Eu já havia saído da enfermaria e, pela primeira vez na minha vida, havia um garoto na minha festa do pijama.

– Desculpe se você não se sentir muito confortável, Shane. - Eu disse a ele.

As meninas ainda não haviam chegado, então eu tinha um tempo para preparar psicologicamente Shane para o que ele vai presenciar.

– Tudo bem, mas, por que eu não me sentiria confortável? - Disse ele confuso.

– Ah, você vai saber. - Respondi rindo. Coitado dele.

Eu expliquei a ele toda essa questão da festa do pijama semanal e o que fazíamos nela. Conversamos sobre garotos, ficamos no computador, comemos, coisas inúteis.

– Entendi. - Ele disse rindo. - Não se preocupe, não me importo.

– Que bom. - Eu disse, ligando meu notebook. Logo vi ele fazer uma expressão que não consegui definir. - O que foi?

– Aquilo ali é o que eu penso que é? - Ele disse apontando para algo que estava escondido entre minha estante de livros. Ah, meu Mega Drive. Eu ri.

– Se você pensou em um Mega Drive, é sim. - Disse a ele. Eu sou fascinada por videogames, tenho meu Playstation 3, que Shane e eu já jogamos quando ele chegou, mas tenho umas relíquias guardadas também. Se ele souber que eu tenho um Nintendo 64 bem ali naquele guarda-roupa...

– Eu não acredito, isso é uma relíquia! Tem desde pequena? - Ele perguntou enquanto pegava o videogame, analisando. - Ah, posso pegar, né?

– Claro. Tenho desde pequena sim, foi meu primeiro videogame. - Respondi.

– Cara, fascinante. - Ele riu e guardou de volta na estante, sentando ao meu lado na cama.

– Ei, Shane, quer falar com seu irmão? - Eu disse sorrindo, enquanto ligava a webcam com Noah.

– Vai falar com ele agora, por webcam? - Me perguntou. Afirmei com a cabeça. - Então deixa eu aparecer também! - Ele se aproximou de mim, rindo.

Noah atendeu a chamada, e sua expressão foi impagável ao ver Shane.

– O que você tá fazendo aí?! - Noah perguntou quando viu o irmão.

– Vim pra cá para fazer faculdade, lembra? - Shane disse rindo.

– Tá, eu sei. Mas por que está na casa da minha namorada? - Noah disse cruzando os braços e fazendo bico. Senti uma pontada de ciúmes aí em.

– Acontece irmãozinho, que sua namorada estuda na mesma faculdade que eu, e é minha amiga. - Shane respondeu cruzando os braços e fazendo um bico maior do que o de Noah. Isso já estava virando uma competição de bicos. (Ok, nao faz sentido, enfim...).

Eu ri, chamando a atenção dos dois.

– Vocês parecem crianças. - Falei, ainda rindo. - Noah, conheci Shane na faculdade, vocês sao bem parecidos.

– Eu não sou parecido com ele. - Os dois falaram ao mesmo tempo, virando o rosto. Ri mais ainda.

– São sim. Mas enfim, Shane, pode pegar o bolo lá na cozinha pra mim? Já deve estar pronto. - Pedi a Shane. Ele entendeu que eu queria conversar sozinha com Noah, então não protestou e saiu.

– Eu sou ciumento, sabia? - Noah disse agora rindo.

– Não sei por qual motivo. - Eu disse rindo junto. Eu acredito que ele esteja brincando, mas há alguma possibilidade de ele ter mesmo ciúmes do irmão?

– Pelo simples motivo de meu irmão ser um galinha. - Ele disse.

– Seu irmão? Ah, que isso Noah, Shane é um garoto de respeito. Ele é super educado. - Falei, duvidando da característica antes dada por Noah.

– Ah. - Ele abaixou a cabeça. - Você já caiu nos truques dele? Foi mais rápido do que eu pensei. Ele é bom.

– Pare de falar assim, Noah. Ele é seu irmão! - Eu gritei, meio que sem pensar.

– Ah, já entendi, tudo bem se é assim que pensa. - Noah disse calmo, parecia chateado. - Vou jantar, depois a gente se fala.

E desligou.

Sophia, você é tão idiota! Você discute e duvida do seu namorado desse jeito!

Me senti horrível naquele momento. Noah nunca havia duvidado de mim, nunca, jamais havia levantado a voz pra mim. Ele era um garoto de respeito e super educado.

Suspirei.

– Aqui está o bolo. - Shane disse entrando no quarto. O cheiro de chocolate chegou até mim, atiçando minha fome.

– Obrigado. - Eu disse, ainda um pouco triste. Não queria que Shane percebesse, mas eu não conseguia segurar.

– O que houve? - Ele disse sentando ao meu lado. Não sabia se contava ou não.

– Nada. - Eu disse. Era melhor não contar nada para o Shane sobre a conversa ainda.

– Sophia, eu sei que tem alguma coisa errada. Foi o meu irmão? - Ele perguntou. Senti uma lágrima escorrer pela minha bochecha, Shane a limpou com o polegar. - O que aquele idiota fez?

– A pergunta é: O que eu fiz? Eu sou muito trouxa. - Eu disse e abaixei a cabeça. Shane me abraçou.

– Você não fez nada, e não tem nada errado em ser trouxa. - Eu o encarei. - Afinal, nem todos nós temos o privilégio de sermos bruxos. - Ele sorriu. Sorri também.

– Obrigada. - Falei.

– Agradeça àquela saga. - Apontou os sete livros de Harry Potter na minha estante, que já li e li de novo muitas vezes.

– Obrigada, Harry. - Eu disse, rindo. Ele riu também.

– Sabe, Sophia... - Ele disse colocando meu cabelo para trás da orelha. Vi que ele estava se aproximando. - Você me encanta.

Ele já estava próximo de meus lábios,e se aproximava cada vez mais. Eu não me mexia, não conseguia me mexer.

Por favor, não me beije, porque eu não quero, mas não vou conseguir te impedir.