Narrador

As coisas não pareciam nem um pouco boas,porém,depois daquelas palavras em diante tudo,ABSOLUTAMENTE tudo estava prestes a mudar.

–Como assim?Tumor?Ma-mas...-Beck parecia tão chocado quanto Jade,ela não havia expressado nenhum tipo de emoção até agora,o que era de se preocupar.

–Jade...

–OI?-desta vez quem se assustou foi o médico

Eu odiava o fato de que eu estava morrendo,mas se era uma coisa inevitável porque ficar adiando isso?Se fosse para morrer, que morresse logo!!!

–Jade NUNCA mais fale isso!-disse Beck me advertindo,revirei os olhos mais calei a boca,o médico agora ficaria ali meia hora falando que eu precisava de uma droga de quimioterapia e radioterapia ou que se não eu morreria e blah,blah,blah.

–Bom,Jadelyn-JADELYN?!!A claro...-Nós podemos entrar com o pedido de quimioterapia o mais rápido possível.

–Desde que eu não tenha que "morar" nessa droga de hospital ...-pensei alto e Beck me fuzilou

–Eu creio que é melhor fazermos a cirurgia o mais rápido possível também...-continuou ele e desta vez minhas mãos tremera,se havia uma coisa da qual eu tivesse pavor era de ter que fazer uma cirurgia e agora era pior,era na MINHA CABEÇA!!

–É tão grave assim?-perguntou Beck se adiantando

–Na verdade...sim,é bem grave.-ótimo,menos dias de vida para mim-Mas,nada do que um bom acompanhamento médico não resolva.

–Ótimo...ela vai fazer.

–OI?Como assim eu vou fazer?Desde quando você manda em mim garoto?Seu sem noção...

–Jade,amor,você precisa!-insistiu ele

–Porquê?Beck,entende logo que eu vou morrer!-ela engasgou e se sentou ao meu lado sem falar nada,segurou minha mão forte e abaixou a cabeça.

O médico saiu e Beck continuou lá,na posição que estava...

–Beck?Amor,você esta bem?-sim,eu tinha chamado ele de amor,por mais que eu achasse isso horrivelmente brega;

–Não-disse ele ainda sem olhar para cima-Eu não estou bem Jade...você,você não pode morrer!-ele olhou para cima,seus olhos estavam vermelhos,esta era a primeira vez que eu o via chorando e eu me odiava por ser o motivo dessas lágrimas.

–Shiu,presta atenção no que você esta dizendo,Beck,você tem que aceitar.

–Eu não vou aceitar ver você morrendo e não fazer nada!-desta vez ele gritou e eu me assustei-Eu não vou ver você morrer!

–O que você quer que eu faça?Beck,eu não escolhi isso...

–Mas você tem uma escolha,Jade,se não for por mim ou por você,faz pela Cat. Nós dois sabemos o quanto ela te ama,nós dois sabemos que ela não iria suportar ver você morrer...-bufei,e mais uma vez Beck estava certo.

Eu precisava fazer isso,não por mim,mas por eles...eu os amava mais do que tudo,eu não conseguiria saber que as pessoas que eu amava estavam sofrendo por minha causa.

Como sempre,as lágrimas indesejadas surgiram na borda dos meus olhos e eu sabia que eu precisa lutar.Eu precisava ir além,não só por eles,mais por mim.Pois,por mais que tudo,eu sentiria falta de cada sorriso,de cada pessoa...

–Ok,chama aquele médico.

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Eu estava cansada,eu não havia conseguido pregar o olho durante a noite,Beck muito menos,desde que o médico havia dito que eu estava com câncer eu sentia que ele nunca mais dormiria enquanto eu estivesse acordada.

Ele ficou ali,a noite inteira do meu lado,segurando a minha mão, as vezes conversando comigo,as vezes chorando sozinho,as vezes apenas em silêncio.

O dia chegou e eu me sentia bem,apesar de estar com fome, porém meu estômago rejeitava todo e qualquer tipo de comida,os médicos haviam feito uma dieta específica e assim que saímos do hospital fui com Beck comprar tudo do que eu fosse precisar.

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Chegamos e Cat estava sentada no sofá,com um copo de café na mão,o rosto preocupado,as olheiras ficando visíveis.

–Jade?!Ai meu Deus Jade,eu fiquei tão preocupada com você! O que aconteceu?O que o médico disse?!-Cat,estava ali,sorrindo, talvez realmente feliz por me ver viva,eu só não sabia por mais quanto tempo,eu não tinha forças para contar para ela que eu estava morrendo...

–Cat,eu,eu preciso descansar ok?A gente conversa depois...- disse por sobre o ombro e subindo as escadas.Senti que Beck me observava apreensivo,e isto era tudo o que eu não queria,que a partir de agora eu fosse tratada como a boneca de porcelana.

Suspirei e entrei no quarto,minhas coisas ainda bagunçadas em cima da cama,meus sapatos fora do lugar,minha televisão ligada no mesmo canal...minha bagunça.

Ali eu não me sentia a Jadelyn West,a menina com câncer aos 20 anos,eu me sentia apenas a Jade e ponto.

Me sentei na cama e fiquei encarando minha bagunça...até que eu sentiria falta disto,eu sentiria falta de bater a porta do quarto na cara das pessoas,eu sentiria saudades e poder vir PARA O MEU QUARTO a hora em que eu bem entendesse e poderia ser apenas EU lá dentro.

Eu teria tão pouco tempo dali para a frente que era até idiotice ficar deitada em uma cama esperando a morte chegar.

A morte agora só me motivava a viver,a ousar,a ser quem eu sempre quis,a realizar meus últimos sonhos.

A morte para mim não era algo fúnebre,era algo alegre,afinal agora eu saberia e apreciaria cada momento de viver,eu conquistaria meu lugar por direito,eu não adiaria o que precisava ser feito hoje para amanhã já que eu poderia não ter um amanhã e esta era a minha certeza agora.

Agora eu precisava comprar todos os livros que eu quisesse,e eu precisava dizer umas verdades para algumas pessoas,eu poderia agora viver com intensidade e cada dia a mais de vida seria único.

Eu estava agora decidida a viver e a viver intensamente,pois já que a vida estava prestes a se esvair de mim eu precisava aproveitar nossos últimos momentos juntas.

Me levantei e segui para o banheiro,tomei um banho espumoso de banheira e até cantei.

Sai do banho com os dedos murchos,mas quem é que ligava para dedos murchos?

Fiz uma mine turnê pelo meu quarto,cantando e dançando e depois me joguei na cama simplesmente exausta.

Respirei fundo e encarei meu closet...haviam tantas roupas ali que eu nunca sequer usará e nem sabia se usaria...bom,eu pretendia dar uma chance a cada uma delas.

Troquei de roupa,tirei várias fotos e repeti o mesmo processo pelo menos 20 vezes ate encontrar a roupa perfeita

http://www.polyvore.com/liz/set?id=93435744

Desci e Beck e Cat estavam tomando café,fitando a televisão, ambos em silêncio.

Beck mais parecia um morto vivo e Cat parecia irritada por não estar a par do assunto,pois é,sorte dela.

Eu precisava aproveitar enquanto eu ainda tinha forças para andar sozinha e não ficar caindo pelos cantos pálida e quase morta.

Os dois me olharam de canto de olho e eu me sentei no meio deles,dei em cada um deles um devido beijo no rosto e segurei-lhes pelas mãos.

Dali para a frente eu precisaria deles tanto quanto em qualquer momento da minha vida...eles seriam os que me manteriam vivos daqui pra a frente.

(continua...)

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