Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 4
Assunto arquivado para pensar.




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-Não. Sem chance. Nem pensar. Nem que a vaca assobie chupando cana. Não faço isso nem morta.

Os olhos verdes acastanhados reviraram.

-Você não me deixou falar.

-Não preciso ouvir para saber que o que se seguirá é a pior proposta de toda minha vida.

Jeremy batucou impacientemente no balcão até que eu o encarasse com cara de poucos amigos.

-Até amanhã, Jeremy.

-Espera. – Ele respirou fundo antes de procurar por meus olhos e sorrir meia boca. – E se eu disser que se você fizer essa viagem terá uma ótima oportunidade?

Deixei o livro de lado e ergui as sobrancelhas.

-Continue.

Mostrou-me um sorriso de todos os dentes e com as mãos entrelaçadas no balcão, começou a me explicar calmamente:

-Minha família acredita que para entrar na família, você precisa ser honroso do nosso sobrenome. – Revirei os olhos. – É, eu sei. Tradicional.

-Sinceramente? Gosto do meu nome do jeito que ele está na certidão de nascimento.

-Posso continuar? – perguntou, impaciente pela interrupção. – Eu sei que seu talento não é ficar atrás de um balcão. Não sei o que te fez trancar a faculdade, mas acredito que nunca seja tarde demais para desistir do seu sonho, ou vocação, como preferir.

-Não vou fazer o papel de sua noiva, Jeremy. – Cortei-o. – Não sou nem sua amiga a mais de 2 semanas.

Ellie, que estava rabiscando no bloco de pedidos um pouco afastada da gente, acabou se engasgando.

-Porra, Alma. – Ele apoiou as mãos no balcão de granito e se inclinou na minha direção. Tremi nas bases agora. – Você me ajuda a me livrar da minha família ficar no meu pé e eu te ajudo a conseguir uma vaga numa das melhores faculdades dessa cidade.

Eu quase respondi um ‘sim, senhor’, quase mesmo. Ele estava me dando muito medo com aquele tom autoritário, mas foi somente bagunçar seus cabelos que eu notei que o Jeff ainda estava lá.

-Eu... Eu mal te conheço, tá legal? E se você, na verdade, for um estuprador? E se, ao invés de visitar a sua família, você está me levando para sua ilha com garotas raptadas?

Ele gargalhou.

-E tem mais: meu mês de férias já passou.

-Não passou nada! – Meteu-se Ellie na conversa. – Seu mês de férias é julho.

Corei e a mandei ir para o inferno somente com o olhar.

-Você não acredita que eu faria alguma coisa que você não gostasse, acredita? – Seu tom de voz era calmo, o mesmo que meu pai usava quando queria me advertir sem que soasse uma bronca. Levemente, como uma boa criança, eu neguei com a cabeça. – Nós ainda temos um mês para falar sobre isso.

-Jeff... – Escapei num muxoxo. – Ainda não entendi porque eu tenho que quebrar esse galho.

Seus olhos franzidos me fitaram curiosos e em seguida sorriram.

-Nos vemos amanhã, vida.

E saiu porta a fora.

Fiquei algum tempo ainda parada, intacta no lugar, até receber um cutucão.

-Ele te chamou de vida ou eu estou precisando marcar uma consulta com o otorrino?

Engoli em seco antes de focar na loira a minha frente.

-Marque uma consulta para nós duas, mas no psiquiatra.

Deixei-a ali com resmungões e fui limpar a máquina de café antes que o Sr. Lewis chegasse.

***

-Bento! – Aquela voz aguda soou estridente. – Beento, menino lindo! – Cantarolou.

Eu sorri diante daquela cena. Minha sobrinha sempre teve um sonho de ter um cachorro, mas como sua mãe era alérgica, isso sempre esteve claramente barrado. Depois que Bento se instalou nesta casa, Mel sempre arranjava motivos de sobra para estar aqui.

-Mel, vai já lavar as mãos! – Gritei da cozinha, colocando a lasanha no micro-ondas.

-Já vou!

E eu sabia que ela só viria assim que a lasanha já estivesse fria.

Sentei no balcão americano e dali, observei os dois brincando.

Se Bento fazia a festa quando alguém passava pela porta, esse alguém era Mel. Ele pulava e rodopiava ao ver a criança.

 Meu cachorro bobo ficava ainda mais bobo quando ela corria pelo apartamento com sua bolinha nas mãos.

Já se passava do meio dia quando nós sentamos no balcão americano para almoçar.

Mel balançava as pernas no ar e suas mãos batucavam nos pratos impacientemente. Ergui os olhos até ela e abaixei novamente para meu prato.

-Como foi o dia, Mel?

-Legal. – Mordeu os lábios, incerta se deveria me falar ou não.

-Como vai o Sam?

-Ele vai bem, ué. – Suas bochechas coraram e eu tive a pura certeza que algo ela me escondia.

-Sabia que eu o pai dele toma o café da manhã lá no Lewis? – Comentei.

O garfo infantil tombou no prato fundo. Os olhos verdes arregalaram de pavor com a ideia de ser descoberta.

Reprimi um riso.

-Você quer me contar algo, Mel? – Pousei os talheres no prato e a fitei com um olhar calmo. – Sabe que pode me contar qualquer coisa.

-São os meninos lá da escola. – Falou ainda acanhada. – Eles ficam implicando com o Sam.

-É a função dos meninos chatos.

-Eu sei, mas eles realmente ficam no pé dele. Ficam o chamando de esquisito só porque ele não quer conversar com ninguém.

-Você conversa com o Sam? – Ela fez que sim.

-Mas só porque eu sei que ele é bem legal.

-Tem muita gente legal por aí, é só dar uma chance a quem sabe aproveitar.  

Ela novamente balançou a cabeça.

-Você acha que tem alguma coisa errada com ele? – perguntou baixinho.

Ajeitei os óculos que escorregavam pelo nariz.

-Como assim?

-Eu ouvi a professora dando uma bronca nos garotos, dizendo que o Samuel era só diferente deles. Que não era um garoto normal.

Franzi o cenho.

-Algumas crianças são mais tímidas que outras. Isso não quer dizer que elas não sejam normais.

-Tia – chamou-me num fio de voz. – A Sofía, menina lá da sala, é tímida. O Sam, ele... Ele não quer falar com ninguém.

-Mel...? – Perguntei depois de algum tempo. – Então porque você insiste em falar com ele?

-Porque ele é meu amigo. – Respondeu como se fosse óbvio. – E esse é o papel dos amigos, não é? Ele me ajudou com o idiota do Lucas e eu o ajudo com ele mesmo.

-É. – Sorri para a garotinha. Feliz por tê-la ali naquele momento, ajudando-me comigo mesma.

***

-Shopping. Agora. – Ordenou a voz estridente do outro lado da linha.

-Ellie? – Perguntei ainda grogue. – O que aconteceu?

-Estou procurando uma lingerie com o seu tamanho. – Cocei os olhos, incerta se aquilo era um sonho ou se a loira tinha tido mesmo a audácia de me ligar num sábado de manhã.

-E porque eu usaria uma lingerie?

-Por que você não pretende dormir com o deus grego com sua calcinha bege, pretende?

-Qual o problema com calcinhas beges? – Resmunguei, sentando-me cambaleante na cama e esbarrando em Bento, que ainda roncava do outro lado da cama de casal.

-Elas não deviam existir.

-Presta atenção, eu não quero lingerie nenhuma, até porque não quero dormir com ninguém.

Sua voz adquiriu um tom mais calmo em seguida, exatamente o tom que faz quando quer falar algo sério.

-Você não tem vocação para freira, Al. – Choramingou. – Não quero ver minha amiga nos finais de semana porque está muito ocupada num convento.

-Para com isso, Ellie. – Ralhei. – Não vou ao shopping nenhum e, se você permitir, ou até mesmo não permitindo, eu vou voltar ao meu sonho, lugar que não deveria ter saído antes das 10.

E desliguei o telefone.

Voltei a me aconchegar na cama e Bento a fazer o mesmo, mas antes de cair na inconsciência novamente, meu celular berrou mais uma chamada.

Estava pronta para mandá-la ir para o inferno e usar a lingerie com o Cão na noite de núpcias deles quando atendi ao telefone.

-Prefere oncinha ou rendado? 


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Notas finais do capítulo

Nem demorei tanto, tá vendo?
Isso tudo porque vocês são uns amores ♥
Seria legal se você, que está lendo isso agora, comentasse.
Só pra saber como eu estou indo. Um 'eu gosto de chocolate e continua a história' já tá de boa medida.
Ah, só mais uma coisa. Eu queria sugestão de nomes para personagens. Podem indicar o de vocês mesmo, se quiserem. Posso usar eles.
Beijo e queijo :3