Com tudo o que havia colocado em mente eu mal conseguira me fixar em algo que não fosse o meu suposto pesadelo . Eu não estava morta , mas não podia ignorar a existência de um corpo decomposto escondido em algum lugar de nossa casa . Eu não sabia se tornaria a ver Tate depois do que havia acontecido , mas eu precisava encontra-lo . Ele havia me escondido muito de mais ... e por mais que eu persista em procurar respostas por contra própria , sei que não obterei um resultado perfeito .

No caminho de volta para a escola , usei minha pequena desculpa de estar deprimida com o termino de meu relacionamento com Tate , para ignorar Brad e caminhar sozinha . Claro que não havia sido um termino , afinal eu nem recebera um pedido concreto ... apenas saímos por uma vez e então recebi a notícia de que ele não me queria . Ser rejeitada fora mais do que angustiante ... mas eu possuía uma terapia específica . Mesmo que depois de meu pesadelo eu esteja começando a temer tentar algo do tipo novamente .

Em frente a mansão não pude deixar de sentir-me receosa . Ela era simplesmente enorme , antiga e assustadora . Isso fora exatamente o que me atraíra nela , agora já não sei mais se eu pensara racionalmente . Não posso dizer que temo o que vi em meu sonho ... eu nunca temi a morte e espero por ela tranquilamente ... mas a ideia de morrer e permanecer neste plano me chocara . E não é apenas isso ... aquele estranho gazebo aos fundos da sala ... cara ... é simplesmente horroroso .

Entrei na casa após um longo suspiro . Não apenas pelo stress que agora a casa me causava , mas por saber que eu havia em parte retornado a ser uma anormal . Não gosto de recordar a dor que " meu dom " me causara no passado e nem de tudo ao qual tive de passar para me livrar dele . Não sou mais aquela criança que se importa com a exclusão das outras crianças ... compreendo que eu sou assim . E dando de ombros para a minha turbulência , apenas pensei enquanto suspirava " Bem ... é o que tem pra agora " .

– Tate - disse surpresa ao vê-lo ao braço do sofá . Ele também ficara tão surpreso quanto eu , mas apenas suspirei o cumprimentando e passei direto enquanto subia as escadas freneticamente . Eu não sabia o que ao certo ele fazia ali ... mas não estava a ponto de questioná-lo ou expulsa-lo .

Joguei minhas coisas sobre a cama e corri em direção ao porão . Fiquei contente ao perceber a ausência de Tate , assim nada me impediria . Abri a porta um tanto receosa ... eu não sabia o que me aguardava na escuridão a frente , mas sinceramente teria de enfrentar . Não sei o risco que coloquei aqueles que amo ... todos estavam ali por um mero capricho meu . Eu os colocara ... eu teria de os tirar .

Poeira , pequenos barulhos semelhantes ao de ratos e escuro . Isso foi tudo o que encontrei a primeiro passo . O lugar todo cheirava a mofo , mas eu podia claramente observar certas formas ali ... felizmente nenhuma era humana . Provavelmente apenas móveis que foram usados pelos antigos donos . Ao fundo eu podia ouvir um estralar ... algo como se um daqueles brinquedos irritantes chamados de " bate-bate " estivesse em movimento ... ou quem sabe até mesmo estralinhos sendo jogados ao chão . Sim , isso me causara arrepios . Mas não o suficiente para me impedir de prosseguir .

Virei-me na direção de onde vinha o barulho por precaução . O que eu menos gostaria seria ser surpreendida por um desses moleques de rua . Já havia ficado claro a facilidade que desconhecidos tem para entrar na casa ... Violet e Tate me mostraram isso . Continuei andando de costas até que esbarrei em algo e acabei caindo . Mas eu não fora ao chão , caíra dentro de algo liso e frio ... algo que parecia ser feito de mármore ou porcelana . Passei as mãos e aos poucos pude perceber que havia caído em uma banheira .

A princípio eu não percebera nada de estranho . Mas então eu fora me sentindo molhada , como se houvesse água ou um líquido mais grosso ali . Mergulhei as mãos sob meu corpo e as levantei ao campo de visão dos meus olhos para que pudesse observar ali ... em meio as sombras pude perceber que estavam cobertas por vermelho ... eu havia caído em sangue . Olhei para frente assustada após ter um lapso e pensar ter visto alguém . Assustada entrei em desespero tentando deixar a poça de sangue , mas nada me causara tantos arrepios quanto o que eu via em minha frente . Possuía uma forma humana e usava algo como um uniforme de enfermeira . Trazia junto a si uma faca em mãos e se aproximava cada vez mais de mim .

" Olha o que ele fez comigo " - disse ela em um tom angustiado , então apontando para seu corpo . Ela aparentava ter sido atingida várias vezes por uma faca bastante afiada . Fechei os olhos enquanto tremia e apenas desejei com todas as minhas forças que aquilo não fosse real .

Quando abri os olhos novamente não havia mais nada . Suspirei profundamente tentando recobrar os sentidos e me levantei da banheira . Eu não sabia o que havia visto ... mas aquilo me dera uma breve ideia do porque de Tate não querer que eu viesse aqui . Caminhei um pouco mais adiante por pura teimosia e então ouvi algo que se assemelhasse a uma risada ou algo do tipo ... mais uma sombra . E isso fora o suficiente para me encostar a parede com a mão ao peito pedindo aos céus para que eu me acalmasse .

Senti uma mão sobre a minha que eu havia levado ao peito e gritei sem sequer abri os olhos . Minha boca rapidamente fora coberta e isso me fizera entrar em um desespero ainda maior , senti meus olhos arderem em uma ameaça de choro mas me segurei . " Não tema " foi o que eu murmurei em meus pensamentos . E depois apenas desejei que estivesse em um dos meus sonhos . Forcei-me a abrir os olhos e então peguei-me sorrindo .

– Não deveria ter vindo aqui . - disse Tate . Ele olhava-ma em um olhar zangado e preocupado . Eu não podia explicar o quão feliz eu estava por apenas saber que era ele .

– Preciso ... saber . - eu disse com dificuldade . Minha respiração estava ofegante e em parte o meu peito doía ... ainda havia a grande confusão em minha cabeça que adoraria saber se o que eu havia visto era ou não real .

– Não ! Não precisa . - disse ele me puxando para fora . Ele me parecia claramente violento , eu não sequer conseguia entender porque me proteger era tão importante para ele .

– Tate ! Chega ! - eu disse enquanto me libertava dele , já no lado de fora . Ele se virou para mim espantando e eu percebi que aquele era o meu momento de levantar a voz . - Você me deu um fora ! Então saía da minha vida e me deixe morrer se é isso o que tem que acontecer porra . - eu disse completamente angustiada . Ele puxou o meu braço observando claramente as cicatrizes recentes e então olhou-me em reprovação .

– Não é assim que irá morrer ! Vai apenas machuca-la ainda mais e aqueles que gostam de você ... e que querem protege-la como eu . - disse ele com um leve sorriso sarcástico .

– Posso tentar algo mais sério . - eu disse puxando o meu braço e o apertando junto a mim . Minhas cicatrizes eram tão pessoais quanto qualquer parte intima do meu corpo . Eu não sabia como ele havia as percebido ... em toda minha vida , ninguém as vira , por isso de certa forma , me senti constrangida .

– Lucy ! Eu não a deixei para que morresse ! E certamente não quero que se mate por mim . Eu quero apenas protege-la . - disse ele olhando-me profundamente . Ele não poderia estar falando sério ... ele não poderia ter me deixado só porque quer me proteger ... é simplesmente bobo dimais .

– PARA DE ME PROTEGER PORRA - eu disse levando as duas mãos a cabeça . Eu não era algo frágil que poderia se quebrar facilmente . Todos os meus anos de vida comprovavam claramente isso .

– O que você quer saber ? - perguntou ele bufando como se houvesse desistido . Eu não sabia até onde ele estava disposto a contar , mas ao menos a verdade seria bom saber .

– Tudo . - disse cruzando os braços . Eu não aceitaria pouco ... não sabendo que posso perder tudo aquilo que considero meu .