Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 5
Sete anos de azar.


Notas iniciais do capítulo

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Podem começar o capítulo ouvindo-a :)
Boa leitura.



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Estacionei a Mary na vaga que deveria ser a mais distante da entrada do shopping.

Meus cabelos negros encaracolados estavam enrolados e escondidos num coque frouxo e é uma pena que eu não pudesse fazer o mesmo com o meu rosto.

Tinha a leve impressão que todos os dias diante do espelho era uma batalha perdida.

Fui recebida com o maior sorriso de todos os tempos por minha melhor amiga e sua montanha de sacolas. Não sei onde ela brotava dinheiro para comprar tanta coisa.

-Comprei um par de lingerie pra você que levará o Jeff a loucura! - Comemorou. - Depois você me paga.

Mas no segundo seguinte eu notei que algo estava diferente.

Ellie estava mais que alegre, estava radiante.  

-Pode contar o motivo da felicidade. – Tentei acompanhá-la num sorriso torto.

-Eu não posso contar... – Mordeu o lábio inferior.

-Porque não?

-Porque não posso!

-Então tudo bem.

-Tá legal, eu conto. – Falou toda animada. Eu ri e deixei-me ser puxada até a praça de alimentação.

-Podemos pedir algo antes? Eu estou morrendo de...

-Vou morar com o Collin! – Provavelmente a praça de alimentação inteira ouviu aquilo. Arrisco dizer que até os vidros do retrovisor da Mary quebraram depois dessa.

-...Fome.

-Lembra-se do Collin?

-O cara com quem você namorou 2 meses?

-Pois é! O namorado que eu passei mais tempo. – Disse toda orgulhosa. – Há algum tempo nós vínhamos nos encontrando, não era nada demais até que ele ficou puto porque me viu com outro cara.

-Bem típico. – Cortei-a.

-Eu disse que nós não tínhamos nada sério, então eu era livre pra fazer o que bem quisesse. – Suspirou. O final feliz estava próximo. – Foi justamente aí que ele me pegou com força, aquela pegada ótima que sempre teve, e murmurou no pé do meu ouvido para que eu fosse dele e só dele.

-Então agora você vai morar com o cara? – Arqueei uma sobrancelha.

-Isso não é ótimo? Finalmente vou juntar as escovas de dente, amiga. Vou desencalhar dessa vida de procurar alguém nesse mundão porque eu achei minha alma gêmea, minha cara metade. E olha só... – Estendeu-me a mão. – Ainda me deu um anel de compromisso.

Eu queria mesmo estar feliz por minha amiga, e eu estava, só que...

Bem, a Ellie nunca desejou nada disso. Ela nunca quis compromisso sério com ninguém. E eu queria. Sempre quis.

Sorri para ela, afinal ela também merecia isso. Merecia ter sua chance de ser feliz e botar juízo na cabeça.

-Uma nova fase da minha vida, amiga. Uma nova fase.

Era tão estranho vê-la ali, naquela posição que de costume era minha.

Sem saber se o que ofuscava mais era seu olhar ou o seu o anel.

***

-Você está me ouvindo? – Sua mão passou repetidas vezes de frente ao meu rosto antes que eu tivesse conhecimento dela.

-Oi? Claro. Quer dizer... Não, me desculpe. – Ajeitei-me no banco à sua frente e deslizei o corpo para frente. – Do que estávamos falando mesmo?

-Do que eu estava falando, você quis dizer.

Não pareceu exatamente chateado com isso, apenas tomou mais um longo gole do café e me observou.

-Sua estranheza além do normal tem a ver com a felicidade da loirinha? – Apontou com o olhar para Ellie, que dançava na frente da máquina de café de um jeito engraçado.

-Não estou estranha. Não além do normal.

-Não está olhando para sua cara nesse momento, Vida. – Deu de ombros.

-Já disse para não me chamar de vida. É brega.

-Não me incomodo se me chama de Jeff pelas minhas costas, Vida. Até gosto.

Senti meu rosto corar e o fitei surpresa.

-Como sabe que te chamo de Jeff?

-Além de você ter deixado escapar outro dia, você e sua amiguinha de belas pernas não são exatamente silenciosas.

Ele achava que Ellie tinha belas pernas. Devia se interessar pela Ellie então, ela era infinitamente mais bonita que eu. Talvez, no final das contas, ele só estivesse ali por ela.

-Então porque você não chama a Ellie para fazer o papel ridículo da sua noiva, hein? – Minha voz aumentou uma oitava. Estava esganiçada.

Na verdade eu estava magoada.

Magoada por um acúmulo de coisas. Por ter terminado com o namorado que eu achava que amava e a recíproca fosse verdadeira e ele não ter nem feito uma ligação para pedir perdão (eu não merecia isso tudo?). Além do mais, eu estava me achando egoísta e mesquinha por estar sentindo inveja do que a Ellie tinha conquistado.

Um sonho que nem mesmo ela almejava.

Leitor, tente não me julgar tanto. Existem sentimentos que nós sabemos que são errados senti-los, sabemos que não são justos e nós até tentamos ignorá-los ou, os mais corajosos, tentam lidar com eles, mas eu não conseguia. Nem sabia se queria. Eu os acomodava quietamente no fundo da mente e hora ou outra eles explodiam em perfeita sincronia.

Estava pronta para sair dali batendo o pé e com os olhos ridiculamente marejados quando sua mão pressionou meu punho.

-Mas o que...? – Seus olhos encontraram os meus. – O que deu em você hoje?

-Só a TPM. –Tentei me livrar da sua mão, mas ele pressionou mais forte.

-Você pode sentar, por favor? – Perguntou num tom contido. Ele estava se esforçando um bocado para não gritar comigo. Eu sabia que era inconveniente naquele momento.

-Jeff... Eu realmente... – Funguei baixinho.

-Senta. – Ordenou.

-Você está me machucando. – A pressão de sua mão no meu punho era tolerável, mas no mesmo instante ele me soltou. Para evitar mais confusão, acabei sentando novamente a sua frente.

Mais uma vez seus olhos verdes acastanhados me fitaram de maneira minuciosa, procurando alguma causa para meu chilique.

-Vida. – Ele não soou irônico e nem eu o repreendi.

-Eu tenho que voltar para o caixa. – Interrompi-o.

-Não agora. – Mais uma vez aquela voz autoritária. Suas mãos procuraram as minhas estendidas na mesa. Eram quentes e reconfortantes, mas em momento nenhum tive coragem de olhar em seus olhos.

Fui eu quem tive que quebrar o silêncio.

-Porque vocês, homens, são tão idiotas?

-Ah... – Ele se afastou. – Já entendi o que está acontecendo. Chegou o período de odiar o gênero masculino. – Mais um longo gole do seu café. – Não vai demorar muito. Só até sair da seca.

Revirei os olhos, até parar nele.

-Não estou na seca. – Repliquei.

Com seu gesto único, ergueu uma sobrancelha e me lançou um olhar divertido.

-Não estou!

-Quem foi o último cara com quem você transou, Vida? – Questionou.

Minhas bochechas entraram em chamas. Abri a boca para respondê-lo, mas nada saiu, quando fui passar as mãos nos cabelos minha mão esbarrou no saleiro e ele espatifou na mesa.

-Ótimo. Mais anos de azar.

Jeff gargalhou.

-Só faltava você me dizer que o único cara com quem já transou foi o seu ex-namorado.

Se fosse possível, fiquei ainda mais vermelha e Jeff riu ainda mais.

-Cala a boca, Jeremy. – Resmunguei. – Se eu quisesse mudar esse conceito, teria ido a uma das festas da Ellie. Estou feliz assim.

-Também estou feliz com isso, Vida. – Sorriu meia boca. – Você não sabe o quanto.

-Nós acabamos aqui? Eu tenho que voltar ao trabalho.

-Só mais uma coisa. – Pediu. – Tenho um lugar ótimo para levar as crianças hoje. Você poderia deixar seu carro em casa e nós iríamos pegá-las?

-Você não trabalhava a tarde? Na oficina?

-Trabalho com carros, não em oficinas. – Corrigiu-me. – E estou de folga. – Sorriu.

Dei de ombros.

-Você vai ter que esperar.

-Vou fazer questão de cobrar cada minuto depois. – E bebeu o último gole do seu café.   

***

-Gostei do seu porteiro. – Ele estava sorrindo quando eu me sentei no banco do carona do seu carro esportivo e extremamente grande. Ele faria os pneus da Mary se arriarem de vergonha.

-Porque não o convidou para fazer o papel de seu melhor amigo? Ou quem sabe, você não assume ser gay até lá?

Estalou em lábios em reprovação.

-Posso te mostrar com muito prazer que está errada, Vida.

-Vai ter que se esforçar mais um pouco que isso. – Pisquei um dos olhos em sua direção.

Ele não voltou a falar a caminho da escola de Mel e Sam.

O rádio estava ligado tentando disfarçar o silêncio incômodo do carro. Mas isso não me impediu de batucar com as mãos nas coxas ao ritmo da música e morder os lábios mais que o devido.

-Jeff? – Perguntei depois de alguns minutos, incomodada com o silêncio.

-Hm?

-Aonde vamos? – Seus olhos estavam mais verdes que o de costume hoje, pareciam até menos agressivos. Tive a visão privilegiada deles durante alguns segundos. Ele sorriu.

Só então eu notei o quanto ele ficava bonito sorrindo. Quer dizer, com cara de durão também, mas sorrindo Jeff parecia uma segunda pessoa.

-Surpresa, Vida.

 -Porque me chama de vida?

-Só estou treinando para as férias. Pode me chamar de amorzinho se preferir.

-Vai sonhando, Jeff.


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Notas finais do capítulo

Olha eu aqui, linda e divosa.
Aqui fala a pessoa que se bateu na lata de lixeiro hoje visitando a universidade e quase derruba as duas. Eu e a lata.
Estou feliz pelos comentários. Vocês são umas 22ks divosas também.
E só mais uma coisa! Eu e uma amiga minha estamos com um blog de resenhas e tals. Quem puder dar uma olhadinha.... http://curiosametamorfose.blogspot.com.br/
Beijo e queijo