Ich Bin Nicht Ich escrita por seethehalo


Capítulo 27
Desembarcar


Notas iniciais do capítulo

Nem deu tempo de postar ontem, mas tá aí!



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     De repente anunciaram que possivelmente pousaríamos na pista molhada (a essa altura já estávamos sobrevoando o território brasileiro) e eu quase entrei em pânico. Lembrei do acidente em Congonhas de dois anos atrás, do avião da TAM que bateu no prédio da mesma companhia e matou 199 pessoas e comecei a suar frio.

     O que serviu pra me aliviar um pouco foi o fato de que não estávamos indo para Congonhas.

     Bill abordou a primeira comissária que passou e pediu informação.

     - Hey, moça. A gente vai pousar na pista molhada?

     - É possível – ela esclareceu -, aqui está chovendo, mas não se sabe se em São Paulo está.

     - E onde mais ou menos a gente está agora? – eu quis saber.

     - Estamos sobrevoando o estado da Bahia. Em cerca de duas horas chegamos em São Paulo.

     - Obrigado. – Bill disse. – Fica calma agora? É só uma possibilidade que a pista esteja molhada quando chegarmos.

     - Correção: é uma probabilidade que a pista esteja molhada. Não é à toa que Sampa é conhecida como “terra da garoa”. – eu disse.

     - Nunca tinha ouvido falar.

     - É porque, do jeito que a coisa vai, já virou “terra da enchente”! – o esclarecimento da Paula nos fez rir.

     - Mas não deixa de ser verdade. – concluí.

     Um minuto de silêncio se passou e eu me lembrei de algo.

     - Hey, Bill, o que você veio fazer conosco aqui? – perguntei.

     - Vim trazer vocês, ué. Não fui eu que retirei? Tenho que fazer a entrega!

     Eu ri.

     - E vai chegar no aeroporto e ir embora no primeiro avião que for de volta?

     - Não, eu vou esperar o segundo. Quero ir pra Alemanha ver a minha mãe.

     Todos rimos.

     Bill ainda perguntou:

     - Você nasceu nessa cidade, er... São Paulo?

     - Aham – respondi -, nasci e morei aqui a vida inteira.

     - E você? – perguntou pra Paula.

     - Eu nasci em outra cidade, morei um tempão em Sampa mas me mudei pra praia.

     - Hey, Julia, como é ter nascido numa capital?

     - É... normal. É conhecida, agitada, poluída, empoeirada e grande, horrivelmente grande. Como já te disse, morei lá a vida inteira, e consigo me perder na zona norte mesmo, qu é onde eu moro. – Satisfiz a curiosidade boba. Essa foi a pergunta mais besta que alguém já me fez, mas enfim.

     O tempo passou e nós nem percebemos.

     Anunciaram que iríamos pousar logo – na pista SECA, para a alegria dos meus neurônios -, estávamos os três conversando e mal percebemos que já estávamos no chão.

     Ao pisar de novo em terra firme, senti aquele alívio por estar menos exposta à terrível força da Senhora Gravidade. Mas também me deu uma sensação (aquela que dá quando eu tomo remédio amargo, como açúcar e fico com a impressão de que comi laranja podre; mas sem o gosto da laranja podre) ruim, aquela história de “a gente nunca mais vai se ver” do Bill voltou à minha cabeça. Pegamos as malas depois de passarem pela alfândega e me preparei (como se fosse possível) para me despedir do meu vocalista preferido.

     - Bom... – comecei – é o fim. A viagem acabou. Estou entregue. – disse abrindo os braços.

     - É... entregue. Sabe ir pra casa daqui?

     - Sei, eu pego um táxi até o metrô. – subi na mala pra falar melhor. – Bill?

     - Diga.

     - Muito obrigada. Por... ter cantado contigo, pelos zilhões de fotos que eu tirei... pela viagem... pela apresentação no rádio... pelo show em Londres. Por tudo. Tudo mesmo.

     - Não tem de quê. Eu... eu eu...

     - Você...?

     - Nunca vou te esquecer. Prometo que a gente volta a se ver.

     - Não precisa prometer. Nos veremos de novo. São Paulo é grande, mas o mundo é pequeno.

     Nos abraçamos. Dez minutos depois, quando voltamos ao normal e eu desci da mala, ele perguntou:

     - Vai agora?

     Ignorei sem querer. Meus olhos estavam vidrados em alguém que estava a uns 10 metros de nós.

     - Ô Bill... Olha isso. Aquele cara á idêntico ao Tom.

     - Tom? Ele tá em Londres! – a Paula disse.

     - É por isso que eu disse que se parece, não que é. – esclareci reforçando o “se parece” e o “é”.

     - Tom... KAULITZ!!! – Bill berrou e saiu correndo em direção à figura, que deu um pulo da cadeira em que estava sentado.

     - Ora... é o Tom, então. – eu disse.

     - Pois é. – ela disse isso devagar. Devagar demais.

     Cinco minutos depois os gêmeos voltaram – Tom só faltava ser carregado pelos dreads tamanha era a raiva do Bill trazendo-o até nós.

     - Digam oi para o Tom – ele disse soltando fumacinha.

     - Oi, Tom! – dissemos.

     Fiquei quieta; tinha curiosidade, mas achei melhor não perguntar o que ele tava fazendo ali.

     A fúria passou e pudemos nos despedir decentemente, com outro abraço de dez minutos (mas esse durou quinze).

     - Eu espero mesmo que possamos nos ver outra vez.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo teria sido perfeito pra postar ontem, porque a cidade alagou toda, ficou chovendo o tempo inteiro, enfim.