Por mais irônico que isso fosse, eu o encontrei na sala 15. Mas felizmente, dessa vez, ele não estava se atracando com nenhuma vadia. Estava procurando alguma coisa. Entrei na sala e fechei a porta, puxando a tranca.
- Opa, o que é que está acontecendo aqui? – ele perguntou, ficando de pé e levantando as mãos.
- Eu vou perguntar apenas uma vez, e você vai ser sincero comigo. – eu dei um passo à frente, apontando o dedo para ele. – Foi você que foi atrás dela? – sua expressão de início foi confusa, mas depois clareou.
- Não. Ela que veio chorar as mágoas do abandono no meu ombro. – ele respondeu. Eu cerrei os olhos. – Você vai preferir acreditar nela? – ele perguntou.
- Acreditar em você é a melhor opção? – eu arqueei uma sobrancelha.
- Não. – ele deu de ombros – Mas você pode acreditar em quem você quiser Alice, eu estou dizendo a verdade. Consciência limpa.
- Consciência limpa? Sebastian você enlouqueceu? – eu perguntei. Ele me olhou como se a louca fosse eu. – Tudo bem. – eu levantei uma mão – Apenas preste atenção em uma coisa: diga para sua...o que quer que ela seja sua, para ficar bem longe de mim e de Ashley. E de Bryan. Ele não precisa de alguém como ela por perto. – eu estava me virando quando ele pegou em meu braço e me virou para ele, nosso corpos se chocando.
- E quanto a mim, Alice? – ele sussurrou, seu hálito batendo em meu rosto. - Eu também preciso ficar longe de vocês? Vocês também não precisam me ter por perto? Quando um não quer, dois não beijam. – ele sorriu de lado, arqueando uma sobrancelha. Seus olhos negros estavam assustadoramente brilhantes.
- Eu ainda acredito que você não seja como ela. – eu sussurrei de volta – Você ainda tem salvação. – seus braços foram ficando frouxos em minha volta e eu me desvencilhei, destrancando a porta e saindo da sala com o coração batendo a mil.

- Isso não está certo! – eu disse, passando a mão pelos cabelos e os deixando completamente bagunçados. – Isso não vai sair do jeito que nós queremos, Ash. Me desculpe. – eu joguei a prancheta em cima da mesa e me sentei, derrotada. Connor, que estava em cima da cadeira, prendendo os panos na janela, ria.
- Alice, se acalma. Está tudo certo. É só você me dizer onde prender isso. – ele levantou a ponta do pano.
- O combinado era prender ali, - eu apontei para o prego mais alto da parede – mas se fizermos isso, a parte de baixo da janela vai ficar sem pano. E se prendermos ali – apontei para um prego que estava um pouco mais abaixo – a parte de cima vai ficar completamente descoberta.
- Porque não colocamos um prego exatamente no meio? – ele perguntou.
- Ordens. “Sem furos a mais, usem apenas os pregos que já estão nas paredes”. – eu repeti a ordem que nos foi passada.
- Então vamos fazer o seguinte, - Ashley começou – prenda no prego mais alto, e aqui em baixo nós damos nosso jeito. Já estou vendo você caindo dessa cadeira, Connor. – ele fez o que ela disse e desceu da cadeira, limpando as mãos.
- Mais alguma coisa? – ele perguntou. Olhei a prancheta, e essa sala estava pronta.
- Não. Acabamos aqui. Muito obrigada Connor, de verdade. – me levantei e lhe dei um abraço rápido, saindo da sala.
Depois da briga que tivemos no corredor dos armários, eu pensei que minha relação com Connor voltaria a ser aquela que era bem no começo, quando eu me mudei para cá. Felizmente, ele percebeu que não valia a pena ficarmos naquele clima, então ele veio falar comigo e bom, aqui nós estamos. Amigos.
Passei de sala em sala olhando como o trabalho estava ficando, com Ashley, e agora Brianna, ao meu encalço. Passei em uma sala e pude ver Bryan e Sebastian trabalhando juntos na decoração. Não pude conter um sorriso.
- Aonde a senhora pensa que vai? – ouvi a voz de Bryan quando estava me virando para sair dali.
- Droga! Achei que conseguiria fugir. – eu sorri pra ele.
- Não dessa vez. – eu entrei na sala e ele esticou um braço, me abraçando de lado e mostrando a sala. – E então? Aprovado? – fiz uma cara de quem estava analisando tudo, e depois sorri.
- Super aprovado. Vocês deveriam trabalhar juntos mais vezes. – eu disse, olhando para Sebastian.
- Estamos trabalhando nisso também. – Sebastian respondeu e sorriu para mim. Sorri de volta. – Se não for pedir demais, eu agradeceria muito se vocês ensinassem seus amigos a fazerem as coisas desse jeito. Queria eu ser alta o suficiente para subir e pregar esses panos eu mesma. – eu disse – Mas como não sou, preciso ficar dependendo de homens. – eu revirei os olhos, falando a última palavra com desdém.
- Você ainda vai depender de nós para muitas outras coisas. – Sebastian disse, rindo.
- Muito cedo para as brincadeiras de duplo sentido. – eu disse, apontando para o relógio e rindo também.
Me esqueci um pouco das obrigações enquanto conversava com eles. Até Brianna entrou na conversa.
- Só acho que Connor deveria dar outra festa como aquela. – Ashley comentou.
- Acho que agora apenas no fim do ano. – Sebastian disse.
- Não pode ser. – eu disse – Nós precisamos sair para nos distrairmos depois da feira. Poderíamos usar a semana do recesso para irmos para algum lugar. Nem que fosse apenas um dia. – a sala ficou em silêncio por um momento, e então Ashley falou:
- Vocês tem alguma coisa contra cavalos e grama?
Todos se olharam.
- Não. – respondemos em uníssono.
- Então eu acho que já sei onde passaremos nosso recesso.

Já tínhamos feito tudo que era para fazer. A escola estava pronta para a feira de amanhã.
Estávamos sentados de baixo da nossa árvore, onde costumávamos ficar durante os almoços, apenas esperando o horário do integral acabar para podermos ir para a casa.
- Tudo combinado? – Bryan perguntou.
- Quase tudo. Ainda preciso falar com meus pais. – Ashley disse – Mas provavelmente eles vão deixar. Ninguém faz nada com aquela fazenda mesmo.
- Nós já fomos uma vez para lá, não fomos? – Sebastian perguntou.
- Sim, fomos. A única vez que você foi e conseguiu quebrar todos os vasos da sala. – ela disse, olhando para ele.
- Eram apenas quatro. – ele disse – E eu só tinha nove anos.
- Os quatro preferidos da minha mãe. – ela respondeu. – Sem contar a janela do banheiro quebrada por causa de duas crianças brigando por uma bola. – ela fuzilou os dois com o olhar.
- Ninguém mandou ele vir tentar tirar a bola de mim. – Bryan respondeu apontando para Sebastian.
- E só por isso precisava jogar a bola na janela? – Ashley levantou as mãos.
- Ele jogou para o alto. Foi apenas um desvio de rota. – Sebastian disse. Era impressão minha ou ele estava defendendo Bryan?
- Exatamente. – Bryan concordou.
- Desvio de rota que resultou um bom tempo sem ir à fazenda. – ela revirou os olhos.
- O que você faria lá sem nós? Não teria graça nenhuma. – Bryan disse. – E agora teremos mais uma convidada. – ele olhou para mim.
- Acho que eu estou começando a gostar dessa ideia de fazenda. – eu disse, e todos me encararam.