A contagem regressiva começou mas eu sequer prestava atenção nos números. Olhei ao redor observando cada criança em seu pedestal até achá-lo. Ele sorria para mim como se nada demais estivesse acontecendo, por um segundo esqueci de que ele provavelmente morreria aqui e fiquei feliz por ser ele a vir comigo e não um desconhecido. “Concentre-se no plano Hazel”, eu me ordenei. Mochila. Eu pegaria uma mochila, já que sou mais rápida, e nesse meio tempo ele viria ao meu encontro e nós fugiríamos para o labirinto. Ele estava no extremo oposto que eu, obvio que eles não facilitariam.

De alguma forma meu olhar acabou cruzando com o garoto do distrito doze de novo, ele era estranhamente familiar. Mas de alguma forma que eu não percebi, ele se atrapalhou em seu pedestal e caiu, causando uma explosão. A primeira morte dos jogos. Senti meu estomago revirar. O tempo estava acabando.

Olhei ao meu redor procurando a mochila mais próxima e lá estava ela, a alguns metros de mim. Aquela seria a minha mochila. O tempo esgotara. Olhei para Frank mais uma vez antes dos jogos começarem e corri.

Rapidamente cheguei a mochila, mas Frank ainda não havia me alcançado. Olhei para os lados desesperada. Ao que parece, os carreristas já haviam chegado na cornucópia  e os outros já haviam fugido. Pelo menos os que estavam próximos de mim. Consegui avistar Frank ao longe tentando vir até onde eu estava. Ele passava pela pela frente da cornucópia, provavelmente pensando que desse modo seria mais rápido. Idiota.

A garota loira se aproximou dele e logo seu corpo estava caído cercado por uma poça vermelha. Por um instante o mundo parou. “Corra” ouvi a voz dele dizer me despertando do meu transe, e olhei para ele na esperança de que alguma forma ele tenha sobrevivido e falara comigo, mas seu corpo continuava imóvel. “Corre Hazel” ouvi a voz dele de novo e dessa vez obedeci. Agarrei minha mochila e corri para dentro do labirinto.

Assim que passei pela entrada senti algo se mover atrás de mim mas não parei para olhar o que era, apenas queria me afastar daquele local o máximo possível. Não sei por quanto tempo corri, parei apenas quando minhas pernas começaram a fraquejar e desabei no chão pelo cansaço. Nunca havia sentido minha garganta tão seca antes, precisava de água. Procurei desesperadamente por algum liquido dentro da mochila, mas a unica coisa que achei foi uma garrafa vazia. Procurei mais afundo, achando um pacote com três tangerinas. Descasquei uma com as próprias mãos e comi metade dela, me segurando para não comer as três de uma vez. Não sabia quanto tempo passaria sem encontrar alimentos.

Após minha respiração voltar ao normal o choque voltou, passou tudo de novo pela minha cabeça como um flash back. O garoto do doze caindo do pedestal… a menina loira… Frank… E então veio o choro.

Chorei, berrei e solucei, sem me importar se alguém me ouviria. O minimo que eles poderiam fazer era me deixar chorar pela morte do meu namorado, e se alguém me ouvisse, poderia me matar, naquele momento eu não me importava com isso. Agora eu estava sozinha nos jogos e tinha acabado de perder a pessoa que mais importava pra mim. Berrava o nome dele.

            “Acalme-se Hazel” a voz dele soou como havia feito na cornucópia. - Frank? - Eu gritei o nome dele mais uma vez, dessa vez procurando por ele, mas não tinha ninguém lá. “Desculpa por ter morrido” a voz dele soou de novo, depois de um tempo “mas agora você terá que ganhar por nós dois”. Eu não entendia aquilo, não entendia como ele podia falar comigo. Será que havia enlouquecido? Talvez. Mas era tão real, tão presente. Mas real ou não, ele tinha razão. Eu iria ganhar, e não só por mim. Iria ganhar pro Frank, pelo garoto do 12, por todos que morreram na cornucópia hoje, e por todos que já morreram nos jogos