- Vamos pra onde?

     - Pro palco, oras. Aliás, já devíamos estar lá.

     - Palco? Eu? Quer dizer, palco?

     - Você tem vergonha? - Bill me perguntou com um sorriso malicioso.

     - Vergonha! Vergonha uma ova! Mas, assim, eu, uma reles amadora que tava limpando teu camarim, ir lá em cima, assim, e... cantar contigo?

     - É.

     - Liga não, às vezes eu sou assim, meio idiota. Eu devia é ir terminar o meu serviço, porque eu tô aqui pra isso. - ainda bem que em inglês não rimou.

     - Bom, já que você não quer ir, fica aí então. Eu tô indo.

     - Mas já que você insiste, eu vou sim. E eu avisei que sou uma reles amadora que tava limpando teu camarim.

     - Uma reles amadora que canta muito bem. O mundo não pode continuar privado desse talento. - ele disse, já me puxando.

     Eu fiquei pensando, aquela frase não me era estranha, mas gostei do elogio e fui felizinha pro palco. ganhei um microfone com suporte (meu sonho de consumo!) e enquanto me posicionava, Bill anunciava que apresentaria uma convidada, que se chamava...

     - Qual é o teu nome? - virou-se pra mim e perguntou com cara de tacho.

     Não resisti. Eu sentei no chão e ri. Ri, ri e ri muito. O microfone tava na minha mão, mas desligado, eu o encostei pra poder socar o chão de tanto que ria, já quase chorando, e ninguém no recinto entendendo qual era a piada. Quando o ataque de riso passou, informei-lhe o meu nome e ele me anunciou à plateia.

     Sabia que estava sonhando, e que talvez já fossem 6h50 de uma segunda-feira, mas não queria acordar, a escola que se dane. Ouvi a guitarra do Tom tocando e Bill me chamou pra mais perto. Me envolveu num abraço e rapidamente lhe cochichei:

     - Tchau, Bill. Agora eu tenho que ir. Vou acordar agora, quero que saiba que você é a pessoa que eu mais admiro, depois da minha mãe. Tem que ser agora, vai ver eu acordo abraçada com o travesseiro.

     Dizendo isso, me belisquei, de olhos fechados. Doeu. Abri os olhos e estava no mesmo lugar.

     - Estava sonhando? - Ele me perguntou, sorrindo. Que sorriso.

     - Você não é o meu travesseiro. Então eu acho que não.

     Minha resposta o fez rir. Então eu comecei a cantar no meu microfone:

     "Meine Augen schaun mich müde an finden keinen Trost

     Ich kann mich nicht mehr mit ahnsen, bin ichlos"

     E deixei que a voz de Bill se manifestasse:

     "Alles was hier mal war - kann ich nich' mehr in mir finden

     Alles weg - wie im wahn

     Seh ich mich immer mehr verschwinden"

     Que coisa. De cantora-de-duetos-com-DVD-no-controle-remoto, ali estava eu, cantando ao vivo, a cores e em 3D, com o cara que, no último ano, eu mais sonhava conhecer. Vai brincar com esse tal de destino.

     Pensando nisso, fui impulsionada a cantar mais uma vez e me vi estrangulando o suporte do microfone, a plenos pulmões cantávamos o refrão:

     "Ich bin nich' ich wenn du nich' bei mir bist -

     Bin ich allein

     Uns das was jetzt noch von mir übrig ist -

     Will ich nich' sein

     Draußen hängt der Himmel schief

     Und an der Wan dein Abschiedsbrief

     Ich bin nich' ich wenn du nich' bei mir bist -

     Bin ich allein"

     Interrompi-me pra tomar fôlego. Os olhos já lacrimejavam, eu não estava acreditando no que estava acontecendo comigo enquanto Bill cantava:

     "Ich weiß nich' mehr, wer ich bin -

     Und was noch wichtig ist

     Das ist alles irgendwo, wo du bist"

     E não consegui conter uma lágrima intrusa que caiu no meu rosto quando comecei a cantar:

     "Ohne dich, durch die Nacht -

     Ich kann nichts mehr in mir finden

     Was hast du mit mir gemacht -

     Ich seh mich immer mehr verschwinden"

     E então eu me senti a pessoa mais feliz do mundo. Estava num palco, cantando, é o que eu mais gosto de fazer. E estava ao lado de Bill Kaulitz, de quem eu sou fã alucinada, cantando com ele! Enxuguei as lágrimas que estavam me embaçando a vista e explodi:

     "Ich bin nich' ich wenn du nich' bei mir bist -

     Bin ich allein

     Und das was jetzt noch von mir übrig ist -

     Will ich nich' sein

     Draußen hängt der Himmel schief

     Und an der Wan dein Abschiedsbrief

     Ich bin nich' ich wenn du nich' bei mir bist -

     Will ich nich' mehr sein"

     Precisei respirar. Colocara toda a minha voz no último refrão e tomei fôlego enquanto Bill cantava:

     "Ich lös mich langsam auf - halt mich nich' mehr aus

     Ich krieg dich einfach nich' mehr aus mir raus"

     O resto foi por minha conta:

     "Egal wo du bist - komm und rette mich

     Ich bin nich' ich wenn du nicht... bei mir bist -

     Bin ich allein"

     E novamente fui acompanhada pela voz dele, junto com a minha:

     "Und das was jetzt noch von mir übrig ist -

     Will ich nich' sein

     Draußen hängt der Himmel schief

     Und an der Wan dein Abschiedsbrief

     Ich bin nich' ich wenn du nich' bei mir bist -

     Will ich nich' mehr sein"

     Então eu me contentei com o background enquanto ainda tinha cordas vocais para vibrar, e Bill ficou por conta do berro:

     "[Ich lös mich langsam auf - halt mich nich' mehr aus

     Ich krieg dich einfach nich' mehr aus mir raus]

     Will ich nich' mehr sein

     [Egal wo du bist - komm und rette mich

     Ich bin nich' ich wenn...]

     Will ich nich' mehr sein!"

     Caí sentada no chão. A respiração estava ofegante e eu suava. Estava com sede, podia beber um balde d'água e pedir mais, mas só ganhei um copinho, que foi pelo menos suficiente para que eu voltasse a respirar.