar. Enquanto ela dirigia muito acima da velocidade permitida e criando suas próprias leis de trânsito, eu fiquei pensando no porquê de eu precisava ir até a delegacia. Sim, eu bebera um pouquinho mais do que eu devia... Tudo bem, talvez não só um pouquinho. Mas eu não tinha saído de casa. Ou tinha?

Eu esperava que queimar o tapete persa de minha mãe tenha sido a pior coisa que eu fiz ontem.

***

— Muito bem, preste atenção. – Liz me levou até a sala dela e me serviu uma grande caneca de café. Era tão óbvio assim? – Klaus me ligou.

— Ele ligou?

— E quer falar com você.

— E quer falar comigo?

— Tyler, eu estou tentando conversar com você. Então por favor, estabeleça um diálogo e não apenas repita o que eu acabei de dizer. – tudo bem, eu estava lento esta manhã. O café já tinha ajudado bastante, mas o que ela acabara de dizer com certeza me despertou totalmente. Por que Klaus estaria procurando por mim?

— O que ele quer? – perguntei, tentando estabelecer um diálogo coerente.

— Eu não sei. Mas já vamos descobrir. – Liz pegou o telefone, teclou os números que precisava, esperou alguns segundos e passou o fone para mim. – A ligação está sendo monitorada. Eu vou ficar com a extensão da outra sala.

Liz saiu, enquanto eu esperava. Klaus atendeu ao terceiro toque e disse:

— Tyler. Eu preciso de sua ajuda.

O quê? Aquilo fora um choque. Eu tentei imaginar o porquê daquela ligação, mas nunca, nem em meus mais loucos devaneios, eu poderia esperar aquelas palavras. Se eu não soubesse que aquela era mesmo a voz do Klaus, eu poderia acreditar que aquilo fosse uma brincadeira. Ou talvez eu ainda estivesse um pouco bêbado. Talvez eu ainda estivesse no sofá da minha casa, sonhando com tudo aquilo, pois só mesmo no universo dos sonhos aquilo seria possível. Anotei mentalmente que deveria abandonar a adega de meu pai.

— Será que você pode repetir? Eu quero gravar isso. – eu respondi, praticamente rindo. Se aquilo fosse mesmo verdade, eu precisava registrar. Afinal de contas, não é todo dia que Niklaus Mikaelson liga pedindo sua ajuda.

— Caroline foi sequestrada. – e de repente, com uma pontada de dor, eu soube que eu não estava sonhando. Porém, esta dedução só fez com tudo aquilo fosse ainda mais absurdo. Esta ligação, o pedido de ajuda, não tinha nada a ver com ele, mas sim com a Car. Como se Klaus se importasse com mais alguém além de ele mesmo...

— O quê? – eu disse. Eu precisava entender aquilo. – O que você fez?

— Marcel a sequestrou. Ele tem um exército. Eu preciso de um também. – ele cuspiu as palavras, como eu sabia que ele fazia quando não queria desperdiçar seu tempo explicando algo que ele queria realizar imediatamente.

— O que você quer dizer com “um exército”? – eu estava ficando preocupado com o rumo que esta conversa estava tomando.

— Um exército de híbridos. Eu preciso que você me diga onde o bando de lobisomens mais próximo está se escondendo. – ele enlouquecera. Aí estava a resposta que eu estava procurando.

— Você não pode criar novos híbridos. Elena é uma vampira agora. – eu falei, apesar de acreditar que aquilo fosse muito óbvio.

Klaus não tinha o sangue necessário para criar novos híbridos. E mesmo se tivesse, eu nunca deixaria que ele criasse um novo exército de escravos. Como eu poderia deixar outros irmãos passarem pelo que eu mesmo passara? Com toda a certeza, Klaus enlouquecera.

— Não se preocupe com os detalhes sórdidos, meu caro. Esta função é minha. Mas você pode ter certeza de que se eu não os criar, Marcel irá matar Caroline. É isso que você deseja? Você me implorou para salvá-la uma vez e eu vou fazer isso novamente. Ela não vai morrer por sua recusa. – ele falou, com agressividade.

— Você sabe que eu nunca a deixaria morrer. – ele sabia disso tão bem quanto eu. Eu quase a deixei morrer uma vez, em um momento de confusão, quando outros lobisomens a sequestraram por minha causa. Eu não cometeria o mesmo erro novamente.

— Então prove. A vida de Caroline está em risco enquanto falamos. – ele disse. Eu precisava pensar. E rápido. Eu grifei o lembrete mental de abandonar a adega.

— Tudo bem, mas com duas condições. – talvez houvesse uma saída.

— Quais? ― Klaus perguntou. Eu desejei estar dizendo isso frente a frente, só para poder aproveitar a raiva que ele estava sentindo agora. Eu estava no comando.

— Eu vou estar aí. Consiga-me um avião e eu vou para New Orleans agora mesmo. Eu preciso garantir que a Caroline ficará bem. E quando tudo isso acabar eu vou levar todos os híbridos comigo e ajudá-los a quebrar aquele maldito vínculo. Você não terá mais escravos.

Era um bom plano. Eu poderia salvar a Car, e depois salvar todos os híbridos daquele maldito vínculo. Eu não precisava escolher entre a Caroline e meus irmãos. Eu poderia salvar todos eles.

— Combinado. Esteja no aeroporto em uma hora. – Klaus disse e desligou.

Não pude controlar meu sorriso.

Eu estava no controle.

***

— Tyler! O que aconteceu? – Liz entrou na sala, chorando.

— Você não precisa se preocupar. – eu disse, tentando acalmá-la. – Eu vou até lá salvá-la.

— Eu vou com você. – ela disse, sacando a arma e checando se estava carregada.

— Não, Liz. É muito perigoso. Você vai ficar aqui.

— Eu sou uma policial treinada, Tyler. Eu sei como lidar com sequestradores.

— Mas este não é um sequestrador comum. – eu olhei-a nos olhos por uns instantes, para que ela percebesse que eu estava falando sério. – Você precisa confiar em mim e me deixar cuidar disso, ok?

— Eu não posso ficar aqui sentada enquanto a Caroline está em perigo! – ela continuava chorando.

— Eu vou informá-la de tudo o que está acontecendo. E não vai ajudar em nada levá-la até lá, você apenas se colocaria em um risco desnecessário.

— Tyler, eu não posso...

— Sim, você pode. – eu a interrompi. – Eu vou cuidar disso. Não se preocupe.

Eu saí de lá antes que ela continuasse a protestar. Eu sabia que pedir para Liz ficar aqui enquanto sua própria filha estava em perigo era difícil. Mas levá-la comigo não era uma opção. Estávamos lidando com uma situação totalmente adversa, e a última coisa que eu precisava era de mais uma pessoa para salvar. A essa altura, Liz já deveria saber que a arma dela não a ajudaria em nada neste caso.

Eu iria resolver aquela situação.

***

Quando eu cheguei ao aeroporto, fui à busca de informações. No guichê, informei que estava indo para New Orleans. A atendente perguntou meu nome, e o digitou ao mesmo tempo em que eu falava. E então ela me olhou e disse, estendendo-me a passagem:

— É melhor se apressar. Seu voo já vai sair.

Fui guiado até o portão de embarque. O avião não era particular, era apenas mais um da companhia área. Porém, quando eu entrei, as instruções de voos começaram a ser dadas. Quando o avião decolou, eu olhei ao meu redor. Não havia mais ninguém a bordo. Klaus não disponibilizara um avião particular, mas comprara todas as passagens. Por um segundo, cheguei a pensar que ele planejara derrubar o avião. Mas ele precisava de mim, gostando disso ou não.

Recusei todos os lanches e bebidas oferecidas. Eu estava ficando um pouco nervoso com aquele voo. Mas perguntei à comissária de bordo se ela poderia me conseguir um mapa. Apesar de achar o pedido um pouco estranho, ela o atendeu.

Eu analisei o mapa por um longo tempo. Por sorte, destino ou pura coincidência, o maior grupo de lobisomens que eu conhecia se localizava perto de New Orleans. Por azar, destino ou pura coincidência, este também era o grupo mais arrisco que eu conhecia. Não seria nada fácil lidar com eles. Eu conheci o “líder” deles, há algum tempo atrás. Tony era um cara de poucos amigos, que estava sempre procurando por uma maneira de se dar bem. Mas ele era respeitado, e se eu conseguisse convencê-lo, praticamente todo o bando concordaria em me ajudar. E os que não concordassem, Tony garantiria que mudassem de ideia.

Havia outro grupo perto do grupo de Tony. Ficava a quase seis horas de viagem, e era um grupo bem menor. É claro que neste momento qualquer ajuda era bem vinda. Eu visitaria Tony primeiro. Talvez só o grupo dele já fosse o suficiente, já que da última vez que os conheci eles eram bastante numerosos, e poderiam ter novos membros agora. Na verdade eu contava com isso. Não poderia perder doze horas de viagem para coletar um grupo pequeno.

Quando o avião pousou em New Orleans eu ainda estava pensando em um plano. Mas eu conheci Tony há algum tempo atrás, e nós só tomamos algumas bebidas juntos enquanto ele deixava claro que eu era bem vindo ao grupo dele.

Havia um carro esperando por mim. Um homem se apresentou, dizendo se chamar Peter e que iria me levar até Klaus. Ele dirigiu por vários minutos, e em certo ponto do caminho eu tive a impressão de que ele estava dando voltas desnecessárias. Ele reduziu a velocidade e antes mesmo de estacionar eu soube que estávamos no lugar certo. Klaus estava parado à porta.

— Tyler. – ele disse, secamente, quando saí do carro.

— Klaus. – eu respondi. Eu estava indo contra todos os meus instintos de sobrevivência fazendo isso. Eu deveria fugir do Klaus, não ir até ele. Mas aqui estamos nós, frente a frente, como se eu apenas estivesse fazendo uma visita de cortesia. – O que aconteceu?

— Nós não temos tempo para explicações. – ele não me convidara para entrar. Na verdade, ele nem mesmo saíra do lugar. Muito previsível. – Basta você saber que Marcel tem toda a cidade sobre sob seu comando, e ele sequestrou Caroline.

— E porque ele faria isso?

— Para me atingir, é claro. Há um certo... Desentendimento entre nós dois. Se é que você me entende. – ah, eu entendia. Eu entendia muito bem. Isso significa que eles queriam matar um ao outro. Fiquei apreensivo. Caroline correra direto para o meio do fogo cruzado. – Peter estará à sua disposição. Traga os lobisomens.

— Eu vou tentar... – eu disse, voltando ao carro. Eu já estava considerando salvar Caroline sozinho.

— Tyler. – Klaus me chamou, e eu parei segurando a porta do carro aberta. – Para o seu próprio bem, não tente. Faça.

Eu pude sentir o tempo começar a correr.

***

Eu mandei Peter parar o carro há uma distância segura. Eu iria a pé a partir dali. A última coisa que eu precisava era que Tony não me reconhecesse e nos atacasse, por isso pedi a Peter que esperasse no carro.

Caminhei por alguns minutos, e então comecei a entrar na floresta. Eu já percorri aquele caminho antes. Quando precisei fugir de Klaus, eu descobri sua ligação com New Orleans. Aquele provavelmente seria o último lugar em que ele me procuraria, afinal eu estava muito perto dele, muito perto de sua casa. Por isso eu entendi muito rapidamente a gravidade da situação quando ele citou o nome de Marcel. Eu já ouvira falar dele. Ouvi falar de coisas que me faziam agradecer por não conhecê-lo.

E aqui estava eu, percorrendo a mesma trilha que um dia eu percorri para me esconder. A trilha que me levou a alguns lobisomens, e entre eles estava Tony. Na época, eu os encontrara há alguns metros à frente. Mas agora o lugar estava vazio. Continuei caminhando por mais alguns minutos, até que ouvi vozes. Segui em direção a elas.

Encontrei sete lobisomens ouvindo histórias contadas por Tony. Havia uma fogueira, mas ela não estava acessa para aquecê-los, mas sim para cozinhar. Eles bebiam cerveja. Tony gostava de viver no meio da floresta.

— Tony! – eu chamei, apesar de ter certeza que todos lá já haviam notado a minha presença, e já estavam alertas. Porém eles não se moveram para me receber ou para me atacar, afinal, eles eram sete e eu apenas um. Eles não precisam temer.

— Tyler?! – Tony levantou-se e então me reconheceu. Ele me recebeu com um aperto de mãos, o que fez com todos os outros relaxassem. – O que diabos você faz aqui?

— Você não vai me oferecer uma cerveja? – eu ri.

— Seu desgraçado interesseiro. Você sabe que temos as melhores cervejas da cidade! – ele riu. Tony estava se gabando, como fazia normalmente.

Ele me guiou até o grupo e me apresentou para os dois caras que eu não conhecia. Isso era bom, significava que o grupo havia aumentado. Passamos alguns minutos atualizando um ao outro, mas principalmente com conversas desnecessárias.

— Agora me diga a verdade, Tyler. – Tony disse, fazendo-me congelar com a lata de cerveja há meio caminho da boca. – Você não arrastou sua bunda até aqui para tomar uma cerveja. O que está rolando?

— Eu preciso da sua ajuda, Tony. – eu falei, sinceramente.

— Eu já sabia. – ele riu. – No que você se meteu desta vez? Klaus ainda está tentando te matar?

— Não, não está. Mas alguém está tentando matar a garota que eu amo.

— Espera um segundo! Quem está tentando matar quem? – ele perguntou, rindo.

— Marcel. – Tony congelou. Eu me arrependi de ter citado este nome tão cedo.

— Oh, cara... – Tony lamentou. – Não me diga que você está a fim da garota do Klaus?

Eu não pude ignorar a raiva que senti quando ele se referiu a Caroline como “a garota do Klaus”. Se Caroline era a garota de alguém, definitivamente não era de Klaus.

— O que você sabe sobre isso? – perguntei.

— Sei que Marcel está armando algo grande. Eu tenho meus contatos. – ele continuava se gabando.

— O que você sabe sobre a garota? – por alguma razão, eu não achei que devesse expor o nome de Caroline.

— Não muito. Só que ela é o ponto fraco daquele híbrido original idiota. – ele se inclinou em minha direção. – Eu sei que eles querem a cidade e estão lutando por isso.

— Eu vejo que você está informado. – eu falei. – Tony, eu vim aqui lhe fazer uma proposta.

— Você quer que salvemos a garota. – Tony disse, com um sorriso óbvio no rosto.

— Exatamente.

— E por que eu me envolveria nisso?

— Porque eu estou pedindo ajuda a um amigo. – eu falei, tentando persuadi-lo. Mas ele apenas riu.

— Ora, vamos! Não venha com sentimentalismos pra cima de mim, Tyler! – ele ria.

— Você não quer discutir isso com o Kaio? – Kaio era o braço direito de Tony. Mas ele não estava presente neste momento.

— Kaio não está mais disponível. – Tony ficou sério. – Ele partiu.

— Como assim?

— Isso não é da sua conta. Basta saber que ele cruzou o rio. – disse ele. Pode até não ser da minha conta, mas eu entendi o que ele dissera. Kaio partira para o grupo menor, que estava situado há alguns quilômetros deste grupo. Havia uma espécie de acordo de paz entre os grupos, e o rio era o que os separava. Mas a tensão entre os dois era muito nítida.

— Deixe-me adivinhar. – eu disse. – Sophia.

Tony assentiu, bebendo outro gole de cerveja para encobrir a fúria.

Quando eu conheci Kaio sabia que ele estava apaixonado por uma lobisomem do grupo menor, chamada Sophia. E sabia também que isso irritava, e muito, o Tony. E pela tensão entre os dois, eu sabia que Kaio não demoraria a receber um ultimato. E pelo visto, ele o recebera e optara por Sophia.

— Eu vou matar aquele bastardo. – Tony sussurrou. Aí estava. Eu sabia o que moveria Tony.

— Tony, a questão é a seguinte: nós precisamos do elemento surpresa para poder salvar a garota.

— O que você quer dizer?

— Híbridos. Nós precisamos de híbridos.

Um silêncio instalou-se no grupo. Tudo pareceu congelado por um minuto, até Tony caiu na risada.

— Você quer me transformar em um híbrido, como aquele original sacana?

— Exatamente.

— Você enlouqueceu, cara. – bem, isso era possível. – Por que eu faria uma loucura dessas?

— Porque força é poder. E um híbrido é muito mais poderoso do um vampiro ou do que um lobisomem. Você poderá acabar com o grupo do outro lado do rio em um piscar de olhos. – eu sabia que o ego de Tony era o ponto chave. Ele nunca perdoaria Kaio por deixar o grupo.

— Eu não preciso me transformar em um híbrido para isso, Tyler. Eu posso esmagá-los quando eu quiser. – ele disse, soberbo.

— Não, você não pode. – eu disse, calmamente. – Você precisa da lua cheia. E quando a lua subir no céu e você se transformar, Kaio também irá se transformar.

— Eu tenho um grupo maior. – Tony disse.

— Mas não tem nenhum elemento surpresa. – eu disse. Esperei que ele rebatesse o argumento, mas ele não o fez. Tony começava a perceber as possibilidades que eu estava dando a ele. – Um híbrido não precisa de lua cheia para se transformar.

— O quê? – ele perguntou.

— Você poderia atacá-los em qualquer dia. Eles não teriam a menor chance. – eu disse.

Aquela informação também animou os outros presentes, e isso era compreensível. Eu sabia o quão doloroso era a transformação em todas as luas cheias. A sensação de não ter controle sobre o próprio corpo.

Tony levantou-se, caminhou de um lado para o outro, pensando. Eu sabia que não deveria mencionar o vínculo de ligação que seria criado quando eles fossem transformados. Era nítido que ele não gostava de Klaus, e isso era muito compreensível. Se eu dissesse que ele ficaria submisso a ele, Tony me mataria no instante seguinte. E, naquele momento, o vínculo era uma coisa boa. Manteria Tony sobre controle, o quer era muito bom, pois ele poderia estragar tudo com este temperamento.

— Esse original idiota e o vampiro cantor querem tomar New Orleans. Querem a cidade só para eles. – Tony disse, para o grupo. – Mas eles estão ignorando uma coisa.

— O quê? – perguntei.

— Eu também quero. – Tony sorriu debochadamente. – Já está na hora dos Rougarou tomarem de volta o que é nosso por direito. Esta cidade é nossa.

— Isso quer dizer que você aceita me ajudar? – perguntei, mesmo sabendo que o assunto estava encerrado.

— Yuri. – ele dirigiu ao garoto da ponta. – Reúna o grupo.

***

Encontrei Peter exatamente onde eu o deixara, e pedi que ele entrasse em contato com Klaus.

— Eu espero que esteja me ligando para dar boas notícias. – disse ele, logo após atender. Mas nem o sarcasmo de Klaus iria arruinar a felicidade que eu estava sentindo agora que tínhamos o apoio de Tony.

— Isso depende da sua definição de “boas notícias”. – eu disse. – Na minha visão, eu tenho ótimas notícias.

— Você os convenceu? – Klaus perguntou, e eu não pude deixar de notar a leve surpresa na voz dele.

— Você vai precisar de espaço. Muito espaço. – eu acrescentei. – O grupo é bem grande.

— Quão grande é o grupo? – Klaus estava ficando ansioso.

— Tony tem quarenta e oito decididos a se submeter à transformação, e três que ainda estão indecisos. – eu falei, com um sorriso.

— Cinquenta e um híbridos? Isso foi tudo o que você conseguiu?

— Você quer salvar a Car ou começar a Terceira Guerra Mundial? Este é o maior grupo que conheço! Boa sorte procurando outro. – eu disse, com raiva. Eu havia cumprido meu papel. E muito bem por sinal. Eu nunca ouvi falar de um grupo tão grande como aquele.

Klaus permaneceu em silêncio por alguns segundos.

— Onde estão eles? E o que você vai fazer com os indecisos? – ele resolvera voltar ao foco da discussão ao invés de perder tempo discorrendo sobre o quão inútil eu era. Que ridículo...

— Tony vai convencê-los. Ele é o líder do grupo, os outros não têm opção. – eu disse. ― Onde eles estão não importa. O que importa é que eu posso reuni-los a qualquer momento.

Eu não poderia revelar o lugar onde eles ficavam. Eles precisariam de um lugar para o qual voltar quando tudo isso acabar.

— Você não pode trazer todos eles juntos. – disse Klaus. – A movimentação seria suspeita de mais. Traga-os hoje à noite, em grupos pequenos, com intervalos de tempo entre eles. Marcel vigia a cidade inteira. Não quero que ele desconfie de nada.

— Entendi. – eu respondi, apesar de ele já ter desligado.

Devolvi o celular a Peter. Agora eu precisava dividi-los em grupos, estabelecer e horários e esperar a noite cair.

***

Quando anoiteceu, fui verificar se Peter ainda estava lá. Ele disse que Klaus informara o endereço para o qual eu deveria guiar os híbridos.

Eu precisei de quase duas horas para levar todos até lá, sem chamar a atenção de ninguém. Mas Klaus havia conseguido uma casa quase no meio do nada. Parecia abandonada há anos, e só era preciso atravessar uma parte esquecida da cidade. Era impossível que alguém do grupo de Marcel nos visse. Eu os guiei ao porão, que era subterrâneo como em todas as casas antigas, e era muito grande. Grande o suficiente para comportar cinquenta e um lobisomens com conforto.

Klaus chegara vinte minutos depois. Ele inspecionou o porão.

— Isso vai ter de servir. – ele disse, um pouco contrariado.

— É melhor terminarmos isso logo, antes que eu arranque a língua desse idiota original. – esse era Tony. É claro.

― Concordo. Já temos tão poucos lobisomens aqui. Eu não quero ter de matar alguns. – disse Klaus.

Ouvimos passos descendo as escadas e todos se silenciaram. Elijah estava descendo, protegendo alguém que descia logo atrás dele.

— Elena? – eu disse. O que significava aquilo?

— Ainda não aprendeu a diferenciá-las? – disse Klaus, debochado. – Esta é Katerina. A humana Katerina.

Klaus estava se divertindo tremendamente.

— Niklaus, o que é isso? – perguntou Elijah. – Eles são muitos.

— Klaus. – Katherine estava assustada. – Você não pode querer que eu... Que meu sangue transforme todos eles... Elijah...

— Isso é exagerado, irmão. Ela não aguentaria.

— Ela vai ter que aguentar, irmão. Ou eu mesmo a matarei. – Klaus estava falando sério. – Nós não vamos drená-la. Eu preciso do sangue dela.

— Elijah, eu não posso... Eu vou morrer. – eu não acho que já tenha visto Katherine tão assustada como estava agora.

Mas eu finalmente entendera o que Klaus queria dizer com “detalhes sórdidos”. Ele tinha o sangue necessário para criar os híbridos. Katherine era humana novamente, e estava prestes a dar seu sangue para criar os novos híbridos.

— Vocês vão continuar com o drama ou vamos começar logo? – disse Tony, parecendo entediado.

Klaus estava de costas para ele. Alguns segundos depois de ele ter dito aquilo, Klaus se lançou sobre ele, derrubando-o no chão.

Klaus mordeu seu próprio punho e forçou Tony a beber seu sangue. Tony tentou lutar, mas Klaus era muito mais forte do que ele.

Antes que os outros lobisomens tentassem salvar Tony, Klaus o levantou, e na frente de todos, quebrou o pescoço dele. Eu aposto que ele aproveitou isso muito mais do que deveria.

― Isso é o que vai acontecer com todos vocês. – ele falava, alto e claro. – E agora, tudo que precisamos, e o sangue de nossa bela Katerina.

— Klaus, por favor... – Katherine ainda implorava.

Klaus foi até um canto do porão, e puxou, com certo floreio, um lençol que cobria uma cadeira. Uma cadeira com todos os aparatos médicos necessários para a doação de sangue.

— Deixe-me ser claro, irmão. – ele se dirigiu a Elijah. – Você pode dar tempo para que ela descanse, mas até o amanhecer todos esses lobisomens devem estar transformados, entendeu? Começando por nosso amigo falastrão ali.

Elijah não estava gostando daquilo, mas pareceu resignado. E como sua principal fonte de apoio parecia ter desistido, Katherine também percebeu que era inútil desistir. Submissa, ela foi até a cadeira, mas sempre com Elijah ao seu lado.

— Assim está ótimo. – ele disse, e então se virou para os lobisomens, ainda assustados com a morte de seu líder. – E então? Quem é o próximo?

Aquela seria uma longa noite.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?
Tenho quatro coisas para falar, ou escrever, no caso:

1- Como eu consegui adiantar este capítulo, o próximo vai sair ainda esta semana! Aguardem!!

2- O próximo voltará a ser narrado pela Caroline.

3- Como estamos chegando ao ápice da história, vou passar a conta-la de diferentes pontos de vistas, para que vocês não percam nenhum detalhe da trama.
Espero que não fique confuso. Mas se ficar, me avisem nos comentários. ;)

4- Se você acompanha minha história, mas nunca comentou, deixe um "oiI" neste capítulo e me diga o que você está achando. A opinião de vocês é muito importante para mim!

Até o próximo capítulo!!