Organizando seus pertences na nova casa, Sakura se sentia completamente livre da tirania de Kisashi.

Havia comprado um apartamento no centro de Tóquio, próximo à faculdade. Tenten e Hinata, juntamente com Sakura, se mudaram para o local, alguns dias depois da discussão entre Kisashi e sua filha.

– Acho que você fez certo, Sakura – comentou Hinata, carregando uma caixa cheia de livros para a sala. – Sabe, você não suportaria ver sua mãe a continuar perdoando seu pai por tudo o que ele faz de ruim. Uma hora você acabaria explodindo.

– É – concordou Sakura, com melancolia. Não falava com a mãe desde a discussão e tinha certeza de que seu pai era o motivo disso. Provavelmente, havia proibido Mebuki de falar com a filha.

– Hey, vocês souberam disso? – Tenten surgiu com seu celular na mão. – Vai ter um baile de encerramento do ano na faculdade.

– Deixe-me ver – Sakura pegou o celular de Tenten e se pôs a ler a notícia que estava no site da universidade. – No dia 29 de novembro, a Universidade Konoha irá organizar o baile anual de encerramento do ano. Aos alunos interessados. O tema é os anos 80.

– Que chato – comentou Hinata, dando de ombros.

– Eu acho legal – Tenten sorriu, largando-se no sofá, com uma expressão sonhadora. – Será que seu primo iria comigo, Hina?

A Hyuuga revirou os olhos e riu.

– Não viaja, Tenten. – e pegando uma caixa, sumiu de vista pelo corredor.

Tenten bufou.

– Assim não dá! Hina não me ajuda com o Neji! – exclamou, seguindo até seu quarto e batendo a porta em seguida.
Sakura deu de ombros e pegou mais uma caixa. Pelo menos, se sentia em casa naquele belo apartamento.

(...)

Na manhã do dia 29 de novembro, Sakura caminhava com Hinata e Tenten pelos corredores da Universidade Konoha, saboreando seu café recém comprado e aproveitando o clima frio – o que mais gostava.

– A festa é hoje e ainda não sei o que vestir – comentou Sakura, pensativa.

– Para que eu existo? – Tenten lhe deu uma cotovelada gentil, seguida por uma piscadela. – Relaxa. Tenho o look perfeito para você, Rainha do Baile.

Sakura revirou os olhos e tomou mais um gole de seu café. Não estava realmente animada com aquele baile; odiava festas. Mas o fato de Tsunade ter colocado Sakura entre as participantes do “Rainha do Baile”, praticamente obrigou a rosada a participar do baile indesejável.

– Só espero que eu não seja a “Rainha do Baile” – Sakura fez aspas no ar com os dedos. – Odeio ser o centro das atenções.

– Mas você é a filha do presidente – Hinata encarou Sakura, balançando a cabeça. – Nunca deixará de ser o centro das atenções.

– É isso que me irrita – Sakura jogou o copo vazio na lixeira em um arremesso perfeito. Virou-se para as amigas. – Todos já sabem que eu não moro mais com meu pai e ainda assim, me associam há tudo o que ele faz ou deixa de fazer. Quero ter paz no baile de hoje pelo menos.

Tenten e Hinata se entreolharam e assentiram.

As garotas saíram pelos portões da faculdade, mas não chegaram a dar mais de dois passos, quando um grupo de jornalistas se aproximou delas, segurando câmeras e microfones.

– Sakura Haruno – um deles ficou à frente da rosada, que não conseguia assimilar o que acontecia. – É verdade que você foi expulsa de casa pelo seu uso de entorpecentes?

Sakura arregalou os olhos, enquanto flashes atingiam seu rosto sem cessar. Levou a mão à face, tentando impedir a luz penetrar em seus olhos, mas tornou-se impossível escapar.

Porcaria de fotógrafos persistentes.

– Eu... – começou Sakura, enquanto Tenten e Hinata, a encaravam boquiabertas. – Eu não sei de nada sobre isso. Agora me dêem licença...

– Qual sua opinião sobre os usuários de drogas?

– Vem – Hinata puxou Sakura pelo braço, enquanto a rosada protegia o rosto dos flashes.

As garotas começaram a correr para longe do grupo de jornalistas. Estes a seguiram, mas logo que Sakura adentrou seu BMW e acelerou, os jornalistas finalmente desistiram, até se tornarem simples manchas negras na mente da Haruno, que apenas gostaria de entender o que acabara de acontecer.

(...)

Kisashi organizava papéis importantes espalhados em sua mesa, quando Mebuki adentrou o escritório, emanando fúria.

– Você foi longe demais! – exclamou, apoiando as mãos na mesa e ficando cara a cara com o marido. Este permaneceu impassível. – Como pôde levantar tais mentiras contra nossa filha?

– Sua filha – corrigiu Kisashi, com os olhos voltados para seus papéis. – Sakura deixou de ser minha filha a partir do dia em que me enfrentou.

– Você sabe o que fez, seu cretino? – gritou Mebuki, batendo na mesa. – Você estragou a vida dela! Por que não deixou as coisas do jeito que estavam?

– Porque Sakura merecia uma lição – Kisashi encarou a esposa, levantando-se de sua poltrona e a encarando. – Você sempre a protegeu, Mebuki. Por isso ela é o que é hoje.

– Ela é ótima! – lágrimas escaparam dos olhos de Mebuki. – Sakura é bondosa, ao contrário de você!

– Eu não sou bobo, Mebuki – Kisashi organizou sua pasta. – Sou o presidente do Japão, esqueceu? A questão, não é ser bondoso ou não...

– Não sei porque me casei com você – Mebuki balançou a cabeça, em reprovação. – Você é cruel...

– Você se casou comigo pelo meu dinheiro, Mebuki – Kisashi sorriu sadicamente. – Não porque me amava. Você não tinha onde cair morta, por isso se casou comigo...

– Quieto – sibilou Mebuki, apontando um dedo na face do marido. – Não fale sobre isso! Sabe que eu não tive sorte na vida! Porque acredite, se eu tivesse uma vida diferente, com certeza eu não estaria ao seu lado hoje e sim, ao lado do homem que realmente ME AMOU UM DIA!

O tapa fez Mebuki virar o rosto e cair no chão. Kisashi tinha um sorriso diabólico nos lábios, enquanto se aproximava da esposa e a puxava pelo pescoço, erguendo-a do piso de madeira com grande facilidade.

Mebuki tentou se desvencilhar do marido, mas este era muito mais forte que ela, e a dominou facilmente, prendendo seu pescoço cada vez mais, causando a angustiante falta de ar.

– Eu poderia muito bem acabar com você – sussurrou Kisashi, lentamente. – E posso. Provoque-me mais um pouco Mebuki, e juro que será a última vez.

Largou-a no chão, enquanto a mulher tossia freneticamente, aliviada por finalmente conseguir respirar. Kisashi sorriu novamente.

– Se quer tanto ficar com o seu antigo amor, pode até tentar encontrá-lo. Mas saiba que quando eu descobrir, mato os dois – e saiu do escritório, deixando para trás uma mulher angustiada e com a forte dor da angústia.

(...)

Sasuke decapitava bonecos na sala de treinamento, no subterrâneo da mansão Uchiha. Quando passou a lâmina de sua espada pelo último boneco, parou com os movimentos, ofegante.

Desde o término da missão mais impossível de sua vida, Sasuke não se sentia mais como o mesmo. Não se sentia como o antigo Sasuke, que matava sem piedade e aceitava qualquer missão.

Depois que deixou Sakura em Tóquio, não conseguia parar de pensar na rosada por um minuto sequer. Em pensar que não se despediu...

Afastou aqueles pensamentos deprimentes de sua cabeça. Caminhou até a mesinha postada ao canto da sala, onde estavam várias garrafinhas d’água e alguns sanduíches – provavelmente deixados por Mikoto. Pegou uma das garrafas e a abriu, despejando o líquido refrescante pelo corpo.

As portas de ferro se abriram e Naruto surgiu, também descalço e com roupas de treinamento. Tinha uma expressão deprimida no rosto.

– E aí, Teme – cumprimentou, com um toque de mãos. Afastou-se do Uchiha e seguiu até a parede repleta de armas. – Como estão as coisas?

– Péssimas – respondeu Sasuke, de modo sincero.

– Para mim também, se realmente importa – Naruto deu de ombros, enquanto girava dois revólveres nas mãos.

Um silêncio se prolongou entre os dois, que estavam absortos em seus próprios pensamentos.

– Onde está Itachi? – perguntou Naruto, quebrando o silêncio.

– Viajou para Nova York – respondeu, pegando sua espada novamente. – Vai ficar uns dias por lá, cumprindo uma missão de rastreamento.

– Ele está bem mau, não é? – indagou, pensativo. – Depois que a Ino morreu...

Não chegou a terminar a frase, parecendo se perder nos próprios pensamentos. Sasuke suspirou.

– Você sente falta da Hyuuga? – perguntou, atraindo a atenção do amigo.

Naruto assentiu, tristonho.

– Ela me faz falta. – sorriu de lado, encarando o amigo. - Mesmo que a missão tenha sido incompleta, elas marcaram mesmo nossa vida.

Sasuke deu as costas para o amigo.

– Talvez – e saiu da sala de treinamento.

No fundo, não queria admitir que poderia sentir algo por Sakura. Talvez fosse apenas algo sem sentido, uma atração física e fim. Mas a questão é que, por um minuto sequer, conseguia esquecer a troca de beijos na praia, ou em qualquer momento que tivessem passado juntos.

Coincidentemente, Sakura pensava na mesma coisa. Deitada em sua cama, afogada na tristeza de ter sido colocada na mídia como uma “usuária de drogas”, sendo provavelmente culpa de seu pai, não deixava de pensar em como Sasuke fazia falta.

Mesmo que seus sentimentos fossem falsos, que as palavras saídas de sua boca fossem mentiras ensaiadas, Sakura concluiu que apesar de ser um assassino, Sasuke fora o único que realmente marcou sua vida de uma forma inusitada.

E agora, para ambos, a separação se tornou um caminho sem volta, onde a solidão os atingia como facas.