Em praticamente toda a minha vida eu jamais pensei que fosse chegar de tal maneira ao fim de minha vida . Claro que isso fora o que eu sempre buscara , mas não pensei que em algum dia eu alcançaria o meu propósito . As pessoas em si buscam um sentido para estarem vivas , palavras que as tragam explicações para tanto sofrimento mas mesmo assim não desistem . Eu não diria que sou fraca ou que não possuo força de vontade ... mas a verdade é que me sinto bem melhor em minha atual condição . Apenas não tão bem como pensei que estaria .

A morte sempre fora para mim o fim . Quando eu finalmente seria vista e livre de tudo aquilo que me cercava ... entretanto eu esperava que pudesse de fato deixar o mundo que estou . Ficar presa pela eternidade nele me parecia mais uma maneira de castigo ... sim eu havia sido castigada por possuir pensamentos aturdidos e considerados malucos . Eu havia sido severamente punida por minha rebeldia ... mas ao menos eu estava morta . Não ! Eu não Estava ! Ou estava ?

Suspirei fundo para observar o corpo em minha frente e me surpreendi ao não encontra-lo mais lá . Havia apenas uma pequena névoa que cercava o esqueleto . Virei-me bruscamente para pensar aonde eu havia ido e ao me virar fui jogada ao chão ... por mim mesma . Eu possuía um profundo corte em minha cabeça e não possuía expressão . Na verdade eu não possuía alma ...

– LUCY ! - Gritaram por mim e tudo o que pude fazer fui me levantar com a respiração ofegante . Olhei ao meu redor a procura de minha eu morta ... mas não havia nada . Nada além de mim mesma ... completamente sozinha em meu quarto . " um sonho " murmurei ... " Apenas um sonho " levei minha mão ao peito e corri em direção a porta vendo Brad . - Está melhor ?- perguntou ele se encostando ao batente da porta com um olhar de preocupação ... a como eu o odiava .

– Grite novamente ! E eu juro que fritarei a sua língua . - eu disse levantando minha mãe até minha cabeça como se quisesse parar desesperadamente a dor . Corri para o andar de baixo vendo minha mãe sentada a mesa ao lado de Vivien , caminhei até o balcão e servi-me de uma xícara de café .

– Bom dia fi ... - dissera minha mãe .

– Abra a porta ! - eu disse antes que pudesse em si controlar a minha boca . Minha mãe observou-me confusa mas caminhou em direção a porta . Do outro lado havia uma senhora de cabelos armados que aparentava ter saído de um seriado de TV dos anos 50 . Dejavú ... - Bom dia Constance ! - Eu disse sorrindo deixando a todos confusos ... eu simplesmente não podia acreditar que estava acontecendo novamente .

– Sou Constance ... sua vizinha . - disse ela olhando-me de maneira estranha . Eu não podia culpa-la ... pensei que minhas " premonições " houvessem acabado assim que entrei a puberdade .

– Blá Blá Blá - eu disse caminhando até a porta e puxando o garoto loiro que até o momento estava testando as possibilidades e vendo se deveria ou não entrar , como se estivesse prestes a embarcar em uma aventura demoníaca . - Olá anticristo ! - eu disse sorrindo , sentindo os olhares de Constance pesar em minhas costas . - Desço em um minuto ... espere-me na varanda . - eu disse sorrindo enquanto subia as escadas . Vi Violet de relance sair do quarto de meu irmão . - Não irei me afastar ! - disse antes que ela pudesse sequer abrir a boca . - E não é tarde dimais ! - eu disse sorrindo .

Rapidamente me arrumei e ignorei meu irmão ao fim do corredor que aparentava bisbilhotar minha vida . Desci as escadas , encontrando Ben no lugar aonde eu havia lhe pedido para estar , sentei a porta puxando-o comigo para o chão e sorri .

– Sou Lucy . - disse lhe estendendo a mão . Ele me observou por um instante e então me cumprimentou sorrindo .

– Chame-me de Ben . - Eu já havia escutado esse nome antes . Mas eu não deveria de fato me importar já que é um nome bem comum na América do norte .

– Escola - disse meu irmão passando e dando-me um tapa enquanto seguia a frente após jogar minha mochila em meus braços . Sorri para Ben e então disse antes que ele pudesse dizer .

– Sim ! Eu o vejo depois ! - Sorri e saí correndo de olhos fechados . Corri desesperadamente e então abri os olhos com a respiração ofegante e instável . Quando vi que havia ultrapassado as barreiras da casa suspirei profundamente e sorri abraçando meu irmão . - Viva ! - eu disse gritando deixando-o confuso .

Bem ... quando eu possuía apenas 6 anos de idade eu costumava ser acordada ao meio da noite após ter pesadelos , completamente sem sentidos e atordoantes . Na maioria das vezes eu sempre presenciava situações distintas com pessoas que eu jamais havia visto na vida ... sonhos que uma garota da minha idade jamais deveria ter . Com o passar do tempo eu passei a vivenciar muitas das situações que via em meus sonhos após acordar , as vezes o meu dia seguinte era uma cópia ... ou as vezes meus sonhos apenas serviam como avisos .

Me lembro de alertar minha mãe a não dar a comida do dia passada ao cachorro pois havia algo nela que não deveria estar . Minha mãe não me dera ouvidos como sempre e quando o cachorro falecera no dia seguinte eu simplesmente ativei a atenção de todos . Depois lembro-me de dizer aos meus pais sobre a morte de uma tia distante , avisei-os sobre o acidente que minha professora iria sofrer e então quando eu nunca falhei ... fui levada a diversos psiquiatras , que não encontravam justificativa para meus problemas .

Logo a notícia de minhas " visões " passou a circular pela cidade , fui taxada de anormal e foi aí que se iniciou o meu caminho de antissocial . Não que eu me importasse .. afinal fora os olhares tortos e as fofocas que sempre começavam quando eu passava pelos corredores de minha escola , nunca senti diferença alguma em minha maneira de viver . As visões pararam quando eu cheguei aos doze anos de idade . Não me lembro do que fiz , mas acho que fora algo como ... ter bebido pela primeira vez ou ter me drogado .. após isso passei a ter uma vida normal ... até o momento .

Mas o problema não é isso em questão . Se tudo o que eu havia sonhado , havia de fato acontecido até o momento menos o fato de eu estar morta quer dizer que eu fui avisada ... cruelmente avisada . Posso estar prevendo uma morte que se aproxima ou a minha própria morte ... mas morrer não fora o que mais me assustara . Havia algo na casa , algo que Tate e Violet sabem muito bem ... algo que preciso desesperadamente descobrir ... ou posso perder alguém que amo e quem sabe a mim mesma .

A escola hoje se passara como um grande borrão . Nada ao meu redor possuía uma forma concreta , afinal eu não conseguia me fixar em nada sólido . Eu apenas me fixei em meus pensamentos tentando me lembrar de qualquer coisa que pudesse haver na casa de anormal ... eu havia sido responsável por nossa mudança para aquela casa e era minha obrigação nos livrar de qualquer coisa que venha nos atormentar . Apenas conseguia pensar no porão ... Tate havia se descontrolado quando me vira lá , dizendo ser perigoso ... provavelmente o que procuro encontrarei lá .