Shalom - As Memórias de John Sigerson escrita por BadWolf


Capítulo 13
Capítulo 13: Paris


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não enlouqueci!!! Isso mesmo, são 2 capítulos de uma só vez. Essa semana será bastante atribulada para mim, então decidi antecipar.

Vamos ver como será a vida em Paris e se Dmitri vai deixar os dois em paz.



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–Desculpe perguntar, Sigerson, mas qual é a sua idade?

O trem tinha acabado de parar em Lyon. Estavam parados a algumas horas, e era tentador ir a cidade. Holmes conhecia Lyon (de más lembranças, na verdade, como a imensa depressão que sentira em um quarto de hotel, no auge de sucesso sua profissão), e não queria muito descer. Nem mesmo Esther, que estava curiosa por conhecer mais a França, pensava em descer. Estavam sem dinheiro, então o que fariam? Seria melhor que esperassem o próximo trem para Paris, embora a vontade de caminhar um pouco e esticar as pernas fosse tentadora.

-Trinta e oito.

Permaneceram, então, na estação. Estavam agora admirando a paisagem da cidade (o pouco que dava para ver da janela de um trem), jogando conversa fora. Holmes sempre foi muito reservado a qualquer coisa sobre si, mas abrira uma brecha. Estava há meses na companhia de Esther e decidiu, naquele restaurante judaico, que seria até mesmo constrangedor se eles permanecessem se tratando por Mister ou Miss., embora chama-la de Esther fosse muito íntimo, e chama-la apenas pelo sobrenome Katz completamente inadequado, pois dava-lhe a sensação de que estava conversando com um homem. Ele poderia fazer isso, da mesma maneira como ele tratava seu melhor amigo como Watson, mas a própria, inclusive, não tinha gostado de ser chamada de Katz. De fato, era estranho. Sem alternativas, restou ser chamada de Esther mesmo. A iniciativa tinha sido tomada no restaurante, mas os “incidentes” da noite passada fizeram Holmes se distanciar de maneira natural outra vez. Mas como a moça não aparentava se lembrar do que tinha acontecido, o acordo precisava permanecer, para não gerar estranhamento.

-O senhor parece ter um pouco mais que isso, sem ofensas.

Holmes suspirou. – De fato. Qualquer um daria quarenta e tantos anos em mim, ou até mais. Acho que o trabalho envelhece as pessoas.

-Não quero parecer intrometida, mas o senhor não sente falta de ter um lar de verdade? Quero dizer... O senhor deve viver muito tempo assim, na estrada. Ter uma casa não lhe faz falta?

-Às vezes. – confessou Holmes. – Eu tenho alguns planos, mas depende do sucesso de uma série de fatores, e só assim eu posso pensar em me estabelecer em algum lugar. – concluiu. – Bem, parece que o trem está começando a partir. Creio que falta pouco para chegarmos a Paris, mademoiselle.

-Estou muito ansiosa. Será minha primeira vez lá, como sabe.

-Sim. Er... Desculpe perguntar, mas onde a senhorita nasceu, na França?

-Em Chesbourg, uma cidade perto do Canal da Mancha. E o senhor, já esteve em Paris quantas vezes? – ela perguntou, retirando-o de suas reflexões.

Holmes perdera até as contas de quantas vezes estivera em Paris, até mesmo por trabalho, mas mentiu. – Umas duas vezes. Você vai ver com seus próprios olhos o quanto é uma cidade encantadora.

Enquanto estavam sentados em um banco, esperando pelo próximo trem para Paris, um senhor sentou-se ao lado deles, lendo um exemplar do Strand, que tinha na capa “O Problema Final – A Última Aventura de Sherlock Holmes”.

-Parece que lançaram a última história de Sherlock Holmes... – observou Esther, com o próprio Holmes.

-Hum?

-É... Sherlock Holmes, o detetive... Eu nunca li nenhuma de suas histórias, mas eu sei o quê ele é. Na verdade, quem as lia era meu irmão, David. Especialmente quando morávamos em Liverpool, e depois, quando passamos a viver como andarilhos fugindo do Conde Ivanov, foi mais difícil acompanhar, mas ele sempre dava um jeito. Ele soube da notícia, e ficou um tanto desapontado.

-É mesmo? – Holmes parecia surpreso.

-Uma pena, não é? Acho que esse Sherlock Holmes representava de alguma forma, a Justiça. Quando estamos tão desacostumados em tê-la, acabamos nos agarrando a pessoas que nos oferecem esperança de que há Justiça.

-Sim, mas... Bem, esse detetive aí... Não necessariamente ele fazia Justiça... Porque ele tinha seu senso de justiça que nem sempre coincidia com a Lei.

Esther ficou pensativa. – Posso não conhecer as histórias dele, mas imagino que a admiração que ele provocava nas outras pessoas só me faz acreditar que, mesmo assim, ele era um homem de valor. E nem sempre os conceitos da Justiça são justos. Na Inglaterra, por exemplo, o divórcio não é permitido...

Holmes ficou espantado. – Divórcio?! Então a senhorita é mais liberal do que eu pude julgar.

-Espero que você não me entenda mal, Sigerson, mas o divórcio, por vezes é a melhor alternativa para muitos casais. Nem sempre uma das partes está unida à outra por amor.

Holmes decidiu não discutir, e a conversa tomou outros rumos.

Em alguns dias, Esther pôde apreciar Paris com seus próprios olhos.

Holmes levou Esther até a estalagem de um conhecido dele, Jacques, que ficava no subúrbio da cidade. Como fazia mais de dez anos que os dois não se viam, e Holmes estava com o visual e trejeitos completamente diferentes, não foi difícil enganá-lo. Ele hospedou-se como Sigerson e disse que Esther era sua meia-irmã, pedindo então um quarto simples para cada um.

Embora estivesse sentindo-se bem, Holmes resolveu ficar o resto do dia em seu quarto. Ele andava um tanto melancólico naqueles dias. Dentro de sua bagagem, havia um caderno e lápis, e ele os tomou para escrever uma carta, para Watson. Àquela altura, a morte de Sherlock Holmes já tinha sido difundida no continente, e para sua surpresa, Watson tinha publicado tudo que acontecera em Reichenbach, intitulado em um conto chamado “O Problema Final”, que fora publicado no Strand. Desde que vira um passageiro na estação lendo a revista, ele se deu conta de que a dor que poderia, àquele período, estar adormecida em Watson, seria reavivada com a publicação, e o que era pior, em má hora. Ele agora era um homem que tinha enterrado esposa e filho recém-nascido e não deveria passar por isso. E era tudo culpa minha, lamentava-se Holmes.

Sem que Esther percebesse, ele também comprou, em Paris, uma edição daquela revista. Ela estava dentro de sua bagagem, mas Holmes ainda não tivera coragem para ler. Aproveitou-se daquele momento para isso.

Ele sentiu-se culpado por infligir tamanha dor em Watson, especialmente porque assistira o desespero do amigo, quando este se deu conta de que ele tinha caído das Cataratas junto com Moriarty. Pensou também na pobre Mrs. Hudson, que já tinha alguma idade e certamente também estava sofrendo com sua morte. O único ileso era Mycroft, que soube disso um mês depois, e se mostrou momentaneamente aborrecido pelo fato do irmão ter forjado a própria morte, mas relevou apenas quando Holmes disse-lhe o verdadeiro motivo. Holmes tinha a impressão de que ninguém o perdoaria, se ele “ressuscitasse” dos mortos. Mycroft fez isso, claro, porque era seu irmão, mas e quanto à Watson e Mrs. Hudson? Seriam capazes de fazer o mesmo?

Ele pegou no lápis e começou.



Meu Caro Watson,



De repente, uma batida repentina na porta.

-Sigerson, eu posso entrar?

Holmes ficou abalado, e rapidamente escondeu o papel no fundo do colchão da cama.

-Er, pode...

Esther entrou. Desde que colocara os pés em Paris, seu semblante estava renovado, revigorado. Ela parecia maravilhada com a cidade, e de certa maneira sentia orgulho por ser francesa e sentir-se também uma parte daquilo tudo. Ela perguntou a Holmes se ele estava disposto a almoçar ali, e Holmes concordou. Ambos, então desceram para almoçar.

Holmes e Esther passaram os dois dias seguintes procurando algum emprego pela cidade. Holmes conseguira um, para desgosto de Esther outra vez em um cabaré, que lhe pagava alguma coisa, mas Esther tinha dificuldades em conseguir algum trabalho decente, especialmente porque era mulher.

Certo dia, Esther apareceu para si, completamente sorridente.

–Sigerson, eu preciso te contar uma novidade...

–Er, Esther... Não querendo ser indelicado, mas... Será que podemos conversar mais tarde? Eu preciso ir agora, está bem?

Ela percebeu imediatamente que algo o tinha afetado. Sem dúvida, estava relacionado àquele recado que estava em sua mão, e que ele rapidamente escondeu no bolso do terno.

–Tudo bem.

–Não me espere para almoçar, Esther, pois eu já almocei e acho que vou demorar.

Com rapidez, Holmes pôs seu chapéu e saiu da estalagem, fitando uma última vez o recado que recebera, sem remetente, das mãos de um moleque de rua. Ele riu outra vez, pela maneira sempre econômica do seu amável mensageiro.



Onde você esteve? Último dia em Paris. Hotel preferido da Rainha.



Esther bufou, irritada. Estava louca para contar a ele o que tinha lhe acontecido, o golpe de sorte que tinha recebido logo em seu segundo dia em Paris. Que graças a uma moça, que ela fez amizade no trem, ela conseguiu um emprego, de última hora, no Hotel Gran-Lumié. Como havia uma comitiva do Governo Britânico hospedado lá, o hotel estava tão lotado de hóspedes exigentes que eles precisaram reforçar o quadro de funcionários, ainda que temporariamente. Precisavam de gente que falasse inglês, e a senhora do trem, que trabalhava neste hotel e sabia que Esther era fluente, estava precisando de emprego e que era uma boa moça, imediatamente pensou nela e a indicou para trabalhar com urgência. Ainda resignada, Esther subiu para seu quarto, e se preparou para se apresentar ao seu novo trabalho.



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Notas finais do capítulo

Holmes, que frio na espinha! Que cutucada que Esther te deu falando sobre Sherlock Holmes.

Finalmente, para quem estava torcendo por isso, Mycroft está chegando! Ele é o meu personagem preferido, em todas as séries. O Gatiss em Sherlock é o Mycroft perfeito do século XXI. Não gosto muitos dos episódios que ele escreve para Doctor Who, mas ele e seu guarda chuva em Sherlock me fazem perdoá-lo por isso.

Quanto ao final, só algo a dizer: não falo nada... rs


Até a próxima, galera! E reviews!
BadWolf



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