Ninguém sabia, na verdade, porque havia uma comitiva do Governo Britânico ali, hospedada de última hora. Era um sinal de que algo ruim estava acontecendo nas relações entre Inglaterra e França, aparentemente países amigos. Mas quem trabalhava ali pouco se importava em entender. O fato era que aqueles ingleses exigentes estavam ali, e o Hotel encontrava-se já repleto de turistas, tinha de lidar com mais essa demanda, da qual estava plenamente despreparado em administrar.

         Muitos destes diplomatas acabaram sendo instalados em quartos mais simples, e estavam insatisfeitos. Os funcionários faziam o possível e o impossível para tornar o ambiente mais “habitável” para aqueles, que mais pareciam ter a própria Rainha na barriga.

         Esther mal tivera tempo de vestir o uniforme de arrumadeira, e já foi atirada à Cova dos Leões. As arrumadeiras, que em sua totalidade eram francesas, tinham dificuldade em entender, e os diplomatas, embora soubessem francês, pareciam irritados por serem atendidos por alguém que não se dava ao trabalho de saber o seu idioma. Como se todas as pessoas do mundo fossem obrigadas a falar inglês.

         -Esther, aller à la salle 506, car il ya un Anglais qui est furieux contre le jeu d'oreillers. – ordenou a gerente.

-Oui, madame.

         Esther subiu prontamente as escadas, e foi até o quarto 506. Pediu licença e entrou, armada com três tipos diferentes de travesseiros.

         -Em que posso ajuda-lo, senhor? – ela perguntou, forçando seu sotaque, deixando-o mais britânico possível. O inglês, que parecia possesso, aliviou-se apenas em ouvir sua voz.

         -Oh, é muito bom encontrar um conterrâneo meu. Por favor, este travesseiro é muito duro, estou procurando por algo o mais próximo possível do travesseiro que uso em casa... – ele disse, um pouco mais flexível.

         Depois de deixa-lo com uma melhor opção, Esther seguiu para o outro quarto, onde encontrou outro inglês que não sabia onde ficavam as toalhas. E depois, Esther seguiu para outro quarto, e mais um. Não era nada muito complicado, e nem uma questão de má vontade. Ela percebeu que a maioria dos homens daquela comitiva, realmente, não sabia falar francês. Ela pensou, no início, que era uma comitiva de diplomatas, ou algo assim, mas deveria ser alguma outra coisa, um congresso ou algo do tipo.

         Diplomatas. Sempre que ela pensava em diplomatas, pensava em Sigerson. Estranha associação.

         Por final, ela foi ao quarto 604.

         -Com licença, senhor.

         Um homem, um tanto robusto e alto, de cabelos meio grisalhos, caminhava de um lado para o outro no quarto, fumando um cigarro. Parecia tenso, muito preocupado, e que agora estava refletindo sobre alguma coisa, a ponto de nem se dar conta de sua presença. Ou talvez ele nem tivesse dado conta de sua presença por causa, simplesmente, do uniforme que vestia. Esther não se deu a divagações e continuou sua arrumação, partindo para o quarto, para não incomodar o tal sujeito.

         Não foi a melhor opção quando ela viu outro homem, deitado na cama, com o colarinho desalinhado e os olhos cinzentos perdidos no teto, como se estivesse em outro mundo.

         -Sigerson?!