Ah! Finalmente os Jogos Vorazes! Esperei e treinei para esse momento toda minha vida. Quando ganhar vou finalmente orgulhar meu pai, seja lá qual deus ele for, e ele vai se arrepender de ter abandonado eu e minha mãe. Dizem que ela nunca mais foi a mesma, desde que nasci ela não está mais em suas plenas condições mentais. Não resta nada pra mim em casa.

A arena está mais escura esse ano, as altas paredes do labirinto não deixam a luz do sol entrar diretamente a essa hora. A contagem começa e inevitavelmente meus olhos se dirigem aos cachos loiros. Annabeth: na verdade a única coisa que me restava em casa. Se ela tivesse ficado no distrito.

Ela também treinou -ainda que contra sua vontade- para este momento, mas pelo jeito a sorte não estava a seu favor. Seu pai, um empresário endinheirado, a voluntariou. Me ofereci antes de saber disso, não tinha volta. Nossos olhares se encontraram e concordamos sem verbalizar em nos distanciar o máximo possível um do outro quando a contagem acabasse.

A contagem chega ao zero, e antes que pudesse sentir o frio na barriga já estava na Cornucópia. Chego junto com Annabeth. Olho ao redor e vejo uma confusão de pessoas fugindo pra os corredores ou correndo em minha direção. Me viro e escolho a melhor espada, com lâmina bicolor. Chegou a hora. Procuro a vítima mais perto, e vejo uma menina pálida tentando se esgueirar até a mesa de armas. Percebo pelo seu porte e olhar selvagem que é uma Caçadora de Ártemis de um distrito que não consigo ver o número, então me adianto e me entreponho entre ela e o arco e flecha. Seus olhos pedem por piedade, mas com um golpe atravesso a lateral de seu corpo com a lâmina afiada e seu frágil corpo cai com um baque na grama seguido pelo canhão. Essa foi fácil.

Ouço um grito histérico atrás de mim. Meus olhos se focam em um garoto branquelo do mesmo distrito correndo brandindo uma foice enquanto lágrimas inundam suas bochechas infantis. Era seu irmão.

Ele enxuga as lágrimas rapidamente e investe contra mim, ávido por vingança. Trocamos uma série de golpes, mas é obvio que ele não é um oponente a minha altura. Alguma coisa passa zunindo por mim. É uma flecha que cai a poucos centímetros do meu pé. Pela visão lateral reconheço Zoe, outra Caçadora, já preparando outra flecha.

Dou uma cotovelada no meu oponente, que se desequilibra facilmente, enquanto abaixo para não ser atingido pelo projétil. Sinto um vento roçar meus cabelos.

O garotinho se aproveita da situação e vai lentamente me obrigando a recuar, ficando mais próximo de Zoe, me usando como escudo por eu ser bem mais alto. Até que ele não é idiota!

Fico encurralado e logo localizo a uma curta distância cabelos dourados refletindo a única faixa de sol na arena, e logo em seguida vejo uma sombra caindo a seus pés. Sangue empoça a grama ao redor, revelando uma garganta rasgada de um garoto gordinho. Sorrio. Porém não me resta opção a não ser pedir sua ajuda.

–Annabeth! - Grito tentando soar o mais descontraído possível enquanto continuo a desferir golpes destraidamente. -Que tal uma ajudinha por aqui?

Ela olha ferozmente na direção da voz e ao me localizar seu rosto se ilumina e ela sorri.

Um ruído de arco se retesando indica uma terceira flecha a caminho, mas antes que eu possa me preocupar ela já estava guardando minhas costas, e melhor ainda, com um escudo.

O som dos metais se chocando retine pela arena e a arqueira desiste após seu fracasso e vai procurar outro alvo.

Livre de outras preocupações, com um rápido movimento desarmo meu o garotinho, e sua arma sai voando, se choca com a cornucópia e cai na grama. Ele tenta em vão se afastar, mas com um chute, derrubo-o de costas no chão e piso em seu peito para imobilizá-lo. Faz um relativo silencio na arena, e percebo que a maioria não está mais lá. Ele não tem como fugir. Encaro seus olhos marejados que me encaram com o resto de dignidade que lhe resta, se é que tem alguma coisa. Encosto minha espada em sua garganta para o golpe final.

Infinco a espada. Toda a resistência que encontro é a grama e o solo. Onde ele foi parar?! Olho ao redor mas só vejo corpos espalhados e nem sinal dele.

Limpo a espada da terra desapontado e logo em seguida me dirijo a Annabeth, que parece estar comprimindo uma risada por causa da minha situação:

–Aliados?

–Por enquanto- ela ri maliciosamente e joga o escudo em cima de mim.