Ich Bin Nicht Ich escrita por seethehalo
Notas iniciais do capítulo
Nem deu tempo de postar ontem, mas tá aí!
De repente anunciaram que possivelmente pousaríamos na pista molhada (a essa altura já estávamos sobrevoando o território brasileiro) e eu quase entrei em pânico. Lembrei do acidente em Congonhas de dois anos atrás, do avião da TAM que bateu no prédio da mesma companhia e matou 199 pessoas e comecei a suar frio.
O que serviu pra me aliviar um pouco foi o fato de que não estávamos indo para Congonhas.
Bill abordou a primeira comissária que passou e pediu informação.
- Hey, moça. A gente vai pousar na pista molhada?
- É possível – ela esclareceu -, aqui está chovendo, mas não se sabe se em São Paulo está.
- E onde mais ou menos a gente está agora? – eu quis saber.
- Estamos sobrevoando o estado da Bahia. Em cerca de duas horas chegamos em São Paulo.
- Obrigado. – Bill disse. – Fica calma agora? É só uma possibilidade que a pista esteja molhada quando chegarmos.
- Correção: é uma probabilidade que a pista esteja molhada. Não é à toa que Sampa é conhecida como “terra da garoa”. – eu disse.
- Nunca tinha ouvido falar.
- É porque, do jeito que a coisa vai, já virou “terra da enchente”! – o esclarecimento da Paula nos fez rir.
- Mas não deixa de ser verdade. – concluí.
Um minuto de silêncio se passou e eu me lembrei de algo.
- Hey, Bill, o que você veio fazer conosco aqui? – perguntei.
- Vim trazer vocês, ué. Não fui eu que retirei? Tenho que fazer a entrega!
Eu ri.
- E vai chegar no aeroporto e ir embora no primeiro avião que for de volta?
- Não, eu vou esperar o segundo. Quero ir pra Alemanha ver a minha mãe.
Todos rimos.
Bill ainda perguntou:
- Você nasceu nessa cidade, er... São Paulo?
- Aham – respondi -, nasci e morei aqui a vida inteira.
- E você? – perguntou pra Paula.
- Eu nasci em outra cidade, morei um tempão em Sampa mas me mudei pra praia.
- Hey, Julia, como é ter nascido numa capital?
- É... normal. É conhecida, agitada, poluída, empoeirada e grande, horrivelmente grande. Como já te disse, morei lá a vida inteira, e consigo me perder na zona norte mesmo, qu é onde eu moro. – Satisfiz a curiosidade boba. Essa foi a pergunta mais besta que alguém já me fez, mas enfim.
O tempo passou e nós nem percebemos.
Anunciaram que iríamos pousar logo – na pista SECA, para a alegria dos meus neurônios -, estávamos os três conversando e mal percebemos que já estávamos no chão.
Ao pisar de novo em terra firme, senti aquele alívio por estar menos exposta à terrível força da Senhora Gravidade. Mas também me deu uma sensação (aquela que dá quando eu tomo remédio amargo, como açúcar e fico com a impressão de que comi laranja podre; mas sem o gosto da laranja podre) ruim, aquela história de “a gente nunca mais vai se ver” do Bill voltou à minha cabeça. Pegamos as malas depois de passarem pela alfândega e me preparei (como se fosse possível) para me despedir do meu vocalista preferido.
- Bom... – comecei – é o fim. A viagem acabou. Estou entregue. – disse abrindo os braços.
- É... entregue. Sabe ir pra casa daqui?
- Sei, eu pego um táxi até o metrô. – subi na mala pra falar melhor. – Bill?
- Diga.
- Muito obrigada. Por... ter cantado contigo, pelos zilhões de fotos que eu tirei... pela viagem... pela apresentação no rádio... pelo show em Londres. Por tudo. Tudo mesmo.
- Não tem de quê. Eu... eu eu...
- Você...?
- Nunca vou te esquecer. Prometo que a gente volta a se ver.
- Não precisa prometer. Nos veremos de novo. São Paulo é grande, mas o mundo é pequeno.
Nos abraçamos. Dez minutos depois, quando voltamos ao normal e eu desci da mala, ele perguntou:
- Vai agora?
Ignorei sem querer. Meus olhos estavam vidrados em alguém que estava a uns 10 metros de nós.
- Ô Bill... Olha isso. Aquele cara á idêntico ao Tom.
- Tom? Ele tá em Londres! – a Paula disse.
- É por isso que eu disse que se parece, não que é. – esclareci reforçando o “se parece” e o “é”.
- Tom... KAULITZ!!! – Bill berrou e saiu correndo em direção à figura, que deu um pulo da cadeira em que estava sentado.
- Ora... é o Tom, então. – eu disse.
- Pois é. – ela disse isso devagar. Devagar demais.
Cinco minutos depois os gêmeos voltaram – Tom só faltava ser carregado pelos dreads tamanha era a raiva do Bill trazendo-o até nós.
- Digam oi para o Tom – ele disse soltando fumacinha.
- Oi, Tom! – dissemos.
Fiquei quieta; tinha curiosidade, mas achei melhor não perguntar o que ele tava fazendo ali.
A fúria passou e pudemos nos despedir decentemente, com outro abraço de dez minutos (mas esse durou quinze).
- Eu espero mesmo que possamos nos ver outra vez.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Esse capítulo teria sido perfeito pra postar ontem, porque a cidade alagou toda, ficou chovendo o tempo inteiro, enfim.