Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 13
Batatas fritas podem melhorar o dia.


Notas iniciais do capítulo

"MÃÃÃÃÃE, VEM VEERR!!EU GANHEI UMA RECOMENDAÇÃO, MÃÃÃE! ME ABRAÇA, ME SEGURA QUE EU TO CAINDO."
Essa foi a minha reação ao ver que a Iasmin Duarte tinha recomendado a história. Fiquei Barbie na Caixa. Muito obrigada novamente, Iasmin. Esse capítulo é dedicado a você :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/391961/chapter/13

Tentei subornar o sujeito, que depois descobri que se chamava Théo, mas meus 20 reais solitários na carteira não foram páreos aos 50 de Jeff.

Ele não era um mau sujeito, para todo caso, só meio lerdo. Se você perguntasse qual dia do mês era hoje ele provavelmente diria ‘eu amo chester no Natal’. Ele era loiro, os olhos tinham uma cor bonita de mel e tinha um corpo de quem gostava de academia.

Mas por incrível que pareça minhas saídas fugitivas foram paras as cucuias porque ele tinha olhos como águia. Nós passamos os bons 15 minutos sentados no balcão do bar improvisado.

Ele estava me contando que sua ex-namorada tinha o trocado por sua prima e ria enquanto narrava a história cômica, que ele ficava todo feliz porque sua prima estava incluindo sua garota a família. Nós rimos.

–Então eu peguei as duas na minha cama num desses feriados que minha mãe me faz morrer de fome.

Meu Deus, ele iria chorar. Eu não suportava ver alguém chorando. Eu ficava desesperada e sem saber o que fazer. Seus olhos brilhavam quando eu decidi que batidinhas nas costas seriam o suficiente.

Théo não achou isso. No segundo seguinte ele estava me sufocando entre seus braços. Oh droga, eu não conseguia respirar.

–Thé-éo...

–Eu ia pedir ela em casamento.

–Você só a conhecia a 3 semanas.

–Mas eu sentia que aquela era a mulher da minha vida. A gente sente isso. - Continuei com minhas batidinhas nas suas costas, mas dessa vez eu tentava espancá-lo em busca de ar.

–Porque isso não me surpreende? - Eu endureci ao som dessa voz.

Théo me soltou e pareceu bem envergonhado. Uma nota de 50 pousou no balcão a nossa frente e rapidamente o loiro a enfiou no bolso.

–Espero que nós nos batamos novamente qualquer dia, Rabiosa. – E foi embora.

–Jesus Cristo, como o mundo tá cheio de gente doida. – Não era o melhor comentário do momento, mas esse foi o meu.

–Incluindo a maior de todas. – Ergueu suas sobrancelhas na minha direção.

Ele não parecia raivoso, como eu imaginava. Ele parecia cansado. Eu não queria, mas acabei me preocupando.

–Como entrou aqui? Subornou a segurança também?

–Não. Eu conheço a aniversariante. – E foi na direção da saída. Eu tive que mancar para acompanhá-lo.

–Onde você conheceu Munique? – Era curiosidade, principalmente, mas se você notasse bem, ali tinha também uma pintada de ciúmes.

–Lugares em comum. E você?

–Ela é prima da Ellie. – Ele fechou a mão no meu punho para que nós caminhássemos mais rápido quando passamos por uma nuvem de fumaça um tanto quanto... Suspeita.

–Jeff... Vai mais devagar. – Ofeguei. Ele parou, finalmente notando que eu estava com dificuldade para segui-lo. Passou uma das mãos pela minha cintura e rodou meu braço pelo seu pescoço. Eu praticamente flutuava ao seu lado enquanto ele andava.

–Como você sabe se eu não vim com meu carro? Eu poderia ir embora muito bem sozinha. – A sua aproximação estava fazendo com que eu me sentisse tonta. Ou isso ou algo estava errado comigo.

–Você nunca viria numa festa dessas por pura vontade, Vida.

Finalmente nós saímos da mansão. A música agora estava abafada e eu me sentia mais leve e um tanto quanto feliz.

–Bem, eu poderia ter uma boa companhia como carona. – Ele estreitou os olhos enquanto andávamos para uma fileira de carros estacionados.

–Sua companhia te deixou na mão, pelo visto.

Era verdade, mas assumir isso verbalmente parecia vergonhoso.

–Não quero nem saber o que seria de você sem mim.

–Eu não pedi para você vir me buscar. – Soltando-me do seus braços, eu me firmei meio cambaleante a sua frente.

–Eu falei que nós precisávamos conversar e você simplesmente agiu como uma paranoica.

–E então você decide me sequestrar porque nós precisamos conversar?

–Eu não te sequestrei. – Ele pareceu insultado.

–Tem razão, você pediu para um desconhecido fazê-lo.

Revirou os grandes olhos verdes acastanhados e bagunçou os cabelos. Ele estava com uma péssima cara, mas eu não adiaria essa conversa dessa vez.

–Tudo bem. Se você quer mesmo conhecer como eu sou, aqui vai uma dica: eu odeio que me acusem de algo que eu não sou ou que não fiz. – Sibilei. – E aposto que qualquer coisa que você queira falar pra mim, você pode muito bem falar no telefone. – Jeff me observou, analisando-me. Ficamos um tempo assim. Ele calado, com aquela cara de quem pensa muito e não fala nada e eu pronta para estourar.

–Meu tio morreu e nós precisamos adiantar a viagem. – Falou assim, naquela voz mansa que usa para dar bom dia. – Eu não queria falar isso por telefone.

–Oh meu Deus. – Cobri a boca com as mãos. – Jesus Cristo, eu... Eu não teria gritado com você se... Oh Deus, Jeff! – Eu o puxei para um abraço sufocante. Mal notando que quem estava consolando alguém era ele. Com o rosto enterrado em seu peito, eu comecei a jorrar perdões. – Desculpe por ser uma idiota, Jeff. Eu sou tão tagarela que... Droga. – Afastei-me dele novamente, meio cambaleante. – Você está bem?

Foi a minha vez de estudá-lo. Seus olhos estavam cansados, mas só isso. Não consegui decifrar mais nada.

–Não se preocupe. Eu arranjarei um jeito de adiantar minhas férias, ok?

–Alma...

–Eu nem sequer me importo com aquele emprego estúpido. Eu posso até me demitir.

–Alma! – Pisquei algumas vezes. – Não pire, ok? Eu posso dar um jeito sem você perder o emprego.

–Desculpe. Eu realmente estava pirando, não é?

–Você não deveria se preocupar tanto. Não é uma surpresa pra mim que as porcarias que ele consome tenha o matado. – Deu de ombros. – De qualquer forma, eu vou pela minha mãe. Ela teve o azar de compartilhar seu DNA com um idiota.

Eu estava um tanto quanto surpresa com sua indiferença, mas preferi classificar seu comportamento como pós-traumático. Minha irmã, Agatha, que era psicóloga vivia me contando casos de pacientes que tinham isso.

–Nós teremos que ir a missa de sétimo. – Desviou seu olhar do meu e fixou-se em algum ponto por trás dos meus ombros. – O enterro aconteceu hoje mais cedo. Não era a melhor forma de contar, mas...

Afaguei seus ombros antes mesmo que pudesse pensar no meu ato. Eu tinha essa terrível mania de querer consolar a todo mundo. Esse tal pós-trauma deveria ser tão horrível quanto Agatha dizia. Céus.

–Você tem algum irmão que mora lá ainda?

–Uma irmã mais nova. – Instantaneamente imaginei uma versão feminina do Jeff e o quanto de inveja eu teria dela.- Nós teremos que partir o quanto antes. Eu sei que não era esse o combinado, mas não se preocupe, eu não me esqueci da nossa troca. Você vai recomeçar a faculdade. Eu prometo.

–Eu... Claro. – Balancei a cabeça como uma idiota porque não sabia o que falar.

Nós entramos em seu carro em seguida. Jeff estava calado e não fez questão de mudar a música triste que passava no rádio. Deveria ser sua trilha sonora do momento.

–Nós podemos parar em um lugar antes? – Perguntei meio hesitante. Seus olhos lançaram-se rapidamente nos meus.

–Aonde você gostaria de ir a meia noite?

–Eu estou louca por um sanduíche do Magg’s. – Eu não comia nada decente desde o almoço e meu estômago estava roncando alto o suficiente para me envergonhar.

Um fantasma de um sorriso apareceu em seus lábios.

–Você vai adorar as batatas fritas de lá. Elas magicamente melhoram o dia da pessoa.

–Pago para ver.

–É a minha ver de pagar a conta, caro Jeff.

Vinte minutos depois eu estava deslizando minha batata frita pelo ketchup sem medo de ser feliz.

–Como você descobriu esse lugar?

Tudo bem que o Magg’s não era o lugar mais visitado, nem mais arrumado, talvez um McDonald’s caísse melhor naquele momento, pensei tarde.

–Eu e minha irmã costumávamos vir aqui antes dela conhecer seu atual marido. Nós morávamos juntas a menos de dois quarteirões do Magg’s. Eu ainda gosto de voltar aqui de vez em quando. E o garçom sempre me dá um desconto. – Enfiei mais uma batata na boca.

–Vocês moraram sozinhas aqui?

–Sim. Foram tempos divertidos para ela, para mim foi um peso nas costas. Trabalhava meio período num estágio, mas o salário era péssimo e minha mãe não conseguia suprir nossas despesas.

–E o que aconteceu?

–Agatha conheceu o Brenon, sortudo nascido em berço de ouro. – Dei de ombros. Eu estava mais interessada em mergulhar todas as batatas fritas no ketchup. – Foi como amor a primeira vista. Ela se mudou alguns meses depois. Então a Melaine foi fabricada e finalmente o casamento corriqueiro.

–Ela não gosta dele?

–Oh e como gosta! Não me entenda mal. Eles se amam tanto que é enjoativo. Acho que ele estaria disposto a comprar o mundo para ela. É estranho. Doentio, eu diria. – Balancei a cabeça afastando esses pensamentos.

–Então quem não gosta dele é você. – Isso não soava uma pergunta. Encarei-o de olhos franzidos.

–Tenho respeito por pessoas que fizeram por onde conquistar sua fortuna, não quero que isso soe inveja ou algo parecido. Mas eu vejo filhos de milionários e como eles sempre tiveram tudo tão fácil a vida inteira. É um preconceito meu, eu sei. Nós acabamos nos distanciando depois que ela começou seu romance com ele. É só uma implicância fraterna.

–Não parece ser uma simples implicância. – Ele deu de ombros. – Talvez ele realmente seja a causa do afastamento de vocês duas.

–Desde que ele não me afaste da Mel... Por mim tanto faz. – Enfiei mais duas batatas na boca.

–Claro, ainda bem que ele não faz a cabeça da Mel.

Um frio percorreu minha espinha só de imaginar na possibilidade disso.

Não. Minha irmã ou seu marido não teriam coragem de me afastar da minha sobrinha. Ela nem sequer conseguiria.

–Eu nunca deixaria isso acontecer. Pode ter certeza disso.

–Continue sendo inocente assim, Vida. É muito bom de apreciar. – Ele sugou o resto de seu refrigerante e me lançou um sorriso gelado.

–É uma das virtudes que pretendo conservar. – Respondi com os ombros. – E minha vez de perguntar: quem era a ruiva? Não que eu me importe, claro.

–Uma amiga da família.

–Você costumar muito engolir as amigas da família? Tem perigo se eu apresentar a minha mãe a sua.

–Não me trate como o lobo mau, Vida. – Sorriu.

–Ele digere as pessoas de outra forma, Jeff. – Devolvi seu sorriso um pouco mais afiado.

O céu já estava clareando quando nós paramos, um frente ao outro, na frente do meu apartamento. Preenchemos o silêncio do carro com uma conversa sobre como algumas mortes serem um tanto quanto inusitadas (não faço a mínima ideia como entramos naquele assunto).

Eu o tinha contado que a tia de uma amiga da minha prima tinha morrido engasgada com uma surpresinha de uva numa festa infantil e agora ele estava me lançando aquele olhar de será-que-ela-é-normal?, que eu já conhecia bastante dos meus parentes. Eu permaneci séria e foi quando um ataque de risos explodiu de sua garganta.

Sua risada me encheu de um sentimento caloroso que há muito tempo não sentia. Era como o abraço materno depois de um momento ruim. Acabei sorrindo, mas isso foi antes que ele transformasse meus cabelos em um ninho de passarinho.

–Que droga, Jeff...?

–Você está estupidamente linda assim. – Senti minhas bochechas queimarem e fiquei feliz por metade do meu cabelo estar cobrindo meu rosto.

–A Samara agradece. – Grunhi.

Ele soltou um ronronar que decodifiquei como uma risada. No segundo seguinte eu senti suas mãos calejadas na lateral do meu rosto, afastando meus cabelos e olhando tão fixamente nos meus olhos que eu me senti acanhada.

–Isso não foi engraçado.

–Você ficou chateada? – Perguntou num sussurro que fez os pelos de trás da minha nuca arrepiarem.

–Muito. – Ele não pareceu se incomodar com minha resposta. Um sorriso malicioso brincava em seus lábios.

–Espero que não se incomode se... – E então mais uma vez eu tinha aquela sensação fervorosa de ter seus lábios contra os meus.

Ofegante, afastei-o com minhas duas mãos em seu peito.

–Apartamento? – Sugeri no calor do momento. Sem pensar duas vezes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sei que a atualização demorou dessa vez. Desculpem-me por isso, tudo bem?
Estou muuuuito feliz que a fic esteja progredindo. 10 pessoas favoritaram :D
Enfim, esse capítulo ficou meio louquinho mas ele é de supra importância para fic.
Vejo vocês em breve, espero.
beijo e queijo
Se cuidem ^^