Os gritos dos moradores do Olimpo no dia da apresentação dos tributos ainda ecoam em meus ouvidos. Pergunto-me se algum deles me patrocinaria. Eu sei que não sobreviverei sem patrocinadores, mas quem prestaria atenção na menininha insignificante do distrito 12? Espero que os outros tributos também pensem assim.

            Meu coração acelera conforme a plataforma sobe até a arena, bate tão forte que faz meu peito doer. Olho em volta, a arena deste ano é um labirinto. Percebo que o idealizador dos jogos deve estar falando algo nos alto falantes, mas não consigo escutar, porque o salgue pulsa com força em meus ouvidos, fazendo a minha cabeça latejar.

            A contagem regressiva começa e, alguns segundos depois, escuto uma explosão. Olho para os tributos procurando o que saiu do pedestal antes da hora. Reconheço alguns rostos do treinamento e continuo passando os olhos até ter visto todos os tributos. Menos um: o garoto do meu distrito. Leo. A única pessoa que eu sabia que podia confiar aqui. Agora estou sozinha.

            A contagem termina e todos os tributos correm para a Cornucópia e eu pego uma mochila do chão. Penso em pegar uma arma, mas vejo uma garota loira pegando uma adaga e atacando o garoto que estava ao seu lado. Julgo mais prudente seguir em outra direção e entro no labirinto.

            Após dar alguns passos percebo que outra garota veio na mesma direção que eu. Ela parece desesperada e vejo pequenas manchas de sangue em suas roupas. Assim que ela me vê sua expressão muda. Ela atira uma faca em mim, mas erra por poucos centímetros. A garota decide então tentar me atacar com as próprias mãos e corre em minha direção. Quando estava quase chegando perto o bastante para me atacar, alcanço sua faca no chão e a seguro em minha frente para me defender. Ela pula em cima de mim e sinto a faca afundar em sua barriga e o sangue quente escorrer entre meus dedos. Tiro a faca dela e me afasto rapidamente. Deixo-a ali, sentindo meu estômago embrulhar.

            Sigo para dentro do labirinto e percebo que algumas paredes se movem, mudando os caminhos e podendo me encurralar a qualquer minuto. Já está escurecendo e preciso arranjar um lugar para passar a noite. Acho um canto silencioso do labirinto e me sento.

            Coloco a faca, que agora percebo que pode ser mais bem definida como uma adaga, de lado e começo a revirar a mochila procurando por alguma coisa útil. Acho um casaco, um cobertor – será que a noite aqui é fria?  –, um saco de maçãs e uma garrafa de água, vazia. Pego a adaga de novo e a examino por um momento. Ela ainda está suja com o sangue da menina. A lâmina é feita de um bronze brilhante e reflete meu rosto perfeitamente, me mostrando o quanto eu parecia estar cansada. Dobro o casaco formando um travesseiro e me cubro com o cobertor. Minha mente viaja de volta à minha vida no meu distrito. Penso no meu pai e no quanto ele trabalhava. Sendo o prefeito do distrito eu mal o via e por isso, vivia tentando chamar sua atenção. Espero que ele não esteja se arrependendo de não ter passado tempo o suficiente comigo. Por mais que eu guardasse rancor do meu pai às vezes, odiaria vê-lo sofrer. Meus pensamentos se dispersam e antes mesmo que eu perceba, estou dormindo.