Eu nunca me senti tão viva. Sinto a eletricidade passar por meu corpo e adrenalina correr por minhas veias, fazendo meu corpo quase vibrar. Posso não ter treinado a minha vida toda para esse momento, mas sinto que tenho uma chance. É como se participar desses Jogos fosse o meu destino desde o inicio.

O sinal soa liberando os tributos e corro em direção à Cornucópia, pego uma lança e percebo que ela é diferente das outras que eu usei no treinamento. Faíscas saem pela ponta da arma e sinto uma pequena vibração quando toco nela. Aquela lança era incrível, e mais do que perfeita para mim. Olho para os lados procurando por um aliado ou uma vítima. O primeiro que vejo não é exatamente uma pessoa, mas sim aquele sátiro desengonçado. Vou em sua direção e o ataco. Minha lança perfura a lateral de seu corpo e ele desaba no chão, morto.

Ouço uma voz familiar gritando com algum outro tributo e procuro o local de onde veio o som. Olho em volta, mas não vejo ninguém conhecido, apenas um menino magrelo andando calmamente. Penso em surpreendê-lo, mas percebo que ele está se aproximando dos carreiristas e prefiro me manter afastada deles por enquanto. Cuidarei deles mais tarde. Pego uma mochila no chão, escolho um caminho aleatoriamente e entro de vez no labirinto.

O barulho de batalhas e espadas batendo umas contra as outras vai cessando aos poucos e percebo que logo os tributos estarão se preparando para passar a noite. Sei que dormir está fora de cogitação então me foco em tentar achar alguma fonte de água. As paredes do labirinto são altas e impedem que tenhamos qualquer noção da direção para onde vamos. Posso encontrar uma passagem sem saída a qualquer momento. Percebo uma movimentação atrás de mim e já estou quase pronta para atacar quem quer que seja quando percebo que, na realidade, o que estava se movendo era uma parede do labirinto. A passagem logo atrás de mim se fechou, me impedindo de voltar para a Cornucópia pelo mesmo caminho que eu vim.

Está escurecendo e eu espero ansiosamente pelo anúncio dos mortos no céu. Preciso ter uma noção de quem precisarei enfrentar nos próximos dias. E, acima de tudo, preciso saber se meus amigos sobreviveram ao banho de sangue.

Quando fui escolhida para os Jogos não me imaginei me aliando com ninguém. Estava preparada para lutar sozinha, atacar qualquer um que cruzasse o meu caminho e não me preocupar com mais ninguém além de mim. Mas as coisas não aconteceram como o planejado. Durante os treinamentos acabei esbarrando com uma menina chamada Silena. Ela era extremamente bonita e poderia ser o estereótipo de menininha fútil, definitivamente uma filha de Afrodite. Mas eu pude perceber que ela era corajosa. Que viria para essa arena e lutaria por sua sobrevivência, eu sabia que ela faria qualquer coisa que precisasse ser feita. Ela estava sempre junto de seu namorado, Charles, nos treinamentos então eu acabei me aproximando dele também. Os dois tem um grande potencial, então tenho quase certeza que eles sobreviveram. Não posso esperar para encontrá-los.

O sol estava quase desaparecendo no horizonte quando encontro uma área aberta no labirinto, parecida com área da Cornucópia, porém cheia de árvores. Algumas árvores são frutíferas, muitas delas com frutos que nunca vi na vida. Reconheço uma macieira e, após colher alguns frutos, me sento em suas raízes. Estou prestes a abrir a mochila que peguei quando uma luz acima de mim chama a minha atenção. O hino toca e poucos segundos depois os rostos começam a aparecer no céu. E é quando eu vejo o rosto dela ali, brilhando, com o símbolo do distrito 3 bem em baixo. Vejo aqueles olhos sorridentes pela última vez. Silena. Morta.

Os outros rostos passam sem causar nenhum efeito em mim. Ainda estou em estado de choque. Prometo para mim mesma que não posso morrer antes de vingar sua morte. Pelo menos Charlie ainda está vivo, talvez ele possa me ajudar com isso. Tiros de canhão me tiram do meu estado de estupor. Mais mortos essa noite, penso. Preciso descansar.